Mais que um ídolo, mais que um herói nacional... Um mito!



UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

Mais que um ídolo, mais que um herói nacional... Um Mito!
"Ayrton Senna do Brasil"

Karina Araújo Abritta Bottoni
Pólo Aracruz ? ES
Nº de Páginas: 07

Mais que um ídolo, mais que um herói nacional... Um Mito!
"Ayrton Senna do Brasil"

Este trabalho visa refletir sobre o ídolo, herói e mito "Ayrton Senna do Brasil".
Desde o surgimento das primeiras sociedades organizadas, o homem apresenta a necessidade de se identificar com personagens ? Mito, Ídolo e Herói se fazem presente em todas as partes do mundo.
A vida em sociedade será sempre caracterizada pela idéia de relação, ou seja, a própria existência da sociedade já pressupõe a relação, desejada ou não, entre os indivíduos. Freud define este indivíduo como um ser de horda, como alguém que sempre necessitará de uma liderança a lhe apontar os caminhos.
Consultando o dicionário a palavra mito vem do grego mithós. O mito procura explicar a realidade, os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis. É a narração de um feito incomum e difícil de ser realizado por um mortal que chega a ser considerado inacreditável, realiza feitos únicos, um mito nunca é substituido. O ídolo tem uma característica temporal, seu reinado não dura para sempre e o herói é a forma de identificação/prejeção.
Para Freud o mecanismo de projeção consiste em procurar no exterior a origem de um desprazer, defendendo o sujeito daqueles sentimentos, desejos, que não suportaria percebê-los como próprios. Segundo LAPLANCHE e PONTALIS (1986), para Freud, a projeção se origina na pulsão ? excitação geradora de tensão, geralmente proveniente da sexualidade. Esta excitação é dividida em pulsão de vida ? produtora de energia vital e mantenedora do sujeito em funcionamento, e a pulsão de morte ? produtora de processos destrutivos. A pulsão de vida é aquela que se pode fugir e se proteger, já a pulsão de morte, o sujeito não tem como fugir e nem se proteger, por conta disto é produtora de grande carga de sofrimento. Dessa forma, há uma articulação entre a dinâmica projetiva e a pulsão de vida cujo o objetivo é diminuir a pressão dispensada pela pulsão de morte diante de algo desagradável, produzindo um estado de fuga que o leva a procurar no exterior as causas dos seus desconfortos. (Laplanche e Pontalis, 1986)
O mito cumpre uma função social, pois projeta em sua imagem os sonhos e aspirações coletivas. No imaginário coletivo coexistem dois tipos distintos de Ayrton Senna: Corajoso Guerreiro ? semi-deus das pistas, rei da chuva, único, preciso, inatingível e inagualável; e o Cidadão Exemplar ? bom moço, tímido, gentil e carismático.
Em relação ao ídolo, Lesourd (2004) ressalta que sua função é ser figura de identificação para o sujeito e que será "nas relações sociais, no que chamaremos discursos sociais, que é preciso procurar a origem do ídolo, a sua criação. (2004: 86-87)
É muito comumente, apresentar um fascínio pelo ídolo, fato que impede de manter uma posição crítica em relação a ele.
"... o ídolo só pode ser compreendido como uma mistura. Modelo identificador de diferenciação em relação aos adultos, ele é também uma representação dos valores dominantes da sociedade do momento, a dos adultos. Ele tem assim para o adolescente uma função de laço com os da sua classe de idade, os pares contra os adultos, mas também de laço com a sociedade em seu conjunto, através das mensagens de valores que ele transmite" (LESOURD, 2004: 89).

A agitação fascista está centrada na idéia do líder, não importando se ele lidera de fato ou se é apenas o mandatário de interesses do grupo, porque apenas a imagem psicológica do líder é apta a reanimar a idéia do todo poderoso e ameaçador pai primitivo.
O mecanismo que transforma a libido na ligação entre o líder e seguidores, e entre os próprios seguidores é a identificão.
A identificação é a "expressão mais primitiva de uma ligação emocional com outras pessoas", desempenhando "um papel na história incial do complexo de Édipo".
A tensão entre eu ideal (narcisista) e ideal de eu (social) está na raiz da constituição do sujeito pelo processo identificatório.
O papel do narcisismo em relação a identificação que estão em jogo na formação dos grupos fascistas é reconhecido na teoria de Freud da idealização. "Vemos que o objeto é tratado da mesma maneira que o nosso próprio eu, de modo que quando estamos apaixonados uma quantia considerável de libido narcisista transborda no objeto. É até mesmo óbvio, em muitas formas de escolha amorosa, que o objeto serve como um substituto para algum ideal de eu, por nós inatingido. Nós o amamos por causa das perfeições que nos esforçamos par alcançar para o nosso próprio eu, e que agora gostaríamos de obter deste modo indireto, como um meio de satisfazer nosso narcisismo". A comunidade do povo fascita corresponde exatmente a definição de Freud de um grupo como sendo "vários indivíduos que substituiram seu ideal de eu pelo mesmo objeto e consequentemente se identificaram uns com os outros em seus eus".
Em suma, "a identificação não é somente o caminho da formação de um elo sonhado ou fantasiado com o objeto do desejo, mas também a condição para a instauração de um elo social.

"Cada indivíduo é uma parte componente de numerosos grupos,
acha-se ligado por vínculos de identificação em muitos sentidos
e construiu seu ideal do ego segundo os modelos mais variados.
Cada indivíduo, portanto, partilha de numerosas mentes grupais - as da
sua raça, classe, credo, nacionalidade, etc. - podendo também elevar-se
sobre elas, na medida em que possui um fragmento de independência e
originalidade" (Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Eu).

Mas quem foi Ayrton Senna?
Talentoso, audaz e expremamente rápido, Ayrton Senna começou a bilhar no Kart com o incentivo de seu pai.
Símbolo da busca da perfeição ao volante, assombrou a fórmula 1 durante uma década inteira. Dedicado e competitivo ao extremo, afirmava que "não se contentava em ser o 2º melhor, mesmo que isso significasse o fim da carreira".
Para Freud, o narcisismo secundário se refere ao refluxo da libido dos objetos para o próprio eu.
O delírio de grandeza, próprio a esses estados, nos indica o caminho.
Sem dúvida, nasceu a expensas da libido de objeto.
A libido retirada do mundo externo foi conduzida para o eu e assim
surgiu uma atitude que podemos chamar narcisismo.
Mas o delírio de grandeza não é uma criação nova, como sabemos, é
a ampliação e o desdobramento de um estado que já existia antes.
Isso nos leva a conceber o narcisismo que nasce da retirada dos
investimentos objetais como um narcisismo secundário que se edifica
sobre a base do outro, primário (Freud [1914] 2006:72-3).

Em 1992, Senna estava determinado a vencer apesar do dasanimo com o novo carro que apresentava falhas. Neste ano, Senna venceu em Mônaco, Hungria e Itália e acabou o campeonato nem modesto 4º lugar, perdendo o 3º lugar para Schumacher.
Em 1993, chegou ao final do ano sem ser contratado por nenhuma equipe. Se ofereceu por nada para a equipe da Williams, seu desejo era fazer parte da equipe vencedora, entretanto foi impedido por uma cláusula no contrato de Alan Prost um dos seus rivais. Esta cláusula não se estenderia para o ano seguinte, o que fez com que Prost se retirasse da equipe e Senna finalmente assinar o contrato.
A 1ª corrida em 1994, foi no Brasil, Senna assumiu a ponta, mais Schumacher com a Benetton tomou liderança depois de passar Senna na volta 21. Senna determinado a vencer no Brasil, errou perdendo o controle do carro abandonando a corrida na volta 55. A 2ª corrida foi disputado no Japão, onde Sennna se envolveu numa colisão e a corrida para ele acabou e Schumacher venceu novamente. Schumacher liderava o campeonato com 20 pontos e Senna com 0, foi o pior início de temporada para Senna. A 3ª corrida em Ímola, Senna declarou ser a corrida de início de temporada. Esperava-se a virada de Ayrton Senna.
O acidente aconteceu na 7ª volta, Senna não teve como controlar o carro e chocou-se violentamente contra o muro de proteção. Retirado do carro, atendido no chão, Senna deixou os expectadores apreensivos o ídolo estava morto.
Não era porém o fim de uma história...
A morte solidificou-o no imaginário popular brasileiro. Sua morte o colocou num pedestal. Quem não se lembra das maravilhas que senna fazia ao folante? Nosso campeão com a bandeira Nacional a comemorar sua vitória, sua trilha sonora, Galvão Bueno afoito a gritar, tudo isso enchia-nos de orgulho e esperança.
A morte súbita no auge da carreira foi um ingrediente vital da constibuição de um herói.
Morreu o herói, porém nascia o mito Ayrton Senna.
Caso estivesse vivo que representação teria Senna? Ele alcançaria essa posição mesmo se a fatalidade não tivesse acontecido? Afinal quem foi o melhor piloto de todos os tempos, Schumacher ou Senna?
Senna morreu em ação.
Ainda que de uma maneira geral, reconheçamos a perda como fator determinante para o possível desaparecimento do grupo, esta também pode servir como reforço na continuidade das realções. Sendo a relação "fã e ídolo" uma relação entre indivíduos, a perda neste caso representada de forma plena através da morte física. Se o ídolo já possuia o status de alguém especial, quase não humano em vida, agora ele se inclui no rol dos semi-deuses.
Desta forma, os meios de comunicação de massa, passaram a lidar com o mito que Ayrton Senna se transformou e no reforço de sua imagem. A TV Globo disponibilizou ao público uma grande quantidade de informações sobre Senna, exaltando os seus valores positivos, reforçando a imagem de herói, contribuindo para a manutenção do mito no inconsciente coletivo. De modo a perpetuar na memória de novos fãs o trabalho do ídolo, surge a necessidade de compartilhar material, e de certa forma, mostrar que aquela morte não foi em vão. A morte vai representar uma nova etapa das relações, e sendo assim, esta partida não é, de forma nenhuma , sem volta.
Exemplo disso foram as reportagem exibidas em março de 2004, comemorando os 44 anos de Senna. Porque comemorar 44 anos quando neste mesmo ano faria 10 anos sem Senna? Na verdade a Globo quis passar o impressão de vida e não de morte.
Na 1ª reportagem, a TV Globo porpos mostrar a trajetória de vida desde a infância , na 2ª suas vitórias, rivalidades na pista e morte, a 3ª através do Instituto Ayrton Senna, transmitiu ações de solidariedade, na 4ª retratou Senna fora da pista "campeão de simplicidade" e na última Senna aparece como um herói, um exemplo a ser seguido. Pesquisas mostram que a popularidade de Senna nesses 16 anos não diminuiu. Pessoas que não o viram correr apontam Ayrton Senna como o maior ídolo do esporte brasileiro. Isso porque a imagem que ele deixou, de talento, determinação, garra e identidade com a bandeira brasileira, permanece vivíssima entre o público. Em dezembro de 2009, Ayrton Senna foi eleito o melhor piloto da Fórmula 1.
É verdade que Ayrton Senna despertva paixão, entretanto, nas reportagens apresentada, percebe-se que a simplicidade dificilmente pode ser verificada de acordo com o que foi exposto: mansões, piscina, lanchas, fazendas. As rivalidades na pista se extendia para fora delas. Durante a longa carreira, Senna se envolveu em vários acidentes, via seus concorrentes diretos como inimigos e não manteve bom relacionamento com nenhum deles.
Senna tinha verdadeira obsessão em ser o melhor e não media esforços para mostrar a si mesmo que era capaz. Para superar seus rivais fazia loucuras no carro, regulagens extremas, que trazia um ponto negativo: a diminuição da segurança em prol da velocidade.
"A Pulsão de morte não é uma exigência de meu coração,
considero-a apenas como uma concepção inevitável, tanto
em termos biológicos, como lógico-psicológicos.
O resto é conseqüência disso".
(Freud em carta a Pfister de 1930)
O indivíduo reconhece que as obsessões ou compulsões são excessivas e irracionais, mas é atormentado por esmagadora descarga de ansiedade se não obedece aos desígnios da doença.
Freud revelou, em sua teoria sobre as neuroses, uma característica fundamental na neurose obsessiva: o seu vínculo estrutural com o sentimento de culpa. Através das referências nas representações e nos afetos atuais, das experiências precoces geradoras de prazer, o sujeito se vê invadido por recriminações, com as quais Freud chega a identificar-se com a idéia obsedante em si mesma, isto é recriminação, que o obsessivo faz a si mesmo, ao reviver o gozo sexual que antecipava a experiência ativa de outrora.
Freud percorreu pela neurose obsessiva percebendo a ocorrência das lutas defensivas. O caráter obsessivo das formas transcritas por ele não tem haver somente com forças ou intensidade de representação, mas a sua essência é antes a indissolubilidade pela atividade psíquica passível de ser consciente e isso derivaria pelas lembranças recalcadas na sua tenra idade.
"No Mal Estar da Civilização" Freud comenta que na neurose obsessiva há tipos de pacientes que não se dão conta de seu sentimento de culpa, ou apenas o sentem como um mal estar atormentador, uma espécie de ansiedade, se impedidos de praticar certas ações. Ele nos mostra que o sentimento de culpa nada mais é do que, uma variedade topográfica da ansiedade, em suas faces posteriores coincide completamente com o medo do super ego, isto é, a severidade da consciência, a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado, desta maneira, a avaliação da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do super ego.
O universo que gira em torno desses ídolos é o que clama por mortes trágicas, pois uma das suas maiores atribuições é ser fábrica de mitos. E dentro da chamada indústria cultural, a idéia de mitificação passa indiscutivelmente pela morte, ou pelo desaparecimento voluntário. Trata-se de uma oposição entre "esquecimento" e "glória", determinante no mundo grego. Numa sociedade de confronto onde, para se fazer reconhecer, é preciso sobrepujar seus rivais, numa contínua competição pela glória, cada um está sob o olhar do outro, cada um existe a partir desse olhar.
Portanto o herói vive e morre para o amanhã, para ser lembrado de geração em geração. O alcance da condição heróica, da glória imperecível, passa pelo confronto direto com os inimigos, pela morte no esplendor da juventude, a "bela morte", a qual um vivente pode se orgulhar. Nosso ídolo em questão parece trazer um pouco desta carga dramática dos gregos... Homem de bem, homem de coração ? Mortalidade e Imortalidade se associam a sua pessoa e se interpenetram.

"Brasileiro só aceita título se for de campeão. E eu sou brasileiro". (Ayrton Senna)

Bibliografia:
LESOURD, Serge. A construção adolescente no laço social. Petrópolis: Vozes, 2004
FREUD, Sigmund. "O mal-estar na civilização". In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1989, v. 21, pp. 73-171.
FREUD, S. Notas psicanalistas de um caso de paranóia. In: edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund.
Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. XII, 1985

FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. XVIII, 1985.

LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. Tradução de Pedro Tamen. São Paulo: Martins Fontes. 9º ed. 1986.

SANDLER, J. Projeção, identificação, identificação projetiva. Porto Alegre: Artes Médicas,1989.

Teoria Freudiana e o padrão da Propaganda fascista. (Texto/Pólo Aracruz)
Autor: Karina Abritta


Artigos Relacionados


Ônibus

Teoria Geral Do Conhecimento

Ayrton Senna CampeÃo Da Silva

Saudades De Um Brasileiro

Aprendendo Com Ayrton Senna!

Massa Correrá Com Capacete Do Pai

Tempo Extra