A casa da Vila Palmira - décima história



O Seu Alvino comprou um terreno na vila Palmira e vendeu a casa do Santo Amaro em Campo Grande no começo dos anos 70. Como precisava se mudar rápido, começou a construção da nossa casa e a ergueu em cibloco, cobriu e fechou, sem piso, sem reboco nem pintura, mas ele mudou com a sua mulher Dona Eloah, os filhos Walter (caçula), Jose Luiz, Marly, José Darly e Arly (não tenho certeza se o Moacir ainda morava conosco, acho que sim), os outros filhos Marluz, Velocindo e o Sidney, já estavam casados. O casal já contava com nove filhos, mas ainda faltava uma, a que viria completar os dez. Família grande, muitos filhos, mas seu Alvino era um homem trabalhador e ralava o dia todo nas construções, se dizia carpinteiro, mas fazia de tudo em uma obra. Trabalhava de sol a sol, sábado e muitas vezes, domingo e feriado. Lembro de vê-lo trabalhando de noite, e como trabalhava como pedreiro de construção e demolição de casas, as kitnetes de aluguel, que no final da vida foram sua aposentadoria, foram todas construídas com parte de material novo e partes de casas demolidas: tanques, vigas, torneiras, fiação, telhas, canos e pisos quebrados que viravam mosaicos ao irem para chão. Trabalha todos os dias no sol forte e a noite descansava um pouco e juntamente com meus irmãos mais velhos construíram a nossa casa e mais quatro casinhas de aluguel, que por serem construídas a noite ficaram assim, como posso dizer sem ofender, bem, meio tortinhas, inclusive a nossa.Mas enquanto isso dona Eloah cuidava da casa, dos filhos e logo veio a caçulinha, a Márcia Maria, e que festa foi aquela com a chegada do novo bebê. Lembro-me que nessa época não tínhamos televisão, só o rádio e as músicas que guardo na memória eram cantadas na voz da Dona Eloah, lembro que ela cantava O Sol e a Lua, Délio e Delinha, e Boiadeiro de Dois Corações que tocava todos os dias no radinho, e quando chegava o frio, muito frio mesmo, seu Alvino e Dona Eloah pegavam uma lata  vazia de tinta grande, dessas de 18 litros e fazia um fogareiro no meio da sala de estar que era inda chão batido, então todos os filhos se sentavam ao redor do fogo enquanto a Dona Eloah preparava o mate quente com leite, que adorávamos, e Seu Alvino começava a contar as história da sua mocidade, da sua família, alguns "causos" como ele dizia, ou lendas, história de fantasmas, histórias da guerras. Lembro de ter aprendido muitas coisas ouvindo o seu Alvino e a Dona Eloah ao redor da nossa fogueira. A casa sempre simples se tornava um castelo e foi onde vivi muitos anos e conservo ainda muitas lembranças maravilhosas, outras nem tanto, mas tudo faz parte do nosso aprendizado nessa vida.

 


Autor: Márcia Ferreira Marques


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