VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS PRATICADAS POR ADOLESCENTES DE RUA




INTRODUÇÃO


A busca pela compreensão e entendimento ao estudo da linguagem nos deparamos com umas variações e maneiras de estudos decorrentes ao comportamento humano. Segundo linguística Mattoso Camara Jr (1990) no qual afirma que a linguagem é algo trivial em nossa vida social. Os homens falam tão natural e espontaneamente como caminham. Todavia sabemos que a linguagem não é um fenômeno biológico como o caminhar, mais uma criação social baseada na capacidade biológica no qual o falar se torna tão mecânico na vida social.
Ao se discutir a questão da variação linguística como instrumento de estudo socioliguístico com os falantes adolescentes que convivem nas ruas e em grupos conflitantes com ações criminosas. Requer um olhar diferente e atendo nesse novo falar e sua socialização junto ao meio social, cultural e familiar. Se contempla dois aspectos, o estudo da linguagem em seu contexto social e histórico e em outro momento a variação linguística dos jovens em situação tão adversas e conflitantes.
Sendo notório o descaso e a desvalorização da escola aos jovens na sua pratica como falante diferente. A postura em sua maioria é discriminatória quando se rotulam os falantes que utilizam-se de gírias, dialetos e códigos no universo escolar. Traçar as causas, os efeitos e as consequências que essa variação linguística traz como instrumentos para a formação de uma identidade a essa clientela, que por sua vez carrega consigo um multiculturalismo na utilização da língua como mecanismo de comunicação é um ponto a ser analisado e estudado em um momento posterior.
A variação linguística encontra-se presente na formação e estrutura de nossa língua. Sendo algo merecedora de análise decorrente a sua riqueza e detalhe, existem diversas formas de se falar a nossa língua. Essa variação é gerada por um grupo social devido a muitos fatores tais como social, histórico, econômico e cultural. Portanto, é necessária a valorização e aceitação dessas variações realizando um estudo no sentindo de compreender as causas que geram esses fenômenos e na tentativa de entendermos o processo de mudanças da língua.
A linguagem em geral se desenvolveu pouco a pouco baseada nos estudos comparativos do indo-europeu. O Indo-Europeu era uma língua muitíssimo antiga, que espalhou os seus ramos por vastas regiões da Ásia e por quase toda a Europa. Nesse estudo não podemos esquecer o suíço linguística Ferdinand Saussure , que no inicio do século XX, se destacou com sua doutrina linguística geral. Saussure não publicou nenhuma obra, era professor em Genebra. O primeiro e crucial problema da linguística geral apontada por ele focalizou à natureza da linguagem. Considerando que é um sistema de signos. Tal pensamento a língua lhe parecia como uma entidade abstrata, resultante de relação que uma comunidade estabelecia entre os complexos sons vocais e os outros conceitos.
Para Saussure a língua nada mais era que um sistema de relações, considerando que de um lado temos as idéias (significantes) e de outro a forma lingüística (significado), tal relação para ele era arbitrária, isto é, não determinada pela natureza dos conceitos, onde qualquer significante sendo capaz de se relacionar com o significado. Essa abordagem busca uma definição do que seria linguística .

"F. de Saussure é quem define, pela primeira vez, com maior clareza, o objeto da lingüística, stricto sensu. Partindo do ponto de vista da linguagem como fenômeno unitário, divide-a em língua (langua) e discurso (parole). A língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade; possui homogeneidade e por isso é o objeto da lingüística propriamente dita." (CABRAL,1988: p.4)

Baseada nessa abordagem sobre língua e fala podemos agora entrar na questão da variação linguística. O ser humano ao falar tem uma determinada língua de acordo com sua área geográfica, podendo haver nesse mesmo espaço línguas diferentes.
Os falantes podem estar expostos ás diversas variações linguísticas, onde podemos verificar que a língua segue algumas padronizações em seus estudos. Segundo Leonor Cabral (1988), a política da língua e a educacional devem ser traçadas de modo a favorecer a integração do indivíduo na sociedade sem distúrbios de ordem psicológica, e consequentes desajustes sociais. As variações linguísticas são as diferentes manifestações e realizações da língua, as diversas formas que a língua possui, decorrentes de fatores de natureza histórica, regional, social ou situacional. Essas variações podem ocorrer a nível fonético e fonológico, morfológico, sintático e semântico afirma José Fiorin (2010).



METODOLOGIA

O estudo tem como proposta metodológica a pesquisa qualitativa no qual descreva variação linguística do jovem do município de Boa Vista, numa abordagem educacional, cultural, econômica, racial e as relações junto à comunidade. Compreendendo que esse conhecimento requer investigação, análise, avaliação e pesquisa de campo e bibliográfica. Utilizaremos as técnicas e instrumentos de observação, e por meio de consultas bibliográficas.
Em ambos os casos, buscam-se conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. No desenvolvimento de uma pesquisa de campo exige planejamento, e como bem esclarece Fachin:

A pesquisa de campo detém-se na observação do contexto no qual é detectado um fato social (problema), que a princípio passa a ser examinado e, posteriormente, é encaminhado para explicações por meio dos métodos e das técnicas específicas (2003 p. 133).


Para Lakatos (2007) a pesquisa de campo tem como objetivo conseguir informações e/ou conhecimento acerca de um problema, no qual que busca resposta, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. Com o instrumento na coleta de dados serão utilizados a aplicação de questionários, entrevista e análise de documentos em conjunto com a pesquisa de campo. Os adolescentes que cumprir medida socioeducativa no CSE- Centro Socioeducativo no município de Boa Vista-RR, na aplicação de um questionário investigativo e acadêmico se observo algo peculiar e interessante, uma riqueza na utilização da fala, que se propaga junto aos adolescentes nessa instituição.
A investigação direcionava a análise do perfil dos jovens que cumprem medidas socioeducativa, o convívio e experiência com essa clientela despertou um olhar curioso a essa variação linguística. Sua fala apresenta uma variação linguística que requer um estudo mais atendo e especifico, todavia a curiosidade resultou uma pequena amostragem dessa riqueza do falar dessa clientela em especial.
Os adolescentes em conflito com a lei, os quais integram a categoria chamada de delinqüência juvenil, geram reações e sentimentos hostis de grupos sociais que não analisam o contexto socioeconômico, político e cultural em que vivem. Os mesmos construíram em seu meio um mundo único que está presente em nossa sociedade de forma significativa.

Uma língua viva está em constante evolução: dialetos, gírias, neologismos, estrangeirismos, tudo faz parte dela, dessa ebulição que a mantém animada. Portanto, ainda que hoje se conseguisse uma Gramática explícita do português brasileiro, digamos de década de 90, em breve ela estaria desatualizada, e o professo, obrigado a novos ajustes. (LUFY,1998, p.1998)

As variações linguísticas constituem o retrato do Brasil, de seu povo, de sua cultura, por isso devem ser reconhecidas como patrimônio histórico-cultural em constante evolução como se observa esse trecho utilizado por esses jovens em conflito com a lei. Atualmente a realidade do Brasil demonstra um retrato socioeconômico, no que se refere ao perfil dos jovens que convivem nas favelas, sendo fruto de uma migração desordenada e de uma diversidade sociocultural que proporciona uma interferência no âmbito da socioliguística. De acordo com Sá (2007, p.39):

O termo sociolinguística tem sido usado para conceituar o estudo da língua em seu contexto social, ou seja, é um campo de investigação que descreve todas as áreas do estudo da relação entre língua e sociedade.


O estudo da linguística é muito antigo, iniciando com interesse em compreender a função da linguagem, segundo Saussure a linguagem é heteróclita e multifacetada, pois abrange vários domínios (FIORIN, 2010, p.14). Já Chomsky (2006) afirma que a linguagem é um objeto natural, um componente de mente humana, representado fisicamente no cérebro e integrada ao patrimônio biológico da espécie. Nesse conjunto de teoria temos, portanto, a língua como sistema linguístico socializado.

Podemos observar um dialogo com uma variação e significação complexa e indecifrável, os estudiosos da língua portuguesa estariam nesse momento careca com os erros fonéticos, semânticos e ortográficos. Mais não é esse o nosso estudo, vejamos numa perspectiva cultural, social, econômica e política os instrumentos linguísticos utilizados por esses jovens.


(...) e ai qual é a tua maluco / qual foi seu Zé Buceta? Vai querer embaçar? Qual foi seu irrostido? Seu cú de galinha / Qual é mané? Ai seu fisurado? Ai seu babão? Ei doido vamo ali num rock, lá tem goró e feijão da lavra, o problema que os ome tão na cola direto " (2009)


A análise tem como foco o contexto da variação linguística produzida por adolescentes infratores, enfatizando os elementos teóricos, históricos, culturais, sociais e educacionais junto a trajetória da criminalidade. "Vamos bater um bife ? (sexo)/ Vai pegar um pau ? (apanhar)/ Jack ? estuprador / Ei sua galerosa um borá funde safada". A linguagem utilizada são uns instrumentos de socialização e comunicação a esse grupo de falantes, servindo como mecanismo de defesa e de proteção.

A variação social ou diastrática constitui um dos tipos de variação linguística a que os falantes são submetidos. A utilização da linguagem perpassa a vários ramos de estudo, essa variação proporciona ao falante uma troca de experiência. O socioculturalismo ocorre através de um grupo social, relacionado com um conjunto de fatores que têm como elemento essencial a identidade dos falantes e também de sua organização sociocultural da comunidade no qual pertence. Portanto, o texto busca uma discussão entre esses fatores que estão interligados com os adolescentes em conflito com a lei no município de Boa Vista-RR, apontando algum fator relacionado às variações de natureza social e cultural.

Os jovens em questão construíram um mundo com sua cultura própria que em nossa sociedade é classificada delinqüência juvenil, todavia, centralizamos nossas atenções em suas infrações não percebemos o seu mundo em nossa volta. Nossa sociedade atual convive o que chamamos de avanço tecnológico e mundo globalizado, estamos num processo construção de novos valores e interação cujos agentes são o ser humanos. Para Kruppa "a socialização e interação social, elementos do processo educativo, são também as condições e o resultado da vida social" (1994: p.23).

Os que consideramos como erros linguísticos, gramaticais, morfológico e fonético esses falantes os criam numa velocidade incompreensiva, chegando aos poucos às instituições escolares. Vejamos algumas palavras comuns que já são pronunciadas nas instituições escolares e por vários jovens das diversas classes sociais:


Para Marilena Chauí (2000) a linguagem cria, interpreta e decifra significações, podendo fazê-lo misticamente ou logicamente, magicamente os racionalmente, simbolicamente ou conceitualmente. As instituições escolares e a sociedade como todo precisam aprofundar um estudo que fortaleça esse novo instrumento cultural, social, educacional e simbólico entre essa camada social dos adolescentes em situação de risco.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



CABRAL, Leonor Scliar. Introdução à Linguística. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Globo. 1988.

CAMARA JR, Joaquim Mattoso. História da Linguistica. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 1990.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 3ª edição. São Paulo: Ática, 2000.

CHOMSKY. Noam. Sobre a Natureza e Linguagem. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2006.

FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

FIORIN, José (org). Introdução à linguística. 6ª Ed. São Paulo: Contexto, 2010.

FURASTÉ, Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Cientifico: Explicitação das Normas da ABNT. 15 ed. Porto Alegre, 2010.


HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 11º ed. Rio de Janeiro: DP& A Editora, 2006.

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LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. Petrópolis: Zahar, 2004.

LAKATOS, Eva. Fundamentos de Metodologia Científica. 6º Ed. São Paulo: Atlas, 2007

LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. Rio de Janeiro: Globo, 1998.

MATENCIO, Maria Lourdes. Leitura produção de textos e a escola. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1994.

SÁ, Edmilson. Estudos de Variação Linguística: o que é preciso saber e por onde começar. São Paulo: Ed. Textonovo, 2007.

SILVA, Tomaz. Identidade e diferença: A perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis:RJ, 2004.


Autor: Marilia Pantoja


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