A GEOMETRIA ASSOCIADA À CONSTRUÇÃO CIVIL COMO FORMA DE INTERAÇÃO CULTURAL: ATIVIDADES COM MAQUETES COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO COM LICENCIANDOS DAS SÉRIES INICIAIS



RESUMO
Este trabalho apresenta reflexões de uma atividade realizada com um grupo de alunos do Ensino Superior do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia de uma Universidade Pública do Estado do Pará. O objetivo da experiência foi investigar de que modo uma atividade com maquetes potencializa a aprendizagem de conceitos geométricos. Os dados foram coletados através de um questinário com perguntas abertas, sendo analisadas neste trabalho as respostas relativas ao interesse dos alunos pela atividade didática, assim como os resultados pertinentes sobre o processo de ensino-aprendizagem e a formação dos professores para o ensino da geometria.

CONTEXTUALIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA ? SOBRE O ENSINO DE MATEMÁTICA E ATIVIDADES QUE APROXIMEM QUEM APRENDE DAQUILO QUE É NECESSÁRIO APRENDER.
A geometria com suas dimensões variáveis e sua importância para o desenvolvimento da criança, requer conseqüentemente estudos abrangentes que expressem resultados significativos concernentes ao ensino e aprendizagem do conteúdo geométrico. Apesar das inúmeras ramificações que podem ser trabalhadas as questões sobre a geometria, nossos relatos estão voltados para atividades elaboradas e apresentadas em sala de aula.
Partindo de conceitos geométricos fundamentais (segmentos de reta, polígonos, figuras bi e tri-mensionais), buscamos relacioná-los ao cotidiano e realidade sócio-cultural de alunos licenciandos das séries iniciais de uma Universidade Pública do Estado do Pará, cujo campus está localizado na capital, Belém. Objetivamos analisar uma atividade potencializadora de aprendizagens de conceitos fundamentais da geometria, como por exemplo, espaço, área, figuras planas e espaciais.
Optamos por trabalhar com aspectos que pudessem ser relacionados à construção civil de maneira que estivessem mais próximos à realidade dos alunos. Pois podemos relacionar facilmente com espaços e formas tão próprios à disciplina Matemática. O trabalho em sala de aula com maquetes, nesse sentido, potencializa ao aluno uma geometria mais significativa, na conceituação de Moreira (1982), pois trabalha com situações mais próximas à realidade do educando.
Esperamos com isso, despertar um ensino de matemática dentro do âmbito educacional que proporciona ao aluno uma leitura e interpretação da realidade de forma mais significativa que, como nos admoesta os Parâmetros Curriculares Nacionais ? PCN?s (BRASIL, 1997), a matemática é indispensável na construção da cidadania e precisa estar ao alcance de todos. A matemática deve ser inserida no contexto de aprendizagem do aluno de modo que se utilizem os conhecimentos prévios que a pessoa trás de seu contexto social.
A geometria é apresentada atualmente como parte essencial da matemática, e que leva o aluno a conhecer e se deslocar no espaço em que vive, segundo os PCN?s
Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de matemática no ensino fundamental porque, por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive (BRASIL, 1997. p. 39).
Para tal, o professor precisa dispor de diversos conteúdos específicos sobre geometria para construir uma atividade que englobe tanto a ação do aluno, sua realidade cultural e seu nível de desenvolvimento cognitivo. Diante desse contexto de inserção cultural ao processo de ensino aprendizagem, buscamos analisar de que forma o ensino de geometria associado às atividades que, envolvam a construção civil, facilita o processo de ensino e a aprendizagem dos alunos, no que diz respeito à adoção do estudo de maquetes de edifícios que são marcadamente conhecidos pela população de uma grande cidade, como é o caso dos prédios escolhidos para esse estudo.
Destarte, tivemos a intenção de utilizar e, posteriormente analisar, uma atividade que remete a construção de maquetes promove a compreensão de conceitos geométricos. Assim sendo, buscamos: i) analisar se a geometria associada à atividade didática, potencializa e facilita o ensino e a aprendizagem; ii) Verificar a análise do professor mediante as novas tecnologias de ensino; e iii) Verificar se uma atividade que envolva a construção de maquetes é uma variante positiva no processo de ensino.
INVESTIGAÇÃO EXPLORATÓRIA SOBRE A ATIVIDADE COM AS MAQUETES ? REPRESENTAÇÕES ESQUEMÁTICAS DE PRÉDIOS IMPORTANTES NA CAPITAL DO PARÁ.
Os sujeitos que participaram da atividade didática ora apresentados são de uma Universidade Pública do Estado do Pará. São licenciandos de Pedagogia ? curso com perspectiva para atuar na docência das séries iniciais ? de duas turmas do quarto semestre deste curso. Utilizamos um questionário aberto (ver apêndice A) formado por um conjunto de questões para verificação da importância de uma atividade didática voltada para o em sino de geometria.
A atividade se iniciou com a apresentação do projeto, com o uso de slides apresentados no programa PowerPoint. A primeira etapa se deu com a explicação dos conceitos fundamentais dos autores nos quais baseamos nosso estudo, a saber: Jean Piaget, Ubiratan D?Ambrosio e também conceitos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN?s), onde foi mencionado fundamentos relacionados ao ensino- aprendizado.
As maquetes foram apresentadas com as partes que as compõem separadas umas das outras,. Além disso, foi apresentando um esboço de como se deu o processo de edificação passo a passo, com figuras feitas num software Microsoft Office, o paintbrush, utilizado para auxiliá-los na montagem das mesmas.
Depois disso, os sujeitos da pesquisa utilizaram de trabalho em equipe para visualizar e montar as maquetes, de maneira que os participantes da pesquisa pudessem montá-las, como se fossem quebra-cabeças Onde ocorreu a colagem das peças e, após esta etapa, discutimos como foram construídas as maquetes com a cartolina e o isopor, pedimos aos participantes que executassem medições das dimensões (comprimento, área e volume) das maquetes e representação em plantas baixas dos edifícios representados: o Mercado de Ferro do Vêr-O-Peso (histórica construção da cidade de Belém), um shopping da cidade e uma torre de transmissão de uma emissora de rádio e televisão.
Inserir aqui a foto das maquetes, indicando o que representa o que.
Além disso, durante o processo, mostrou-se como podem ser trabalhados em sala de aula, alguns conteúdos matemáticos ou artísticos. Este momento foi um dos mais importantes da pesquisa, pois abordamos o ensino da geometria e aspectos da construção civil. Por exemplo: como os professores podem abordar a visão sócio-interacionista, atividade que é associada à realidade dos alunos, uma vez que as maquetes são de construções que representam aspectos sócio-culturais da cidade de Belém do Pará. Desta maneira, refletimos a relação de figuras geométricas e construções civis de nossa cidade.
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE COM AS MAQUETES ? REPRESENTAÇÕES ESQUEMÁTICAS DE PRÉDIOS IMPORTANTES NA CAPITAL DO PARÁ.
Com relação à análise da atividade didática desenvolvida, obteve-se respostas positivas com relação ao potencial da utilização das maquetes como processo de ensino-aprendizagem. No entanto, percebeu-se que muitos investigados não souberam responder a que se atribuiria essa potencialização. No entanto uma parcela dos alunos de pedagogia relacionou essa potencialização ao fato da geometria está inserida dentro da realidade do aluno, como propõe os PCN?s (BRASIL, 1997, p. 21) "A Etnomatemática procura partir da realidade e chegar à ação pedagógica de maneira natural, mediante um enfoque cognitivo com forte fundamentação cultural". Parte dos entrevistados, ainda que um pequeno número conseguiram, identificar na atividade uma relação com o cotidiano do aluno.
Este dado torna-se interessante devido estes alunos serem futuros profissionais da educação e precisam conhecer a importância de se trabalhar com a realidade do aluno, como relatou uma professora que trabalhou com maquetes em sua turma num artigo de uma revista educacional cujo destaque de Santomauro (2009. p. 63) foi: "os conteúdos matemáticos são aprendidos quando o aluno participa da construção de um conhecimento que é significativo para ele".
Nesse sentido, percebeu-se com as respostas dos investigados que a atividade com maquetes além de proporcionar certo grau de interesse, possibilita ao aluno aplicar os conceitos geométricos de forma dinâmica e significativa, no sentido de que o educando tem um contato com a geometria ao mesmo tempo na teoria e na prática.
Como aspecto interessante da atividade didática, os entrevistados disseram que foi marcadamente a utilização do pensamento geométrico para desenvolver a montagem das maquetes. Pois foram apresentadas diferentes formas e tamanhos variados de figuras geométricas, como se fosse um quebra-cabeça que representa a construção real. Segundo os sujeitos da pesquisa, uma atividade dessa natureza além de despertar o interesse e a curiosidade do aluno, apresenta a matemática de forma concreta, sem desvincular seu caráter conceitual.
Outro fator que os levou ao interesse pela atividade, segundo os próprios pesquisados, foi a visualização de figuras planas em espaciais, que apresentou alguns conceitos matemáticos dentro da prática, que para Pietropaolo (2003) o ensino da geometria precisa ser caracterizado como instrumento para compreensão do mundo a sua volta onde o aluno precisa ver a geometria como área do conhecimento que estimula o interesse, a curiosidade e o espírito de investigação, construindo assim a capacidade para resolver diversos problemas.
Outro grupo de resposta chamou a atenção por apontar a relação com diversas disciplinas do currículo escolas. Estas disciplinas podem ser trabalhadas/exploradas numa atividade com maquetes, são elas: geografia, história, arte, ciências, português, física e arquitetura. Em relação a essas respostas, compreende-se que a geografia foi bastante mencionada devido ao seu estudo do espaço geográfico e da paisagem, elementos presentes na construção da maquete. É como defende Lorenzato ao dizer que
a geometria é um excelente apoio às outras disciplinas: como interpretar um mapa, sem o auxílio da geometria? E um gráfico estatístico? Como compreender conceitos de medida sem idéias geométricas? A história das civilizações está repleta de exemplos ilustrando o papel fundamental que a geometria (que é carregada de imagens) teve na conquista de conhecimentos artísticos, científicos e, em especial, matemáticos". (Lorenzato, 1995. p. 6)
Em relação à disciplina história, atribuímos sua expressiva citação nas respostas devido ao contexto histórico apresentado pela atividade, onde as construções da cidade são relacionadas à história e a cultura da região. O que mostra a possibilidade de uma abordagem interdisciplinar com aspectos científicos, acadêmicos, culturais e sociais com a realização desta atividade didática. Isto proporcionar ao professor ir além das fronteiras da disciplina matemática, como defende Nicolescu (1994) sobre uma abordagem mais ampla, em que diz respeito aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina
Outro resultado desta pesquisa foi sobre a percepção e reconhecimentos das formas geométricas pelos professores em formação. Há dificuldade nessa percepção e diferenciação, como por exemplo, reelaborar o vocabulário e os conceitos matemática para falar de formas bidimensionais e tridimensionais e suas respectivas nomenclaturas, especificamente, ao falar de um cubo, chamá-lo de quadrado, ou de retângulo e confundi-lo com o paralelepípedo. Dificuldade essa apontada por Lorenzato (1995) quando relata que isto está no fato de que muitos desses professores não possuem conhecimento geométrico necessário para realização de suas práticas pedagógicas.
Igualmente, podemos mencionar a citação de figuras geométricas de esferas e cones, sendo que essas formas geométricas não foram utilizadas para a construção da maquete, acreditamos que isso se deu devido um erro de reconhecimento, provavelmente essa figuras foram confundidas com o círculo e a pirâmide respectivamente. Tais revelações durante a realização da atividade pode permitir ao professor uma reelaboração de sua práxis docente e aprimorar os conceitos dos alunos quanto às nomeclaturas, propriedades e relações entre figuras bidimensionais e tridimensionais.
Compreende-se assim que o professor necessita de uma formação voltada para o campo geométrico de forma mais aprofundada, que segundo Pavanello; Andrade (não estão nas referencias, verificar se existem outros casos assim)(1995) precisa está relacionada com a competência do professor para trabalhar com os alunos em diferentes níveis de conhecimento matemático.
CONCLUSÃO
A pesquisa apresentou resultados que permitem verificar que uma atividade que remete a construção de maquetes potencializa a compreensão de conceitos geométricos porque trabalha de forma prática esses conceitos. Promoveu uma rediscussão sobre a forma de ensinar matemática, pois apresentou a opinião dos futuros professores de séries iniciais que terão essa responsabilidade de trabalhar a geometria e, possivelmente, a matemática como um todo, vinculada à realidade sócio-cultural de seus alunos.
Uma atividade dessa natureza, além de poder despertar o interesse e a curiosidade do aluno, apresenta a matemática de forma concreta, sem desvincular seu caráter teórico, fundamental para a compreensão dessa disciplina.
É preciso que o professor estea direcionado a buscar elementos que ajudem no ensino de matemática, para que seus alunos aprendam a interpretar esse novo mundo que emerge com o advento da globalização. O professor deve estar ciente que os métodos tradicionais pouco efeito têm nos alunos desta realidade que ora se apresenta em nossa região. Dentro do processo de ensino-aprendizagem contemporâneo se faz necessário novos instrumentos de trabalho.
Compreende-se, portanto, mediante a pesquisa que uma atividade relacionada à realidade do aluno é uma variante importante no processo de aprendizagem dos alunos. Pois trabalha a matemática envolvendo aspectos do cotidiano do aluno e aproveitando seus conhecimentos de mundo e espaço. Permitindo ao aluno participar do processo de construção de seu conhecimento, abordando o caráter essencial da geometria, que é apresentar ao aluno mecanismos para desenvolver um tipo especial de pensamento, como cita os PCN?s (BRASIL, 1997), e permite ao sujeito compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Maria. Porque ensinar geometria nas séries iniciais do 1º grau. A educação matemática em revista, n. 3, p. 12-16, 1994.
BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2003. Não foi citado
BIEMBENGUT, M. S. Modelagem Matemática no Ensino. São Paulo: Contexto, 2002.
BOYER, Carl Benjamin. História da Matemática. 2 ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática/Ministério da Educação. Secretária da Educação Fundamental. 3 ed. Brasília: A secretária, 1997.
CARVALHO, M. C. M. Construindo o saber. Técnicas de metodologia Científica. Campinas; Papirus, 1998. Não foi citado
D'AMBROSIO, U. Etnomatemática: Arte ou técnica de explicar e conhecer. São Paulo: Editora Ática, 1998.
LORENZATO, S. Porque não ensinar geometria. A educação matemática em revista, n. 4, p. 3-12, 1995.
PIETROPAOLO, Ruy. Parâmetros Curriculares de matemática para o ensino fundamental. A educação matemática em revista, n. 13, p. 34-85, 2003.
MOREIRA, Marco; MASINI, Elcie. F. S. A. Aprendizagem significativa: A teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.
SANTOMAURO, Beatriz. A geometria que faz a diferença. Nova Escola, São Paulo, volume, n. 219, p. 60-63, 2009. Pg. 63 Página do texto citado.

Autor: Alano Moraes


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