O Desencontro da Identidade Negra Infantil através dos Cabelos Crespos
Valdirene Aragão Rocha
Resumo
Crianças negras da educação infantil e ensino fundamental I aprenderam desde os quatro anos de idade a rejeitar o corpo negro, inclusive o seu. O cabelo crespo foi à parte do corpo que mais fortaleceu tal rejeição. A escola, através das professoras que não tem formação pedagógica para tratar das temáticas raciais, servindo como um fortalecedor para a perpetuação de práticas racista. Esse artigo é o resultado de uma pesquisa etnográfica realizada em duas escolas públicas (municipal e estadual) no ano letivo de 2007 no município de Vitória da Conquista-Ba para a monografia do curso de Pedagogia. Procurou-se uma interação entre a pesquisadora, sujeitos pesquisados/as, envolvendo educandos/as professoras e todos/as funcionários/as das escolas. Constatando de maneira incisiva o mito da democracia racial, fato que desemboca no desencontro da identidade negra infantil.
Palavras-chaves:
Identidade negra ? Educandos/as - Racismo
1 - INTRODUÇÃO
Dados históricos que relatam à história da educação das crianças negras são imprecisos e minimizados. Porém com os poucos arquivos de possível acesso, registram o triste drama da proibição aos bancos escolares às crianças negras desde 1871, após a severa Lei do Ventre Livre, que tirava as crianças negras do convívio familiar, deixando-as jogadas a própria sorte. (GONÇALVES, 2000.p.334)
Nota-se que mesmo com a chegada dos Jesuítas, que oficialmente trouxeram a educação para o Brasil, não foi garantida essa educação às crianças negras. (PRIORE. 2000). Embora 17 anos depois do Ventre Livre, com a "Abolição", esse fato que para a história do Brasil foi um grande avanço, não teve maiores significados para a infância nem para a população negra como um todo.
O processo de branqueamento do Brasil aconteceu no período pós-abolicionismo, através da elite dominante da época, com o objetivo de inculcar-nos "recém-libertos" que havia uma só raça uma só cor e que todos os povos deveriam viver em harmonia. É chamado também pela ideologia do branqueamento, europeização dos brasileiros.
Esta pesquisa, o desencontro da identidade negra infantil através dos cabelos crespos, pretende trazer a tona as nuances do racismo escolar envolvendo os educandos/as (crianças negras de 04 e 05 anos), professoras e funcionários/as de escolas municipal e estadual de Vitória da Conquista-Ba, seus conceitos sobre o cabelo crespo.
Trabalhar este tema, implicou ir a fundo das subjetividades que envolvia sentimentos por se tratar de questões relacionadas à auto estima dessa faixa etária de idade por entender que é nesta fase que se tem a formação da personalidade da criança, segundo Jean Piaget.
Foi utilizado como metodologia, trabalho de campo, observações diretas e participantes, entrevistas através de fotografias para auxiliarem de forma concreta nas respostas das crianças. Teve duração de um ano letivo escolar de 2007.
Embora a produção teórica das questões raciais tenha aumentado significada mente, ainda encontramos dificuldades com temas relacionados ao racismo através dos cabelos crespos e a auto estima de crianças negras, que esteja voltado para as subjetividades e os sentimentos. Uma vez que este campo de pesquisa está voltado para as ciências sociais deixando a desejar com as ciências educacionais.
Pretende-se iniciar uma discussão para as várias formas de preconceitos raciais que estas crianças negras deparam na escola que auxiliam para o desencontro da sua identidade negra. Sendo o cabelo crespo, a parte do corpo que é fator determinante para o fortalecimento desse desencontro. Como a etnografia permite a pesquisadora também será sujeita pesquisada no decorrer deste trabalho.
IDENTIDADE RACIAL
O processo de branqueamento do Brasil foi tão forte que, até nos dias atuais, das mais velhas às novas gerações sofreram/sofrem resquício desses. Saber quem é negro ou não no nosso país e especialmente na Bahia, estado que mais recebeu escravos no Brasil, tornou-se uma tarefa árdua e complexa. Árdua, pelo sentimento de identidade racial ainda não encontrado, e complexo, pela violação sofrida pela população negra que teve que negar a sua raça, pois, a auto-declaração do negro poderia representar inferioridade, ao lembrar o passado muito ruim e severo que foi a escravidão.
A pergunta do roteiro das entrevistas, como já era previsto pelas leituras teóricas anteriormente realizadas, seria a mais complexa e de tempo maior para responder. Qual a sua cor? Foram dadas três opções de escolha: branca, negra ou outra. Na 3ª opção, o entrevistado/a teria que dizer que outra opção seria. Não somente os alunos, como a maioria das entrevistadas do Grupo C, Professoras e funcionárias tiveram dificuldade para responder. Do total de 45 (quarenta e cinco) entrevistados/as, seguindo os critérios do IBGE, da auto- declaração, 25 % se declararam brancos, 25 % negros e 50 % outra (parda, morena, mestiço e ruivo). Dessas 04 denominações de outras cores, a ruiva, foi então surpresa, por nunca ter ouvido essa expressão. A resposta dos entrevistados/as não ficou distante da classificação racial que Moura (1988) denomina ter o povo brasileiro 136 cores ?.
Acrescenta-se que todas essas cores são formuladas como pretexto para a pessoa não se declarar negra. Até branco-escurinho pode ser a denominação de uma cor, porém apenas o "escurinho" não, pois pode soar como mais ou menos "negro".
A análise do Censo escolar desta escola, referente à classificação racial, se assemelha às respostas dadas nas entrevistas. Dos 114 (cento e quatorze) alunos (as), 68 (sessenta e oito) responderam para o Censo que não sabia qual era a sua cor. A nossa interpretação sobre a não identificação das pessoas como negras demonstra que não se reconhecem como tal, vivendo sob as cortinas de uma democracia racial forjada pelo Estado brasileiro através do discurso que se tornou uma ideologia da harmonia entre as raças brasileiras, embora nunca tenha existido aqui no nosso país.
A caracterização de uma pessoa negra, segundo teóricos, se dá a partir de três aspectos: o primeiro, o físico, refere-se à pigmentação da pele, cabelos crespos, nariz e lábios grossos; o segundo seria o aspecto político, ter consciência política do contexto histórico racial no qual os negros vieram para o Brasil e estar ciente da real situação em que vivem lutando por igualdade e melhoria para esse povo. O terceiro aspecto é tocante à ancestralidade, ou seja, as pessoas que aparentemente são brancas, mas que possuem na sua árvore genealógica um parente negro, pode considerar-se "negro".
O pertencimento racial seria uma questão importante quando, algumas vezes, corremos o risco de responsabilizar a família pela falta de consciência da identidade racial dos/as educandos/as. Sabe-se, pelo contexto histórico do mito da democracia racial brasileira, que a família é tão vítima quanto à criança, porque, muitas vezes, a mãe, o pai, e os irmãos mais velhos também se negam. Como transmitir aos menores? Relacionada à pigmentação da pele, o segundo item de rejeição do negro seria os "cabelos crespos".
Neste trabalho, ficou evidenciado que não apenas os educandos/as do sexo feminino, mas, também, os do sexo masculino veem como problemas, os "cabelos crespos", conforme nos fala Gomes (2006), "O cabelo do negro é visto como ruim essa é uma expressão do racismo e a desigualdade racial que recai sobre o sujeito negro. Sendo o cabelo crespo, o objeto de constante insatisfação, principalmente das mulheres" (GOMES, 2006, p.21-22).
Em dois educandos/as observados, um não tira o capuz da cabeça por ter carapinha (tipo de cabelo muito crespo) e outro o pintou de loiro. Este último, talvez por ser a moda do momento, pelos negros famosos, a exemplo de pagodeiros e jogadores de futebol.
Outra menina só solta os cabelos quando escova, fala que enche muito e fica cheio, não se sente bem com eles soltos, ainda no mesmo grupo, outro entrevistado se auto-declarou como ruivo, tinha seus cabelos crespos pintados de mechas loiras, estilo jogador de futebol. O que pode ser visto e/ou analisado, segundo Nilma Gomes (2006):
Sob duas formas, uma como tentativa de fugir do estereotipo de negro do cabelo duro, saindo, portanto do lugar de inferioridade, com criatividade e a outra como auto - negação da sua negritude. (GOMES, 2006, P.21-22)
A segunda escola pesquisada, o cabelo, também foi fator determinante nas escolhas dos/as educandos/as das fotos-gravuras.
Para a realização do trabalho na escola municipal, precisei utilizar outra metodologia. Aproveitando o estágio da disciplina de Educação Infantil para finalização deste trabalho, uma vez que no decorrer da primeira etapa sentimos (eu e minha orientadora) a necessidade de comparação dos dados colhidos da primeira escola com outra escola.
Desta forma, utilizei um modelo metodológico adaptado da metodologia que deu título à tese de Doutorado a Rita Fazzi (2004) "O Drama Racial das Crianças Brasileiras", que trabalhou com bonecos/as, utilizando roupas diferenciadas para que as próprias crianças da escola pesquisada dissessem que profissão ou que classe social pertencia, e como as crianças observadas estão elaborando suas próprias experiências raciais. Resolvi procurar gravuras que me levassem às respostas do tema que precisava para este trabalho. Uma vez que as crianças dessa faixa etária poderiam não conseguir conceituar as perguntas do roteiro de maneira objetiva.
Iniciei então uma busca incisiva à procura de gravuras de crianças, jovens, adultos e idosos negras, que foram encontradas com muita dificuldade. Isto porque, a maioria da mídia escrita e televisiva, como revistas e jornais, também são reprodutores do racismo brasileiro, encontra-se com facilidade pessoas brancas tidas como padrões de beleza estampados nas revistas, transmitindo a ideologia que este padrão, que deve ser desejado e almejado por todos/as.
Como os/as alunos/as possuíam ente 04 e 05 anos recorri à utilização de gravuras e fotografias que aparecerão no decorrer do texto.
PRETO DO CABELO FEIO
Selecionei 14 (quatorze) gravuras, em forma de duplas. Em ordem de amostra que foram abordadas, totalizando 07 (sete) duplas. Foi mostrado para os educandos/as um conjunto de duas gravuras para que pudessem fazer a comparação e escolha entre as pessoas de cor negra e de cor branca.
Os educandos/as utilizaram desta frase: "Preto do cabelo feio," para justificar a escolha pelas gravuras de pessoas brancas. Inicialmente, a pesquisadora chamava cada educando/a por vez no final da sala e mostrava as gravuras pedindo para que observassem. O cabelo foi à parte do corpo que mais chamou a atenção dos educandos/as entrevistados/as.
1.0 Site: www.africa.com
1.1 Revista Veja nº 16/2006
1.0 1.1
Feitas as observações individuais, cada educando/a responderia às perguntas procurando suas próprias justificativas. "Qual desses rapazes /moças você escolhe para ser amigo/a do seu pai? (quando este não tinha pai) para ser seu amigo?"
Em relação à primeira gravura, as respostas foram incisivas, 100 % dos/as alunos/as responderam que seria o rapaz de cor branca. Suas justificativas foram bem elaboradas, porque "o outro é muito preto seu cabelo é feio". Esse movimento revela "que tanto a aceitação do ser negro quanto a sua rejeição não se dão apenas na esfera da racionalidade. No Brasil as relações raciais se realizam através da expressão desse conflito, passa necessariamente pelo cabelo." (GOMES.2006, p.141).
Como estamos falando de educandos/as que são crianças, não podemos esquecer como nos alerta Fazzi (2004), "não podemos explicar completamente o desenvolvimento social de crianças sem levar em consideração a alta prevalência de atitudes racistas nos adultos ao seu redor." (FAZZI, 2004 apud Katz, 1987).
Se tratando das gravuras das moças nº 2.0 e 2.1, os/as educandos/as que preferiram a moça de cor branca não foi muito diferente. 97 % basearam as escolha porque "o cabelo era liso, gosta de mulheres brancas, é bonita, queria que se casasse com o meu papai". A melhor forma de se precaver contra a rejeição, segundo Gomes (2006), é clarear a raça, e a escolha da parceira branca passa diretamente pelo cabelo liso.
2.0 2.1
Revista Veja nº 16/2006
Quando suas justificativas não elogiavam a moça branca, depreciavam a moça negra, "porque ela é preta". Duas alunas (06 anos) conseguiram fazer ligação com a mulher negra da gravura com as suas mães, "porque se parece com a minha mãe" estas alunas apresentaram fortes aspectos de consciência racial com essa justificativa. Fatores que poderão ser atribuídos às suas famílias. Nesta turma de 28 educandos/as, 95% são de cor negra, de acordo com a classificação racial dos teóricos .
A terceira foto-gravura teve uma classificação diferente. Entendendo, a princípio, por estar a duas semanas com estes educandos/as e me chamarem de "pró", portanto já havíamos criado laços afetivos bastante significativos.
Foram mostradas fotos-gravuras não mais individuais, e, sim, em grupos de moças. Ambos sorrindo, porém um grupo de cor negra e outro de cor branca. Com um diferencial importante, pois a pesquisadora fazia parte da foto do grupo de moças negras. 57 % gostariam de fazer parte do grupo de moças negras. A maioria dos/as alunos/as olhou para mim e para a fotografia, ria e perguntava "é você?" Devolvia a pergunta: "Você acha que a moça dessa foto se parece comigo?" Concluíram que sim. Outras admitiram que as trancinhas estivessem bonitas.
Foto pessoal e Revista
Semana nº 16/2007.
3.0
Porém, 43 % dos/as educandos/as, mesmo me reconhecendo na foto, afirmavam que gostaria de fazer parte do grupo de moças brancas. Uma aluna se justificou dizendo que gostaria de brincar com os dois grupos.
Nota-se que 57 % dos/as alunos/as que escolheram o grupo de moças negras fizeram relação semelhante às que escolheram o grupo de moças brancas. "Porque essas são mais bonitas". Quando indagadas porque eram mais bonitas, respondiam "porque usam trancinhas".
Mesmo que o penteado das moças negras tivesse mais bonito, o fator que mais determinou e/ou influenciou a resposta dos/as alunos/as foi pelo fato de a pesquisadora estar entre as gravuras. Naquele momento, para eles/as, eu não estaria na condição de pesquisadora e sim de professora. No imaginário da criança, o/a professor/a é sempre "bonito" alguém que gosta muito, é quase da família.
Tanto a escola como a mídia têm fortes influências na vida das pessoas, em especial, na vida das crianças e dos adolescentes. O modelo de pessoas negras que tiveram sucesso na vida, a exemplo dos cantores de pagode, jogadores de futebol e jornalistas, passa a servir como modelos a serem seguidos, sendo esses imitados no jeito de vestir, nos penteados, e porque não dizer, até na autonegação da sua imagem.
A educanda da escola estadual observada na primeira ida a campo brincava sutilmente com uma blusa na cabeça, fingindo ser seu cabelo. Perguntei porque estava usando a blusa na cabeça, respondeu que não havia tido tempo de penteá-los. Lembrei-me da minha infância de ter-me comportado diversas vezes como ela, pois, tinha sonho de ter cabelos lisos e grandes, usava uma blusa para dizer que era meu cabelo.
São dois conflitos que o povo negro enfrenta: a cor e o cabelo como explica Gomes (2006), sendo "o cabelo crespo, o objeto de constante insatisfação, principalmente das mulheres" (GOMES, 2006, p.21-22). A criança negra se auto-refere de modo depreciativo, descrevendo-se a partir do discurso dos seus colegas: "feia, preta, cabelo duro". Não se sente desejada, portanto, pelos meninos como as suas outras colegas que tinham um cabelo grande e liso.
Ainda de acordo com a autora, se a pessoa negra tiver seus cabelos longos e menos crespos pode ser caracterizada como mestiça ou mulata, assim como as pessoas indígenas são classificadas, mas se estes foram bastante carapinhas, ainda que sua pele seja clara sua classificação é de cor negra. O que podemos interpretar a correria para os salões de beleza para a manipulação dos cabelos crespos. Pois a mudança da textura dos cabelos pode significar a mudança de cor, da história de uma raça. (GOMES. 2006).
Ao apresentar as gravuras 4.0 e 4.1 aos educandos/as no primeiro momento imaginei que estes iriam escolher a gravura da criança negra, porque a maioria dos educandos/as da sala tinha uma aparência que assemelhava a esta criança, as possíveis respostas, portanto, estariam ligadas à sua auto - imagem.
4.0 4.1
Revista Veja nº19/2005 Revista Veja nº26/2005
O impedimento que isso ocorre é que talvez a sua auto-imagem não esteja definida ou esteja erroneamente, de forma negativa. Por uma série de fatores, dentre eles, a negação do sistema escolar da valorização da pessoa negra.
Ao ser questionado/a com qual das duas crianças gostaria de brincar naquela casa, (anteriormente foi dito que ambas possuía 02 anos) 99,90 % responderam que preferiam à criança branca. Apenas duas alunas escolheram a criança negra e uma escolheu as duas se justificando que as duas eram crianças, portanto brincaria com as duas. A justificativa do restante foi "gosto de brincar com coleginhas brancas, ou porque ela é loira". Ainda que nos intervalos todos/as brincam sem distinção de cor, mesmo porque a maioria dos/as alunos/as da sala e da escola são negros/as e de cabelos crespos.
É natural a rejeição a algo considerado ruim. Tal rejeição aos cabelos crespos, por muitas crianças e adultos negros/as é resultado de uma atribuição do ruim que lhes é imposto, inicialmente pela mãe, após, pela própria criança. (SILVA. 2001). A autora esclarece que:
"As crianças aprenderam a ver os cabelos lisos e ondulados como" bom "e depois a própria criança que na escola sofre com os coleginhas que põe os variados apelidos nos seus cabelos crespos" (SILVA, p.38.2001).
O cabelo da criança negra aparece novamente como justificativo pela escolha da criança branca, "o cabelo dela é para cima, esse cabelo é muito feio". A partir dessa frase nota-se a fortaleza do desprezo da criança frente aos cabelos crespos.
(IN) CONCLUSÃO
Mesmo que a maioria dos/as educandos/as que estão sendo pesquisados/as não tenha consciência dos conceitos de racismo e/ou preconceito, permitindo-lhes nomear ou definir situações social-raciais concretas, através daqueles conceitos, eles/elas já estão elaborando um discurso de reprovação, portanto relativador, das diversas formas de agressão sofridas pelas pessoas negras. (FAZZI. 2004.p.187-188).
O trabalho etnográfico dificilmente se finda, uma vez que este tratou a principio de uma pesquisa sobre "O desencontro da Identidade Negra Infantil através dos Cabelos crespos. É importante lembrar que este trabalho etnográfico, por mais detalhes que a pesquisadora procurou registrar no seu diário de anotações, na tentativa de relatar, analisar, transcrever os fatos, serão de certa forma insuficiente para revelar dados precisos da realidade em que se encontram os colaboradores/as deste.
Em qualquer pesquisa etnográfica que envolve observações do outro na suas subjetividades, e essa se tratando do Desencontro da Identidade Negra dos educandos/as, certamente sempre ficará algo e/ou fatos que não foram possíveis relatar e/ou fazer analise, não simplesmente pelo tempo que acaba sendo sempre nosso inimigo, mas, também, pela complexidade que contém neste tema e nas diversidades de fatos que ocorreram durante a pesquisa.
O racismo escolar infantil predomina praticamente da mesma forma, invisível, sem maiores responsabilidade da escola sobre o assunto e o problema do racismo sequer é discutido como um problema nas instituições pesquisadas. Essa invisibilidade é uma maneira de garantir e legitimar a perpetuação do racismo no Brasil, não assumindo que ele existe.
Se for "a partir dos 03 anos de idade que o pensamento racial está em elaboração" (Fazzi, 2004, p.218), as políticas públicas educacionais precisam ser pensadas a partir dessa fase da criança. Dessa forma, a escola estará problematizando o conceito e a significação do que é ser Negro/a no Brasil.
Penso que a infância precisa ser levada mais a sério, parece estar um pouco abandonada pelos pesquisadores, como nos fala Fazzi (2004), que as crianças são atores e está construindo socialmente realidades, transformá-lo em tema de estudos da sociologia, acrescento também da Pedagogia é, pois leva-lo a sério.
5 - REFERÊNCIAS
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BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro ? Brasileira e Africana. 2005.
_________. Documento Base da Conferência Nacional da Promoção da igualdadeRacial. Brasília. 2005.
CHAGAS, C. Negro: Uma identidade em construção. Petrópolis: Vozes.1ª ed. em 1996 e 2ª ed. em 1997.
CHALHOUB, S. Exclusão e cidadania. Disponível no site: http www.historiaviva.com.br
CAVALLEIRO, E. Do silêncio do lar ao silêncio escolar. Racismo. Preconceito e discriminação na educação infantil. Rio de Janeiro. Ed.Contexto. 2000.
FAZZI. R. de. C. O Drama racial de crianças brasileiras. Socialização entre pares e preconceito. Ed.Autêntica. Belo Horizonte. 2004.
GOMES. N.L.Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Ed.Autêntica. 2006. Belo Horizonte.
GONÇALVES, L, A, O. Negros e educação no Brasil. Belo Horizonte. Ed.Autêntica. 2000.
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MOURA, C. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo. Ed.Ática. 1988.
MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Belo Horizonte. Ed.Autêntica. 2004.
MNU. Movimento Negro Unificado. 1978/1988.10 anos de luta contra o racismo. São
Autor: Valdirene Aragão
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