MATRIZES TEÓRICAS DA VIDA SOCIAL RELIGIOSA E PROFANA



TÓPICOS DA ABORDAGEM





I ? Resumo
II ? A Origem e a História Remanescente (1735 a 1888)
III ? Denominação da Cidade (1888)
IV ? Trajetória de uma experiência religioso-profana, segundo a Igreja Católica (1948 a
1994)
4.1. A Pia Batismal (1948)
4.2. O Sacramento da Eucaristia e sua Preparação (1956)
4.3. Trajetória e Advento do Sacramento do Matrimônio (1967)
V ? Da continuidade dos estudos ao pleno exercício profissional no magistério (1976 a
1994)
VI - Trajetória de uma experiência religioso-profana, segundo a Doutrina Espírita (1995
à vida atual)
VII ? Evangelhoterapia


Maria Helena Silva
Magali Maria Silva dos Santos

II ? A Origem e a História Remanescente (período: 1735 a 1824)
A religiosidade de um povo na fé ardente à Mãe de Jesus ? Nossa Senhora da Purificação, Mãe inviolável, que concebeu o Filho de Deus que se fez Homem para nos salvar ?, fez surgir uma pacata cidade do interior de Sergipe.
Há mais de 500 anos, a história nos conta, que surgiu o Brasil, pela simbologia da Cruz de Jesus Cristo. "Uma grande cruz de paubrasil" ? um cruzeiro ? foi erguido, para sinalizar a descoberta deste país tão imenso, pelos desbravadores da época. Assim também, surgiu em 1735, nossa cidade, de beleza inconfundível, distando a 67 (sessenta e sete) quilômetros da capital de Sergipe ? Aracaju.
Ergueu-se um cruzeiro e construíram uma capelinha, onde o povo acorria para a devoção de suas preces, na crença que detinham a Nossa Senhora da Purificação, e assim, foram surgindo às primeiras casas. É hoje a chamada cidade de Capela. A Capela tão querida de todos os sergipanos. A cidade, em 1835, fora transformada em Vila, pelo crescimento populacional, desmembrada, portanto, de Santo Amaro.

Em volta da capelinha e de um cruzeiro erguidos, surgiram às primeiras casas, em terrenos doados pelo casal fazendeiro Luiz de Andrade Pacheco e sua mulher Perpétua de Matos França. Doaram parte de suas terras localizadas no Tabuleiro da Cruz e mais 100 mil réis, para que uma capela fosse construída, por volta de 1735. Nasceu assim, a cidade de Capela (...). Os proprietários tinham duas motivações: o sacrifício da missa (...); o outro era que, o casal tendo um filho padre, queria entregar-lhe uma bela Igreja. Da casa de Pacheco fora conduzido para a capelinha erguida, a imagem de N. Senhora da Purificação e uma arca com todos os paramentos de celebração de missa (Cinform, 2002: p. 50).

III ? A Denominação da Cidade
A Capelinha1 de Nossa Senhora da Purificação ? local em que todos da época buscavam para suas preces, orações, folguedos religiosos. Capelinha mais tarde doada ao patrimônio público daquela comarca, de povo predominantemente católico, hoje, conhecida como cidade de Capela ? a "princesinha dos tabuleiros".
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1 Capelinha que deu origem ao município foi destruída em 1824.
Na época, a vila continha mais de uma centena de engenhos, e a cultura da cana de açúcar, o plantio do algodão e da mandioca rendia-lhe a consideração de importância pelo seu poder econômico. Antes de passar a ser considerada cidade, em 1861 foi criada a Comarca de Justiça (...). Em 1863 o primeiro juiz Manoel Maria do Amaral e o promotor de justiça, José Luiz de Coelho e Campos tomaram posse (...). A população escrava em 1864 já atingia 2.664 pessoas (...). Em 1870 foi construído o mercado (...) e, em 28 de agosto de 1888 o município se torna cidade, propriamente dito, e passa a ser chamada de Capela (Cinform, 2002: p. 50).

IV ? Trajetória de uma experiência religioso-profana, segundo a Igreja Católica (1948 a 1994)
Os anos se passaram... Longos e longos anos se processaram. "Lembro-me ainda, do repicar matinal do sino da matriz, convidando-nos à celebração da Santa Missa, do dia. O padre Juca da época (Cônego José da Mota Cabral), na minha infância, nos reverenciava ao chegar, e para nós crianças pedirmos sua benção, era como se fosse ?subir ao céu2 e falar com Jesus?", diz a autora e continua:

Nascida nesta cidade interiorana do Estado de Sergipe, situada num planalto de tabuleiros, jamais poderia falar da minha experiência religioso-profano, sem antes tecer considerações às minhas origens. Retirar do fundo do baú os ensinamentos aprendidos. E, numa deferência toda especial a honra de falar das nossas raízes, e em homenagem e respeito aos conterrâneos e contemporâneos desta terra tão querida, que nasceu bela e permanece jovem, formosa e linda. Hoje, mais que nunca ?, minha capelinha querida. Cidade de Purificação de Nossa Senhora, hoje denominada "Capela", que raiou no horizonte nascente, pelo fervor da fé de um povo, que acorria às celebrações e festividades realizadas na capelinha do pequeno povoado (Silva, 2008: Depoimentos).

Cumpro o dever de, falar um pouco desta terra que me viu nascer. Cidade pacata, hospitaleira, com sua gente humilde, inteligente e marcada pela religiosidade; pois em volta de um cruzeiro e de uma capelinha, o povo atraído pelas festividades religiosas fez erguer as primeiras casas, e desta forma, a comunidade foi surgindo.
Nessa devoção, o povo sentindo-se condicionado pela fé. E movido por esta força, decidia levar seus filhos (as) a Pia Batismal para receberem o Sacramento do Batismo. Convidavam um amigo (a) de sua confiança, outros, escolhiam pessoas pelo nível social que desempenhavam (políticos, pessoa bem equilibrada financeiramente, etc.), para ser a "madrinha de apresentação" e conduzir a criança até a Igreja, assim que nasciam ou no mais tardar, nos primeiros anos de vida.

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2 Céu: para nós Espíritas, "céu e inferno", representam um estado de alma.
Tomavam a santa padroeira da cidade para ser a "madrinha de vela" dos seus filhos e filhas, com a inabalável fé na proteção e amparo para os filhos (as). Falar dessa época, falar desse respeito trabalhado em nossas mentes e nossas vidas desde criança, pelos nossos familiares e pela religião que abraçávamos no momento, dizer que não significou nada, dizer que somente castração representou em nossas vidas seria um sacrilégio ? uma ofensa moral ou ingratidão de nossa parte, às pessoas que contribuíram de alguma forma, para nossa fé e devoção, para nossa formação moral-cívico-religiosa.

4.1. A Pia Batismal (1948)
Segundo a Igreja Católica, e hoje, ainda é tradição, a criança ao nascer, já deve receber o Sacramento do Batismo. Depois deste, receber o Sacramento da Crisma e no decorrer de sua existência, ser confirmada no Sacramento e fazer a primeira comunhão. "Eu, de maneira particular, tendo como ?madrinha de apresentação? à saudosa senhora Carmem Cabral da Mota. Recebi o respectivo sacramento, ainda recém nascida", explica a autora. Assim, entre tantos outros filhos da terra, nessa fé, eram batizados na Igreja Católica, igualmente, agraciadas (os) por tão significativa representação, tendo como ?madrinha de vela?, Nossa Senhora da Purificação. Essa era uma das diversas tradições do lugar.
As tradicionais procissões de época: a penitência do terço de N. S. de Fátima nas casas de famílias no mês de maio, com procissão iluminada à noite, com cânticos de louvor pelas ruas da cidade; a procissão do Encontro de N. S. dos Passos e N. S. Auxiliadora na Semana Santa, tendo como ponto culminante a praça do Amparo, com apresentação teatral ao som do cântico de Verônica e indumentária de Maria de Madalena, interpretado pela aluna de catequese Maria Hermoza Silva, (irmã da presente autora), que proferia o hino de piedade, erguendo o Santo-Sudário3 comovendo a todos.
A procissão dos Penitentes, visitando os cemitérios na Sexta-Feira da Paixão; a procissão dos Aflitos da Igreja do povoado Baixinha, que saía da Igreja de N. S. dos Aflitos4, aos domingos, ao som do zabumba, pífano e muitos foguetes (fogos de artifício) quando, a imagem do padroeiro cheio de fitas das promessas do povo sofrido, era conduzido pela sua fé, às periferias da cidade para se rezar o encerramento da trezena.
Igualmente comemoradas eram as novenas de Santo Antônio, São João e São Pedro ? os festejos juninos ?, com ladainhas cantadas e ao som de pífano, zabumba e muitos fogos de artifícios em homenagem aos santos. Não devemos esquecer os famosos e tradicionais arrasta-pés em alguma casa daquela comunidade após as novenas, também em grande louvor aos santos; e a festa do mastro5 até hoje, tradicionalmente comemorada.


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3 Lençol que serviu de mortalha a Cristo.
4 Construção da Igreja de N. S. dos Aflitos em 1901.
5 Criação da Festa do Mastro em 1939.
As novenas de N. S. Sant?Ana, rezadas no mês de julho no povoado Lagoa Seca, que jamais podemos deixar de citar. Para todos esses eventos festivos era convidado o fotógrafo da cidade ? meu pai José Silva (Zuzu) ? para registrar esses momentos tão importantes, de cuja loja de "foto Studio" era localizada, inicialmente, na rua Coelho e Campos e posteriormente na rua Siqueira de Meneses, no centro da cidade.
As devoções a N. S. da Conceição, rezadas no cemitério do Alto da Conceição; as missas celebradas em louvor ao Senhor São José, na Igrejinha do mesmo nome, anexa ao cemitério da Santíssima Trindade, no centro da cidade, que tinha como encarregadas as professoras Guiomar e Aurelina; entre outros eventos religiosos faziam parte da tradição da vida social da abençoada terra.

"Recordo com saudade imensa, das alvoradas festivas, na época das homenagens e comemorações da Igreja de N. S. da Purificação, quando, pelo auto-falante da sacristia, e o repicar dos sinos da bela Igreja da matriz, a comunidade era despertada, com hinos da santa padroeira e muitos outros, e entre estes, o de N. S. Aparecida. Em outras determinadas épocas do ano, as alvoradas estendiam-se até as nossas residências. Ao som de zabumba, pífano e muitos fogos de artifício em nossas próprias casas, conta uma das autoras: ?Meu pai José Silva (Zuzu fotógrafo) muito folião, adorava nos acordar com esse saudável barulho no tempo dos festejos dos santos do mês de junho: Santo Antônio, São João e São Pedro ? os festejos juninos, que ocorriam a começar do dia 1º de junho, e sempre nos dias desses santos. Ele combinava com seus amigos entre estes aqueles que tocavam pífano e zabumba e gostavam da folia, e, com seu jeitinho capelense acordavam-nos com a admirável e alegre surpresa?" (Silva, 2008: Depoimentos).

Interagindo in loco, ou acompanhando ao longe o desenrolar de todos esses eventos com meus familiares, fui aprendendo a importância de conhecer e participar nos parâmetros de uma vida simples, o sagrado-profano, por assim dizer, porém, seguindo as orientações e disciplinas de uma religião e do convívio familiar. Hoje, falar de todas essas vivências está sendo, como se estivesse revivendo todo aquele tempo novamente ? resignificando o estar sendo da minha vida atual.

4.2. O Sacramento da Eucaristia e sua Preparação (1956)
Jamais poderia esquecer a catequese das tardes dos domingos, ministrada pelas catequistas, aos primeiros anos de nossa existência. Ao redor do cruzeiro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo (praça do Amparo), coordenada pela Irmã Joana Bosco, do Colégio Imaculada Conceição6, situado na Praça da Matriz (praça Cônego José da Mota Cabral).

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6 Fundação do Colégio Imaculada Conceição em 1929.
Ensinavam-nos com muito carinho e dedicação, oração do Pai-Nosso, o Sinal da Cruz, segundo a Igreja Católica, os Dez Mandamentos, e outras preces que nos ensinavam a pedir proteção: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a Ti me confiou à piedade Divina, sempre me rege, me guarde, me governe e me ilumine". Amém, etc.
Fundamental importância em nossas vidas representa os primeiros cuidados pelos nossos pais, pelos educadores envolvidos na formação psicossomática do nosso ser. O estado de Espírito, as orientações, etc. Desde a formação do nosso ser, ainda feto.

O feto a partir dos cinco a seis meses, participa ativamente da vida da genitora (...) sentindo-se rejeitado, o ser em formação, naturalmente recebe a constante descarga mental da mãe e transforma-se em terrível pavor que se refletirá em conduta pessimista, temperamental, arredio, pessoa indesejada (Franco, 2003: p. 23).

Temos consciência, que situações da vida infanto-juvenil ficam impressas em nossas mentes, e carregamos para o resto de nossas vidas. Acredita-se, que mesmo se, as ingênuas mentes, ainda não tenham desabrochado para o exercício da fé, o registro prático dessas situações relevantes, que se efetivam em nossas vidas, o nosso estado d?alma, nossas alegrias, nosso bem estar físico e moral, as orientações religiosas, nessa faixa etária, principalmente, tornam-se premente e fundamental para o amadurecimento nosso, enquanto seres humanos, quanto à saúde psicossomática e ao firme propósito da existência de um Ser Superior a nós, de onde emana tudo que temos. Tudo o que herdamos é Dele ? Deus ?, Inteligência Suprema e causa primária de todas as coisas.
O ritual de preparação para a primeira Eucaristia, segundo o dogma da fé cristã defendido pela crença dos católicos, em nossa concepção, assim como as crenças de outros credos religiosos, representa também, igual valor na formação do caráter dos seus adeptos. Assim, numa bela manhã chuvosa do mês de maio, a escola (Grupo Escolar Coelho e Campos?), após seguir todo aquele ritual de preparação para a primeira Eucaristia durante toda a semana; com pregação eucarística, confissões e, depois de atendidas às indulgências por todos os alunos, em faixa etária dos sete aos oito anos de idade, recebi a minha primeira comunhão.
Eis que, reunidos (as) na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação, para recebermos em dia festivo e missa concelebrada, o Sacramento da primeira Eucaristia, com efetiva e total participação nos cânticos da Celebração por todos os alunos, professores e auxiliares da escola, presentes, sob a direção de Dona Zuleica Andrade.
Nesse pensar e compreensão, entendemos que não havendo os cuidados educativos básicos necessários em nossa primeira fase da vida, diversos transtornos de personalidade poderão nos advir, como fobias, autodesprezos, frustrações, etc., que têm raízes, sob os vários aspectos da vida humana e, principalmente, ainda quando o ser está em formação, seja na fase fetal, a partir da descarga mental sôfrega recebida pela mãe, e refletida em seu organismo ou mesmo na infância, nos seus primeiros anos de vida.
A interação da criança com a família, escola e com o meio social representa forte laço construtivo para a formação da sua individualidade ? fase preponderante para a formação do caráter enquanto pessoa. Nesse constructo, entendemos que é de fundamental importância o trabalho da consciência sobre o "sagrado", o quanto antes, àquilo que se refere ao tema, sem fanatismos, sem fundamentalismos, mas, sobretudo na fé, e com equilíbrio salutar. Daí reiterarmos a importância do trabalho da evangelização, da orientação e acompanhamento pelos pais na educação dos filhos na família, ou na vida escolar, ou ainda nas relações com o companheirismo, etc., o mais cedo possível, de forma a evitar os diversos problemas de personalidade.
Não diria que tal feito, somente fosse possível através da religião, mas o conjunto de atribuições, como as orientações trabalhadas por uma família bem equilibrada, a própria religião trabalhada por religiosos de bons propósitos, etc., em somação com a sociedade como um todo, garantindo-se-lhe a formação do caráter personalítico desta. Portanto todos, num conjunto de ações em formação da base cristã, da base cidadã, conseqüentemente para a formação do caráter desta pessoa.

Torna-se indispensável, diz Carneiro de Campos, estudando "Neuroses", que o olhar vigilante dos religiosos se volte para aqueles que padecem os primeiros sinais de distonia, norteando-os ao cultivo das disciplinas austeras e das virtudes cristãs, com que se armará para a libertação eficiente e real, terapêutica de resultado auspicioso para reajustamento do Espírito na vida orgânica e sua conseqüente experiência psíquica, diante do processo de auto-reparação dos impositivos cármicos (...). O neurótico é alguém rebelado contra si mesmo, insatisfeito no inconsciente e contra os outros (...). Por este motivo, faz-se mister, que uma religião capaz, adentre o âmago do ser, como ocorre com o Espiritismo; uma religião que apresente recursos preventivos para a grande massa aturdida destes dias. Entretanto, esses conceitos, verdadeiro compêndio de Higiene Mental (explica ele), já foram lecionados por Jesus e estão exarados no Sermão da montanha, ora ratificados pelos textos que Lhe recordam a existência entre nós (Campos, in: Franco, 2003: p. 20 - 21).

Campos, ainda salienta:

A saúde é um estado interior que nasce no Espírito, mas a felicidade deve ser a meta que todos almejam para agora, amanhã ou mais tarde, devendo ser trabalhada desde hoje, mediante os atos de enobrecimento e elevação que cada um se pode e deve impor, imediatamente (Campos, in: Franco, 2003: p. 34 - 35).

Nesse pensar, torna-se imprescindível, que tenhamos consciência quanto à instrução que Paulo, o apóstolo, nos recomenda na I Carta aos Coríntios, Capítulo 16, Versículo 13, quando diz: "Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, sede forte". E Emmanuel (páginas: 233 e 235) reflexionando o referido texto vai mais além explicando: "Para conquistarmos os valores substanciais da redenção, é imprescindível conservar a fortaleza de ânimo de quem confia no Senhor e em si mesmo (...). Cultura intelectual e aprimoramento moral são imperativos da vida, possibilitando-nos a manifestação do amor, no império da sublimação que nos aproxima de Deus".
Em nosso ministério de amor, seja na família, seja no trabalho educacional ou onde quer, que nos encontremos no cotidiano da vida, torna-se mister, que trabalhemos nossas emoções, nossas sensibilizações para termos ações equilibradas e salutares. Ações de onde possam eclodir mudanças relevantes em nossa própria vida e medidas atitudinais em prol de outras. Nesse conceito, e na consciência de que, a partir das nossas ações é que emanam todas as reações, trabalhemos direta ou indiretamente às nossas ações, em prol de outras vidas, ligadas ou correlacionadas com nós mesmos (as).
Entendendo que "mente = espírito" e "corpo = matéria", e que não há dicotomia entre corpo e espírito, acreditamos e, Dr. Bezerra de Menezes vem nos respaldar, quando diz:

O espírito é sempre responsável pelo corpo em suas funções físicas e psíquicas. (...) Tecnicamente falando, a produção dos hormônios, que se faz normalmente, torna-se fator do desequilíbrio, em razão dos mesmos, e se transforma em toxinas que, atuando no complexo cerebral terminal, pode desarranjar a estabilidade psíquica (...). Enquanto o egoísmo governar o comportamento, a dor se atrelará às criaturas, realizando o mister de conduzí-los para o equilíbrio, a ordem, o bem que são as fatalidades da evolução (...). Quando os homens compreenderem que o amor é sempre mais benefício para quem ama, muitos males desaparecerão da terra e a etiopatologia de inúmeras enfermidades diluir-se-ão, sustando a sua erupção (Bezerra de Meneses, in: Franco, 2003: p. 37 - 38).

Nesse reflexionar, reavaliamos que o cuidado e responsabilidade dos nossos antepassados (sejam de familiares e / ou educadores), no tocante à orientação e disciplina, do respeito e consideração aos mais velhos, da saudação e respeito à pátria ? o nobre sentimento patriótico, da reverência ao Ser Supremo. O respeito à divindade ?, os sentimentos ao divino que nos inspira profundo respeito e veneração, até mesmo de forma inviolável. O incentivo para a ascensão na ação regeneradora, em busca da reconstrução e edificação de um mundo melhor ? o mundo em que vivemos, é de grande valia para nosso soerguimento moral espiritual.

Erguer-se do chão frio da inércia para o calor do movimento reconstrutivo. Elevar-se do vale da indecisão para a montanha do serviço edificante. Fugir à treva e penetrar a luz (...). Aperfeiçoamento pede esforço. Panorama dos cimos pede ascensão (Emmanuel, 2006: in Xavier, p. 41).

Recordo-me ainda, à hora de entrada e de saída nas escolas daquele tempo. O Grupo Escolar "Coelho e Campos7", onde estudávamos, onde todos os alunos ao chegarem, eram enfileirados por turma, pela sua professora, no pátio coberto da escola para ouvir avisos, informações para levarmos aos nossos pais, recomendações outras, ministradas pela diretora.

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7 Grupo Escolar Coelho e Campos, fundado no ano de 1918.
Logo após esse momento, alguns cânticos eram sempre entoados, em louvor a Mãe de Jesus, hinos em saudação à pátria, ou a alguma personalidade visitante. E logo após (quando de chegada), cada turma conduzida à respectiva sala de aula pelo seu educador; (quando de saída), fila por fila, iniciando pelas turmas iniciais, despedindo-se da escola, num sonoro e breve, até amanhã.
Orávamos, cantávamos, louvávamos a Jesus e sua Mãe Maria Santíssima. Educadores atentos observavam quem ainda necessitava aprender as preces, as orações de elevação suprema, etc., e orientavam-nos (as) a freqüentar as catequeses e as aulas de Religião.

4.3. Trajetória e Advento do Sacramento do Matrimônio (1967)
Cresci, e prossegui estudando. Ainda em Capela, estudante da Escola Técnica de Comércio "Sagrado Coração de Jesus8", que só funcionava em regime noturno, especialmente criada, para alunos do sexo masculino, mas por questões circunstanciais, as alunas Julinalva dos Santos e Maria Helena Silva ? primeiras alunas, portanto, precursoras, a ingressarem no curso ginasial noturno, abrindo espaço às pessoas do sexo feminino que não tinham na época, condições financeiras para estudarem no Colégio das Freiras (O Colégio Imaculada Conceição), a assim sentirem o prazeroso gostinho terem acesso aos estudos.
Amante da boa leitura, já aos 13 anos de idade fazia parte da Sociedade Cultural "Casa do Livro9", e deleitava-se às tardes, mergulhada nos escritos do acervo daquela conceituada instituição.
No cumprimento de mais uma etapa da vida na vivência do sagrado, em 11 de julho de 1967 recebeu o sacramento do Matrimônio, na Igreja da Matriz, de cujo enlace concebeu três maravilhosos filhos. Permaneceram residindo na cidade, ainda por seis meses, e em janeiro de 1968, com o desejo de continuar estudando, vez que, em 1966 concluíra o antigo Ginásio naquela cidade, arrumaram as malas e partiram para residir em Aracaju, onde seus pais já residiam, e aonde nascera o primeiro filho. Em 1970 nascera o segundo filho e 1971 nascera à terceira filha, desta vez, uma menina, que cresceu e se desenvolveu, e hoje faz parte desta obra.

V ? Da continuidade dos estudos ao pleno exercício profissional no magistério (1976 a 1994)
Em 1968 vi um dos sonhos se realizarem. A possibilidade de continuar estudando (minha maior paixão).

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8 Fundada em 13 de outubro de 1954 e reconhecida juridicamente no ano de 1955, pela Irmã Maria Clemência Costa Lima. Na época, foi criada para admissão de alunos do sexo masculino, para o curso ginasial, no horário exclusivamente noturno.
9 Criada em 1921 a Sociedade Cultural Casa do Livro.
Circunstâncias outras, ocorridas no percurso da caminhada, a impossibilitou de reativar ou dar continuidade aos estudos, somente tendo oportunidade no período de 1976 a 1979 na Escola Normal ? Instituto "Ruy Barbosa", em Ciências Físicas e Biológicas para trabalhar ensinando até a 6ª. série do Ensino Fundamental. O destino reservara participar de um curso de formação de professores para trabalhar com crianças com Deficiência Mental e através de concurso, conseguiu também trabalhar nas escolas da Rede Estadual de Sergipe, como professora.
Aos domingos, era de costume reunir os filhos e se encaminharem à Igreja dos Capuchinhos para assistir a Missa das Crianças realizada às 09h00min horas da manhã. Após a celebração da Missa pelo padre capuchinho Frei Eugênio, as crianças eram divididas em vários grupos para participarem da catequese e dos ensaios das peças teatrais naquela instituição religiosa.
Contratada pelo governo do Estado, no mesmo ano (1980) prestou concurso obtendo a 7ª colocação. Foi imediatamente efetivada e convocada para trabalhar como professora polivalente no Grupo Escolar "Francisco de Souza Porto", no Bairro América, em turma de crianças com dificuldade de aprendizagem no turno matutino. Confessa que amou alfabetizar essas crianças e acrescenta: "Quanta experiência adquirida! Como foi bom e importante trabalhar com elas... Quanto aprendi!". À noite, complementava a carga horária trabalhando Alfabetização de Jovens e Adultos, também polivalente, no Grupo Escolar "Rodrigues Dórea", no Bairro Siqueira Campos.
A partir de 1981, conseguiu ficar integralmente na escola de origem, à noite, trabalhando Educação Religiosa, por disciplina de estudo. A Educação Religiosa na época estava sob gerência da saudosa Irmã Aparecida, e coordenação do Pároco da Igreja N. S. de Lourdes, saudoso padre Rezende.
Desenvolvendo o trabalho de alfabetização, seja com crianças com dificuldade de aprendizagem, seja com jovens e adultos, procurou sempre trabalhar em conjunto com a turma. Buscava elaborar com os mesmos (as), os cronogramas das atividades semanais, como cantigas de roda, hora da surpresa, à hora da comunicação e expressão e histórias contadas e cantadas, histórias complementadas pelos alunos, coro falado, adivinhações, parlendas, hora da matemática, a hora dos conhecimentos gerais, etc.; tudo isso trazendo à tona para sala de aula, e discutindo com a turma. E desta forma eram aplicados os conteúdos com a participação de todos, no decorrer da semana.
Recordo com saudade que gostavam muito de cantar, e ao cantarem, entoavam cantigas e introduziam hinos religiosos. Pois estudavam e residiam num Bairro que tinha e tem ainda hoje, uma das maiores, belas e freqüentadas Igrejas Católicas de Sergipe ? Igreja São Judas Tadeu. E na saudade, continua: "eu feliz, porque em toda minha vida o que nunca faltou foi o ?sagrado?".
Morando no Bairro Siqueira Campos em Aracaju, já divisa com o Bairro América, e próximo ao local de trabalho, criando e educando os filhos na religião de origem. Durante a semana na escola e, como professora, trabalhando com muitas dessas criaturinhas, que também freqüentavam a missa das crianças. Elas viam-nos, todos os domingos na Igreja; daí tomarem a iniciativa de, quando aproximadamente 07h30min horas da matina, muitos deles chegarem a nossa residência, para irmos todos juntos para Igreja rezar.
Íamos todos juntos, explicava ? eu e meus filhos rodeados com outras crianças. Rodeada pelos alunos, com quem trabalhava durante a semana (alunos meus e de outras colegas professoras); eles (meus filhos), coleguinhas da escola onde estudavam. Alunos das aulas de alfabetização e alunos das aulas de educação cristã. E todos participavam com alegria da celebração e da catequese, tendo ainda a oportunidade de ensaiar peças teatrais com personagens cristãs, para enfatizar a compreensão do Evangelho de Jesus Cristo, por parte das crianças, que assistiam a Santa Missa, e enriquecer as celebrações. Os tempos não voltam mais...
Retomando a questão das aulas de religião, ensino religioso, ou educação cristã (como costumava chamar) por disciplina de estudo, fazendo parte dos currículos escolares. Compreendemos ser uma forma de preocupação e cuidado dos dirigentes das instituições, não só, no que diz respeito à religiosidade, mas eminentemente quanto à formação moral, e do caráter disciplinar da criatura humana ? na responsabilidade de formar sujeitos conscientes, capazes de assumir suas responsabilidades com equilíbrio emocional, disciplina, crescimento espiritual, respeito ao próximo e consigo mesmo, segundo os ensinamentos de Jesus Cristo. Atualmente, o ensino religioso ou educação cristã, já representa preocupação pelas bancadas acadêmicas dos muitos estados brasileiros, reforçado pela já existente, licenciatura em Ensino Religioso e pelos cursos de pós-graduação Lato sensu e Stricto sensu.
Retomando à narrativa, em 1987, após ter concluído o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (em 1986), a pedido, foi trabalhar na Escola Estadual de 1º. 2º. Graus "Leandro Maciel", no setor do Serviço Técnico Pedagógico, e complementando a carga horária, no mesmo ambiente, trabalhando Educação Cristã, nas turmas de 5ª. à 8ª. séries do Ensino Fundamental, e do 1º. ao 3º. anos do Ensino Médio, segundo a legislação da época, e como componente da equipe técnico-pedagógica, desenvolvendo sessões coletivas com os alunos.
Aplicando conhecimentos e disciplina aprendidos e aprimorados pelos intensivos estudos de reciclagem ? nas faculdades, nas instituições afins, ao longo do curso da vida; sempre procurou desenvolver postura acolhedora a todos e todas, tanto nas aulas de educação cristã, quanto nas sessões coletivas ou nas atividades educacionais que se lhe destinavam. Jamais contemplou o desprazer de ver algum aluno (a) ausentar-se da sala de aula por não aceitar os conteúdos que aplicava ou por inaceitação, no caso, da aula de educação cristã que ministrava.
Todos se envolviam nos debates, nas discussões sadias, na conversação reflexionativa do tema daquele dia. Até em dias de festejos ou realização de jogos nacionais ou estaduais, às quartas feiras, eles preferiam permanecer em nossas aulas participando dos nossos debates, à luz da educação cristã, diz a autora e continua: Nos finais de semana quinzenais (aos sábados), as reuniões de planejamento e de orientação ao trabalho semanal pela equipe central ? grande fonte de luz ? nos enriquecia de conhecimentos e nos preenchia de muita energia para enfrentar mais uma semana de boas expectativas com nossos alunos.
Como eram proveitosos aqueles encontros e seminários quinzenais, buscando se discutir e debater os assuntos para encontrar novos rumos, melhores meios e formas para se lecionar a educação religiosa; disciplina de tamanha complexidade e de difícil administração, principalmente às pessoas adultas, pelo fato de ser respaldada na época, pelo artigo 7º da Lei 5.692 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que obrigava as escolas a oferecerem, mas facultava aos alunos (as) a participarem. Hoje, amparada Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996 e mais tarde pela Lei 9.475/97, que modificou o artigo 33 da LDB, passando a ser área de conhecimento, tendo como base as Ciências da Religião, trabalhando-se com esta inovação, o Fenômeno Religioso ? o "Sagrado".
Disciplina, que antigamente, não se podia atribuir notas de "0,0" a "10,0", segundo legislação da época, fato que, para alguns professores, contribuía para dificultar o controle dos alunos, uma vez que, para esses era facultado participar das aulas, e não terem nenhuma obrigação de estudar para serem avaliados ? que, pensando assim, evadiam-se da sala. Daí entenderem, que a valoração das notas era o que fazia evitar a evasão. E na realidade, era constatada a referida evasão nas aulas de alguns professores. Razão pela qual contribuía para alguns organizadores dos horários das disciplinas de estudo, encaixarem as disciplinas amparadas pelo artigo 7º, geralmente em horários iniciais ou finais, pelo simples fato de não terem nota.
Acreditar, ter firmeza naquilo que está ministrando, desenvolver um trabalho diferenciado, isto era o que lhe dava segurança para dizer, que fazia questão de chamar a disciplina de "educação cristã" com toda cátedra. Ministrando as aulas, com respeito a todos os credos religiosos, trazendo para o debate em sala de aula, as questões sociais, ambientais, familiares, situações mundiais de violência em contra senso aos direitos humanos, etc., trazendo à baila, conforme tema quinzenal, proposto pela gerência da educação religiosa, as atualidades existenciais de vida, desenvolvendo um trabalho com profundo respeito ao sagrado.
Sem fugir dos planejamentos e orientações, procurava desenvolver um trabalho, que abraçasse, acolhesse a todos e todas dos mais diferentes direcionamentos cristãos e credos religiosos, sem jamais discriminar algum, respeitando-os (as) a dignidade humana, nas suas tradições, crenças e religiões, nas suas maneiras de crer e pensar, por entender que Jesus Cristo veio para unificar os povos, jamais para dispersar. Veio para trazer a Boa Nova, na sua grande missão de humanizar, e de evangelizar a Terra. Segundo o professor Osório:

O "sagrado" é o cérebro do fenômeno religioso. Fenômeno que não é fundamentalista, mas que, sobretudo, deve representar respeito à diversidade cultural das crenças e tradições religiosas ? pluralismo de crenças religiosas. Respeito às idéias, e maneiras de pensar e de crer no Ser Supremo, (Osório, 2008: Depoimentos).

Reconheço aqui, incontestavelmente, a importância do trabalho realizado pelas Igrejas Cristãs no arrebanhar de massas para o desenvolvimento do ser, enquanto formação de personalidades crísticas. E, no meu entender, não há nenhuma, que detenha o poder da verdade, mais que a outra. A convicção religiosa cristã pertence indiscutivelmente a todos e todas que defendem o cristianismo. Não há aquela mais pura ou mais salvadora que a outra.
Todas professam o mesmo credo religioso, e merecem de todos (as), o devido respeito e consideração. A mais pura Verdade é Jesus Cristo ? modelo e guia para toda a Humanidade. E todos e todas numa somação de esforços, dever e compromisso em se melhorar física e espiritualmente, na devoção que lhe nos é peculiar, defendendo e propagando Seus ensinamentos de igual forma, nas maneiras de acreditar, e na fé, que lhes são próprias, num mútuo e profundo respeito, a exemplo do Cristo.
O "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", representa muito, para quem na realidade, às vezes, muito pouco tem. No meu entender, fundamental ponto de partida para se reflexionar todo o complexo de formação do ser. E assim entendendo, a compreensão: "se penso, logo existo".

VI ? Trajetória de uma experiência religioso-profana, segundo a Doutrina Espírita (1995)
Nessa visão de respeito mútuo o que nunca faltou em minha vida foi a idéia do "sagrado", reflexiona a autora. Outrora, professando a Religião Católica, fervorosa praticante, hoje, a Doutrina Espírita ou Espiritismo, porque entendo que a vida é dinâmica e de contínuos progressos. Na profunda admiração ao "sagrado", e, fascinada pela causa crística, nascera o desejo de conhecer as diversas religiões. Quando católica, tinha uma tia materna evangélica Maria Linda de Oliveira (in memorium), que insistia em dizer, que o comportamento que eu professava dizia respeito ao mesmo credo religioso que ela, talvez em manifesto ao seu grande desejo que eu pertencesse a sua religião, mas quando conheci a Doutrina Espírita senti que era o que estava faltando na minha vida.

Espiritismo é a nova ciência que vem revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual, e suas relações com o mundo corporal; ele no-lo mostra, não mais como uma coisa sobrenatural, mas, ao contrário, como uma das forças vivas e incessantemente ativas da natureza, como a fonte de uma multidão de fenômenos incompreendidos, até então atirados, por essa razão, ao domínio do fantástico e do maravilhoso (...). É a terceira revelação da lei de Deus, mas não está personificada em nenhum indivíduo, porque Ele é o produto de ensinamento dado, não por um homem, mas pelos Espíritos, que são as vozes do céu, sobre todos os pontos da Terra..., (Kardec, 1958: p. 36).

Conhecer melhor a instituição Espírita. Conhecer a funcionalidade, e de que se tratava, afinal era o grande desejo. Conhecer Livraria, Biblioteca para empréstimos de livros, as salas de entrevistas, informada dos trabalhos assistenciais existentes e comenta a autora foi muito interessante, porque aprendi com Bezerra de Menezes, em seus ensinamentos que "Uma caridade salva mais que mil pecados" e com Kardec ? o Codificador do Espiritismo, e que "Fora da caridade não há salvação". Peguei a programação da casa e vi também que ofereciam cursos para conhecimento mais profundo da Doutrina, e que reunia Fé + Ciência + Religião. Enveredei por esse ângulo e hoje sinto que foi uma das mais acertadas veredas da minha vida.

Acredito: tudo está escrito, e na maioria das vezes nunca entendemos. No ambiente de trabalho, um determinado dia, a diretora chamou-me e pediu-me que a acompanhasse até o Pronto Socorro com uma funcionária que não se sentia bem. Prontamente lhe atendi, e seguimos. Ao estacionar o carro a interpelei: "Esse pronto socorro ainda não conhecia e nem sabia de sua existência". Ela sorriu comentando: "Esse é o Pronto Socorro Espiritual Bezerra de Menezes". Adentramos, e no momento acontecia uma palestra ? uma doutrinária. Sentamos, e todos (as), assistimos atentamente (Silva, 2008: Depoimentos).

Atualmente entendendo que, o corpo físico é, na realidade, um reflexo do corpo espiritual = estrutura eletromagnética. Corpo físico, entretanto, energia condensada tornada visível e mergulhada no fluido cósmico ? "Fluido Cósmico é o plasma divino, housto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. (...) Nesse elemento primordial vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano" (Kardec, in: Luiz, p. 21).

O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação (Kardec, 2007: in: Luiz, p. 13-14).

Aprendi nessa doutrina, que o Deus vivo administra os Mundos por meio das leis naturais, e que estas são divinas porque emanam de Deus que é autor de todas as coisas. E, que estas leis são as únicas e verdadeiras para conduzir o homem à felicidade. "Umas regem o movimento e as relações da matéria bruta: as leis físicas, cujo estudo está no domínio da ciência. Outras concernem especialmente ao homem", (Kardec, 1958: p. 257), considerando que o homem tem seu livre-arbítrio para agir, mas, evidentemente a responsabilidade de responder pelas conseqüentes ações. São leis naturais:

Leis morais: Lei Divina ou natural, Lei de Adoração, Lei do Trabalho, Lei de Reprodução, Lei de Conservação, Lei de Destruição, Lei de Sociedade, Lei de Progresso, Lei de Igualdade, Lei de Liberdade, Lei de Justiça, de Amor e Caridade (...), Perfeição Moral: das Virtudes e dos Vícios; das Paixões; Do Egoísmo; Caracteres do Homem de Bem; Conhecimento de si mesmo, (Kardec, 1958: p. 256 - 355). Deus deu a todos os homens os meios de conhecer sua lei (...). Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que querem procurá-la. Entretanto, todos há compreenderão um dia, porque é preciso que o progresso se cumpra, (...). Deus deu a certos homens, em todos os tempos, a missão de revelar sua lei (...). São os Espíritos superiores encarnados com o objetivo de fazer a Humanidade avançar, (Kardec, 1958: p. 257 - 258).

Compreendi com a Doutrina Espírita que orar é mais além do que mesmo uma simples reverência. É, sobretudo, uma interação Mente ? Corpo, Espírito ? Matéria. "Pela prece sincera, que é uma magnetização espiritual (o passe), provoca-se a desagregação mais rápida do fluido perispiritual". A magnetização espiritual não nasceu com o Espiritismo, mas remonta os ensinamentos e práticas dos velhos tempos.

"O passe, mesmo com seu milenar conhecimento e sua eficácia ecumenicamente propalada (...) muito pouco pesquisado (...) quem mais lhe difunde seu valor em nossas ?bandas orientais?: os espíritas", (Melo, 2006: p.15 - 21). O Magnetismo animal não surgiu com Mesmer. A sua prática remonta a eras imemoriais. Os sacerdotes nos templos dos deuses, no antigo Egito (...). "(...) A essência do Magnetismo (...) encontra-se nas 27 proposições da sua primeira memória impressa em 1779...", (Melo, 2006: p. 180 - 181).

O magnetismo vem a ser a medicina dos humildes e dos crentes, ("...) de quantos sabem verdadeiramente amar", (Léon Denis, in: Melo, 2006: p. 22). Como diz Dr. Orlando Messier:

Todo indivíduo é constituído de antenas transreceptoras, que emitem e captam ondas equivalentes à sua capacidade vibratória ? portanto, à intensidade e qualidade da energia que exterioriza. Não é, pois de estranhar-se, que cada qual viva, conforme pensa, tornando-se feliz ou desventurado em razão das idéias que agasalha na mente (Messier, in: Franco, 2003: p. 193).

O Espírito Dr. Bezerra de Menezes ressalta: "A ação psicoterápica da Doutrina Espírita, aliada às modernas técnicas de cura, contribui, decisivamente, para a mudança do quadro mental da Humanidade", e continua:

Nesse tempo de entrosamento das terapias médicas, do Espírito e do corpo, que não tardará, o doente mental já não sofrerá os eletrochoques desordenados, nem as substâncias e barbitúricos violentos e toda a série de seqüelas que, por enquanto produzem (...). (...) À medida que o homem avance em conquistas morais, diminuir-se-ão as provações e expiações mais pungentes, ainda em vigência na Terra, enriquecida de a tecnologia, porém, carente de amor e equilíbrio emocional (Bezerra de Menezes, in: Franco, 2003: p. 190).

Nossas mentes, assim como pode produzir a oração positiva, podem produzir à negativa, a partir do poder vibracional mental. Cuidado! Estudiosos comprovam cientificamente, que o ser humano é aquilo que seu pensamento produz.

A mente visitada pelos pensamentos destrutivos responde com produção de energia tóxica, que alcança o coração ? o chakra cerebral envia ondas eletromagnéticas ao cardíaco que as absorve de imediato ? e, esparge pelo aparelho circulatório os petardos portadores de altas cargas dessa vibração, somatizando os distúrbios", provocando o desalinho (Messier, in: Franco, 2003: p. 191).
A vida é um processo de permanente mutação em busca do aprendizado relevante para a evolução do ser, com o objetivo precípuo de atingir o pleno aprimoramento moral, físico e espiritual, e a conseqüente felicidade real.
Nosso projeto é falar do "sagrado e profano" e, como de alguma forma citamos o termo "Chakras", enfocamos agora algo sobre esse fundamental tema. E ressaltamos que somente através de um estudo mais aprofundado, evidenciaríamos fundamentais ligamentos entre o Corpo e Espírito. Por assim dizer, Chakra ou centros vitais são centros de força ou rodas ? pontos acumuladores e distribuidor da energia, recebida do próprio Espírito para o corpo físico, que para informação, e melhor compreensão do leitor, que busque situar-se, e reflexionar, citaremos algumas definições:

Os chakras ou centros de força são pontos de conexão ou enlace pelos quais flui a energia de um a outro veículo ou corpo do homem (Leadbeater, in: Melo, 1952, p. 92) (...). Estes chakras funcionam como terminais, através dos quais a energia (prana) é transferida de planos superiores para o corpo físico (Keith Sherwood, in: Melo, 1952, p. 92) (...). Chakra considerado intermediário de transferência de energia entre duas dimensões vizinhas do ser, tanto como um centro proporciona a conversão de energia entre um corpo e sua mente correspondente (Harish Motoyama, in: Melo, 1952, p. 93). (...) CHAKRAS SÃO CENTROS PSÍQUICOS (letras maiúsculas originais), que estão sempre ativos no corpo, não importa se temos ou não consciência deles. A energia se move através dos chakras para produzir diferentes estados psíquicos (Harist Johari, in: Melo, 1952, 1952, p. 93)...

São diversos os centros de força, chakras ou plexos psíquicos, distribuídos por todo nosso organismo. Cada célula formadora do nosso ser representa energia vital = força magnética. Cada centro de força tem seus correspondentes que se relacionam com o organismo físico. E é importante salientar, que tais centros vitais não se encerram de per si, em nosso corpo. Pelo contrário, servem de ligação entre o corpo e o perispírito (liame do corpo e Espírito). E os principais centros de concentração ou dispersão de energias são os seguintes: Coronário, Frontal, Laríngeo, Cardíaco, Gástrico, Esplênico e Genésico.

O Coronário situado no alto da cabeça tem responsabilidade direta sobre as funções cerebrais, psicológicas e espirituais; O Frontal ou cerebral, localizado entre os olhos, é considerado centro da intuição, e é responsável pela função da visão, audição, olfato e administra o sistema nervoso central; Laríngeo, localizado no centro da garganta, exerce papel significativo de filtragem dos fluidos anímicos, é o centro da criatividade e regula a fonia, o sistema respiratório, sistema digestivo inicial, pressão arterial e corresponde-se com as glândulas tireóide e paratireóide; Cardíaco, fundamental na administração dos campos emocionais, situado no músculo cardíaco relaciona-se com o sistema circulatório e com o sistema nervoso parasimpático, corresponde-se com o timo e se relaciona com os processos de cura; Gástrico é o centro de cura, situado na região do alto estômago é responsável pelos processos digestivos e grande parte do metabolismo, atuando vigorosamente sobre o estômago regulando o sistema nervoso simpático, relacionando-se diretamente com as adrenais e pâncreas; Esplênico, é o centro do equilíbrio, localiza-se no baço, com interferência mais direta sobre as funções biliares, renais e de excreção e, Genésico, é o centro procriador, situando-se na região genésica podendo propiciar vigorosos potenciais energéticos no campo do amor e da criatividade e corresponder-se com as gônodas (Melo, 2006, p. 54).

VII ? A Evangelhoterapia
A oração é por excelência, a estruturação do pensamento em comunhão com as elevadas fontes do Amor Divino, que permite a mente sintonizar-se com os campos vibracionais sutis de elevada energia, afirma Messier:

Quando alguém ora, torna-se dínamo gerador de força, a emitir ondas de teor correspondente à qualidade da energia assimilada (...), de incomparável resultado terapêutico" (...). E a Evangelhoterapia (grifo nosso), representa importante recurso para produzir a recuperação do equilíbrio das criaturas (...). Jesus Cristo foi o mais dignificante exemplo: "sempre que o cansaço Lhe tomava o organismo, Ele buscava a oração a fim de comungar com Deus, reabastecendo-Se de vitalidade (Messier, in: Franco, 2003, p. 192).

As afirmações de fé, a atenção aos mais necessitados servindo-os com boa vontade sem pedir recompensa, mas, sobretudo, abençoando sempre. Seguindo o que diz Emmanuel: "Esqueçamos todas as expressões inferiores do dia de ontem e avancemos para os dias iluminados que nos esperam" (Emmanuel, p. 125), representa primordial objetivo da religiosidade. Vibremos ou fortalecemos nossos pensamentos unicamente no bem.
Paracelso8, compreendendo a força que possui o "invisível" (...) conhecendo a importância da moral no processo de cura, recomendava ao paciente, bom ânimo, a prática do bem, o esquecimento das ofensas, a confiança, a paciência, a resignação, além da prática da meditação. Tudo isso, dizia ele, "para transformar a contextura da tua alma" (Jornal "Vórtice"). Portanto, o poder vibracional reside em cada um de nós, somos o que pensamos.
Sagrado, não representa tão somente o beletrismo das tribunas douradas da pregação salvacionista, mas em sua essência, a prática legítima da caridade, a exemplo de Jesus Cristo. E viver à luz do Cristo não significa apenas gastar do que temos, mas efetivamente oferecer daquilo que somos na colaboração através do próprio esforço ? solidarizando-nos com sua dor, sendo indulgentes, oferecendo ao outro o melhor de nós mesmos pela elevação comum de todos (as) ? doando ao outro do nosso próprio esforço, do nosso próprio suor, como disse Jesus sendo luz no mundo. "Vós sois a luz do mundo" (Mateus, 5: 14), porque "A luz resplandece nas trevas" (João, 1: 5).
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8 Precursor da medicina holística. Nasceu em 10 de novembro de 1493, num momento histórico de muitas transformações na ciência, na filosofia, na religião e nas artes. Época marcada pela Reforma de Lutero e chegada da Renascença.
Todas as necessidades do mundo, traduzidas no esforço dos seres viventes, valem por súplicas das criaturas ao Criador e Pai (...) Todos lançamos em torno de nós, forças criativas ou destrutivas (...), ao círculo pessoal que nos movimentamos (...) As ondas do desejo em sua força vital, todo impulso e todo anseio constituem também orações que partem da Natureza (...). O verme que se arrasta com dificuldade, no fundo, está rogando recursos de locomoção mais fácil (...). O homem primitivo adorando o trovão, nos recessos d?alma pede explicações da Divindade, de maneira a educar os impulsos de fé (...) A aranha respira no centro as próprias teias (...) Assim também o homem vive no ceio das criações mentais a que dá origem (...). Nossos pensamentos são paredes em que nos enclausuramos ou asas com que progredimos (...) como pensamos viveremos (...). Nossa vida íntima ? nosso lugar (...). A prece, traduzindo aspiração ardente de subida espiritual, através do conhecimento e da virtude, é a força que ilumina o ideal e santifica o trabalho (...). Deixa cair algumas gotas de perfume sobre a fronte de teu irmão e o aroma se espalhará na atmosfera (Tiago, in: Emmanuel, 2006: p. 367 - 370).

Na minha infância, conta a autora, residindo no interior do estado; naquele tempo, ainda sem iluminação elétrica, aprendi a me divertir contemplando o céu todo estrelado. Na pequenez de criança, observava, que somente nas noites escuras sem a presença da luminosidade da lua, era possível a contemplação das estrelas. E como eram belas as constelações estelares! O "cruzeiro do sul", "as três Marias e os três Reis Magos", a estrela D?Alva, etc., segundo a tradição daquele lugar, e que meus avós já nos ensinavam. Era interessante acompanhar a mudança de posição das estrelas, conforme o percurso e longevidade do tempo durante o ano, no observatório a olho nú.
O cintilar estelar de coloração inconfundível nos embebia enternecendo-nos de profunda paz e felicidade e enxergar com o coração a grandeza do Criador; nesse momento tão solene de conversação íntima entre Criador e criatura ? isto significa orar. Hoje recordando, ainda sinto-me envolver de profunda melancolia. Uma melancolia salutar que representa saudade. A isto também chamo de "sagrado".

Sagrado ? adjetivo, vocábulo originário do latim sacratu = aquilo que se sagrou ou que recebeu consagração. Profano = do latim profanu ? não pertencente à religião, originário da palavra profanare, significando tratar com irreverência; desconsagrar (Ferreira, Dicionário Língua Portuguesa).

Alguns autores entendem "sagrado" ? algo do domínio religioso, local vedado a profanações; e "profano" ? pessoa não iniciada nos conhecimentos de uma arte, ou ciência; pessoa que não pertence à classe eclesiástica ou é estranha as coisas da religião. Estudiosos da antropologia reconhecem o "sagrado" e o "profano" como categorias, que servem de parâmetro para analisar determinados símbolos sociais. Para alguns o sagrado seria algo do outro mundo, especial, anormal, enquanto que, o profano seria as situações vivenciadas no dia a dia, a permissividade, o mundo plebeu.

Através do sagrado o homem tenta alcançar a comunhão com o divino, e também com a natureza física. (...). O simbolismo pode exercer o seu próprio poder: a promulgação de um ritual sagrado pode trazer experiência do sagrado. Experiências compartilhadas humanas, como nos ritos de reprodução, puberdade, as estações do ano, as fases da vida e da morte, torna-se uma primeira base para a relação do homem com outros homens (...). E através das celebrações do sagrado, homens têm descoberto as suas origens e compreendido o significado de suas vidas (Huxley, in: Aldus/Doubleday).

Nós, Espíritos inteligentes da criação Divina no incansável anseio da busca pela transcendência universal construímos nossa história no profícuo esforço do fortalecimento do caráter, lutando por um mundo mais solidário e socialmente participativo e mais justo, trabalhando nossas consciências, nossa cidadania, num processo incansável de superação a nós próprios (as).
Partindo do princípio de que, tudo que não está relacionado à religião é profano, mas de alguma forma o sagrado não existe sozinho, por si só. A Religião depende do homem para dar movimento, dar ação às suas crenças e seus credos. O homem no seu "estar sendo" (cotidiano), conforme orientações, disciplina, informações recebidas no percurso da vida com seus familiares e educadores dão curso a sua existência, desenvolvendo seus cerimoniais na religião na qual está vinculado, exercitando os seus rituais, nas suas tradições fazendo história, definindo seus comportamentos, decidindo padrões de vida no seu existir, desenvolvendo seus rituais de vida ? vivendo afinal. Vivendo na religião construindo o seu amanhã ? invalidando o "ser profano". Vivendo essencialmente a vida em plenitude. Simplesmente vivendo e sendo feliz, porque tudo na vida emana do Ser Supremo.














REFERÊNCIAS

CINFORM, Municípios ? História dos Municípios. Edição Histórica. Aracaju, Junho/2002.

EMMANUEL. Fonte Viva. (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. FEB. Rio de Janeiro, 34 ed. 2006.

FRANCO, Divaldo Pereira. Aspectos Psiquiátricos e Espirituais nos Transtornos Emocionais. 3ª Ed. Livraria Espírita Alvorada Editora. Salvador/Bahia. 2003.

HUXLEY. Theway do sagrado. Aldus/Doubleday, 1974. Google.

LUIZ, André (Espírito). Evolução em dois Mundos (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. 25 ed. FEB, Rio de Janeiro, 2007.

MELO, Jacob. Manual do Passista: curando pelo amor e pelo magnetismo. 6ª edição. Editora Vida & Saber; Fortaleza: Premius, 2006.

MELO, Jacob. O passe: seu estudo, suas técnicas, sua prática. 17 edição. FEB, Rio de Janeiro. 1952.

Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras/SP, IDE, 143ª edição. 1991.

Autor: Maria Helena Silva


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