A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: CAMINHO E POSSIBILIDADES



A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: CAMINHO E POSSIBILIDADES
Luis Carlos Borges dos Santos
Resumo:
Este ensaio descreve parte de uma pesquisa que foi desenvolvida dentro do Arquivo Histórico de Porto Alegre/RS, com o objetivo de analisar o processo da Educação Patrimonial como ferramenta de aprendizagem.

O Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Velhinho, construída no século XIX no estilo Europeu em 1894 por Eugênio Pinto Malleiros e depois doada para Maria Barreto, situada na estrada do Mato Grosso, hoje Avenida Bento Gonçalves esteve abandonada por mais de quinze anos, e logo a prefeitura adaptou uma escola no período de 1946 a 1976 e posteriormente fora abandonada por vinte anos, com o passar dos anos a comunidade aliou-se com a prefeitura e tombou as casas, sendo inventariada internamente e tombada externamente, tem como patrimônio edificado, documental e material. O A.H .P.A têm como objetivo aplicar estudos , métodos e práticas de Educação Patrimonial, voltada para a questão de preservação , precisamente sobre o manejo de restauro, pois reúne e preserva cerca de um milhão e quatrocentos mil documentos que constitui, uma vasta fonte de pesquisa sobre a cidade de Porto Alegre.
O Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Velhinho (A.H.P.A), procura dialogar com a comunidade porto alegrense , de forma que possa trazer ao público suas características históricas, resgatando suas raízes como cidade, e assim possibilitando uma fusão entre passado e sociedade porto alegrense.
Dentre as atividades, executadas pelo ( A.H.P.A), pode-se destacar as seguinte linhas de ações e / ou projetos, as quais serão detalhada em seguida.
- Projeto "Vivo Toque" - O Arquivo promove através desse projeto uma valorização do patrimônio da cidade. Projeto "Casa das Ervas"- Este projeto é destinado a compreensão das estruturas medicinais , dentro de uma linha educacional ele é situado no porão do Arquivo. Sala de Restauro-Assegura a preservação dos documentos à sua guarda e disponibiliza mais e melhor informação aos seus utilizadores. Sala de Pesquisa - recebem pesquisadores, historiadores, estudantes e população em geral.Sala Técnica- Dispõe de uma estrutura bem projetada para a conservação dos documentos.

No que se refere ao patrimônio histórico do A.H.P. A, a metodologia aplicada constitui na realização do restauro documental, o arquivo detém em seu acervo documental um patrimônio inédito referente ao período de 1764 a 1884, que são verdadeiras obras raras, sito uma Ata de 1764 e um livro de registro de 1884, com visita realizada no primeiro semestre de 2008 ao Arquivo Histórico, com a presença das oficineiras do A.H.P. A, foram observadas as condições de suas instalações e o estado do seu acervo, constatando que o documento apresentado pela oficineiras, estava " contaminado", frágil, a oficineiras, demonstrou as formas de restauração, utilizando um material chamado "papel japonês", transparente para o restauro, com fibras longas, segundo a oficineiras.
Outro ponto a destacar, é a utilização de estantes móvel, possibilita aos funcionários do Arquivo uma maior mobilidade, dentro desse suporte patrimonial, destaca-se a sala técnica, onde são guardados todos os documentos em preservação, a sala dispõe de um processo de climatização, onde possibilita a maior preservação documental, esta sala segue as condições internacional de preservação, o Arquivo dispõe de condições para o armazenamento adequado, além do mais, as embalagens utilizadas são de Ferogalha, onde evita a deterioração dos manuscritos.
O A.H.P. A, hoje com instalações adequada para a conservação dos documentos, observa-se que as instalações e o acervo não sofrem quaisquer intempéries climáticas e condições inadequadas devido ao projeto realizado pelos arquitetos, na restauração das casas, algo que constatei foi os procedimentos quanto a higienização do acervo incorporado à sua rotina, também como medida preventiva instalou-se o ar-condicionado mantendo assim a temperatura entre 19 e 22 graus.
Como fator determinante para o cuidado do Arquivo, existe uma equipe da Direção do Arquivo quanto ao manuseio dos manuscritos, nisto estão delineadas as políticas de como acessar os manuscritos que passam pelo processo de conservação , preservação e restauração, pois somente desta maneira será preservado o acervo, a memória de Porto Alegre.
"A organização de arquivo equivale, portanto ao desenvolvimento sistemático das tarefas que partem da identificação dos caracteres" ( Daíse Aparecida Oliveira, pág. 129 arquivo e documento).
As ações técnicas que observei e práticas utilizadas pela oficineiras posso constatar, uma grande preocupação com as dependências internas, como ; manter uma boa circulação de ar nas áreas de armazenamentos, colocar os manuscritos em posição vertical sobre as prateleiras, são algumas tarefas que os funcionários fazem, tendo em vista que para isso ocorrer o A.H.P.A detém de uma equipe. Para que o ambiente seja propicio à armazenação, o arquivo mantém uma organização de higienização dos documentos, realizam a detetização no ambiente que abriga o acervo, evitando as pragas, como traças e outros, assegurar que temperatura não ultrapasse os 22 graus é fundamental para o armazenamento documental.
A análise do laboratório de restauro, propicio-me as seguintes observações: o então instalado laboratório de restauro, localizado no Porão do Arquivo, tem condições para o armazenamento adequado, pois à guarda e os cuidados são orientados pelos funcionários do arquivo, se não tivesse uma política séria de conservação o manuseio inadequado, proporcionaria, inevitavelmente alguns danos, pois o manuseio descuidado, rapidamente conduz a problemas sérios e irreparáveis para o restauro, é utilizado papel japonês, cola de metilã, cola neutra, lavagem e higienização, contudo é para tais agravante sejam controlados que todo documento arquivistico e todas as obras raras sempre são objetos de avaliação.
A visita ao Arquivo, levou-me a observar sobre o patrimônio cultural edificado, entendido como um bem de usufruto público, no que respeita ao patrimônio edificado, reflete a noção de preservação, tem um fator de construir uma atração em nossa sociedade, pois busca uma resposta envolve, a herança da cidade como um todo.
Patrimônio. Esta bela e antiga palavra estava, na origem, ligada às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo. Requalificada por diversos adjetivos (genético, natural, histórico, etc.) que fizeram dela um conceito "nômade", ela segue hoje uma trajetória diferente e retumbante. Patrimônio histórico. A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum.
(Choay. Françoise: A alegoria do Patrimônio, pags. 11-12- Tradução de Luciano Vieira Machado)
No decorrer da visita tive a acesso aos inquéritos do incêndio ocorrido no mercado público em 1912, observei um livro de atas do ano de 1884 onde descrevia as condições das alforrias naquele período, os documentos que a oficineiras mostrou para o grande grupo, trouxe a tona a questão da paleografia, podemos refletir sobre o tempo em que esta documentação ficou inacessível ao usuários e as pesquisadores, logo ao consultar os manuscritos, defrontei-me também com outros aspectos relativos ao vocabulário, grafia, caligrafia. Dentro da dinâmica da visita tivemos um contato com o Detetive Coruja, onde ele esboça indicio sobre o incêndio do Mercado Público ocorrido em 1912, segundo a oficineiras o detetive coruja era um cidadão que surgira misteriosamente no passado.
Após o debate sobre as fonte primárias com a oficineiras tive acesso ao um periódico da época, um jornal datado em 1858, onde dizia o seguinte "escrava de origem africana, fora vendida em meados de março por um fazendeiro para um senhor de escravo por 855 réis" a negociação foi acertada em Porto Alegre , isso me chamou a atenção pelo fato de como os negros eram tratados no meio comunicativo, eram tratados como " animais" que vinham do continente Africano, por meio de documento como esse contrato de compra e venda de um ser humano pude observar a importância das fontes para o entendimento do passado, usando este material destaco que este período da escravidão fora um dos mais violentos costumes de algumas pessoas em escravizar a outra .
A questão interdisciplinar está presente na forma como o profissional conduz seu trabalho, foram algumas das questões que procurei observar na visita ao Arquivo, ao chegar ao local a oficineiras, mostrou uma área de plantas medicinais destacando a importância das ervas, do ponto de vista acadêmico, consiste no método de pesquisa e de ensino.
O Arquivo público possibilita um trabalho interdisciplinar bastante articulado, onde tal articulação é voltada para a pesquisa histórica, a interdisciplinaridade desenvolve a identidade das disciplinas fortalecendo-as e mudando as práticas pedagógicas, dentro do Arquivo pode-se trabalhar com geografia, utilizando a mapoteca, a química, usando o processo de restauro, a biologia na formação dos fungos e traças, ocorrido devido ao acumulo de material, a letras, na paleografia com a gramática, grafia, isso torna o Arquivo um lugar interdisciplinar.
A questão de como trabalhar com saberes tão próximo é a valorização do processo educacional, é aquele que ensina a pensar e não repetir existe diversas formas de atuação na Educação Patrimonial, pois contribuem para o conhecimento do Patrimônio cultural, edificado e imaterial, no âmbito do Arquivo, tive a oportunidade de vivenciar, algumas formas de patrimônio, aonde, a proposta de uma metodologia, vêm de ações educacionais voltada para o uso de preservação, onde compõem o nosso patrimônio cultural, o A.H.P.A possibilitou um desenvolvimento para a Educação Patrimonial envolvendo suas diversidades como fonte primárias de conhecimento, na educação imaterial, uma vez que o principio da Educação Patrimonial é a experiência direta.
Em relação ao projeto de Educação Patrimonial, posso destacar o uso de documentos nas salas de aula, com isso ajudar os alunos a compreender melhor o passado e mostrar ainda que ele possa ser interpretado de diversas maneiras:
Quando se aprende história por meio de textos que pouco esclarecem sobre a origem das informações e conclusões que contêm, corre-se um risco em acreditar que essa disciplina oferece conhecimentos completos e definitivos do passado, em que não haveria lugar para a dúvida e o desconhecimento.(KNAUSS, Paulo " sobre a norma e o óbivo: a sala de aula como lugar de pesquisa", São Paulo; Cortez, 1996)
Assim, todo documento deve ser encarado como dotado de informações sobre o período em que veio, e também como fruto de um esforço, realizados por pesquisadores que trouxeram à luz esses documentos, posso citar a Carta de Vaz de Caminha, que fora esquecida por um longo tempo, e mais tarde transformara-se em "certidão de nascimento do Brasil", logo o documento costuma ser utilizado na ação educativa, seja durante uma aula expositiva, seja no texto de um livro didático, usado com mais sofisticação, o documento serve como elemento provocador, que propõe em questões as representações e atitudes do senso comum e até mesmo conhecimento históricos já cristalizados, estimulando o debates, e a busca de informações.
A interpretação de documentos, cujos pressupostos são basicamente os mesmos para entender os conteúdos e linguagens do mundo atual, compreende-se que a tarefa do ofineiro é estimular os oficinandos a refletir sobre materiais que muitas vezes passam despercebidos no dia-a-dia, como charges e noticias de jornais, transformando-os em documentos históricos, dentro do projeto de Educação Patrimonial há outra atividades que é a organização de "ferias de documentos" nas quais os organizadores expõem materiais textuais e iconográfico sobre temas da atualidade,(questão da terra, movimentos sociais, comunicação em massa etc.). Nessas exposições, feitas em escolas ou em espaços criados por organizações, os usuários têm a oportunidade de refletir e posicionar diante de materiais, o desafio é proporcionar condições para se ler os documentos do mundo.
Por fim, poderia se destacar que o trabalho realizado no Arquivo Histórico junto com a Educação Patrimonial vêm propiciando um conjunto de ações, onde o aluno tem a oportunidade de aplicar o conhecimento teóricos, obtendo de forma constantemente o aperfeiçoamento através da atuação prática, ao mesmo tempo criar formas de realizar novos projetos fazendo a disseminação da preservação documental possibilitando, um modo mais abrangente, a discussão sobre a necessidade de preservar e restaurar.
Referências:
Choay. Françoise: A alegoria do Patrimônio, Tradução de Luciano Vieira Machado. 1976
KNAUSS, Paulo ."sobre a norma e o óbvio: a sala de aula como lugar de pesquisa", São Paulo; Cortez, 1996.



Autor: Luis Carlos Borges Dos Santos


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