Sartre e a supremacia do corpo



SARTRE E A SUPREMACIA DO CORPO
Ramiro de Oliveira Junior - Professor da Rede Estadual de Educação do Paraná
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O ser existe e só posteriormente se define, ou seja, dá significado para sua existência, que a priori não existia. Partindo de sua existência, constitui sua essência. Isso foi Sartre quem afirmou!
Não vamos aqui penetrar profundamente no pensamento sartreano explanado nas obras "O Ser e o Nada" e "O Existencialismo é um Humanismo", onde ele define magistralmente o que aqui passaremos apenas pela superfície, pois não é nossa intenção no momento, e sim compará-la com o fato, e para tanto não necessitaremos explicá-la tudo de novo, pois o conceito inicial já basta para entendermos.
Nossa vontade não se manifesta em nosso corpo. Nossos órgãos obedecem aos nossos comandos verbais ou mentais? Não! Nosso sangue pára ou começa a fluir em nossas veias ao nosso comando? Não! Nossos pulmões ou bexiga esvaziam-se ou enchem-se de seus elementos quando lhes convém? Com certeza que não. Nosso corpo existe e trabalha apesar de nossas expectativas. Se exatamente neste momento estiver se formando um coágulo em alguma das ramificações arteriais que irrigam meu cérebro e que conseqüentemente irá me causar grandes transtornos com um inevitável derrame cerebral, não posso saber e muito menos, com minha força de vontade ou comando mental, pedir, exigir que tal evento cesse. Não está dentro de minhas possibilidades tal coisa. Eu não me comando. Não sou dominador de mim.
Isso nada mais significa de que nosso corpo, nosso organismo vivo é independente de nosso raciocínio, não precisamos pensar para viver ou para existir, precisamos sim pensar, raciocinar para dar significados.
Se pensarmos nas formulações de Sartre a respeito de existência e essência a partir desta falta de comando próprio, podemos lhe dar, com certeza, um voto de confiança.
Se prestarmos atenção na história da evolução humana constatamos que o homem é um ser que se adaptou, se formou e constituiu identidade no decorrer dessa evolução. Antes dessa formação de identidade e principalmente dentro dessa formação encefálica, existia o corpo, e o corpo se comandava, sem qualquer tentativa de explicação da mente, como qualquer animal que conhecemos. Então o que a pouco comentamos, sobre a falta de controle corporal, não nos é estranha, pois convivemos muito bem sem nos darmos conta disso, apenas não necessitamos pensar sobre tal coisa, mas é algo inerente a nós e nos acompanha dentro de nossa evolução.
Antes de formarmos a capacidade de raciocínio e representação tínhamos apenas a vivência e o momento onde obedecíamos aos comandos de nosso corpo, ou seja, existíamos apenas. Dentro do sentido exato da palavra, o existir veio primeiro.
A partir do "momento" em que o homem adquire a capacidade de pensamento e consequentemente a capacidade de abstração, de representação e de significados com o crescimento de sua massa encefálica passa a dar significados às coisas, e dando esses significados às coisas ao seu redor passa-se à auto significar, dá um significado a si mesmo.
Estando apenas vivendo, sem uma representação, e sendo comandado apenas pelos ditames do corpo, existíamos. Estando vivendo a partir de uma representação em que o cérebro nos dá significados, criamos a essência de nossa vida.

Autor: Ramiro Oliveira Junior


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