RESENHA: O professor atuando no ciberespaço: reflexões sobre a utilização da Internet com fins pedagógicos*



* NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. O professor atuando no ciberespaço: reflexões sobre a utilização da Internet com fins pedagógicos. São Paulo: Érica, 2002, 70 p. (Coleção Reflexões e Práticas Pedagógicas). Resenha de FERREIRA, Zeila Miranda. In: Portal WebArtigos. Educação. 20/08/2010. Disponível em


Zeila Miranda Ferreira**

O professor Nogueira é licenciado em Ciências, bacharel em Química, pedagogo, pós-graduado em Psicopedagogia e mestre pela USP. O livro resenhado teve por base a dissertação de mestrado defendida pelo autor, na Faculdade de Educação da USP, sob a orientação do professor doutor Nilson José Machado. Apresenta parte de suas pesquisas, discussões e perspectivas de utilização da Internet com fins pedagógicos.

O autor pretende levantar algumas reflexões sobre a possível sub-utilização da Internet como ferramenta pedagógica, bem como sugere algumas de suas múltiplas possibilidades de ensino-aprendizagem, inclusive sobre os temas ciberespaço, inteligência coletiva, projetos e documentos Web. Teve por objetivos, contribuir com as reflexões de professores que se interessam por novas estratégias de aprendizagem, independente de ser ou não vinculadas às novas tecnologias, assim como refletir sobre as múltiplas possibilidades oferecidas pelo ciberespaço.

O livro está organizado em cinco capítulos, assim definidos: Capítulo 1 - Introdução, o autor afirma que a utilização das tecnologias ainda é considerada no ambiente escolar, com reserva e preocupação. Principalmente, por aqueles que não se julgam capacitados para utilizar as novas ferramentas tecnológicas e por aqueles que não conseguiram incorporá-las como recursos instrucionais. De certa forma, o ?medo? de usar essas ferramentas ainda está nas questões técnicas, situação que o professor ainda não tem muito domínio.

O foco é mais voltado para o computador do que para a contribuição que ele pode dar ao processo de ensino e de aprendizagem, fato esse que pode gerar certo receio ao docente em trabalhar com as tecnologias de forma desarticulada com os objetivos pedagógicos da escola. Nogueira diz que é importante a consciência da utilização dessas ferramentas como recurso para melhor atingir determinados objetivos pedagógicos. Não basta negar suas possibilidades ou adotá-las numa abordagem tecnicista; é preciso dar significado à utilização e não mais negá-la.

Faz alguns questionamentos que irão dirigir as discussões, tais como: a) a Internet não está sendo encarada de forma errônea e simplista como apenas a ?www?, ou seja, a parte gráfica? b) O conceito de Internet, no ambiente escolar, ainda não é apenas o de fonte de consulta, em que o aluno simplesmente coleta informações? c) A Internet pode ser um espaço para ir além da coleta de dados e gerar conhecimento e desenvolver a(s) inteligência(s)? Para discutir algumas dessas questões, explicou a Pirâmide Informacional, "... a construção do conhecimento pressupõe o estabelecimento de uma densa rede de interconexões entre as informações, uma apreensão do contexto, uma compreensão do significado, uma visão articulada de todo o cenário de informações, que se torna passível de uma mobilização para a ação". Pressupõe o encaminhamento de ações que irão além do conhecimento, que exigirá também novas intenções do professor, correlacionadas com o ciberespaço.

O autor analisa diferentes ferramentas tecnológicas propícias para Web e também os diferentes mecanismos de comunicação oferecidos pela Internet. Considera o emprego das diferentes mídias - sons, textos, imagens estáticas e dinâmicas, etc, que possam favorecer a comunicação e relações interpessoais de diferentes alunos. Esses levam a um processo de aprendizagem mais participativo, interativo e com motivação.

No Capítulo 2 - Conhecendo um pouco mais sobre a Internet, Nogueira faz um breve histórico sobre a Rede mundial, apresenta alguns dados sobre essa nos dias atuais, faz algumas considerações sobre a Internet, a aprendizagem, o ciberespaço e a inteligência coletiva. O autor informa que a parte gráfica (www) popularizou a Internet, levando-a à explosão exponencial presenciada atualmente. Para muitos usuários, a Internet resume-se somente ao gráfico ou à exibição pelo seu navegador (browser), quando esse é apenas uma das áreas da grande rede mundial de computadores.

Nesse livro, apresenta e discute também outras áreas, tais como, o e-mail, a lista de discussão, as salas de bate-papo e os softwares de comunicação para a rede, pois acredita que, no que tange à comunicação, a falta de conhecimentos mais amplos da Internet e suas possibilidades, pode ser um dos empecilhos para o educador explorá-la adequadamente como ferramenta pedagógica. Explicar que "utilizando a Internet como uma ferramenta, os alunos podem explorar ambientes, gerar perguntas e questões, colaborar com os outros e produzir conhecimentos, em vez de recebê-los passivamente." Ao concluir essas reflexões, afirma que o entrelaçar dessa grande teia digital gera grandes hologramas de informações. Estão disponíveis para serem agrupadas, reagrupadas e analisadas para a construção de novos conhecimentos. A articulação de tudo isto, pode levar às projeções coletivas e por conseqüência, a formação da inteligência coletiva.

No Capítulo 3 - "Traçando relações entre a rede Internet e as concepções de conhecimento, Nilbo Nogueira faz considerações sobre o conhecimento como aldeia, como rede e a utilização da Internet para pesquisa, a partir da concepção de conhecimento que está nas crenças e prática pedagógica do docente. Explica que por um lado, quando o professor tem uma concepção de conhecimento como cadeia, as idéias de linearidade, encadeamento lógico, ordenação e pré-requisitos são fundamentais à essa linha cartesiana de pensamento. Fica difícil para o docente trabalhar com seus alunos no ciberespaço, que é um entrelaçar de caminhos e possibilidades. Não tem que acompanhar uma seqüência pré-estabelecida de telas, linhas de pensamentos e interesses. Muitos professores que trabalham nessa abordagem, indicam a Internet como fonte de pesquisa aos seus alunos, mas lhes fornece endereços, seqüência de sites a serem visitados, garantindo a linearidade e homogeneidade do trabalho da turma.

Por outro lado, a concepção de conhecimento como rede, oferece ao professor e seus alunos, múltiplas interligações, formando uma malha entre o significado e as suas relações. Há reciprocidade entre os nós e as ligações, entre as interseções e caminhos, sendo o único centro possível o ?centro de interesses?. O docente com essa visão mais ampla e sistêmica, poderá mediar os processos de aprendizagem nessa perspectiva de rede de significados.

No Capítulo 4 - "Perspectivas de trabalho na rede Internet", Nogueira discute as perspectivas de pesquisa que vão além da coleta de dados e informações. Explica que as ferramentas de comunicação da Internet auxiliam a aprendizagem e como projetar em documentos web. Lembra que não se deve confundir a motivação de navegar pela rede com o gostar de pesquisar, investigar, descobrir, pois somente com alunos interessados nos dados coletados na Internet, que organiza-os, articula-os e lhes dá significado é que esses se transformarão em informações. Em termos de possibilidades, a utilização de ferramentas de comunicação tais como o e-mail, grupos de discussão (newgroups), bate-papo on line, entre outros, podem favorecer os processos cooperativos.

O papel do professor é fundamental como mediador do processo de aprendizagem, na orientação dos seus alunos para a exploração da Internet. Não deve restringi-la às pesquisas virtuais, mas engajá-los em projetos de investigação, tendo a virtualidade como um dos caminhos explorados para esse fim.

O Capítulo 5, destinou-se à "Conclusão e Comentários Finais". O autor afirma que para a absorver e utilizar as novas tecnologias na escola, é necessário que o professor analise suas crenças, promova mudanças em sua prática pedagógica, busque uma visão sistêmica do mundo dinâmico que o cerca, e que esteja aberto para enfrentar os novos desafios.

O livro apresenta reflexões interessantes para alunos, professores e pesquisadores das tecnologias digitais, em particular, da Internet como recurso didático-pedagógico.

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** Doutora em Educação pela USP, pedagoga, psicóloga, pesquisadora e professora de cursos de Graduação e Pós-Graduação presencial e a distância da Faculdade Pitágoras e Faculdade ESAMC de Uberlândia, MG.


Autor: Zeila Miranda Ferreira


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