ARREPENDIMENTO E PERDÃO




É muito emocionante falar-se sobre o perdão e belas são as palavras que o enaltecem. Só que a eficácia desses gestos grandiosos, tanto do pedido de perdão como a do perdão concedido, nem sempre vão muito além da superfície da alma do ser humano. Constatei isto facilmente há algum tempo quando alguém, num lindo gesto estendeu-me os braços me pedindo que lhe perdoasse por algumas palavras proferidas impensadamente, revidando palavras minhas que também lhe haviam ferido. Claro que a abracei e a perdoei e também lhe pedi que me perdoasse.
Abraços e beijos nas faces, mas alguns dias depois percebi a quase inutilidade dessas atitudes mutuamente enganosas, quando voltei ao assunto e lhe disse que ela estivera mesmo errada durante o infeliz episódio que causou o nosso desentendimento. De repente ela estremeceu, a sua fisionomia mudou, a voz enrouqueceu, ficou completamente transtornada e muito alterada falou que seria melhor não falarmos mais sobre o ocorrido senão tudo começaria novamente, porque é difícil - disse, pois ninguém quer mesmo aceitar e reconhecer que está errado, e que seria melhor não falarmos mais sobre o assunto.
Eu não vislumbrei em seu olhar nem em sua voz nenhum sinal de reconhecimento pelos erros que havia cometido e pelo que havia me pedido perdão. Então entendi que essa pessoa havia feito um enorme sacrifício em me pedir perdão e que tudo não havia passado de uma mera formalidade, e que ela mesma teria acreditado ser verdadeiro o seu gesto, mas que fora apenas um ato impulsivo e de duplo efeito, que serviu para aliviar momentaneamente as nossas consciências e restaurar o nosso relacionamento. Na verdade, geralmente não passam de expressões superficiais, falsas
Sem que tivéssemos percebido, as feridas não haviam sarado, apenas estavam soterradas dentro de cada uma de nós, pois eu mesma pensava que já havia lhe perdoado, mas constatei também que infelizmente não havia me esquecido de nada. Então compreendi que perdoar não é se passar a fingir e tentar acreditar que nada aconteceu e que é suficiente não se sentir ódio, não revidar, não procurar vingança, não deixar de fazer um bem à pessoa que nos feriu e continuar querendo-lhe bem ou amando-a como antes. É muito mais que isso, porque as marcas não saem tão facilmente. E não há esquecimento.
O pedido de perdão será um gesto grandioso se houver real reconhecimento do erro e um verdadeiro arrependimento por te-lo praticado. Sublime será o perdão se ele conseguir superar não somente as dimensões do mal que nos atingiu, mas também as dores das feridas, sem que existam mais nenhuma mágoa ou rancor. Do contrário tais atitudes são apenas paliativos que servem para criar uma casca sobre uma ferida aberta, que cobre a ferida mas não cura nem sara, porque abaixo da casca ela continuará a existir. Basta se pressionar a superfície e a dor se apresenta com toda a intensidade de antes, e a qualquer pressão o sangue começará a jorrar novamente. Se nunca mais mexermos nessa casca e com o tempo a ferida sarar, até mesmo se a casca desaparecer, o que não é impossível, dificilmente não ficará uma feia cicatriz, que são as lembranças, que só a morte fará desaparecer.
Muitas são as poesias e belos hinos engrandecendo o tema, mas a eficácia do efeito muitas vezes está bem longe de ser real, até porque o total esquecimento não existe, a menos que se trate de uma patologia. Há casos em que o perdão, sem o auxílio divino é humanamente impossível de ser concedido, tamanho foi o estrago causado por palavras ou atos irreversíveis, em momentos de desatino.
O verdadeiro pedido de perdão nos liberta da culpa, mas nele tem que haver reconhecimento do mal praticado e sincero desejo de poder repara-lo, o que nem sempre será mais possível, porém não se deve faze-lo simplesmente por arrependimento por tudo ter dado errado, ou até mesmo para amenizar situações vexatórias.
O verdadeiro perdão é aquele que nos dá a coragem e a capacidade de remover as cascas das feridas encobertas, ao mesmo tempo em que nos liberta das mágoas que infeccionam todo o nosso corpo e também libera da culpa a pessoa que nos feriu. Esse perdão só pode acontecer por um completo milagre de Deus em nossas vidas, que ungindo com o seu amor os corações feridos, livra-os de todas as suas amarguras, tornando-os completamente limpos e sarados.
Deus, em Hebreus 8:12 nos fala do perdão através do seu infinito amor por nós, de um perdão concedido por um amor que transcende toda a nossa compreensão e entendimento, o amor ágape - amor que abrange toda a plenitude do universo, amor que ultrapassa todas as dimensões, dizendo:
"Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais".

Júnia - 2010

Autor: Junia Pires Falcao


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