Dores, flores da alma...



Hoje vamos falar de flores... Não qualquer flor, mas as flores que cultivamos na alma. Dificilmente serão flores lindas, coloridas e perfumadas porque, como humanos que somos, não guardamos na alma as lembranças boas. Guardamos ali as más recordações e as regamos e cultivamos como um frio e gelado jardim, onde as flores não têm cores a não ser a cor da neve, da aridez, de coisas mortas.
É muito, muito difícil falar dessas dores que guardamos interiormente, nossas flores ocultas, simplesmente porque sabemos que se elas ali permanecem é porque nós não soubemos arrancá-las dali, valorizando os momentos bons e descartando os maus. Nossa dor não se deriva das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e que não se cumpriram.
Todavia, temos consciência de que essas dores são atrozes, tanto quanto um mal físico sem cura. É que sob o domínio delas, somos assolados pela depressão, ou pela vivência de um estímulo traumático ou pela somatização de vários fatos negativos que foram se acumulando no nosso íntimo. Aí, nossos mecanismos de defesa falham e em muitos dos casos, é preciso recorrer à ajuda profissional sob pena de não conseguirmos vencê-la e mergulharmos num abismo profundo de onde, dificilmente nos recuperamos. Essa depressão biológica e psíquica pode manifestar-se através da falta de sono, da perda de apetite ou por outro lado pela compulsão pelo alimento, perdemos a sensação de prazer, não reconhecemos o humor, perdemos por inteiro nossa auto-estima. Em suma, a palavra-chave é "perda".
Geralmente, essa sensação negativa vem acompanhada de um grande complexo de culpa, não fomos bons o suficiente para manter o emprego, o amor do outro, as conquistas passadas. Na verdade, nos culpamos até mesmo por não sermos capazes de deter a sucessão de eventos e acontecimentos, não conseguimos fazer o mundo parar de girar, não detemos o nascer do dia e a chegada da noite. Como não podemos alterar o mundo real, sentimos raiva e essa raiva traduz-se sob o efeito da ansiedade, da pressa mal contida. É como se lêssemos um livro e quiséssemos ir do início à última página.
É preciso lembrarmo-nos de que não somos onipotentes, não somos deuses apesar de termos sido criados à sua imagem e semelhança!
Essas dores que cultivamos na alma são resultado de não sabermos usufruir o momento presente e fazer dessas lembranças o lenitivo. Esquecemos de agradecer pelo que tivemos e estamos sempre buscando mais e mais. É preciso saber saborear a vida, os fatos felizes, curtir as pessoas que contribuíram pelas nossas alegrias. E se esses motivos passarem, que fique sempre o sabor doce e cálido do afeto, da leveza da alma, da beleza do amor e da amizade.
Temos que ter a consciência de que viver não dói, o que dói é não sabermos fazer as escolhas certas. Problemas sempre existiram e sempre existirão, a sabedoria está em resolvermos esses problemas até mesmo, se preciso for, com o perdão. Isso não é fácil, é preciso muita superação, elevação da alma, não só para perdoarmos os outros, mas para perdoarmos a nós mesmos pelos erros cometidos.
Nossas dores estão muito ligadas ao egoísmo porque queremos sempre eternizar o instante, prender as pessoas que nos marcaram positivamente sem lembrar que não somos donos do outro, que a liberdade é linda como o esvoaçar das aves e borboletas. Mas, assim como lamentamos o fenecer de uma rosa e guardamos dela somente a lembrança de quanto ela nos fez felizes, temos que guardar no peito a lembrança de sorrisos, olhares, carícias, palavras e gestos. E não ficar parado, no passado, sem ver a corrente do tempo.
No dizer de Marta Medeiros: "Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas... Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais."

Autor: Lucia Czer


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