DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Na última sexta-feira (20/11) foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Esta data não foi escolhida por acaso. Em 20 de novembro de 1695, morreu Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo de Palmares (pequeno povoado criado em Alagoas pelos negros que fugiam da escravidão, tentando conservar sua cultura e seus costumes, bem longe das leis dos senhores). Esse líder é reconhecido por sua bravura e resistência contra a escravidão e por isso se tornou símbolo da luta do negro contra o racismo.
Martin Luther King, saudoso pastor batista, também foi um grande negro que lutou pelos direitos civis dos cidadãos. Na véspera de sua morte, em 3 de abril de 1968, Luther King fez um discurso à comunidade negra, no Tennessee, Estados Unidos, um país dominado pelo racismo. Em seu discurso ele disse: "Temos de enfrentar dificuldades, mas isso não me importa, pois eu estive no alto da montanha. Isso não importa. Eu gostaria de viver bastante, como todo mundo, mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus, e Ele me deixou subir a montanha. Eu olhei de cima e vi a terra prometida. Talvez eu não chegue lá, mas quero que saibam hoje que nós, como povo, teremos uma terra prometida. Por isso estou feliz esta noite. Nada me preocupa, não temo ninguém. Vi com meus olhos a glória da chegada do Senhor". Ele parecia estar prevendo o que ia acontecer. No dia seguinte, foi assassinado por um homem branco.
Os negros têm experimentado, durante séculos, dores, discriminação, preconceitos, desvalorização, tanto na sociedade em geral, como de religiões.
Do ponto de vista legal vigente, com a Constituição de 1988; da Lei 7 716/5/01/89 e da Lei 9 029 de 13 de abril de 1995 Art. 1º: "Fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade...". Ou seja, a Lei garante direitos e proíbe qualquer tipo de discriminação ou diferenciação por motivos de gênero, raça, cor, credo religioso. Mas só leis não bastam, é preciso mudar toda uma realidade, pois ainda há discriminação e preconceitos que são justificados pela ideologia, por mitos e práticas de dominação que continuam presentes nas relações econômicas, políticas e religiosas.
A visão ideológica, econômica, política e religiosa que só considera justos e verdadeiros os interesses de homens brancos, ricos e poderosos é contrária a vontade de Deus e ao Evangelho do amor e da graça; é injusta, é contra a vida, pois discrimina, marginaliza, violenta pobres, indígenas e negros.
A violência resultante do racismo e do ódio étnico deve ser superada a todo custo. A violência não é só física. Mas também intelectual, religiosa, emocional. Isto é, estão relacionadas com a violência social, política e econômica.
No Brasil atual, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população afro descendente é mais de 48%. Infelizmente, muitas pessoas acreditam, defendem e pregam o determinismo aniquilador, o conformismo, a destruição do outro como um direito que Deus lhe concedeu. Outros ainda justificam, aceitam que as coisas acontecem e são assim mesmo desde a criação do mundo. A violência, a pobreza, o sofrimento, a discriminação acabam sendo aceitos sem nenhum questionamento e como desculpa de que "foi Deus quem quis assim". Há também os que, de certa forma, responsabilizam Deus pelo mal, pela violência, o desrespeito à vida porque foi Ele quem criou e determinou tudo. Justificam todas as formas de destruição, dominação de uns sobre os outros, todas as violências praticadas pelos homens como destino.
Porém, a Igreja Cristã e todas as pessoas comprometidas como Reino de Deus e com a promessa de Cristo "eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância" (Jo 10.10), não podem deixar de lado sua missão profética de anunciar possibilidades de um mundo novo e de fazer denúncias quando tratados enganadores, obras dos poderosos e gananciosos tentam justificar suas ações que geram pobreza, desemprego, fome, injustiças e que vão multiplicando violências, guerras, dores e mortes.
O nosso papel é lutar pela identidade, pois Deus nos criou todos iguais e como disse Martin Luther King: "Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos".
Nos laços do Calvário que nos une,
E na graça DAQUELE que criou e ama todas as raças, tribos e povos,
Rev. Luciano Paes Landim
Autor: Luciano Paes Landim
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