Fé para com Deus e razão para com os homens



Constantemente, ouvimos os adeptos da hierarquia eclesiástica ensinarem que se alguém não é submisso aos líderes da igreja, tal pessoa não é submissa a Deus.
No entanto, esta afirmação é apenas um chavão, uma frase feita, criada para impressionar e causar impacto em quem ouve. Ela não tem fundamento lógico e nem respaldo bíblico. Pelo contrário, encontramos vários trechos bíblicos que nos alerta contra os ardis secretos dos homens, que astutamente, querem colocar os seus semelhantes sob servidão.
Por outro lado, aqueles que alegam ter recebido um "poder delegado" por Deus para governar a igreja, não dispõem de nada objetivo para nos fazer crer nesta afirmação. Ou seja, eles exercem um poder legitimado por homens que dizem, ou nós acreditamos ser, governadores dos cristãos; que por sua vez estão naqueles postos porque foram colocados lá por outros homens, que também foram escolhidos por outros homens, que foram levantados por outros homens. E nunca se chega a uma "delegação" clara, objetiva e explícita de Deus.
Ora, como se comprova que verdadeiramente possuem esse poder delegado?
Como ter certeza de que não se trata apenas de mais um equívoco como tantos outros que a igreja comete?
Ademais, por que Deus puniria um crente que não se submete ao chefe religioso, se não há uma prova efetiva da parte de Deus de que aquele chefe religioso foi declarado, por Deus, chefe dos cristãos?
Só o fato de algumas pessoas acreditarem que algo é da forma que elas acreditam, não é razão suficiente para que aquilo necessariamente seja do jeito que elas dizem ser.
Só porque alguns cristãos acreditam que determinado homem foi escalado por Deus como chefe da igreja, não é prova suficiente de que verdadeiramente o seja.
Evidentemente, se não conhecemos o íntimo das pessoas, só o fato de alguém nos declarar que ele ou outro homem é governador dos cristãos, profeta, apóstolo, ou coisa assim, não é o bastante para acreditarmos nisso. Só o fato de alguém ser nomeado em uma convenção, não é garantia suficiente para dizer que tudo o que ele pensa e ensina é a expressão da vontade de Deus. Por mais bem credenciado que seja tal pessoa, ainda assim temos o dever de analisar as suas idéias e temos a obrigação de ponderar o que lhe sai da boca.
Alguém poderá interceptar dizendo que temos que ser submissos a Deus. E ser submisso a Deus é submeter-se aos líderes que Deus estabeleceu.
Obedecer e sujeitar-se a Deus, sim, porque o Senhor sabe todas as coisas, Nele não há erro, ou engano, nem limitações, nem falhas. E não há injustiça e exploração naquilo que Ele nos prescreve, pois declaradamente o seu grande interesse é a nossa bem-aventurança. Donde se segue que Nele eu posso confiar absolutamente.
Submeter-se a homens falhos, limitados, parciais, e que não temos a certeza de que receberam poder sobre nós, não.
E não porque, por mais sincero, temente a Deus, altruísta, digno e respeitado que seja um líder religioso, diante de Deus ele está na mesma condição de qualquer outro cristão.
E não porque não há verdade absoluta em homem algum. Nenhum deles é onisciente. Por vezes, dizem coisas verdadeiras, mas também dizem coisas erradas. Constantemente agem em interesse próprio. Por vezes são abnegados. Mas, frequentemente são egoístas. E eu só saberei discernir o seu espírito, se eu tiver independência suficiente para julgar o que eles me ensinam.
Termos e expressões como vigiar, examinar os espíritos, ficar atentos, cuidado para que ninguém vos engane, "lobo em pele de cordeiro", sugere que a Palavra nos dá essa liberdade de análise, e não somos obrigados a obedecer cegamente.
Cristão algum possui um certificado expedido por Deus autenticando a sua autoridade e obrigando-nos a acreditar em tudo o que ele nos diz. E a infinidade de "falsos profetas", enganadores e corruptos travestidos de "pastores", "apóstolos" e "reverendos", nos mostra que só conseguem seus intentos porque se proclamam infalíveis, e encontram pessoas servis, medrosas e submissas para lhes obedecer em tudo.
A submissão a Deus, por conseguinte, não nos obriga a obedecer a tudo que nos chega aos ouvidos vindo dos nossos líderes religiosos, pois há muitos "lobos vestidos de cordeiros" e só temos alguma chance de escapar das suas artimanhas, se dispusermos de liberdade para fazer uma análise racional dos seus discursos e dos seus espíritos. Somente com liberdade e independência para analisar criticamente tudo aquilo que um homem nos propõe, ou impõe, é que podemos clarear o nosso entendimento a respeito do verdadeiro espírito desse homem. Ou seja, diante dos homens, eu preciso usar a racionalidade para analisar as suas idéias e as suas doutrinas.
De onde vêm que o nosso relacionamento com os homens é estritamente pautado pela razão e pelo bom senso. Ao passo que para com Deus, o nosso relacionamento é determinado pela fé. O nosso relacionamento com Deus é fundamentado na Fé, porque sem Fé é impossível achegar-se a Deus.
Fé é confiança.
Podemos ser submissos a Deus porque, pela Fé, temos a confiança de que Ele é justo, bom, misericordioso, fiel e verdadeiro.
Mas, a própria Palavra do Senhor nos alerta que não podemos ter essa mesma confiança nos homens, porque todos eles são falíveis e imperfeitos.
O profeta Jeremias desabafa dizendo que maldito é o homem que confia no homem, Jr. 17.05.
Há dois maiores pecados que nós podemos cometer contra a soberania de Deus. Pecados determinantes para se cortar totalmente o vínculo do indivíduo com o Senhor. São a incredulidade e a idolatria.
A incredulidade é a completa falta de crença na existência de Deus, que culmina na falta de Fé. O incrédulo não aceita os sinais visíveis da existência de um ser criador supremo. Credita-se todas as evidências de Deus a um "acaso", ou à "evolução" natural do universo.
A idolatria, por outro lado, expressa-se no extremo oposto, é o excesso de credulidade.
O idólatra é aquele indivíduo que acredita demais. De forma que até credita-se poderes divinos a seres, ou objetos, destituídos de divindade. Atribui-se divindade, que é atributo de Deus, a seres ou objetos, que não são Deus. Atribui-se divindade a pessoas, animais, monumentos, instituições, templos, estátuas, pequenos objetos, fotos, relíquias, etc.
O excesso de crença, abismem, torna-se uma falsa fé. Torna-se uma idolatria.
Se a falta de fé produz a incredulidade, o excesso de credulidade gera a idolatria, e ambas, incredulidade e idolatria, constituem-se os piores pecados que os homens cometem contra a soberania divina. Enquanto o incrédulo nega que Deus seja o Senhor de todo o universo, o idólatra coloca outro "deus" no lugar de soberania divina.
Quando nos tornamos crédulos demais, além de cairmos no pecado da idolatria e passarmos a viver supersticiosamente, ainda corremos o risco de sermos manipulados, enganados, explorados e roubados. Há muitos homens fraudulentos que aproveitam do excesso de credulidade das pessoas para praticar a extorsão.
Observemos que a hierarquia religiosa e a submissão eclesiástica estão assentadas exatamente nessa credulidade supersticiosa. A estrutura hierárquica das instituições religiosas parte da crença de que, uma vez legitimados pela instituição, o homem torna-se autoridade de Deus, infalível como Deus. E pregam a submissão aos "homens santos" como submissão ao próprio Deus.
Ora, não pode haver submissão a homens, no mesmo diapasão da submissão a Deus, como prega os hierárquicas, porque o argumento de um homem só se sustenta se for razoável, justo e coerente. A nossa relação com o mundo material, do qual fazem parte os homens, rege-se pela razoabilidade. Os conselhos de um líder cristão só se mantêm de pé se, após uma análise criteriosa, for considerado coerentes e razoáveis.
A Deus, pelo contrário, eu posso ser submisso porque a minha relação com Ele fundamenta-se na confiança que tenho na Sua justiça, na Sua fidelidade, na Sua bondade, e, principalmente, na Sua manifesta boa-vontade para com todos os homens. A nossa relação com o mundo espiritual, do qual faz parte Deus, não se rege pela razão, mas rege-se absolutamente pela Fé.
Assim, legislar pela razão onde se precisa de Fé é incredulidade.
Mas, ter fé onde se necessita da razão é idolatria.


Este texto é um capítulo do livro "NÃO VOS FAÇAIS SERVOS DOS HOMENS". Caso queira adquirir a obra completa, gratuitamente, entre em contato com o autor.

José Peres Júnior
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Autor: José Peres Júnior


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