UM POUCO DE HISTÓRIA: O FANTASMA COLONIAL & A MUDANÇA LINGÜÍSTICA



BAGNO, Marcos. A Norma Oculta: língua & poder na sociedade brasileira. 5. ed. São Paulo: Parábola editorial, 2006.

A princípio, o autor Marcos Bagno procura ressaltar, em sua referida obra, as variedades prestigiadas e as variedades estigmatizadas, tendo como embasamento ao que o mesmo denomina de "fantasma colonial". Através de subtítulo o autor vai evidenciando um pouco do contexto histórico da língua e destacando alguns teóricos para dar ênfase em seu respectivo objetivo.
Verifica-se que, o brasileiro principalmente os escolarizados discriminam não só os analfabetos como também as suas "maneiras" de falar, já que tem em mente que "... no Brasil ninguém fala bem o português..." (BAGNO, 2003. p.76), e preferem se adequar a outra língua, por achar mais "bonita", do que a sua língua materna.
Durante a colonização no Brasil, a maioria da população não falava a língua portuguesa, era apenas o tupi (língua de origem indígena), observa-se enquanto a isso, que a medida imposta por Marquês de Pombal no impedimento do ensino de outras línguas, esclarece a preocupação de uma língua majoritária para o Brasil.
As discussões sobre "a língua brasileira" ocorreram dentro de um campo restrito à maioria da população. Fazia parte desse grupo, pessoas das elites, masculino, branco e oligárquico. As classes prestigiadas não se preocuparam em dar legitimidade ao objeto morfossintático, segundo a qual, diferenciava da norma-padrão lusitana, as quais queriam apenas como língua oficial. Dessa forma, era ausente a participação das pessoas em qualquer decisão que fosse estabelecida, e que segundo o autor, perdura até hoje em dia, sendo estes a maioria, em oposição à elite dominante. Observa-se então com isso, que a população era excluída e que apenas tinha que se adaptar da forma que era necessário.
Pois a colônia brasileira queria na verdade, negar a sua língua materna, para manter uma língua lusitana, deixando de lado o que lhe pertencia, porém havia movimentos por parte da elite que "defendiam" a língua de seu povo, isto é, que passassem a utilizar-se de outra, mas também por outro lado tinham aqueles que queriam manter "viva" sua língua nativa e aos poucos essa distancia de língua para outra foi ocorrendo, como Bagno (2003 p. 89) ressalta, justamente a distinção que existe entre o português de Portugal e o português brasileiro, em que "..uma palavra como deliberar, por exemplo, é pronunciada, em Portugal, como ?dlibrar?, isto é, com metade das sílabas que apresenta sua pronúncia no português brasileiro". Analisa-se então, o que distanciava uma da outra eram justamente as transformações, seja sintática ou morfológica.
Dessa forma, a língua a qual as camadas mais privilegiadas pertencem, ou se comunicam, fazem parte de um português que é brasileiro, em que analisa, diferencia ou participa, o qual é diferente do português lusitano, como o autor afirma, "...é um português brasileiro muito diferente do português falado em Portugal...". (p. 97).
Para Bagno, devido a muitas migrações, acabaram gerando diversas variações lingüísticas, expressões que só utilizavam-se na zona rural, passou a se freqüentado na zona urbana, até mesmo os meios de comunicação que aos poucos vão se "adequando" da forma que é falada pela população, e também com isso vai contribuindo para o aparecimento de variedades lingüísticas, como por exemplo, as telenovelas, em que cada palavra "diferente" utilizada pelos atores a sociedade vai se agradando e com isso fazendo parte do seu vocabulário. Percebe-se então, que a norma-padrão está cada vez ficando restrito, e um local que poderia ser conservador, segundo o autor, é a escola, que está deixando de lado e abrindo espaço para pessoas analfabetas e pobres, sendo "...literalmente relegada às camadas desprestigiadas da população...". (BAGNO 2003, p. 101), que antes era apenas freqüentado pelas classes privilegiadas.
No entanto, em pleno século XXI, as escolas se encontram em condições precárias, não tendo materiais adequados, professores sem planejamento, dentre outros fatores, prejudicando, os próprios alunos que não sentem vontade de estudar, e gerando numa evasão total. Assim, os mesmos não têm conhecimento das variedades da língua, que não existe "certo" ou "errado", e sim diferente, pois sem esse conhecimento prévio, geraria até num preconceito lingüístico. Sabe-se que, vários meios de comunicação fazem "propagandas" para se ter uma língua mais adequada à norma-padrão, ou seja, sendo "vendida" como um objeto, já que este é um país que dificilmente se encontra uma educação formal, como Bagno (2003, p. 105 -106) comenta:


Assim, num país em que o acesso à educação formal sempre foi restrito e em que se cristalizou na mentalidade comum o mito de que ?brasileiro não sabe português?, nada é mais fácil do que conquistar essa clientela ávida por uma ?língua? boa, segura e com selo de qualidade conferido por supostos especialistas na matéria.


Assim também, outro ponto importantíssimo evidenciado pelo autor é que "Todo língua muda com o tempo", logo se faz uma retrospectiva de textos que eram escritos séculos atrás comparando ao dias atuais, e com isso percebe-se que realmente a língua muda com o tempo, ou melhor, sofrem mudanças, mudanças essas que estão associadas a vários fatores que são influentes como, "...a moda, a influencia estrangeira..." e que no decorrer do tempo são acompanhados pelos falantes, sem que os mesmos percebam. Mas a mesma dificuldade que se tem de entender um texto anos atrás, também outras gerações em diante vão ter a mesma dificuldade de entender os textos deixados por alguém.
Sabe-se que, a língua sempre está num processo de modificação, como por exemplo, certas palavras utilizadas pelos os idosos, em que a maioria dos jovens acha engraçados ou não entendem o significado, coisas que hoje em dia os mesmos tem outras linguagens. Assim pode-se constatar que, a língua vai de acordo com a sociedade, se a mesma não para, a língua também continua "caminhando".
Segundo o autor, o que leva a língua a uma mudança, são as forças centrífugas, que tende a se afastar do que realmente as caracterizam, procurando novos caminhos a seguir, pois a língua pode mudar com o tempo, como já mencionado a cima, mas os que levam a essa mudança são os próprios falantes. Assim como também tem as forças centrípetas, a qual é desempenhada pelas instituições sociais, fazendo com que a língua não sofra nenhum tipo de mudança, talvez deixando intacto. E uma dessas instituições abordada pelo autor, é a escola, a qual tem que desempenhar um papel que seja formal.
É perceptível observar entre as variedades prestigiadas e as variedades estigmatizadas, que desde o período colonial se instalaram varias pessoas provindas de diversas regiões, com variedades lingüísticas "diferentes", e o que se analisa com isso, é que as pessoas na zona rural, são mais conservadoras do que as que habitam na zona urbana, palavras que antes era considerada "certa", como "despois", é considerada pela variedade prestigiadas "errada", devido não pronunciar mais dessa forma.
E que falante da zona rural, falam livremente, sem se prender em regras, porém não significa que os mesmos não saibam falar "direito", mas que por esse motivo as variedades estigmatizadas "buscam" as forças centrífugas, as quais passam por mudanças lingüísticas mais rápidas.
Mas Bagno relata que, não se devem separar essas duas variedades, pois ambas mantém uma relação em que uma "influencia" a outra. E que o "errado" só é encontrado na variedade estigmatizado pelos prestigiados que se julgam "cultos", sendo que o mesmo quando comete algum "erro", não é percebido, já que fazem parte de falantes prestigiados. Esse fenômeno de "erros" é justamente denominado pelo autor de traços graduais e traços descontínuos. Em que o primeiro, por alguma redução de um ditongo, por exemplo, em uma palavra passa despercebido ao pronunciar, como, "chegô", em vez de, "chegou", sendo que o segundo é percebido ao pronunciar, "fruita", (fruta), sendo utilizadas pelas variedades estigmatizadas, e "...ridicularizado pelos falantes das variedades prestigiadas". (BAGNO, 2003, p. 146).
De uma forma geral, as observações com que Marcos Bagno descreve em sua obra, compõem um quadro de estudos sobre a mudança lingüística, sendo bastante conciso em seus argumentos e facilitando uma melhor compreensão da importância de estudar a língua e suas variações e também como forma de repensar que as variedades lingüísticas estão presentes em qualquer lugar do mundo.




Autor: Bia Oliveira


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