Saudades Eternas de Silvério



Saudades Eternas de Silvério


Foi nos idos anos 50, Mané Gurdolino fabricava bombas de parede lá pras bandas de Alagoas, exatamente na cidade de São José de Lages que um dia dos anos 50 se acabou com uma inundação. Mane fabricava bombas de parede, muitos hoje não conhecem este brinquedo pirotécnico que teve sua fabricação proibida nos anos 80.
A bomba de parece é uma bombinha artesanal fabricada com explosivo comum das bombinhas de São João com o acréscimo de pedrinhas que permite detonar sua massa ao ser jogada violentamente contra uma parede. Este brinquedo explosivo um pouco maior do que uma bola de gude, foi de grande sucesso até os anos oitenta quando teve sua fabricação proibida por dentre outros motivos sujar as paredes atingidas pelo aparato e assustar os moradores das casas onde eram detonadas.
Mané Gurdolino as fabricava aos milhares por meses no sítio onde morava e no mês de junho seguia para a cidade para vendê-las. Era um trabalhador guerreiro, pois além de suas bombas com as quais sustentava a família, ainda trabalha na roça.
Mas Mané Gurdolino tinha uma outra característica, era muito ignorante, sua fama de estúpido era tão conhecida quantos suas bombinhas de parede. Seu modo bruto de tratar os clientes afastava a todos fazendo com que ele nunca tivesse sucesso financeiro, nem a um padre ele sabia se dirigir sem sua estupidez.
Elogiado pelo padre da freguesia certa vez, constrangeu o pobre padre em público. O padre lhe dizia que ele e Deus havia feito um bom trabalho numa roça onde nunca dara nada por séculos, jamais alguém tinha colhido uma safra naquela roça, ele zangado por dividir com Deus o mérito do seu trabalho, se saiu com essa: "Eu e Deus fizemos um bom trabalho, agora o senhor precisava ver aquela roça era quando era só de Deus.
Certa vez queimou uma roça inteira já no ponto da colheita apenas porquê a roça havia produzido mais feijão do que milho, e ele queria o contrário.
Chega o dia que Mané segue para a cidade para vender suas bombas, fruto de meses de trabalho, algo como 20 mil bombas que ele divide em duas cangalhas e coloca em Silvério, o jumentinho de estimação da família para ir fazer a entrega. Silvério nasceu na roça de Mané Gurdolino e já estava há oito anos servindo a família, era amado por todos: Mané Gurdolino, sua esposa e suas três filhas.
Cinco horas da manhã, colocadas as bombas nas cangalhas, Mané Gurdolino sobe no jumento e inicia sua viagem de 16 quilômetros até a cidade por uma estrada de chão onde espera estar de volta até as dezessete horas daquele dia, aconselhado pela família a não ir em cima do jumento por representa perigo, diz para a família que o Deus que o guia em baixo é o mesmo que o guia em cima e segue sentado em cima das cangalhas.
Às dez da noite, sem o retorno de Mané Gurdolino a certeza de que algo aconteceu já era tido como certa, suas filhas já se preparam para ir atrás de seu pai. Foi uma noite de aflição.
Lá se vão, às cinco da manha, as três filhas de Mané Gurdolino em busca do seu paradeiro. A estrada praticamente não tem moradias, entre a casa de Mané Gurdolino e a cidade era praticamente um deserto naquela regiãozinha do interior. Não havia transeuntes a quem se pudesse pedir informações do paradeiro de seu pai. Ninguém passava e seguiam aflitas as filhas daquele pobre trabalhador.
A dor das pobres filhas de Mané Gurdolino veio pelo ar, lá pelos 12 quilômetros de estrada: um cheiro terrível de pólvora, a evidência concreta de uma explosão. Já apavoradas observam logo ali em frente um buraco no chão confirmando para todas a concretização de uma tragédia. Nada foi encontrado, nem mesmo o casco de Silvério, tudo desintegrado pela explosão de 20 mil bombas de parede.
No local resta apenas uma placa de mármore colocada pela família para registrar aquele dia fatídico: SILVÉRIO Saudades Eternas.

Autor: Jussier Soares Pereira


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