Noite Macabra



Noite macabra - Capítulo 1- Um estranho
O dia era 6 de dezembro de 1954 e eu iria a festa de aniversário de uma de minhas amigas.No caminho até sua casa eu me perdi e resolvi pedir uma informação a algum estranho que estivesse por ali.
Um garoto alto,magro,vestido de preto e com aparência melancólica estava parado na próxima esquina,apesar de achá-lo um pouco estranho e ficar um pouco receosa de lhe falar,não me restava outra opção,a rua estava vazia e eu já estava com medo de passar a noite perambulando pela cidade,então respirei fundo e fui até ele.Ele pareceu não perceber que eu me aproximava,até que provavelmente ouviu meus passos e se virou para olhar.Não consegui esperar que ele dissesse qualquer coisa e rapidamente falei:-Pode me dar uma informação?Estou perdida e eu preciso chegar na avenida das flores.O senhor sabe onde fica o endereço?
Ele me olhou como se me analisasse por um tempo e depois ainda me olhando ele disse:-Sim,eu sei onde fica,mas acho que já esta muito tarde para uma senhorita andar por aí sozinha,se me deixar eu posso acompanhá-la.
Fiquei aflita com a proposta,mas o que ele havia falado não deixava de ter razão,pensei comigo mesma que não teria perigo deixar que ele me acompanhasse e que eu era uma boba que só estava com receio por sua aparência exótica,aceitei enfim.
No primeiro minuto ficamos caminhando em silêncio,até que ele enfim falou:-Avenida das flores?Eu já estive por lá,não é complicado de chegar.
Eu balancei a cabeça num sinal de concordância,ele voltou a falar:-Mas que tipo de namorado é o seu que deixa uma senhorita andar sozinha por essa cidade que já não é mais tranqüila como a algum tempo atrás era?
Respondi automaticamente sem pensar:-Não tenho namorado,então tenho que pedir ajuda a estranhos.Eu esperava que ele levasse com humor e risse,mas não aconteceu,seu rosto parecia triste e imodificável.
Quando já tínhamos andado por umas três ruas ,apesar de não conhecer muito bem o caminho,percebi que não estávamos indo para os lados do centro onde acontecia a festa,perguntei:-Não conheço bem esses caminhos,mas sei que o centro fica para a esquerda e nós estamos indo para a direita,então....-ele me interrompeu:-Eu a levarei para lá,ma antes eu gostaria de lhe mostrar uma coisa.
Eu fiquei gelada,pensei em todos os lugares onde ele poderia me levar e tudo que podia fazer comigo,mas a essa altura mesmo que eu dissesse que não queria ir,se ele fosse um bandido me levaria a força,então respondi:-tudo bem,só é melhor que seja rápido,porque já esta bastante tarde não é mesmo?-Ele acenou com a cabeça concordando e disse:-Fique tranqüila,vai me agradecer por levá-la a este lugar.
Andamos por mais umas quatro ruas falando sobre algumas coisas,ele me contou que fazia parte de uma grupo onde as pessoas tinha um jeito de viver,isso explicava as roupas esquisitas,então fiquei mais tranqüila.Também lhe falei sobre minha família e coisas do meu cotidiano.
De repente ele me interrompeu e falou em um tom de deslumbramento e fascínio:-Chegamos Senhorita.-Eu olhei para todos os lados,mas não havia nada de novo,só algumas casas como qualquer outra rua,no fim da rua porém se encontrava o cemitério municipal,mas não podia ser lá onde ele me levaria,que pessoa em sã consciência levaria uma estranha para dar um passeio num cemitério?Se bem que ele não parecia ser uma pessoa normal,esse pensamento me deixou com calafrios.
Capítulo 2- Aproximação
Ele me puxou pelo braço e eu fui acompanhando e o que parecia uma loucura realmente era real,ele estava me levando ao cemitério,eu estava apavora,mas o que eu podia fazer?Se eu gritasse ninguém poderia me ouvir porque já era tarde da noite,se eu tentasse lutar contra ele também não ia dar em nada,ele era magro mas de qualquer forma era mais forte que eu,tudo que eu podia fazer era acompanhá-lo,talvez depois ele me levasse a festa como havia dito.Tentei ficar mais calma mas diante da situação era bastante difícil,então quando chegamos na entrada eu fiquei mais nervosa ainda,aquele lugar era macabro demais pro meu mundo e a noite acentuava mais o clima de terror,para o garoto aquilo parecia muito normal,ele mostrava uma expressão totalmente tranqüila e trazia também um ar de empolgação.
Quando entramos senti como se o vento tivesse ficado mais gelado e meu coração batia cada vez mais acelerado,ele olhou para mim e sorriu o que para ele não era uma rotina,então disse num tom de gozação:-Esta com medo?Eu venho aqui todas as noites,esse lugar me da uma paz interior imensa.
Respondi com a voz falhando:- É bem exótico,principalmente para mim que não tenho o hábito de vir a um cemitério muitas vezes e também não gosto muito dessa escuridão.
Ele fechou o rosto e continuou a andar até que parou em frente a uma cova bem bonita,toda azulejada de cinza,muito bem cuidada,com umas flores que eu não identifiquei qual era o tipo mas a cor era um roxo bem vivo,me impressionei com a foto que havia na lápide,pois era de um rapaz muito parecido com ele,conclui que devia ser algum parente bem próximo e por saudades ele vinha ao cemitério todas as noites,agora as coisas pareceram mais leves,observando-me ele falou:-Aqui eu me sinto em casa,é como se eu pertencesse a este lugar,de uma certa forma eu pertenço mesmo.
Eu fui desviada de meus pensamentos com aquilo que ele havia dito,respondi:-Cada pessoa tem suas crenças e sabe o que lhe faz bem.Ele:-Não é como se eu tivesse escolhido isso,é mais como se eu tivesse que aceitar e conviver com isso de qualquer maneira.
Eu fiquei pensando naquilo,mas não compreendi o que ele estava tentando explicar.Ficamos em silêncio por vários minutos,ele nem parecia estar presente ali.Até que ele disse:-Sabe,me lembrei de uma coisa.Você ainda não me disse seu nome nem eu o meu,então meu nome é Oscar e o seu?
Eu:-Meu nome é Maria Eunice,agora estamos apresentados de verdade.
Ele me olhou intensamente por bastante tempo como se estivesse pensando no que fazer,até que falou:-Se me der permissão eu queria muito fazer uma coisa,pode parecer atrevimento,mas é como se nó tivéssemos só essa noite juntos.Ele ficou bem próximo do meu rosto e parou,olhou nos meus olhos e eu entendi do que ele estava falando,mesmo que eu achasse aquilo tudo uma tremenda loucura,o cemitério,a cova,o visual, e agora ele querer me dar um beijo sendo que havíamos nos conhecido á pouco mais de uma hora,mesmo com tudo eu me senti tão envolvida naquela situação que era como se não fosse uma coisa normal,ia além de tudo,era mais forte,então lhe lancei um olhar em sinal de concordância. Ele se aproximou quase que totalmente e depois me beijou com uma enorme suavidade que não combinava com aquele visual pesada e aquele cenário macabro,foi muito rápido e eu não tive tempo de pensar em nada além de sentir aquela sensação nova que eu jamais tinha experimentado.
Quando acabou eu não queria abrir meus olhos pois não sabia onde enfiar minha vergonha,mas ele tocou meu rosto com suas mãos e quando abri meus olhos nós nos olhamos profundamente,onde um olhar transmitia tudo que o coração estava sentindo,ficamos em silêncio e ele me abraçou,eu me deixei levar por aquela emoção.
Capítulo 3 - Mistério
Não falamos mais nada,e nenhum dos dois achou que precisasse dizer algo mais,até que de tanto cansaço uma certa hora da madrugada eu devo ter adormecido em seus braços.
Quando amanheceu eu acordei com a luz forte do sol das 10 da manha e me senti meio inconsciente de onde estava,porque estava ali,mas aos poucos eu fui assimilando as coisas que haviam acontecido na noite anterior então,olhei para o lado e havia algumas pessoas próximas visitando as covas de seus conhecidos,ninguém que eu conhecesse,olhei para o outro também não havia ninguém,onde ele poderia estar?Me levantei meio desorientada e fui andando pelo cemitério em sua busca ou de alguém que me desse alguma informação sobre seu paradeiro,até que eu avistei um coveiro e caminhei em sua direção.
Eu:-Bom dia,o senhor pode me ajudar?É que eu estava aqui com um amigo meu e agora ele desapareceu e eu não sei voltar pra casa,eu preciso encontrá-lo,o senhor viu ele,é magro,alto e estava vestido de preto...?
O coveiro velho pareceu ficar tão confuso quanto eu estava com as coisas que eu falei.Ele meio atordoado falou:-A senhorita esta bem?Quer que eu ligue para algum parente seu?
Eu não entendi porque ele estava falando aquilo,respondi:-Não o senhor não entendeu,eu estou acompanhada,só preciso encontrá-lo- Ele me interrompeu:-Senhorita é impossível que a senhorita tenha vindo acompanhada pois eu vejo todos que passam por aqui,não vi ninguém com essas características e a senhorita não parece estar muito bem,aliás eu nem vi quando a senhorita chegou.
Eu fiquei sem reação pois não sabia o que dizer,eu deveria contar que entramos aqui a noite?Bom na verdade era a única opção que eu tinha.Eu:-Acontece que eu não sei como mas meu amigo deu um jeito de entrarmos aqui a noite passada e eu acabei dormindo e ele desapareceu.
Ele:-olha senhorita eu sinceramente não sei do que você esta falando,mas mesmo se vocês tivessem entrado aqui a noite passada eu teria visto esse seu amigo saindo agora de manha.
Eu não sabia mais o que fazer então sai perdida e retornei a cova que estávamos pensando que talvez ele tivesse voltado para me procurar,fiquei sentada um tempo lá,mas ele não apareceu,me distrai olhando a cova,realmente era uma das covas mais bonitas do cemitério,se não a mais bonita,então achei a lápide e comecei a ler as coisas escritas até que uma coisa me pegou de surpresa,o nome na lápide era??Marco Antônio Oscar Torres Moreira??,como assim?Me perguntei!
Já não bastava a semelhança do falecido com ele e até o nome?Me veio uma hipótese na cabeça mas ela me pareceu uma enorme loucura e me perguntei se já não estava ficando louca de vez,não seria possível que....eu não queria pensar nisso.Fui embora do cemitério sem rumo,além de não ter explicações para nada do que havia acontecido eu ainda teria que enfrentar minha mãe,ela me mataria por ter passado a noite fora,naquela época isso era bem mais sério do que nos dias de hoje.E o que eu falaria pra ela?Se nem mesmo eu sabia ao certo o que havia acontecido na realidade.
Quando cheguei em casa todos estavam sentados no sofá consolando mamãe que estava em prantos,no momento que me viram o alívio tomou conta de suas expressões,menos de mamãe que parecia não acreditar que eu estava bem,que estava viva.
Ela:-Minha filha pelo amor de Deus,por onde você andou?
Eu:-Calma mãe eu estou bem,é que...ontem eu estava indo pra festa da Sílvia mas no caminho perdi o ânimo e fui a casa de outra amiga,nó ficamos conversando e não vimos o tempo passar então fiou muito tarde pra voltar pra casa e ela disse que eu poderia dormir lá e não deu pra avisar ninguém,foi só isso.
Ela:Mas minha filha você tinha que ter avisado, eu imaginei tudo de ruim que podia ter acontecido com você,nunca mais faça isso por favor
Mamãe me abraçou forte e eu vi que todos me olhavam impressionados. Então eu lembrei que tinha muitas coisas pendentes na minha cabeça que eu precisava organizar e disse:-Mamãe me desculpe por tudo eu nunca mais farei isso novamente,eu prometo,mas agora eu estou muito cansada,preciso e um banho,me desculpem todos mas eu vou para o meu quarto,obrigado por ficarem com a minha mamãe.
Me deitei na minha cama na intenção de fechar os olhos e achar uma explicação para toda aquela loucura,mas eu não conseguia encontrar e minha cabeça estava tão pesada que eu mal podia pensar direito.
Os dias se passaram,os anos se passaram,já faz muito tempo que tudo aconteceu mas eu me lembro disso todos os dias,eu tento me convencer que foi um sonho mas no fundo eu sei que não foi,também tento imaginar que tive um surto naquela noite,mas também sei que estava consciente dos meus atos,enfim,eu não sei o que aconteceu ou se realmente aconteceu,só sei que é a lembrança mais marcante do meu passado e acredito que sempre vai ser,eu vivo minha vida sempre esperando por uma resposta mas também me contento em pensar que talvez eu nunca saiba a verdade.

Autor: Juliana Arievilo


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