Era da (In)formação: macrotransformações econômicas, socioculturais e tecnológicas



Era da (In)formação: macrotransformações econômicas, socioculturais e tecnológicas*

Zeila Miranda Ferreira
Doutora em Educação pela USP, pedagoga, psicóloga, pesquisadora e
professora de cursos de graduação e de Pós-Graduação
presencial e a distância da Faculdade Pitágoras - Uberlândia, MG.

O contexto contemporâneo configura-se como uma nova sociedade, marcada por transformações estruturais que interagem nas dimensões política, social, econômica, tecnológica e cultural. São intensas as mudanças que podem ser identificadas nos processos e nas relações sociais de produção, de poder e da experiência humana, que afetam radicalmente os estilos de viver, pensar, produzir, administrar e comunicar.

Explica Castells (2000, p.412), que entre as décadas de 60 e 70 foram desencadeados três processos históricos independentes que convergiram para a "gênese de um novo mundo". O primeiro deles foi a crise do capitalismo e do estatismo e sua subseqüente reestruturação, caracterizada como "capitalismo informacional": a norma continua sendo a "produção pelo lucro e para a apropriação privada dos lucros com base nos direitos de propriedade"; só que ao invés da maximização da produção de bens, visa o desenvolvimento tecnológico, a acumulação de conhecimentos e de maiores níveis de complexidade do processamento da informação.

O segundo processo importante para a nova configuração da sociedade atual diz respeito à culminância dos movimentos socioculturais, não políticos, que prepararam o contexto para rupturas fundamentais na sociedade, sem a pretensão de tomar o poder. O autor se refere ao feminismo, ao ambientalismo, à defesa dos direitos humanos, da liberdade sexual, etc. Tais movimentos surgiram como reações contra o uso arbitrário da autoridade, contra injustiças sociais, contra os valores estabelecidos pelo patriarcalismo, tradicionalismo religioso e nacionalismo, de busca da liberdade para a experimentação pessoal. O princípio libertário e científico influenciou, de forma considerável, a mudança para os usos individualizados e descentralizados da tecnologia** . A abertura cultural tecnológica estimulou a experimentação, a manipulação de símbolos, o internacionalismo estabelecendo as bases intelectuais para o novo mundo interdependente - a "sociedade em rede".

O terceiro processo histórico de transformação social, ocorrido simultaneamente aos outros dois, foi a revolução das tecnologias da informação, que opera reconstruindo as bases materiais da nova sociedade, por meio do informacionalismo: atributo da "forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se fontes fundamentais de produtividade e poder [...]" (CASTELLS, 2005, p.65). Daí os termos "sociedade informacional" e "economia informacional" empregados pelo autor, para caracterizar de modo mais preciso as transformações sociais e econômicas atuais, bem como ressaltar o papel da informação e do conhecimento na atualidade.

As tecnologias da informação permitem o acesso às informações, ao conhecimento e culturas diversificadas. Favorecem a todo tipo de transferência de dados e tornam-se ferramentas indispensáveis na geração de riquezas, no exercício do poder e na criação de códigos culturais. Assim, a sociedade em rede é definida por Castells, como uma nova organização social dominante, "constituída de redes de produção, poder e experiência, que constroem a cultura da virtualidade nos fluxos globais os quais, por sua vez transcendem o tempo e o espaço" (ibid, 2000, p.427). O autor parte da compreensão de rede como um conjunto de nós interconectados e interativos de informação e de conhecimento, que se tornaram componentes virtuais*** e agentes da transformação da estrutura social, oferecendo maior flexibilidade e adaptabilidade do que outras formas antes existentes.

Nessa direção, no novo modo de desenvolvimento social, a economia mundial globalizada e dinâmica, vem ligando pessoas e atividades importantes de todo o mundo e, ao mesmo tempo,
desconectando das redes de poder e riqueza as pessoas e os territórios considerados não pertinentes sob a perspectiva dos interesses dominantes. Uma cultura de virtualidade real, construída em torno de um universo audiovisual cada vez mais interativo, permeou a representação mental e a comunicação em todos os lugares, integrando a diversidade de culturas em um hipertexto eletrônico. O espaço e o tempo, bases materiais da experiência humana, foram dominados à medida que o espaço de fluxos passou a dominar o espaço de lugares, e o tempo intemporal passou a substituir o tempo cronológico da era industrial (CASTELLS, 2000, p.19).

De um lado, tais mudanças provocam desequilíbrios, dúvidas, desafios e questionamentos. De outro lado, o fenômeno da revolução tecnológica e da informatização desencadeia a necessidade de novas qualidades, conhecimentos, competências profissionais e, como conseqüência, a educação passa a ter papel relevante na nova sociedade da informatização.

Referências Bibliográficas

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução Roneide V. Majer. 8ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 1).

CASTELLS, Manuel. Fim de milênio. Tradução Klauss B. Gerhardt e Roneide V. Majer. 2.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.3).

* Texto original, extraído da tese de doutorado da autora, sob o título "Prática pedagógica do professor-tutor em educação a distância no curso Veredas - Formação Superior de Professores", defendida na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), São Paulo-SP em 2009, sob a orientação da Profª. Drª. Elsa Garrido.

** Castells (2005, p.67) refere-se às tecnologias da informação: microeletrônica; computação (software e hardware); telecomunicações, radiodifusão; optoeletrônica (dispositivos eletrônicos que interagem com a luz), engenharia genética e seu crescente conjunto de desenvolvimento e aplicações, rodeadas por avanços tecnológicos em relação às fontes de energia com suas aplicações em medicina, técnicas de produção, entre outras.

*** Para o autor virtual está relacionado com "estar na Internet", donde não se trata de substituir o real, mas de representá-lo; é uma abstração do real, ou seja, atividade ou processo que se desenvolve à margem de um espaço físico, temporal e através da Internet, capaz de mostrar realidades sem uma experiência física real, concreta e com localização geográfica definida (CASTELLS, 2005, p.427).

Autor: Zeila Miranda Ferreira


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