Refletindo sobre alfabetização



Refletindo sobre alfabetização

Neste artigo faremos um breve relato do que vem a ser alfabetização,. Tema de muitas pesquisas, debates e estudos com perspectivas diferentes e muito diversas, nesse processo tão complexo, que se vê a situação sob vários ângulos, tratando a questão independentemente, ora aluno, ora professor, ora contexto cultural, questões sociais, ora o método etc. São tantas as alegações que nos leva a refletir ,afinal sobre processo complexo da alfabetização.
No entanto uma revisão nesse processo nos apontaria algumas facetas, que podem ser apresentadas em três categorias.
O conceito de alfabetização, a natureza do processo de alfabetização, os condicionantes do processo, além das implicações educacionais como seleção e desenvolvimento dos métodos de alfabetizar e a elaboração dos materiais didáticos e metodológicos necessários para atender aos alunos nesse período inicial de sua escolarização propriamente dita.
Sabemos que tem dado um significado abrangente para a alfabetização, como sendo um processo permanente, que se estenderia por toda uma vida, nunca sendo interrompido. Etimologicamente a alfabetização significa levar à aquisição da língua, ou seja, ensinar a habilidade de ler e escrever, mais no sentido específico, a alfabetização é um processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita. Segundo Lemle (1984:41):

"Alfabetização seria um processo de representação de fonemas em grafemas".
("escrever) e de grafemas em fonemas (ler); o que o alfabetizando deve construir para si é uma teoria adequada sobre a relação entre sons e letras na língua portuguesa..."

Um exemplo que nos deixa claro alguns pontos de vista sobre a alfabetização estão inseridos no duplo significado do verbo ler e escrever que possuem na nossa língua.
1-Ex: Mariana já sabe ler. Mariana já sabe escrever. Neste contexto ler e escrever significa domínio da "mecânica" da língua escrita, codificar a língua oral em língua escrita e codificar a língua escrita em oral.
2-Ex: Mariana já leu "O menino Maluquinho",obra de Ziraldo . Mariana escreveu uma redação sobre as histórias do Menino Maluquinho . Nestes exemplos percebe-se claramente que existe uma apreensão e compreensão de significados, ele já lê um objeto, uma figura, um desenho, uma palavra, cujo objetivo principal seria conhecer e compreender o significado do mundo, à aquisição de conhecimento. Nestes exemplos não vê a veracidade ou a falsidade de um ou outro conhecimento.
Sabem que alfabetizar é um processo de representação gráfica (letras e sons), mas também um processo de compreensão e de expressão de significados por meio da escrita. Não se considera alfabetizada uma pessoa que fosse capaz de codificar símbolos sonoros, lendo palavras isoladas ou não fosse capaz de usar de forma adequada o sistema ortográfico de sua língua ao expressar-se por escrito. Porém os conceitos embora combinem, ainda assim são parcialmente verdadeiros, por a língua não é uma mera representação da língua oral. Por isso os problemas da língua oral se diferem da língua escrita, pois o discurso oral e o discurso escrito são organizados diferentemente. Na língua escrita temos que explicitar muitos significados e na língua oral, são expressos por meios não verbais.
Em sentido peculiar em relação à grafemas e fonemas, de um outro código, que tem relação ao código oral, especificidade morfológica e sintática, autonomia e recursos de articulação do texto e estratégias próprias de expressão e compreensão.
Por tanto a natureza da alfabetização é muito complexa, exige presença de vários fatores que influenciam no processo, não se caracterizando uma habilidade, mas um conjunto de habilidades; envolvendo três perspectivas: psicológica, cognitiva e sociolinguística. E propriamente linguística do processo. A psicológica justifica o fracasso na aprendizagem da leitura e da escrita, atribuindo as responsabilidades as chamadas disfunções psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita (dislexia, disgrafia, disfunção cerebral mínima etc.).
Embora que para alguns estudiosos, o sucesso ou fracasso da alfabetização relaciona-se com o estágio de compreensão simbólica da escrita em que se encontra a criança.
A perspectiva cognitiva analisa problemas como maturidade linguiística da criança, a informação entre o visual e não visual quando a criança lê.
A perspectiva sociolinguística relaciona o processo com os usos sociais da língua. Onde aparecem os problemas das diferenças dialéticas. Onde o dialeto oral já de domínio da criança, mas nem sempre coerente com a língua escrita convencional. Nos dialetos orais e na língua escrita há diferenças relativas entre a correspondência do sistema fonológico e do sistema ortográfico e também diferenças de léxico, morfologia e sintaxe. É evidente que essas diferenças são retratadas visivelmente nas diferentes regiões do Brasil, além dos problemas de dialetos existe o problema sociolinguístico, pois a língua oral e escrita serve diferentes funções de comunicação, são usadas em diferentes situações sociais e com diferentes objetivos que variam para a sua comunidade. Essas diferenças alteram o processo, que não pode considerar a língua escrita meramente um meio de comunicação neutro e não contextualizado, pois qualquer sistema de comunicação escrita é profundamente marcada por atitudes e valores, pelo contexto sócio econômico em que é usado.
Já do ponto de vista lingüístico, a alfabetização é um processo de transferência de sequência temporal da fala em forma gráfica e nessa transferência da sequência temporal da fala para a sequência espaço-direcional da escrita, e da transferência do som em forma gráfica é que se constitui a aprendizagem da leitura e da escrita. É um progressivo domínio de regularidades e irregularidades.
Dessa forma os problemas de alfabetização não estão apenas em sua característica interdisciplinar, é preciso considerar outros aspectos que condicionam a aprendizagem na escola.
Os condicionantes deste processo não justificaria o fracasso escolar na alfabetização, embora é óbvio que contexto escolar com seus preconceitos linguísticos e culturais afeta o processo de alfabetização das crianças.
Podemos ainda acrescentar os falsos pressupostos sociais, culturais e linguísticos, a escola vem atuando nesta área de forma neutra, despida de qualquer caráter político.
Como se aprender a ler e escrever fossem apenas aquisição de habilidades para futura obtenção de conhecimento, desconhecendo que alfabetização é uma forma de pensamento, construção do saber e meio de conquista de poder político, e toda complexidade do processo tem repercussões nos problemas de métodos, material didático, os pré-requisitos e a preparação para alfabetização.


LEMLE, M. Guia teórico do alfabetizador. 3. ed. São Paulo: Ática, 1988.






Autor: Joseane Rodrigues Dourado


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