Atividades aquáticas na primeira infância



ATIVIDADES AQUÁTICAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA
(DO BEBÊ AOS TRÊS ANOS)

profa. Dra. Maria Cecília L.M. Bonacelli

As atividades aquáticaspara bebês terá como objetivos:

- Promover condições fisiológicas, educativas e recreativas à criança desde o seu nascimento para que favoreça seu crescimento e desenvolvimento integral;

- Proporcionar os instrumentos básicos que estimulem os processos de maturação e de aprendizagem nos aspectos: cognitivos, afetivos e psicomotor da criança de tal maneira que favoreçam seu crescimento e desenvolvimento;

- Orientar o espírito de curiosidade e observação da criança para iniciá-la na compreensão e interpretação do mundo que a rodeia.

Desenvolvimento Motor:
Primeiramente distinguiremos duas classes de habilidades motoras:

1) Primeiro são as habilidades motoras ontogenéticas, específicas, cujo desenvolvimento depende da aprendizagem. A aprendizagem refere-se a mudança no comportamento que resulta da prática e que depende das características do ambiente onde se desenvolve esta prática.

2) Segundo são as habilidades motoras filogenéticas, que dependem principalmente da maturação para o seu desenvolvimento. Maturação refere-se às mudanças do desenvolvimento que ocorreu espontaneamente nos indivíduos desde que o ambiente permita o indivíduo amadurecer.

Organização do desenvolvimento motor

O desenvolvimento motor é caracterizado por três padrões organizacionais:

1) Ação de massa para ação específica: os movimentos da criança utilizam somente os grandes músculos do corpo e envolvem o corpo todo ao invés de partes específicas.
2) Organização céfalo-caudal: o desenvolvimento dos músculos começa com os que estão mais próximos da cabeça e prossegue para os dos membros inferiores.
3) Organização proximodistal: o desenvolvimento da coordenação motora começa com os músculos mais próximos do tronco e prossegue para as extremidades do corpo.

Sensopercepção:
Capacidade neurovegetativa e vivencial no processo de desenvolvimento cognitivo do ser humano que lhe permite manter-se em interação com o ambiente, através da recepção de estímulos.

Sistema visual:
A visão da criança é imatura, devido a ausência de estímulos luminosos dentro do ventre materno.
Os bebês estão dotados de duas capacidades:

Sistema visual primitivo ou secundário: detecta a presença da estimulação visual, orientando os olhos em direção a exibição;
Sistema visual primário: capacidade de discriminar de maneira mais refinada e complexa as exibições visuais.

Atividade Motora Grossa

Desde os seus primeiros dias a criança insiste em levantar e sustentar a cabeça. Isto lhe fortalece os músculos do pescoço, costas e membros superiores.
O manter a cabeça ereta é o passo fundamental para todas as destrezas posteriores.
Após sustentar sua cabeça, se apoiará sobre os antebraços e começará a deslocar-se sobre o abdome (rastejar).
Surgirá então uma forma de engatinhar descoordenada em que começa a sentar-se dobrando o tronco.
Se iniciará um engatinhar cruzado, cada vez mais seguro, rápido, até que se realize com desprendimento.
Ao atingir esta etapa em seu desenvolvimento, a criança conquista de imediato o ambiente que a cerca.
O engatinhar é o estado final de uma forma primitiva de deslocamento que constitui um dos passos mais importantes para o andar.
A criança começa a parar-se agarrada nos móveis e a dar passos com este apoio.
Pode dar passos sendo segurada pelas mãos, logo é sustentada só por uma das mãos, até total independência ao caminhar.

Atividade Motora Fina
As atividades motoras finas se estruturam nos primeiros dias de vida, com base nos esquemas de reflexo simples que existem no recém-nascido.
A medida que a criança vai evoluindo a experiência começa a ditar diferentes tipos de ação. Assim, como as mãos se transformam em pontos de atenção para o olhar, um objeto se transforma em algo para ver, alcançar e logo caminhar.
Pouco a pouco a criança vai constituindo uma noção espacial a medida que o olhar se coordena com o agarrar e succionar.
Desta forma, e a medida que avança na vida, a criança vai assimilando e ajustando as experiências ambientais.
Quando se torna mais hábil na aquisição de suas etapas de desenvolvimento motor fino, a aquisição de uma destreza serve como ponto de partida para a seguinte. Esta situação permite a criança passar do movimento simples de mãos e dedos até chegar a tarefas mais minuciosas de manipulação.

NATAÇÃO COMO AGENTE EDUCATIVO:

Objetivos:

1) seleção e gradação dos estímulos sensoriomotores para obtenção de respostas adaptativas mais adequadas e hierarquicamente úteis como transferência para a aprendizagem;
2) ajuste perceptivomotor no justo momento evolutivo, irreprodutível mais tarde com suas características naturais;
3) exercitação das destrezas motrizes respeitando as qualidades de "rendimento" infantil;
4) Domínio de uma imagem corporal integrada a sensopercepção;
5) Aprendizagem através da observação;
6) A aprendizagem com ato de amor e reciprocidade.

ETAPAS BÁSICAS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM:

RECONHECIMENTO:
1) Se refere a atitude e a figura da professora;
2)Tempo de acúmulo de dados que são o que necessita a criança para reconhecer a pessoa e seus procedimentos;

PRIMEIRAS MANOBRAS:
1) para crianças até 18 meses, forma inicial de aprendizagem;
2) podemos trabalhar tanto decúbito ventral como dorsal, ou a preferência da criança;
3) diversas formas de deslocamentos, ritmados, com músicas, etc.

PRIMEIRA IMERSÃO ASSITIDA:
1) de maneira gradativa, até a boca, olhos e finalmente toda a cabeça.
2) Sempre avisar que irá mergulhar a criança. Assoprar-lhe a face para que a mesma prenda a respiração;
3) Fazer o movimento primeiro para que a criança observe.
4) Somente depois de um mês de mergulhos rápidos, fazer imersões mais profundas.

GENERALIDADES SOBRE TÉCNICAS DE CONDUÇÃO DE APRENDIZAGEM ? "PEGAS"

É importante para a criança o contato corporal e afetuoso. Ao professor caberá se preocupar com as formas técnicas, deixando para as mães as demonstrações de carinho, afeto beijos e abraços.
A maneira como se "pega" a criança deverá ser de confiança e segurança para ela, pois senão a mesma não irá querer enfrentar tal situação.

ELEMENTOS COMUNS DAS "PEGAS"

- as mãos do professor devem estar em contato com a criança, portanto os dedos não devem apertar o bebê.
- a criança percebe todos os movimentos do professor, por isso, o mesmo deve estar tranqüilo, sereno, sorridente, transmitir-lhe segurança e carinho.
- as "pegas" simétricas são as idéias pois favorecem situações de equilíbrio.
- A criança não deve passar por situações confusas que podem assustá-la. As "pegas" devem ser realizadas com firmeza e ternura.

FLUTUAÇÃO ASSISTIDA

É a posição de flutuação que a criança mantém com a ajuda do professor. A idéia não é ir soltando a criança aos poucos, mas promover segurança emocional e confiança. Primeiramente trabalha-se com a flutuação ventral e depois dorsal.


AMBIENTE FÍSICO

Ø Cores alegres,
Ø Brinquedos apropriados,
Ø Higiene total,
Ø Temperatura da água em torno dos 32º graus,
Ø Pureza da água,
Ø Pisos anti-derrapantes,
Ø Vestiários apropriados,
Ø Piscina com diferentes profundidades.

RECOMENDAÇÕES AO PROFESSOR

ü Não usar adornos,
ü Unhas curtas,
ü Não usar cosméticos,
ü Banho prévio obrigatório,
ü Utilizar materiais que a criança não corra risco,
ü Ser paciente e criativo, dedicado,
ü Buscar sempre aprender mais.

CONQUISTAS EM PSICOMOTRICIDADE AQUÁTICA
O BEBÊ DE COLO

- Submerge e emerge em apnéia, com o corpo em posição vertical,
- Submerge e emerge em apnéia em posição horizontal (ambos decúbitos),
- Bate com as mãos na água, bate as pernas de forma reflexa sustentado em ambos os decúbitos, sem submergir a cabeça,
- Imersão com os olhos abertos, troca de decúbitos, passando pela fase de imersão em decúbito ventral.


CONTEÚDOS PEDAGÓGICOS:
Adaptação ao meio líquido e ao professor,
Deslocamento com o professor,
Preensão de objetos de formas, texturas e tamanhos variados,
Equilíbrio de pé no plano, utilizando flutuadores,
Estímulo ao deslocamento ativo,
Adaptação da água no rosto,
Educativos para imersão,
Estímulos para imersão voluntária,
Flutuação com bóia,
Sopro do ar no rosto,
Desenvolvimento do controle respiratório,
Deslocamento submerso,
Salto da borda, com ou sem imersão,
Deslocamento submerso com mudança de direção,
Atividades lúdicas, musicais e historiadas,
Socialização do bebê (atividades em grupo)
Sobrevivência ao meio líquido.


PLANEJAMENTO DE AULA:
Aula: de 15 a 30 minutos.
Dividir a aula em três partes:
Primeira parte: dez minutos, recepcione o bebê com muito carinho, comece a aula com estímulos que o bebê já conhece.
Segunda parte: dez minutos, trabalhe novos estímulos
Última parte: dez minutos, brinquedos que ele saiba que a aula está terminando.

PROPOSTA DE TRABALHO

Bebê I: (de 3 meses a aproximadamente 1 ano)

Aos três meses a criança já possui boa resistência e sustenta melhor a cabeça.
O bebê realizará a aula com a mãe
O objetivo da aula é a socialização
Estimulação dos órgãos sensoriais e bloqueio respiratório
Movimentação dos segmentos corporais para aumentar a amplitude articular e fortalecimento muscular.

Bebê II: (1 ano a aproximadamente 2 anos)

Realizará a aula com a mãe
Poderá fazer aula com o professor e com o grupo, sem a mãe
Aulas dinâmicas, com movimentos mais elaborados.


Bebê III: (2 anos aproximadamente 3 anos)

Realiza aula com o professor
Estimulação motora geral
Sabe andar na piscina
Sobrevivência ao meio líquido.

MUDANÇA DE NÍVEL:

O bebê mudará de turma quando estiver:

Bebê I:
Integrado ao grupo e ao professor,
Imergindo com auxílio da mãe e/ou professor, na vertical e horizontal,
Sentado na borda da piscina, jogar-se para a mãe e/ou professor,
Iniciar o engatinhar no tapete flutuante,
Permanecer sozinho na bóia.

Bebê II:
Engatinhando e andando no tapete flutuante,
Imergindo com deslocamento
Andar sozinho na parte rasa da piscina
Ficar sozinho com bóias de braço.



Bebê III:
Subir e descer sozinho na borda da piscina,
Deslocamento horizontal com movimentos naturais de braços e pernas,
Pular na água e voltar na borda da piscina (sozinho ou com pequeno auxílio),
Realizar a flutuação ventral
Nado de sobrevivência (cachorrinho)

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO:

n CORREA, C.R.F. Atividades aquáticas para bebês. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
n DAMASCENO, L.G. Natação para bebês: dos conceitos fundamentais à prática sistematizada. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
n DEPELSENEER, Y. Os bebês nadadores e a preparação pré-natal aquática. São Paulo:Manole, 1999.
n KERBEJ, J.C.F. Natação: algo mais que quatro nados. São Paulo: mano0le, 2002.
n NAKAMURA, F.; SILVEIRA, R.H. Natação para bebês. São Paulo: Ícone, 2002.
n VELASCO, R.M.R.. Natação segundo a psicomotricidade. Rio de Janeiro: Sprint, 2004.




Autor: Maria Cecília Bonacelli


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