Do sagrado ao profano



Irei falar sobre um tema não muito comentado pelos estudantes de ciências sociais ? pelo menos, até onde eu saiba ? mas antes irei falar sobre alguns conceitos relativos a alguns temas abordados em sala de aula, que mais me chamaram a atenção.
Primeiramente, falarei sobre a teoria construcionista crítica, termo pioneiramente utilizado pelos seguintes autores: Seymour Parpet e Kenneth Gergen. Sobre este assunto, compreendi que esta teoria faz com que o individuo critique as coisas, principalmente os fatos sociais, como a sociedade e o ser social, que são os nossos "objetos" de estudo e trabalho. Mas essa crítica dever ser de maneira pensante, subjetiva. E não somente no sentido negativo, mas sim no sentido avaliativo dos fatos sociais.
Mas o essa teoria mostra, é que tudo que acontece no mundo social, é construído (cultura, comportamento, educação, etc.), nada é "natural". Segue abaixo algumas explicações técnicas.
"(...) a concepção do contrucionismo de Gergen é bastante distinta do construcionismo crítico que praticado nas ciências humanas (...) o que hoje, torna-se possível nomear como sendo um construcionismo crítico existente, configura-se como uma síntese de pressupostos, descobertas e conclusões comuns aos estudos sobre indivíduos, cultura, e sociedade, realizados pela antropologia, sociologia e história, assim como também formulados por concepções filosóficas, teorias em lingüísticas, em psicologia, etc. (...) o construcionismo crítico é um pensamento radical. O mundo humano-social, em toda sua diversidade e em todos seus aspectos, é produto de construção humana, cultural e histórica (...) (SOUZA FILHO, Alípio)"
Como se pode perceber, o construcionismo crítico mostra que tudo é criado, construído; até mesmo os nossos sentimentos, e o que eu darei mais ênfase é o preconceito.
!Preconceito ’ 1, idéias preconcebidas, em geral sem fundamento. 2, intolerância a outras raças, religiões, etc. (XIMENES, Sérgio, 1954)!
O titulo do meu trabalho refere-se ao mundo prostitucional. Não entra na minha cabeça a concepção das pessoas discriminarem a atividade realizada pelas prostitutas ? mas prefiro chamá-las de profissionais do sexo ? não sei por que tanta banalidade em relação a uma atividade tão normal. As pessoas discriminam mas, com toda certeza, a grande maioria, quem sabe todas elas, não têm a mínima idéia de que esta atividade já foi considerada sagrada; e infelizmente hoje é tida como algo anormal, anormal é a pessoa que pensa dessa forma. Onde está o problema em uma pessoa sobreviver através de relação sexual com vários "parceiros"?
Citarei agora um pequeno contexto histórico da prostituição.
"A prostituição já foi uma ocupação respeitada e associada a poderes sagrados. Mas, com o surgimento da sociedade patriarcal, a independência sexual e econômica das mulheres restringiu-se e as meretrizes passaram a ser mal-vistas. A prostituição é conhecida como a profissão mais antiga do mundo. O lado desconhecido dessa história é que a imagem a respeito delas nem sempre foi a que temos atualmente. As meretrizes já foram admiradas pela inteligência e cultura, e também já foram associadas a deusas - manter relações sexuais com elas era necessário para conseguir poder e respeito. As "mulheres da vida" sempre tiveram um lugar na História, mas, ao longo dos anos, seu status passou de respeitável à condenável.
No período da pré-história, a mulher era associada à Grande Deusa, criadora da força da vida, e estava no centro das atividades sociais. (...) Foi nesse momento da história humana, em torno do segundo milênio a.C., que a instituição da prostituição sagrada tornou-se visível e foi registrada pela primeira vez na escrita (...) Na Grécia antiga, as mulheres viviam em um confinamento físico e mental. Mas aquelas que se tornavam meretrizes desfrutavam de liberdade sexual e econômica. O diálogo a seguir mostra que a prostituição era vista como uma maneira de conquistar a independência:

CROBIL: Tudo o que você tem de fazer é sair com os rapazes, beber com eles e dormir com eles por dinheiro.
CORINA: Do jeito que faz Lira, filha de Dafne!
CROBIL: Exatamente!
CORINA: Mas ela é uma prostituta!
CROBIL: Bem, e isso é uma coisa assim tão terrível? Significa que você será rica como ela é, e terá muitos amantes. Por que você está chorando, Corina? Não vê quantos homens vão atrás das prostitutas, e mesmo assim há tantas delas? E como elas ficam ricas! Olhe, eu posso me lembrar de quando Dafne estava na penúria. Agora, olhe a sua classe! Ela tem montes de ouro, roupas maravilhosas e quatro criados. (PEREIRA, Patrícia)"
Com este pequeno fragmento, podemos ver que a prostituição não deveria ser algo tão banal como muita gente classifica. A meu ver a prostituição é e deve ser vista como uma profissão; e quem sabe voltar a ser vista como sagrada novamente.
São Tomás de Aquino chegou a defender a existência da prostituição, argumentando ser esse um mal necessário.
Será que devemos pensar assim ainda nos dias de hoje?
Penso que não!

Autor: Hudson Alves


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