A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA




"Ninguém pode fugir ao amor e à morte."
(Públio Siro)

O hospital é uma instituição de atenção à saúde que possui uma finalidade específica e exige dos profissionais que nele atuam um conhecimento específico também. Esse fato pode ser um dos responsáveis pela formação mais técnica dos profissionais da enfermagem, considerando ser a equipe em maior contato com os pacientes.
A hospitalização gera sentimentos ambíguos à família e às crianças, associados a sofrimento, dor e também à possibilidade de cura (Collet e Oliveira, 2002). Para a criança, é ímpar a experiência de compartilhar sua intimidade com quem ela não conhecia antes, não tinha contato afetivo prévio. Dessa forma, não se sentirá à vontade para expor suas angústias para a equipe de enfermagem.
Considerando esse aspecto, o enfermeiro deve se oferecer para o auxílio nas dúvidas da criança e não aguardar que os pacientes o procurem. Não é de bom senso o uso de atitudes generalizadoras e somente em resposta a questionamentos, visto que o momento que a criança está passando não traz a ela liberdade para tratar de questões pessoais com a equipe.
Para se conhecer uma criança hospitalizada, Lima et al (2006) apontam para a necessidade de manter o desejo de realmente conhecê-la; disponibilidade de tempo, para que ocorra segundo a vontade da criança; conhecimentos, para que não a magoe nem a force a nada; preparo técnico, proveniente dos conhecimentos prévios adquiridos; além do auto-conhecimento, para que respeite seu próprio limite e não acabe estressado por essa atividade, a de cuidar de crianças.
Collet e Oliveira (1999) apontam também que pode ser de muita ajuda no decorrer da internação da criança a presença de figuras de afeto, os familiares que ela solicitar. É nele que a criança busca apoio, referências pessoais, proteção e orientação. A presença desse familiar torna a criança capaz de suportar os sofrimentos e ansiedades surgidos durante a doença e a hospitalização. Proibir a permanência junto à criança dessa figura de afeto pode significar a tomada da responsabilidade da criança para a instituição, além de interferir no seu senso de segurança, satisfação e alívio.
Além das figuras de afeto, é necessário, para o bem estar da criança na sua hospitalização, que sejam satisfeitas outras necessidades, segundo Lima et al (2006). Dentre estas, uma estimulação ambiental satisfatória, pois sua inteligência cognitiva e psicológica não nasce pronta, e com essa estimulação sensório-motora adequada, poderá resultar no desenvolvimento normal, ou próximo disso, o que poderia prevenir o retardo sensório-motor de origem ambiental.
A necessidade de recreação é também indicada como importante, pois é brincando que a criança interage com o ambiente e trabalha suas angústias e medos. A participação de adultos nas brincadeiras pode ocorrer eventualmente, quando solicitada pela criança. Entretanto, na enfermagem, pode-se optar pela técnica do brinquedo terapêutico, intervindo na hospitalização da criança, prestando uma assistência o menos traumática possível.
A hospitalização traz medo por ser algo desconhecido, uma experiência nova. Com o uso do brinquedo terapêutico, propicia-se conhecimento do próprio corpo, o que aumentam as possibilidades de perceber, diferenciar e sentir o mundo ao seu redor de uma maneira mais segura. Para Lima (2006), brincar já é um processo terapêutico. Brinca-se com o que não se pode entender, brinca-se para poder entender melhor e ressignificar a vida.
Há também as necessidades de higiene corporal, conforto, vestuário, sono, controle das eliminações e curiosidade sexual (Lima et al, 2006).
A enfermagem deve esforçar-se para satisfazer essas necessidades da criança hospitalizada, pois é função da enfermeira manter essa interação da criança e preservar seu desenvolvimento. Uma das maneiras propostas para a realização dessas funções da enfermeira seria a permanência dos pais durante a hospitalização da criança, prática essa respaldada por lei.
No Código de Ética da enfermagem, em seu artigo quinto, é apontada como responsabilidade da enfermagem "exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade".
O artigo 12 do Estatuto da Criança e do Adolescente aponta para a necessidade da "(...) permanência de tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente" (Fontinele Junior, 2007, pág. 34)
Na Cartilha do Direito do Paciente, no seu artigo 26, nos aponta para o direito a um acompanhante, tanto nas consultas como nas internações (Sant?Anna e Ennes, 2006).

Referências:

COLLET, N e OLIVEIRA, BRG. Manual de Enfermagem em Pediatria. Goiânia: AB editora, 2002.
__________. Criança hospitalizada: percepção das mães sobre o vínculo afetivo criança-família. Ver. Latino-am de enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 5, p. 95-102, dezembro, 1999.
FONTINELE JUNIOR, K. Ética e Bioética em Enfermagem. Goiânia: AB, 2007.
LIMA, JS. A importância do brincar e do brinquedo para as crianças de três a quatro anos na Educação Infantil. Monografia para conclusão de curso. Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, 2006.
LIMA, IL et al. Manual do técnico e auxiliar de enfermagem.7.ed. Goiânia: AB, 2006.
SANT?ANNA, SR e ENNES, ld. Ética na Enfermagem. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2006.
SILVA, AS. A enfermagem frente à morte de crianças institucionalizadas de 3 a 6 anos de idade: uma análise dos artigos 15 a 17 do estatuto da criança e do Adolescente. Monografia. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2008.
SILVA, AS. A importância do uso do brinquedo terapêutico por enfermeiros para crianças em tratamento quimioterápico. Disponível em: . Publicado em: 11/11/2010.

Autor: Andressa S. Silva


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