ESPACIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA URBANA NA PRAÇA MORENA BELA NA CIDADE DE SERRINHA-BA



ESPACIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA URBANA NA PRAÇA MORENA BELA NA CIDADE DE SERRINHA-BA

Antonio Aldo Ferreira de Oliveira¹; Antônio Sena Lisboa¹; Fernando de Souza Nunes²; Jaiane Carneiro¹; Taíse Santos ; Claudio Ressurreição dos Santos³

Resumo

A violência é um fenômeno antigo na história da sociedade global. Ela acontece em todos os povos, culturas e formas diversas, seja, urbana, familiar, coletiva, e em diversos lugares, tais quais como: escola, casas, rua, praça. Esse tema deve ser de responsabilidade de diversos seguimentos: o poder público, movimentos sociais, e demais agentes da sociedade. Dessa forma, o presente artigo propõe uma discussão teórico-conceitual da espacialização da violência urbana na Praça Morena Bela, localizada na cidade de Serrinha - BA. A Geografia vem contribuir nesta pesquisa, pois, é uma ciência importante para a compreensão da violência por ser capaz de estudar o homem enquanto ser social, sendo mediada e estruturada por um espaço. Para que a construção desse trabalho alcançasse o seu objetivo foi utilizada a seguinte metodologia: levantamento bibliográfico, dados obtidos juntamente ao 16º Batalhão da Polícia Militar e pesquisa de campo com os diversos agentes que fazem uso da Praça Morena Bela, como proprietários de lanchonetes, de pontos comerciais diversos, estudantes e gestores de órgãos públicos que se localizam naquela praça. Conforme os dados coletados no 16° Batalhão da Polícia Militar do ano de 2009 e da pesquisa feita in loco (2010), foi constatado um grande número de ocorrências policiais na referida praça. A pesquisa revelou que a maioria das ocorrências aconteceu no mês de setembro, por conta da vaquejada (festa que ocorrente todos os anos na cidade). Sendo assim há na cidade uma grande concentração de pessoas tanto local quanto regional atraídos pela festa. Na praça, é importante salientar, também acontecem eventos paralelo à festa, em boa parte frequentados por aqueles que possivelmente não têm condições de pagar os altos preços para entrarem nos parques de vaquejadas. Dessa forma, conforme a pesquisa, as ocorrência policiais mais freqüentes nesta praça em 2009, foram furtos (21%), seguido de agressão física (16%). Já em 2010, em entrevista com moradores e comerciantes que trabalham no espaço, apontam o vandalismo e tentativa de homicídio como os tipos de violência mais frequentes (50% das ocorrências). No entanto, aparece violência sonora, pornográfica e furtos ou roubos.



Palavras - chave: Geografia, Violência urbana, Praça Morena Bela.





ABSTRACT

Violence is an old phenomenon in the history of global society. It happens in all peoples, cultures and different ways, that is, urban, family, collective, and in many places, such as where: school, home, street, square. This theme should be the responsibility of several segments: the government, social movements, and other agents of society. Thus, this paper proposes a theoretical and conceptual discussions of the spatial distribution of urban violence in Plaza Bella Morena, located in the city of Serrinha - BA. Geography is a contribution in this research, therefore, is an important science to the understanding of violence by being able to study man as a social being, being mediated and structured by a space. For the construction of this work succeeds in its goal we used the following methodology: literature, data obtained along the 16th Military Police Battalion and field research with the various agents that make use of the Plaza Morena Bela, as owners of restaurants, from several commercial locations, students and administrators of public agencies that are located in the square. According to data collected in the 16th Military Police Battalion of the year 2009 and the research done on the spot (2010), we found a large number of police incidents in that square. The survey showed that most incidents occurred in September, due to the vaquejada (party occurring every year in the city). Thus there is a large concentration in the city of people both local and regional attracted by the party. In the square, it is important to note, also held parallel events to the party, largely frequented by those who could not possibly afford to pay high prices to enter the parks of rodeos. Thus, according to the poll, the most frequent occurrence policemen in the square in 2009 were theft (21%), followed by physical aggression (16%). Already in 2010, in an interview with residents and merchants who work in space, link the vandalism and attempted murder as the most frequent types of violence (50% of cases). However, it appears sound violence, pornography and theft or robbery.



Keywords: Geography, Urban violence, Plaza Morena Bela.






INTRODUÇÃO

O tema violência não é um fenômeno recente na história da sociedade global. Em todos os povos, culturas e Estados-Nações, a violência acontece de diversas formas, seja ela, urbana, familiar, comunitária, e em diversos lugares: na escola, nas casas, na rua, na praça, dentre outros. Apesar disso, a sociedade tem a impressão de que nos dias atuais, a violência se tornou mais latente, mais gritante e mais preocupante. De fato, o tema violência é mais complexo por que envolvem questões de ordem pessoal (subjetiva), social, moral e ético, educacional, familiar, dentre outros.
No Brasil, a violência ganha destaque não somente pelas páginas policiais, exploradas de forma equivocada e sensacionalista pela mídia, e sim, pela forma que tem refletido na sociedade e até mesmo na formação dos sujeitos. Vale ressaltar que o tema não é somente uma responsabilidade do poder público: executivo, legislativo e judiciário, e sim, partidos, movimentos sociais, igrejas e demais agentes sociais. E se a violência é um tema que envolve toda a sociedade, a ciência deve estar na vanguarda das discussões para evitar análises desprovidas e distorcidas da realidade. Este chamamento não é assunto somente para sociólogos, antropólogos, pedagogos e militares; nesse momento a Geografia, insere-se nessa discussão como ciência capaz de entender a espacialização da violência nas escalas, regionais e globais.
Entretanto, o presente artigo propõe uma discussão teórico-conceitual da espacialização da violência urbana na Praça Morena Bela localizada na cidade de Serrinha-BA ? tema proposto, sob a metodologia de uma pesquisa qualitativa e quantitaviva. Entende-se que o tema é pouco explorado pela academia, porém, é para suprir esta lacuna que se propõe a presente pesquisa. Como ocorre o fenômeno da violência urbana na cidade de Serrinha-Ba, especificamente na Praça Morena Bela e quais as principais causas da violência urbana na Praça? E como esse fenômeno espacializa-se e quais suas particularidades nestes espaços?
Tal indagação justifica o presente trabalho e ao mesmo tempo propõe uma indagação cujo tema violência não enverede por caminhos do senso comum por não haver uma leitura ampla e sensata do tema. Por isso que a Geografia é também uma ciência importante para a compreensão a violência por ser capaz de estudar o homem enquanto ser social, que vive em sociedade, mediada e estruturada num espaço.
Ainda nas palavras de Nídia Naribe Pontuschka:

"Cada vez mais, a violência associa-se ao medo de viver nas grandes cidades, onde tudo muda vertiginosamente e todos são incógnitos. Ninguém se conhece; mudou o estilo de vida de morar nas grandes cidades". (...) Mas o medo que preocupa a vida, hoje, é diferente, pois trata-se do medo do roubo, da morte, das drogas, dos lugares ermos, de perder o pouco ou o muito que cada um tem". (Pontuschka, 2004, p. 77).

Diante dos dados coletados no 16° Batalhão da Polícia Militar do ano de 2009, e da pesquisa feita em loco pela equipe, constatou-se um grande número de ocorrências policiais na cidade de Serrinha, em especial na Praça Morena Bela por meio do recorte do bairro Ginásio. A metodologia utilizada para atingir os objetivos propostos, constou das seguintes fases: num primeiro momento utilizaram-se de fontes secundárias como levantamento bibliográfico para a revisão da literatura sobre o tema em discussão. Paralelamente ao levantamento bibliográfico, foram obtidos dados juntamente ao 16º Batalhão da Polícia Militar que serão representados em linguagem estatísticos: gráficos, quadros dentre outros e confrontar com informações obtidas a partir de fontes primárias como a observação no campo e os diversos agentes que fazem uso da Praça Morena Bela, como proprietários de lanchonetes, pontos comerciais diversos, estudantes e órgãos públicos que se localizam naquela praça.

ESPACIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA URBANA E A NECESSIDADE DE CONCEITUAÇÃO

Existem vários sentidos aplicáveis à palavra violência e ao longo da historia etimológicas desse termo pode-se perceber ampliações em eu uso e sua aplicabilidade. Assim sendo como seus homônimos em outras línguas latinas e até não latinas, violência deriva originalmente de "violentia", do latim, que significava a "força que se usa contra o direito e a lei".
Vendo sob esse prisma o "violento" era quem agia com força impetuosa, excessiva, exagerada". Com o passar dos tempos, violência passou significar qualquer ruptura da ordem ou qualquer emprego de meios para impor uma ordem. Como também pode se observar, violência, em seu sentido etimológico, aos poucos se aproximou dos conceitos de "poder e dominação.
Nem por isso todos os estudiosos do assunto se detiveram em estudar a violência enquanto relação de poder, dominação e/ou imposição. Para Viana (2004) alguns deles tomaram caminhos escusos que lhes conduziram para interpretações ideológicas do tema. Assim, toda essa desigualdade demonstra-se como uma das múltiplas determinações da violência urbana, tal como afirma (Santos, 2002, p. 5) "a violência é um fenômeno social complexo e que não pode ser entendido ou explicado a partir de uma única causa".
Logo a violência por ser um fenômeno crescente em toda sociedade existe diversa particularização, portanto a violência urbana é apenas uma forma particular do fenômeno violência. Mas o que a torna uma forma específica de violência? Para Viana (2002, p. 29) "a violência urbana não é a violência que ocorre no espaço urbano e sim a violência derivada da organização do espaço urbano", pois nas cidades ocorrem vários tipos de situações consideradas violentas, que poderiam acontecer em qualquer outro meio, no rural, por exemplo, e nem por isso seriam características como violência rural.
Sendo a violência derivada da organização do espaço urbano, Viana ao analisar a violência urbana propõe sua relação com a organização do espaço urbano achamos necessário analisar aqui o conceito de organização do espaço urbano segundo CORRÊA (1995, p. 28), que considera a expressão equivalente "À estrutura territorial, configuração espacial, arranjo espacial, espaço socialmente produzido ou simplesmente espaço", ou seja, um "conjunto de objetos criados pelo homem e disposto a superfície da Terra, sendo uma materialidade social", na qual percebe-se um equivoco.
Essa noção permite a compreensão das transformações que ocorreram até um determinado momento histórico, mas, porém, permite a interpretação de um espaço já acabado, o que anularia sua historicidade. Contudo, preferimos o uso neste estudo dos termos produção e reprodução do espaço, seguindo então a orientação de Lefebvre. O mesmo Lefebvre contribui ainda com a noção de historicidade e transitoriedade do espaço, resultado de sua visão materialista e dialética do espaço, com a qual esclarece que para Henri Lefébvre:

"O espaço como lugar de produção, como produto e como produção, é simultaneamente a arma e o signo desta luta. Indo até o fim ? mas como recuar ? essa tarefa titânica obriga hoje a produzir, a criar coisa diversa da natureza; a segunda natureza, nova e outra. Obriga, pois produzir o espaço, o espaço do urbano, simultaneamente como produto e como obra no sentido em que a arte foi obra. (...) Todo espaço social resulta de um processo de múltiplos aspectos e movimentos: significante e não significante, percebido e vivido, pratico e teórico. Em suma todo espaço social tem sua historia a partir desta base inicial: a natureza, parte de particularidades (sítios, climas, etc. ). (...) Há mais, sobre o espaço, que dos traços incertos deixados pelos acontecimentos: há inscrição da sociedade em ato, o resultado e o produto das atividades sociais. (Lefebvre, 1974, p. 96).

Sendo assim a cidade e seu espaço, são frutos da sociedade que os habitam. É um produto histórico e social e uma obra de seus habitantes. Encontra-se um elemento chave de relação espaço urbano/violência urbana, pois é pelas relações sociais de produção que a sociedade se reproduz, relações estas que são de base capitalistas e, portanto, reproduzem a desigualdade. E é nessa reprodução da desigualdade que o espaço urbano vai se colocar como gerador de violência urbana.
De acordo com essa proposição e referindo-se a sociedade capitalista atual, CARLOS (199, p. 82) afirma que:

"O espaço urbano traz a marca da sociedade que o produz no caso analisado, uma sociedade hierarquizada, dividida em classes. Um homem produz a historia a partir de um processo continuo onde cada geração tende a suplantar a anterior. É uma história que ao realizar-se dá como significado à natureza e reproduz constantemente o humano."

Nesse sentido a autora continua ainda dizendo que o "espaço urbano se reproduz, reproduzindo a segregação, fruto do privilegio conferido a uma parcela da sociedade brasileira" (Carlos, 1999, p. 83).
É partindo dessa conceituação de espaço urbano e das observações dos autores acima que afirma-se ser o espaço urbano gerador de violência. Ele cria relações desiguais que repercutem em conflitos e buscas por conquista de um lugar na sociedade. Somada a essas desigualdades típicas do espaço urbano da sociedade capitalista atual, percebe-se a formação de uma mentalidade ou subjetividade cada vez mais propensa a cometer atos violentos.
Uma vez que não é puramente a violência nesses bairros, mas toda a forma de violência que seja derivada da produção do espaço urbano que está sujeito a constantes reestruturações com uma dinamicidade definida por pares adversos, variando em intensidade a partir do estagio da sociedade, e quanto mais complexa a cidade, maiores os conflitos pois:

O espaço é um espaço de divisão do trabalho, onde sempre existem atividades mercantis, sejam elas predominantes ou não, é uma certa densidade populacional. Ele também é um espaço de poder, onde se instaura relações de dominação, seja da população urbana sobre a população rural, seja de parte da população urbana sobre outra parte desta, mas aí se revela fundamentalmente a dominação de determinadas classes sociais sobre outra, sob várias formas, mas principalmente através do Estado (Viana, 2002, p.23).

É no espaço que a vida cotidiana acontece e é no cotidiano que a violência é, pelo menos em parte, percebida, o que torna possível a relação violência urbana e espaço urbano. Logo a espacialização do individuo, ou grupo que ocupa determinado espaço no caso a Praça Morena Bela, onde esses exercem suas relações muitas vezes de forma violenta questionando o retorno do individuo a sua escala do cotidiano, como formas de apreensão das dimensões territoriais e da capacidade de projetar a liberdade como meio de satisfação das necessidades individuais.
Nessa dimensão, do individuo pode ganhar em termos de conquistas, tornando-os revolucionários, mesmo que seja constantemente confundida com violência, uma vez que é nesse nível que a liberdade se projeta, desde que o respeito pelo outro se torne um valor intocável, num momento em que nenhuma instituição, grupos ou individuo possua os meios de impô-lo pelo constrangimento, determinando assim os tipos de relações entre as classes sociais e as formas de ocupação desse espaço por pessoas.

PROCESSO DE FORMAÇÃO DA PRAÇA MORENA BELA

O surgimento da Praça Morena Bela na cidade de Serrinha é resultante dos processos de produção do espaço urbano dessa referida cidade. Entende-se nesta pesquisa, o processo com base em Santos (1988), como sendo movimento contraditório da sociedade em uma dimensão espaço-tempo, o que causam transformação que dão origem a novas materialidades (formas urbanas), a exemplo da Praça Morena Bela.
Antes mesmo de se pensar na construção de uma praça em frente ao Colégio Ginasial, existia um grande largo com um solo de textura vermelha chamado pelos Serrinhenses de "selão". Nele, os estudantes, até meados da década de 1980, jogavam bola ou praticavam alguma atividade esportiva desenvolvida pelo Colégio. O prefeito Mariano José de Oliveira Santana, que governou de janeiro de 1973 a janeiro de 1977, colocou algumas pedras para beneficiar o bairro com calçamento (Pinheiro, 1999, p.11).
Anos depois, o médico Antônio Josevaldo da Silva Lima eleito prefeito de janeiro de 1983 a dezembro de 1988, inaugurou no dia 04 de novembro de 1988, (seu aniversário) o que hoje chama-se de Praça Astrogilda Paiva Guimarães. O nome é uma homenagem à professora de Português Astrogilda Paiva Guimarães, uma das primeiras professoras a compor o quadro de docentes do antigo Colégio Regional do Nordeste (Colégio Estadual Rubem Nogueira) e da Escola Normal de Serrinha em 19 de março de 1952 e 17 de março de 1956, respectivamente ? os primeiros colégios ginasiais e técnico normal do interior da Bahia. (Franco, 1996, p.12).
Tais escolas foram projetos de lei criados pelo deputado serrinhense Rubem Nogueira (1997), onde os estudantes pobres e de baixa renda não tinham condições financeiras de estudar na capital e pleitear uma vaga na universidade. Haja vista que estudar na capital aumentava os gastos com educação dos filhos tanto da classe pobre como da classe média e alta. Houve muita oposição ao projeto-lei de autoria de Rubem Nogueira de forma que outro deputado da época, André Negreiros Falcão ? primeiro prefeito eleito do município de Serrinha fez várias articulações no sentido de impedir a instalação da mesma.
Nesse período, os jovens elegeram-na como um novo ponto de encontro dos seus pares visto que, antes essa aglomeração acontecia na Praça Luiz Nogueira localizada no centro da cidade, porém, moradores relataram em entrevista que o prefeito da época, Dr. Josevaldo Lima, deixou essa praça sem iluminação por muito tempo para valorizar a recém inaugurada Praça Morena Bela. Todavia, após pesquisa documental pode-se constatar que o prevalecimento do nome "Morena Bela" ocorreu devido a uma homenagem feita por parte dos arquitetos e planejadores às morenas de Serrinha como "as mais belas e bonitas de toda a região" (PINHEIRO 1999, p.12).
A obra custou 100 mil aos cofres públicos e foi idealizado pelo ex-prefeito Josevaldo Lima que posteriormente passou o lay ao técnico Mário Besteck, Corinto Sarno, Eduardo Jobim, Jussara Bacelar e Fernando Lima para executarem a obra. A Morena Bela é cortada pelas ruas Abdon Costa, Avenida Luiz Viana Filho (ex-governador da Bahia), Rua André Negreiros Falcão (ex-deputado e primeiro prefeito de Serrinha), Rua Manoel Chileno.
No ano de 2008, a prefeita em exercício Tânia de Freitas Lomes, implementou algumas reformas na praça alterando ainda mais as características da estrutura do projeto inicial. Foram demolidos: a concha acústica que servia de apresentações em eventos, e o cercado para a construção de uma espécie de área de alimentação ou quiosque para acomodar os trailers em torno desta cuja presença era polêmica e desagradava a alguns moradores e freqüentadores.
Hoje a Praça Morena Bela tem, dentre outras funcionalidades, o uso para o lazer por parte das crianças, jovens, dentre outros; a apropriação por parte de comerciantes, mototaxistas como meio de retirar o seu sustento e; estudantes e professores que aguardam o transporte para se deslocarem para suas residências e trabalho. A praça também é utilizada como local de prática esportiva devido aos equipamentos presente na mesma, no entanto, levando-se em conta que a praça é mais freqüentada nos finais de semana, segundo relatos dos comerciantes entrevistados, ela é um espaço de consumo porque ambos os agentes consomem a mesma em diversas temporalidades.

Quadro 1: Espacialidades e temporalidades de alguns tipos de violências na Praça Morena Bela e entorno na cidade de Serrinha-BA ? 2009


Fonte: 16º BPM, 2009.
Quadro 02 ? Quantidades, temporalidades e ocorrências de alguns tipos de violência na cidade de Serrinha no ano de 2008


Fonte: 16º BPM, 2009.

Quadro 03 ? Quantidades, temporalidades e ocorrências de alguns tipos de violência na cidade de Serrinha no ano de 2009


Fonte: 16º BPM, 2009.


Na pesquisa, constatou-se que quase metade das ocorrências policiais ocorreu no mês de setembro, período de festas da vaquejada que acontece todos os anos nesta cidade cuja praça se torna a única opção de lazer dos que não tem condições de pagar um alto preço para entrar nos parques de vaquejadas. Por isso, os dados coletados do 16º BPM, apontam os maiores números de ocorrências no espaço da pesquisa e constatou-se que as ocorrências concentraram-se em sua maioria, nos finais de semana devido a uma grande concentração de pessoas e por se tratar de um local de entretenimento e uma das poucas opções de lazer da população serrinhense.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Partindo do princípio de que a metodologia (qualitativa e quantitativa) da pesquisa (atividade da ciência para indagar e construir o saber), é o elemento norteador do pensamento e da prática sobre uma determinada realidade, nessa abordagem foram utilizadas a aplicação de formulário e entrevista e em seguida coleta de dados para construção de gráficos e tabelas para confrontar os dados da Polícia Militar com a opinião e relatos da população e em seguida fazer uma leitura ampla através das discussões teóricas elencadas anteriormente.
Para se ter uma dimensão ampla do fenômeno da violência, foram coletados, inicialmente, informações junto a moradores e comerciantes sobre qual tipo de violência ocorreu na praça Morena Bela e eles identificaram. Os dados abaixo do (gráfico 01) apontam o vandalismo como o atividade que mais ocorre naquela localidade empatado com agressão física (ambos com 30%). Esta coleta é aleatória no sentido de identificar os tipos de violência sem levar em conta o período e o dia do fato ocorrido.








Gráfico 01: Pesquisa com moradores e comerciantes sobre o tipo de violência presente na Praça Morena Bela em Serrinha - de maio a junho de 2010
Elaboração: Equipe, 2010.
Ainda sobre a pesquisa com moradores e comerciantes, registrou-se a poluição sonora como forma de violência por se tratar de um desrespeito ao bem estar social. Segundo o Entrevistado 1A, "o vandalismo na maioria das vezes, é praticado por menores infratores que, em busca de alimento e esmola "perturbam" os comerciantes e sua clientela".
Após entrevistar os moradores e comerciantes no sentido de atingir os objetivos da presente pesquisa, foram coletados dados disponibilizados pela Polícia Militar de Serrinha por meio de ocorrências policiais no ano de 2008 onde a tentativa de homicídio aparece com 60% de frequência seguindo de lesão corporal com 20%. Entretanto, percebe-se que, por meio dos (gráficos 1 e 2), os mesmos fenômenos estão presentes nos relatos dos moradores e nos registros da polícia pois, trata-se de ocorrências que se tornam públicas não somente para moradores e comerciantes como agentes de segurança pública e a população em geral.









Gráfico 02: Ocorrências policiais comparativas na cidade de Serrinha ? 2008
Elaboração: Equipe, 2010


Em 2009, o tipo de violência que mais ocorreu em Serrinha, foram agressão física que aparece como ato mais frequente (com 55% das ocorrências), seguido de lesão corporal com 25% e em terceiro lugar roubo com 5%.conforme dados demonstrados no gráfico 3. E segundo pesquisa em loco realizada pela equipe em 2010, com moradores e comerciantes, vem reforçar os dados oficiais do ano anterior. Desta vez predominou o furto com maior frequência.












Gráfico 03: Ocorrências policiais comparativas na cidade de Serrinha ? 2009
Elaboração: Equipe, 2010

Percebe-se então que a praça Morena Bela continua violenta, ocorrendo também outros tipos de violência como homicídio, poluição sonora, estelionato, dentre outros. Tal constatação evidencia-se ao traçar um paralelo entre os dados globais da violência em Serrinha e os dados registrados na praça e no bairro onde a mesma está localizada (gráfico 03 e 04).
Em especial, nos registros de ocorrências policiais na Praça Morena Bela expressos no (gráfico 4) do ano de 2009, demonstram que o furto com 21% liderou os índices da pesquisa seguido de agressão física com 16%










Gráfico 04: Ocorrências na Praça Morena Bela da cidade de Serrinha ? 2009
Elaboração: Equipe, 2010.

Dessa forma, o fenômeno da violência, cumpre o papel de tornar evidente que, a partir de 2009 até 2010, temporalidade da coleta dos dados, o fenômeno da violência e sua espacialização na praça Morena Bela da cidade de Serrinha-BA, é algo presente e notável apesar das variações dos tipos de violência. As causas supostamente podem ser variadas como pobreza, desigualdade socioeconômica, tendência de personalidade, circulo vicioso, questões morais e familiares, dentre outros.
Os dados da polícia não apontam as causas da violência e sim, a forma, temporalidade e locais de risco visto que, cabe aos órgãos repressores da violência combater as consequências e não as causas ? uma responsabilidade não somente do poder público, mas, de toda a sociedade; sem falar que o próprio modelo de organização urbana pode gerar uma violência ao bem-estar-social.

CONCLUSÕES E PROPOSTAS

A Praça Morena Bela é um recorte espacial de um todo (município de Serrinha), cujo tema pesquisado envolve toda a sociedade. Por se tratar de uma das principais praças da cidade de Serrinha, ela abriga em seu entorno vários segmentos como: escolas, companhia da Polícia Militar, Diretoria Regional da Saúde do Estado, pontos de alimentação e comercio em geral. No mês de setembro, em virtude dos festejos da vaquejada realizada num bairro próximo, ela atrai muitos turistas que tendem a se concentrar nesta localidade devido a presença de bares e restaurantes.
Diante da pesquisa, percebe-se no caso da Praça Morena Bela e do bairro onde está localizada, torna-se difícil de entender o fenômeno da violência próximo a uma Companhia da polícia militar. Justamente quando o Estado é o responsável em promover a segurança e o bem estar social; tal como afirma (Santos, 2002, p. 5) "a violência é um fenômeno social complexo e que não pode ser entendido ou explicado a partir de uma única causa".
Para Viana (2002, p. 29) "a violência urbana não é a violência que ocorre no espaço urbano e sim a violência derivada da organização do espaço urbano, pois nas cidades ocorrem vários tipos de situações consideradas violentas, que poderiam acontecer em qualquer outro meio, no rural, por exemplo, e nem por isso seriam características como violência rural". Este mesmo espaço urbano está organizado de forma perversa, pois, privilegia o interesse econômico e particular de uma forte elite e nega a cidadania e o valor do ser humano da grande maioria.
Portanto, a violência não pode ser entendida de forma unilateral como um problema das instituições responsáveis pela segurança pública ou do Estado e sim, uma ação conjunta dos diversos setores da sociedade que também precisa agir de modo a combater as causas da violência e não as consequências.




























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Autor: Fernando De Souza Nunes


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