MENOS HIPOCRISIA E MAIS DIGNIDADE



Começou mais uma véspera de natal e final de ano, e quando se aproxima o mês de dezembro, é sempre a mesma coisa: uma onda de campanhas contra a fome, contra o frio, muitas vezes num calor de 40 graus como o de Palmas. Nessas campanhas arrecada-se de tudo, até vale-transporte entra no bojo. Tudo isso parece que vai limpando as consciências mais pesadas, principalmente as da alta sociedade, que estiveram com elas (as consciências) atrofiadas durante os outros onze meses do ano. Fazem doações fervorosas, como se toda a miséria do país acabasse em um mês de campanha. É como se todos os brasileiros miseráveis, de repente, ficassem felizes com a bondade dos homens que imperam aqui na terra. Para ser bem sincero, essa prática não difere muito das propagandas televisivas que assistimos: Um natal sem fome, um natal mais feliz, com aquele bando de gente cheia de oportunidades declamando o amor ao próximo, com um saco de alimento não perecível na mão.

Todo natal vemos transbordar a velha hipocrisia humana, principalmente quando se aceita uma virada de ano com fome, um carnaval com frio, uma páscoa sem brinquedos, um dia das crianças sem felicidade, mas nunca, nunca teremos um natal que tenha fome, frio e infelicidade! Enquanto não chega o natal, o povão vai se contentando com o tal Bolsa Família durante os 360 dias do ano. Ainda temos a tão falada cesta básica, aliás, quem foi que listou o que deve conter dentro de uma cesta básica? Sal, macarrão, extrato, sardinha, arroz, feijão, óleo, bolacha pra quem te quero, fécula de milho, leite e açúcar? Onde ficam as carnes? As frutas? As verduras? O material de higiene pessoal e de limpeza doméstica? O gás? A conta de energia e de água? O aluguel? A tal cesta básica não tem nada de básica, ela na verdade, é totalmente vazia. Só serve mesmo para alimentar, mesmo que ficticiamente, as consciências de políticos e dos ditos bons samaritanos... Há! E nem adianta você vir com o discurso lulapetista, de que para quem não tem nada qualquer coisa é luxo... O pior de tudo, é que a famigerada cesta, serve até mesmo de moeda de pagamento de penas alternativas na justiça, ou seja, o cabra é condenado por um crime de menor potencial ofensivo, daí, ao invés dele ir pra trás das grades, ele só paga umas 50 cestas básicas e pronto! Um absurdo!

O que o povo precisa mesmo é de uma ação social efetiva e não apenas paliativa. De atitudes decentes por parte dos dirigentes. A palavra de ordem nesse natal ou em qualquer época do ano, deve ser a "dignidade"! De que adianta uma cesta básica, um punhado de brinquedos, se no resto do ano é cada um por si e Deus por todos? No natal abrimos os vidros, as janelas, os portões... Depois que ele passa, travamos os vidros, lacramos as janelas e eletrificamos os mesmos muros e portões com medo dos assaltos. Será que ninguém nunca vai se preocupar com "as causas" da fome, do frio e da infelicidade? O desemprego, a falta de saneamento, a falta de moradia, em resumo, tudo isso é falta de dignidade. Essa sim é a verdadeira causa a ser combatida. Qual seria a cura? Muito trabalho, organização social, vontade política, menos corrupção, pulso firme daqueles que estão no comando. Num país que diz que "em se plantando, tudo dá", é inadmissível que haja fome ou até mesmo desnutrição. Ao invés de cesta básica, um empreguinho básico alimentaria bem durante todo o ano... Um "natal com mais dignidade", encaixaria muito melhor nas campanhas. E até mesmo o velho Papai Noel não ficaria tão de saco cheio dessas hipocrisias, dessa auto-promoção dos corações superficiais. Basta agente cantar nesta natal aquela música: Você tem fome de quê? A gente não que só comida...

Autor: Envergaduramoral .Com.Br


Artigos Relacionados


Natal

Poesia:verdade Ou Mentira? Escrito Por Marcos Piuí Surfista De Trem

Natal

Feliz Natal

Aumento Do Preço Da Cesta Básica Atinge 15 Capitais Do País

"um Planeta Natal"

Natal