FRANCISCO JULIÃO



Francisco Julião apesar de pouco conhecido foi um grande nome da política pernambucana, e pela grandeza dos seus ideais, uma espécie de Joaquim Nabuco aloprado.
O deputado e advogado pernambucano Francisco Juliano Arruda de Paula nasceu no Engenho Boa Esperança em Bom Jardim no dia 16 de fevereiro de 1915. Filho e neto de senhores de engenhos com uma consciência social acima da média estudou no Carneiro Leão e Ginásio Pernambucano e formou-se em direito. Defendia pobres, camponeses e prostitutas. Com a decadência dos engenhos e a ascensão dos usineiros o campesinato encontrou espaço para lutar por melhorias e ele acabou sendo um forte aliado dos sindicatos e ligas camponesas. Usava os seus conhecimentos legais e religiosos para encontrar no Código Civil e na bíblia armas de defesa dos seus ideais anarquistas e marxistas. As ligas tiveram um desenvolvimento muito grande no governo JK e acabaram despertando a resistência dos latifundiários. A subida do preço do açúcar motivou a expulsão dos camponeses de suas áreas de plantio reforçando os movimentos sociais. Inspirado pelo sucesso da Revolução Cubana, Julião organizou marchas de camponeses e radicalizou o discurso. O apoio à candidatura do usineiro Cid Sampaio permitiu que eles conseguissem a desapropriação do engenho Galiléia o que encrudeceu a resistência dos proprietários ao movimento. Divisões internas no movimento socialista entre a liderança de Julião e o grande nome do Partido Comunista Luiz Carlos Prestes para quem o campesinato não era a classe apropriada para fazer a Revolução e sim o proletariado, enfraqueceram o movimento. Vivia entrando em conflitos com os coronéis da Zona da Mata. Deputado estadual e federal foi amigo de Fidel e Che Guevara, defendeu a Reforma Agrária na Lei ou na Marra. Treinou militantes em Cuba. O desenvolvimento do sindicalismo levou ao declínio das ligas que se encaminhavam para se tornar um partido, mas esses movimentos em plena Guerra Fria incomodavam o Tio Sam e contribuíram para o apoio americano ao golpe de 64. Ele se pronunciou contra tal e acabou tendo de se esconder no interior de Minas, disfarçado de camponês até ser descoberto preso e exilado no México onde trabalhou como pesquisador e se autocriticou por ter lutado contra os pequenos e médios proprietários. Voltou ao país com a anistia e acabou se candidatando com o apoio da direita. Foi um fiasco voltou ao México onde morreu na penúria em 1999 aos 84 anos de idade.
Os camponeses na metade do século XX tiveram um pequeno espaço de manobra com o declínio dos senhores de engenho e se organizaram para lutar por seus direitos, mas logo a ascensão das usinas e posteriormente os governos militares acabaram com as chances ascensão social. O litoral nordestino até o século XIX baseou-se na exploração da mão-de-obra escrava. Com a abolição os trabalhadores assalariados que já ocupavam algumas funções antes dela, se tornaram à única disponível, e praticas semelhantes à servidão feudal se desenvolveram. O analfabetismo e ausência de reforma agrária eram as bases na qual o trabalho barato necessário para manter a monocultura açucareira se desenvolvia. Compreende-se que a elite local se incomodasse com um agitador culto que ameaçava tomar suas terras e tirar sua mão-de-obra. Eles já estavam arruinados com o fim da escravidão. Camponeses além de se ressentirem da exploração econômica e sexual de suas mulheres e filhas sentiam que se a escravidão foi abolida com seus senhores em declínio chegara finalmente à hora de mudar o rumo da história.
O declínio dos engenhos fez com que muitos de seus herdeiros optassem pelo socialismo como forma de resistir ao avanço do capitalismo. Julião chegou a pregar a violência contra os latifundiários sem perceber que a revolução que tentou instaurar poderia se voltar contra ele. Na realidade foi mais honesto que outros intelectuais e compreendeu melhor o camponês. Sua virtude não impediu que mesmo casado se envolvesse com uma agregada de suas terras e tivesse um filho com ela. A pratica de fazer sexo ilegítimo com camponesas era uma pratica comum dos senhores. Era também um dos aspectos mais dolorosos para os camponeses que não podiam fazer o mesmo com as senhoras. Ele mesmo percebeu ter errado ao jogar os trabalhadores rurais contra pequenos e médios fazendeiros que seriam aliados potenciais e não de forma alguma um obstáculo para suas reformas. Ele foi preso e exilado, mas seus camponeses torturados e mortos pela ditadura. O ressentimento que sentia contra os usineiros era comum a senhores de engenho e no seu caso encontrou nos camponeses aliados e não semelhantes. Ele queria dominar, voltar a elite como seus ancestrais.
Como o abolicionista Joaquim Nabuco ele foi grande, mas ao contrario deste fracassou por ser um idealista radical seus ideais mesmo nobres não levaram em consideração a realidade social e internacional e nem mesmo compreendeu bem a ideologia comunista.

BIBLIOGRAFIA
SANTIAGO, Vandeck. Francisco Julião. Vida, Paixão e morte de um agitador. Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Recife, 2001.

Autor: João Paulo Filgueiras


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