O SURGIMENTO DO INGLÊS NAS ESCOLAS DO BRASIL
A história do Inglês no Brasil se confunde com a história do próprio país. Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808 após o Bloqueio Continental, a Inglaterra, grande aliada de Portugal, estabeleceu aqui comércios e passou a exercer uma enorme influência na história deste país. Os ingleses tinham aqui várias casas comerciais, e além do domínio do comércio, eles deram inicio ao progresso industrial no país. Com isso, surgiram ofertas de emprego aos brasileiros, que até então só assistiam ao progresso inglês. Porém, quem quisesse se candidatar a ocupar as vagas de emprego oferecidas, precisaria ser treinado e receber instruções em inglês. Era exigido, portanto, que os brasileiros interessados em trabalhar nas companhias inglesas estabelecidas aqui, conseguissem se comunicar em língua inglesa. Acredita-se que os primeiros alunos e professores de inglês surgiram a partir desta necessidade.
Em 22 de junho de 1809, o Principe Regente de Portugal decretou que fossem criadas duas escolas de língua estrangeira, uma de língua inglesa e outra de língua francesa, e nomeou o padre Jean Joyce como primeiro professor formal de língua inglesa no Brasil. Com a fundação do Colégio Pedro II em 1837 iniciava-se a luta para manter no currículo das escolas as línguas modernas como o inglês e o francês. Este Colégio teve um papel importantíssimo na história do ensino de língua estrangeira no Brasil, pois desde seu inicio a língua inglesa faz parte de seu currículo. No entanto o inglês ainda tinha um longo caminho a percorrer, a metodologia de ensino das línguas modernas, inclusive do inglês, ainda era bastante similar à usada para ensinar línguas clássicas como o grego e o latim, com o foco na leitura e tradução de textos. Além disso, a importância atribuída ao inglês ainda era pouca, o francês era considerado língua universal na época, sendo a língua mais falada nas altas camadas sociais e também exigida para o ingresso em instituições de ensino superior.
Após a Proclamação da República em 1889, o então ministro Benjamin Constant promoveu várias reformas educacionais, dentre elas, a exclusão das línguas modernas como inglês, alemão e italiano do currículo obrigatório das escolas, propondo um novo currículo de caráter cientifico. Porém, com o afastamento de Benjamin Constant em 1892, Amaro Cavalcante assumiu o ministério, e as línguas que haviam sido excluídas, voltaram a ter lugar nos currículos escolares, assumindo um caráter cultural e literário no ensino brasileiro.
"Foi só muito lentamente, a princípio com a chegada da Família
Real, em 1808, posteriormente com a criação do Colégio Pedro II,em 1837, e finalmente com a reforma de 1855, que o currículo daescola secundária começou a evoluir para dar ao ensino as línguas modernas um status pelo menos semelhante ao das línguas clássicas." (LEFFA, 1999, p. 2-3)
O crescimento da língua inglesa no Brasil se deu na década de 1930 impulsionado pelo prenuncio da II Guerra Mundial. Nesse período a Inglaterra foi perdendo seu prestigio dando lugar ao mercado e à política Norte Americana que ganhava força e reconhecimento em todo o mundo.
Em 1931 a reforma de Francisco Campos modificou o ensino de línguas estrangeiras no Brasil. A Reforma diminuiu a carga horária de línguas mortas como o latim, e priorizou o ensino das línguas modernas. As mudanças foram ainda maiores quanto à metodologia utilizada no ensino de idiomas, um novo método onde a língua estrangeira era estudada através da própria língua foi chamado de ?método direto?, e transformou o ensino que ainda era voltado para leitura e tradução. O Colégio Pedro II, pioneiro no ensino formal de línguas, foi um dos primeiros a adotar o novo método em suas salas de aula, ainda no ano da reforma em 1931. Quanto à Reforma Francisco Campos Leffa diz:
[...] introduziu mudanças não apenas quanto ao conteúdo, mas,
principalmente, quanto à metodologia de ensino. Em termos de
conteúdo, foi dada mais ênfase às línguas modernas, não por um
acréscimo em sua carga horária, mas pela diminuição da carga
horária do latim. A grande mudança, porém, foi em termos de metodologia. Pela primeira vez introduzia-se oficialmente no Brasil o que tinha sido feito na França em 1901: instruções metodológicas para o uso do método direto, ou seja, o ensino da língua por meio da própria língua (LEFFA, 1999, p. 5).
Foi também na década de 1930 que surgiram os primeiros cursos de idiomas no país, a Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa foi fundada no Rio de Janeiro em 1934, e um ano depois se estabeleceu também em São Paulo. Essas fundações surgiram como uma das iniciativas do Governo Britânico de tentar restabelecer o domínio perdido para os Estados Unidos. Em resposta, o consulado americano apoiou a criação do instituto binacional União Cultura Brasil - Estados Unidos no ano de 1938 em São Paulo. Em 1942, durante a Era Vargas, o então ministro da educação e saúde Gustavo Capanema realizou uma das maiores reformas do sistema educacional brasileiro. Baseada nos ideais políticos e nacionalistas implantados durante o Estado Novo, a reforma Capanema, como ficou conhecida, equiparou todas as modalidades de ensino médio e as dividiu em dois ciclos, o primeiro chamado de ginásio, durava quatro anos e o segundo tinha duração de três anos e era dividido em clássico e cientifico, o clássico era voltado aos estudos humanísticos, como línguas, e o cientifico priorizava o estudo de ciências. Com essa nova estrutura de ginásio e cientifico a carga horária do ensino de línguas foi bastante reduzida, pois o estudo das ciências ganharam grande prestigio na época.
Mais tarde em 1961 é criada a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), e transforma o ginásio e cientifico em 1º e 2º graus. Nessa lei é estabelecido que o ensino de línguas estrangeiras é parcialmente obrigatório no 1º grau, a língua estrangeira deve ser ministrada apenas onde possa ser feito com eficiência. Dez anos depois em 1971, foi publicada outra LDB, esta reduziu o tempo de estudo de 12 para 11 anos, distribuídos em oito anos de 1º grau e três anos para 2º grau. Essa redução dos anos escolares acabou prejudicando o ensino de língua estrangeira, pois um parecer Conselho Federal dizia que a língua estrangeira, seria agora ministrada a "titulo de acréscimo" e dada de acordo com as condições do estabelecimento. O que aconteceu foi que muitas escolas excluíram o ensino de línguas no 1º grau, e reduziram drasticamente este ensino que ainda era obrigatório no 2º grau. No parecer 853/71 de 12 de novembro de 1971 é dada uma justificativa à esta decisão:
"Não subestimamos a importância crescente que assumem os idiomas no mundo de hoje, que se apequena, mas também não ignoramos a circunstância de que, na maioria de nossas escolas, o seu ensino é feito sem um mínimo de eficácia. Para sublinhar aquela importância, indicamos expressamente a "língua estrangeira moderna" e, para levar em conta esta realidade, fizêmo-la (sic) a título de recomendação, não de obrigatoriedade, e sob as condições de autenticidade que se impõem". (LDB, 1971)
A Nova LDB, do ano de 1996 é a que rege a educação no Brasil até hoje, nela os 1º e 2º graus são substituídos por ensino fundamental e médio. Essa lei melhorou a situação do ensino de línguas no país, estabeleceu a necessidade de uma língua estrangeira no ensino fundamental, de acordo com a escolha da comunidade, que a esta altura já reconhecia a importância e o domínio da língua inglesa. E, no ensino médio, estabeleceu uma língua estrangeira obrigatória e uma outra optativa, sendo esta segunda de acordo com as possibilidades de cada instituição. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) surgiram em 1999 para complementar a Nova LDB. Com relação ao ensino de línguas estrangeiras os PCNs estabelecem que:
"A inclusão de uma área no currículo deve ser determinada, entre outros fatores, pela função que desempenha na sociedade. Em relação a uma língua estrangeira, isso requer uma reflexão sobre o seu uso efetivo pela população. No Brasil, tomando-se como exceção o caso do espanhol, principalmente nos contextos das fronteiras nacionais, e o de algumas línguas nos espaços das comunidades de imigrantes (polonês, alemão, italiano etc.) e de grupos nativos, somente uma pequena parcela da população tem a oportunidade de usar línguas estrangeiras como instrumento de comunicação oral, dentro ou fora do país. Mesmo nos grandes centros, o número de pessoas que utilizam o conhecimento das habilidades orais de uma língua estrangeira em situação de trabalho é relativamente pequeno."
Os PCNs não estabelecem nenhuma metodologia especifica para o ensino de línguas, porém, sugerem que de acordo com as necessidades dos estudantes brasileiros, a metodologia voltada para leitura e interpretação de textos é a ideal a ser trabalhada na sala de aula. A metodologia usada no século passado para ensinar línguas clássicas que recebeu o nome de Método Tradicional representa até hoje, o retrato do ensino de língua estrangeira nas escolas do Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEFFA, Vilson J. O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional. Contexturas, APLIESP, n. 4, p. 1-20, 1999. Disponível em: http:// www.leffa.pro.br/oensle.htm. Acesso em 08 de Novembro de 2010.
CELANI, Maria Antonieta Alba. Ensino das línguas estrangeiras: olhando
para o futuro. Ensino de segunda língua: redescobrindo
as origens. São Paulo: EDUC, 1997.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais para o terceiro e quarto ciclos (da 5ª à 8ªsérie) do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Autor: Maria Raquel Fernandes Pereira
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