Sobre o Jornalismo Angolano



Jornalismo de Angola. Subsídios para a Sua História.
Autor: LOPO, Júlio de Castro
Ano de elaboração: (caso não coincida com ano de publicação) 1964
Ano de publicação/impressão: 1964
Local de edição: Luanda
Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Centro de Informação e Turismo de Angola
Número de páginas: 127
Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas
Biblioteca: Biblioteca Nacional
Cotas: P 3273 V
Sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)
Júlio de Castro Lopo nasceu em Valpaços, em 18 de Abril de 1899, e morreu na mesma vila, em 4 de Março de 1971. Passou mais de meio século em Angola, onde deixou bem marcada a sua passagem por ali. Profissionalmente, era funcionário público. Mas ele foi, essencialmente, um intelectual. Deixou uma infinidade de obras, para além das muitas dezenas de artigos que deixou nos jornais e revistas, tanto do Ultramar como da Metrópole.
Índice da obra
Introdução: pp. 7-9
O Primeiro Órgão da Imprensa de Angola: pp. 11-18
Períodos do Jornalismo e um dos precursores da Imprensa Livre: pp. 19-29
Três Periódicos (de Luanda) do Dr. Alfredo Troni: pp. 35-39
Dispersos da Vida da Imprensa: pp. 41-63
Notas sôbre alguns periódicos (de Luanda) do Século XIX: pp. 65-74
Alguns dos Africanos que se evidenciaram no jornalismo de Luanda: pp. 75-84
Resenha cronológica de órgãos da imprensa fundados no séculos XX, até final do ano de 1945: pp.85-92
Dois extintos periódicos de Luanda (do século XX) e dois jornalistas, já falecidos: pp. 93-98
Jornalismo industrial e profissional: pp. 99-110
Considerações sôbre Jornalismo, à margem desta monografia: pp. 111-116
Resenha de órgãos da imprensa de Angola existentes em 31 de Dezembro de 1963: p. 117
Resumo da obra (linhas mestras)
Neste livro, Júlio de Castro Lopo, começa por dizer quais foram os apontamentos bibliográficos que consultou e as dificuldades que teve para recuperar os dados que apresenta sobre a história do jornalismo em Angola.
Após a introdução explica o percurso vivido pelo primeiro órgão da imprensa de Angola, intitulado Boletim do Governo Geral da Província de Angola, que iniciou, a 13 de Setembro de 1845, o primeiro noticiário mundano, inseriu o primeiro anúncio comercial e o primeiro noticiário teatral. Em 3 de Julho de 1847, o título foi alterado para Boletim Oficial do Governo Geral da Província de Angola.
A 27 de Junho de 1922, foram criadas a segunda e a terceira séries do Boletim. A primeira série era constituída pela colecção da legislação da Província, a segunda série destinada à publicação de decretos, portarias e despachos e a terceira série destinada à publicação de avisos e anúncios oficiais. O órgão passou a ser intitulado Boletim Oficial de Angola.
Júlio de Castro Lopo divide a história do jornalismo de Angola em três períodos mais ou menos distinto. O primeiro período iniciou-se com o Boletim Official em 13 de Setembro de 1845, merçê das providências tomadas por Pedro Alexandrino da Cunha, que poucos dias antes (6 do referido mês) havia tomado posse do cargo de governador-geral. O segundo período é marcado com o aparecimento, em Luanda, do semanário A Civilização da Africa Portuguesa, a 6 de Dezembro de 1866 e fundado por António Urbano Monteiro de Castro e Alfredo Júlio Cortês Mântua, sem embargo de também se considerarem fundadores do periódico os seguintes indíviduos: João Feliciano Pedreneira, Feliciano da Silva Oliveira, Francisco António Pinheiro Bayão e o brasileiro Francisco Pereira Dutra. O terceiro período do jornalismo angolano é iniciado em 16 de Agosto de 1923, também em Luanda, com o jornal A Província de Angola, fundado por Adolfo Pina. Os três períodos do jornalismo angolense podem designar-se assim: primeiros passos do jornalismo; imprensa livre; jornalismo industrial e profissional.
Os periodistas redigiam as folhas com fins diversos: como recreção literária; por expansão intelectual; ou por temperamento de escrevedores; ou por vocação, conjuntural ou verdadeira, para propaganda política; ou por partidarismo local: para defesa de interesses regionais, comerciais, agrícolas e industriais; por mercantilismo, com feição noticiosa, a favor de determinados interesses particulares; por motivos e intuitos panfletários, em que a pena ora se transformava em espada leal do combatente, ora em punhal de assaltante grosseiro e traiçoeiro. Certo é que o jornalismo episódico e de amadores foi muito importante em Angola, pelos valores mentais que nele se revelaram durante muitos anos. A tal período do jornalismo, os colonos e os povos africanos devem a Portugal serviços apreciáveis, pelas campanhas que nos periódicos se fizeram em defesa dos interesses nacionais e dos míseros negros, que, aliás, humanitárias leis portuguesas defendiam de traficantes.
Um dos percursores da imprensa livre foi António Urbano Monteiro de Castro, mais conhecido no jornalismo, na política e no foro de Angola pelo nome abreviado de Urbano de Castro. O autor considera-o um simbolo dos jornalistas do século XIX de Luanda e que a seu entender foi um dos maiores valores intelectuais e mentais que passaram pelo jornalismo de Angola.
O autor descreve também os três periódicos (de Luanda) do Dr.Alfredo Troni intitulados: Jornal de Luanda; Mukuarimi e Concelhos de Leste.
O autor diz ainda que o bi-semanário A Defesa de Angola se fundou em Luanda em 1903. Por convite do Dr. Sebastião de Magalhães Lima, foi o jornalista e publicista José de Macedo para a capital de Angola, a fim de dirigir o periódico, visto o grémio português de Luanda haver solicitado a escolha de jornalista competente para orientar tecnicamente o periódico.
Para o efeito, foi pois José Macedo a pessoa escolhida pelo Dr. Sebastião de Magalhães Lima. Tratava-se de um jornalista com alguma prática de redacções e, além disso, já então José de Macedo se dedicava a estudos relacionados com problemas ultramarinos.
Anteriormente à fundação do periódico, influentes políticos e do comércio de Luanda haviam publicado (20 de Dezembro de 1902) uma circular a lançar um empréstimo para angariamento de fundos destinados à aquisição de oficinas de composição e impressão, etc., para a criação de A Defesa de Angola. Para isso forma emitidos títulos de empréstimo do valor nominal de dez mil réis cada um.
Entre os africanos que na capital da província de Angola colaboraram em periódicos de Luanda, no segundo período do jornalismo angolense, que se designa de imprensa livre, Júlio de Castro Lopo distingue João da Ressurreição Arantes Braga, José de Fontes Pereira e Pedro da Paixão Franco.
João da Ressurreição Arantes Braga era um homem de curiosidades intelectuais e que tinha um apreciável temperamento de jornalista. Morreu em Luanda, a 16 de Novembro de 1885, e foi sepultado no cemitério do Alto das Cruzes. Ainda hoje é venerada a memória de Arantes Braga, entre algumas velhas famílias africanas de Luanda.
José de Fontes Pereira era mais culto que João da Ressurreição Arantes Braga e dominava melhor do que ele a língua portuguesa. José de Fontes Pereira é uma das mais distintas figuras do jornalismo de Luanda, entre os africanos do século XVIII. João Pereira era mestiço, natural de Luanda e morreu em Luanda de peneumonia fibrinosa, a 3 de Maio de 1891, sendo sepultado no cemitério do Alto das Cruzes (tinha 67 anos).
Pedro da Paixão Franco era negro, natural de Luanda e tinha qualidades distintas de intelectual talentoso e cheio de entusiasmo; de pessoa moralmente corajosa e de carácter; de cidadão que se dedicava ao bem público, fazendo a apologia das normas de justiça e de bondade. Faleceu a 16 de Junho de 1911 e foi sepultado também no cemitério do Alto das Cruzes.
O autor apresenta, no seu livro, uma resenha cronológica de órgãos da imprensa fundados no século XX, até final do ano de 1945.
Mais à frente, Castro Lopo faz uma breve história dos periódicos já extintos Voz de Angola e A Província e a dois falecidos jornalistas, Júlio Lobato e Francisco Pereira Batalha.
Quase a concluir, o autor refere-se aos jornais industriais e profissionais publicados em diversas cidades de Angola, incluindo A província de Angola (Luanda), Jornal de Benguela, O Distrito de Benguela, Notícias de Benguela e O Intransigente (Benguela), O Planalto e o Voz do Planalto (Nova Lisboa/Huambo), O Lobito e Notícias do Lobito (Lobito), Angola Norte, A Lunda, O Democrático e a Era Nova (Melanje), o Jornal de Huila, o Notícias da Huila (Sá da Bandeira/Lubango), O Namibe, O Sul de Angola e Jornal de Moçâmedes (Moçâmedes) e finalmente o Jornal do Congo (de Uíge).
O último capítulo é dedicado aos leitores angolanos. Nele se inserem excertos de dois artigos publicados em Lisboa, em 1941. No primeiro, da autoria de Homem Christo, diz-se que o jornalismo deve ser um "sacerdócio moral e cívico", "culto" e "honrado", devendo ainda "orientar-se pelos interesses colectivos e não pelo interesse (?) dos homens políticos e das facções". Para Homem Christo, citado por Castro Lopo, "em Portugal, o verdadeiro jornalismo nem se iniciou ainda". No segundo artigo, da autoria de Joaquim Leitão, equipara-se o jornalismo a uma "arte literária" e considera-se a actividade como um "magnífico campo de estudos" para as ciências sociais e humanas.
O livro encerra com uma resenha de órgãos da imprensa de Angola existentes em 31 de Dezembro de 1963.
Nasceu o jornal semanário O Commercio de Loanda, também com tipografia própria. Urbano de Castro e seu companheiro Alfredo Mântua foram atacados violentamente neste jornal, propriedade de José Mendes Affonso, presidente do Tribunal da Relação de Luanda e que, por força do seu cargo oficial não podia dar a cara. O magistrado era apontado pelos dois polemistas como venal e corrupto. Em 1872, surgiu mais um anuário, o Almanach Popular só saiu o primeiro número. Em 1873, nasceu o semanário Cruzeiro do Sul. Este jornal, onde pontificava o padre Castanheira Neves e o inevitável Urbano de Castro, já teve como fundadores jornalistas africanos. Em 1882, nasceu o semanário A União Africo-Portuguesa, ainda sob o génio e a influência de Urbano de Castro. Quem era este jornalista? Foi escrivão de Direito e advogado. Mas destacou-se como jornalista, panfletário e polemista. A sua pena era letal. Chegou a ser vereador da Câmara de Luanda, pese embora as suas opções políticas libertárias. Traduziu textos do alemão e do inglês para português. Os comerciantes do Dondo, detentores da companhia de vapores do Kwanza, ofereceram-lhe uma pena de ouro cravejada de brilhantes, por relevantes serviços prestados à causa do comércio. Os grandes jornalistas, escritores e políticos Pinheiro Chagas e Oliveira Martins renderam-lhe as suas homenagens. Nada mais se pode dizer de um jornalista brilhante, pioneiro da Imprensa Livre em Angola.
Alfredo Troni foi um excelente seguidor dos combates de Urbano de Castro e Alfredo Mântua, os dois pioneiros da Imprensa Livre. Advogado, jornalista e cronista brilhante, veio de Coimbra para Luanda servir o Poder Judicial. Mas em breve se rebelou contra o poder personificado no governador e sua corte. Alfredo Troni, em 7 de Julho de 1878, fundou o Jornal de Loanda, com tipografia própria e sede na Rua Diogo Cão. O governador-geral foi vítima da sua pena brilhante. E quando Troni, pelos seus afazeres de advogado, teve de se ausentar da trincheira do jornal, contratou um jornalista de primeira água, Ladislau Batalha, na época um dos mais brilhantes arautos do socialismo. Batalha, que tinha um espírito aventureiro, estava em S. Tomé a tirar notas para um romance quando recebeu o convite de Alfredo Troni. Ele embarcou de imediato na célebre barca a vapor Flor de Loanda e desembarcou em Angola mais morto que vivo. Troni alojou-o numa pensão de luxo e no dia seguinte Ladislau Batalha começou a zurzir no governador e em todos os que se opunham às ideias socialistas de Alfredo Troni ou aos seus numerosos negócios. Um dia Ladislau Batalha desapareceu. Perdeu-se de amores por uma senhora negra e foi com ela algures para o Norte de Angola. Apareceu anos mais tarde em Lisboa e escreveu em livro as suas memórias e aventuras africanas. Um livro delicioso!
Alfredo Troni perdeu o seu Jornal de Loanda mas não cruzou os braços. Em 1888, da sua tipografia privada saía o celebérrimo jornal Mukuarimi (o maldizente?). As oficinas gráficas do Bungo passaram a chamar-se Typographia do Mukuarimi. O jornal seguiu o seu caminho sem Ladislau Batalha e Troni teve que puxar das pistolas de ouro e mostrar quanto valia como jornalista e cronista. Esta série é a que melhor revela o talento e a arte daquele que foi um dos maiores cronistas de sempre da Imprensa Angolana e um dos mais notáveis de língua portuguesa.
No ano de 1872, a Maçonaria instalou-se em Angola, primeiro em Luanda e logo a seguir na vila da Catumbela. Pouco tempo depois esta loja maçónica transferiu-se para Benguela onde fez obra de grande vulto. A Maçonaria também teve os seus jornais de combate. O mais importante de todos foi A Defeza de Angola (1903), um bi-semanário, servido por jornalistas profissionais que se deslocaram de Portugal para Luanda. O jornal tinha tipografia própria de grande qualidade, comprada por subscrição pública. O comerciante Farinha Leitão foi um dos que mais se destacou na criação de condições para o apetrechamento gráfico do jornal.

A lista dos periódicos

Em Luanda: Boletim do Governo Geral da Província de Angola (1845), Almanak Statistico da Província d?Angola e suas Dependências (1852), A Aurora (1856), A Civilização da África Portuguesa (1866), O Commercio de Loanda (1867), O Mercantil (1870), Almanach Popular (1872), O Cruzeiro do Sul (1873), O Meteoro (1873), Correspondência de Angola (1875), Jornal de Loanda (1878), Noticiário de Angola (1880), Boletim da Sociedade Propagadora de Conhecimentos Geographico-africanos de Loanda (1881), Gazeta de Angola (1881), O Echo de Angola (1881), A Verdade (1882), O Futuro d?Angola (1882), A União Africo-Portugueza (1882), O Ultramar (1882), O Pharol do Povo (1883), O Raio (1884), O Bisnagas (1884), O Arauto dos Concelhos (1886), A Tesourinha (1886), O Serão (1886), O Rei Guilherme (1886), O Progresso d?Angola (1887), O Exército Ultramarino (1887), O Imparcial (1888), O Foguete (1888), Mukuarimi (1888), Arauto Africano (1889), Nuen?exi (1889), O Desastre (1889), Correio de Loanda (1890), O Chicote (1890), O Polícia Africano (1890), Os Concelhos de Leste (1891), Notícias de Angola (1891), Commercio d?Angola, 1892, A Província (1893), O Imparcial (1894), o Independente (1894), Bofetadas (1894), Propaganda Colonial (1896), O Santelmo (1896), Revista de Loanda (1896), Propaganda Angolense (1897), A Folha de Loanda (1899).
Em Benguela: O Progresso (1870) e A Semana (1893).
Em Moçâmedes (Namibe): Jornal de Mossamedes (1881), Almanach de Mossamedes (1884), O Sul d?Angola (1892), A Tesoura (1892), A Tesourinha (1892) e A Bofetada (1893).
Na Catumbela: A Ventosa (1886).
No Ambriz: A Africana (1893).
Angola, no século XIX, tinha 59 jornais. Em Luanda foram editados 49, seis em Moçâmedes (Namibe), dois em Benguela e um no Ambriz.

Jornalistas africanos

Em todos os jornais da época existiam jornalistas africanos, até porque os filhos da burguesia negra caprichavam no domínio da língua portuguesa e quase todos tinham estudos primários e secundários quando não universitários. Entre os jornalistas africanos negros do século XIX merecem destaque alguns nomes, porque eles foram os melhores do seu tempo, os primeiros entre os seus pares, fossem africanos ou de origem europeia. Foram eles João da Ressurreição Arantes Braga, cuja família deu origem ao famoso muceque Braga, lugar de infância de Luandino Vieira e que ficava onde é hoje o bairro do Café e tinha como fronteira a Norte o local onde é hoje a igreja Sagrada Família; José de Fontes Pereira, Pedro da Paixão Franco, Sant?Anna Palma e Augusto Bastos.
O jornal Echo de Angola (12 Novembro de 1881) foi o primeiro jornal exclusivamente propriedade de angolanos e cuja Redacção era composta também por jornalistas africanos negros. Entre os seus redactores estava José de Fontes Pereira, justamente considerado um mestre do jornalismo luandense do último quartel do século XIX. Quando faleceu, era o decano dos jornalistas angolanos e Sant?Anna Palma, outro jornalista negro, no seu elogio fúnebre, considerou-o o melhor entre os melhores. José de Fontes Pereira recusou o clima panfletário da época, as polémicas e fez um jornalismo inteligente e sóbrio. Colaborou em várias publicações de Urbano de Castro, mas deu sempre uma nota de sobriedade, rigor e grande profissionalismo. Também foi um dos mais valiosos colaboradores do jornal O Mercantil, considerado unanimemente como o melhor jornal da fase da Imprensa Livre.
Como advogado defendeu os direitos fundamentais de africanos e europeus. Desencadeou na Imprensa campanhas contra o alcoolismo. Foi um defensor fervoroso dos bons costumes e da cultura. Quando faleceu em Luanda, a 3 de Maio de 1891 (foi sepultado a 4 de Maio no Cemitério do Alto das Cruzes) o jornal O Desastre, concorrente e adversário do Echo de Angola dedicou um suplemento de duas páginas (num total de quatro páginas que tinha o jornal) a José de Fontes Pereira. Num artigo assinado pelo jornalista negro Mamede de Sant?Anna e Palma, director e proprietário do jornal, o decano dos jornalistas angolanos foi considerado um "verdadeiro mestre".
Uma notícia da época dizia que "o enterro teve lugar no dia 4, às cinco horas da tarde tendo saído o préstito da Rua D. Miguel de Mello (casas do capitão Pedro de Sousa) para a igreja do Carmo, onde foi encomendado o cadáver".
Arantes Braga, um angolano também negro, é fundador do jornal Pharol do Povo, subtítulo Folha Republicana. Foi o primeiro jornal de Angola que em plena monarquia, numa fase de tremenda repressão, se declarou defensor dos ideais republicanos. É considerado o mais arguto jornalista africano na produção de jornalismo político.
Pedro da Paixão Franco foi o mais mediático de todos os jornalistas africanos negros do século XIX. Além de jornalista, foi escritor de mérito, deixando a obra em dois volumes, História de uma Traição. Colaborou em praticamente todos os grandes jornais portugueses da época, assinando artigos despachados de Luanda, muito apreciados pelo público leitor. Além de jornalista e escritor, Pedro da Paixão Franco foi funcionário dos Caminhos-de-Ferro de Malanje. A sua certidão de óbito diz que morreu de pneumonia. Mas Pedro da Paixão Franco terá sido envenenado por uma bela senhora africana que o seduziu e chamou para uma armadilha. Antes de morrer ainda teve tempo de revelar com quem esteve e o que comeu e bebeu em casa dessa senhora.
O livro História de uma Traição era muito crítico de algumas famílias tradicionais negras. Mas Pedro Paixão Franco era também oriundo de famílias da burguesia negra. Sua mãe era Maria Francisca de Assis e seu pai Pedro da Paixão Franco. Ambos pertenciam à alta burguesia da época. Ao escrever o livro assinou a sua sentença de morte. A obra, em dois volumes, foi despachada do Porto (onde foi composta e impressa) para Luanda. Quando o caixote com os volumes estava na Alfândega, desapareceu e ao que se sabe, foi queimado. Sobraram alguns exemplares que Pedro da Paixão Franco recebera na mala do correio. Nos anos 50 do século XX o povo ainda cantava canções em kimbundu de homenagem a Pedro da Paixão Franco.
Este jornalista é fundador do semanário Angolense (1907).
A história do jornalismo Angolano do século XIX encerra com duas figuras ímpares: Augusto Bastos, de Benguela e Júlio Lobato, um angolano de origem europeia. Augusto Bastos era filho de uma negra e de um comerciante português. Os seus dotes de inteligência levaram o pai a enviá-lo para Portugal, onde fez estudos secundários. Quando se matriculou na Faculdade de Medicina de Lisboa o pai faleceu e ele ficou sem recursos financeiros para continuar em Portugal. Nos últimos anos do século XIX já era um dos jovens talentos do jornalismo angolano.
Júlio Lobato era igualmente um jovem e talentoso jornalista que começou a sua carreira profissional na Imprensa Livre do último quartel do século XIX. Explodiu nos primeiros anos do século XX e em 1908 fundou o jornal A Voz de Angola que tinha como legenda: Libertando pela Paz; Igualando pela Justiça; Progredindo pela Autonomia. Este jornal tinha um contrato com a agência Reuter e publicava todas as semanas noticiário de Londres. Pela primeira vez um jornal de Angola assumia em subtítulo que era defensor da autonomia de Angola. A repressão caiu sobre Lobato e o seu jornal, mas a semente ficou, germinou e os frutos estão à vista no Jornal de Angola e no Jornal de Desportos.


(Texto elaborado por Artur Queiroz para os jornalistas do Jornal de Desportos e Jornal de Angola que participaram na formação em técnicas de edição)

Segunda-feira, Março 19, 2007
ANALISE DE TÍTULOS DE PERIÓDICOS ANGOLANOS

(Apresentada ao ISPRA, IV ano Com. Soc., Lab. Imprensa, Dr. A. Kizunda, 2006)

1-INTRODUÇÃO
A história do jornalismo angolano, cuja génese remonta ao sec. XIX, teve ao longo do seu percurso várias preocupações que se foram ajustando ao momento político, social e económico vividos pela então colónia e hoje país independente. Assim é que no auge das monoculturas e do desenvolvimento do comércio mercantilista, o jornalismo nascente esteve ao serviço das elites económicas para mais tarde com a propagação dos ventos libertadores, grande parte dos seus executores aliar-se aos ideais nacionalistas perante o regime de "Estado Novo" de Salazar que teimava em subjugar os angolanos. As elites mestiças e os novos assimilados, detentores de meios económicos e influência em círculos de decisão, tiveram um papel de realce no desenvolvimento da imprensa nascente e da literatura em geral.
Conseguida a independência, uma das grandes preocupações foi descolonizar a nossa comunicação social (1) e uma vez conseguido este desiderato, uma nova frente se abriu com a democratização do país; a pluralização da informação, sua desgovernamentalização e a consequente despartidarização, visto que vivíamos num regime de Partido/Estado.
Hoje, a tendência da informação (2), sobretudo a veiculada pelos órgãos da comunicação social públicos, parece-me ser a personalização, independentemente dos factos. É o que se chama em linguagem miúda por bajulação. Infelizmente poucos ainda se deram conta desta tendência preocupante, pois os títulos e leads das notícias publicadas em vez de trazerem os factos protagonizados pelos actores políticos, económico e sociais e a sua relação com os destinatários, trazem como substancia o próprio actor. Assim é que encontramos títulos como "presidente da República recebeu embaixador itinerante das Barbudas", entre outros títulos de fraca elaboração jornalística em vez de serem publicados assuntos do interesse dos destinatários.
A notícia é hoje um produto que precisa de ser vendido e antes publicitado para que o cliente descubra nele interesse para o seu consumo. Se tal não acontecer e estivermos apenas a agradar o protagonista, tal facto não passará disso mesmo, já que uma notícia só o será caso haja relação de proximidade (3) entre o facto e o destinatário da informação veiculada.
O presente trabalho, uma análise de formas de elaboração em diferentes periódicos, destina-se a responder um imperativo académico na cadeira de Laboratório de Imprensa, ministrada no ISPRA pelo Dr. Adérito Kizunda.
ANÁLISE DE PERIÓDICOS (TÍTULOS)
Aberto o jornal de Angola de 9 de Julho de 2006 página (27) destinada às regiões encontramos o tipo característico de iniciação que realça o actor em vez da cena.
Título: Juventude do K-Norte apelada a preservar a moral e o civismo
Pós-titulo: Presbítero falava há mais de dois mil jovens numa cerimónia eucarística.
Lead: O padre católico Mateus Nhenga apelou, em Ndalatando, a juventude do Kuan
Autor: Dionísio Halata


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