Liberdade!



Pendurada nas sacadas da vida, a liberdade baila seus cândidos olhares pelas vertentes e escaninhos das moradias enclausuradas da favela, de viés, focaliza, abaixo, os arranha-céus ensolarados da cidade apinhada de pessoas num redemoinho de encontrões e acotovelamentos, compostas de roupas coloridas e esvoaçantes.
Perto da LIBERDADE, crianças em sumários trapos, entredevora a poeira putrefata na "ribanceira dos caixotes" ora, tragando o sujo pó, ora, sendo tragadas pela fedentina de urina e excrementos oriundos dos "passantes" noturnos.
Mais ao longe, na comodidade da "cidade das calçadas limpas", uma senhora dá um leve tapa na mão de uma criança que ousara pegar numa folha seca que se desprendera de uma árvore, em trejeitos arabescos pelos ares, até amoldar-se, momentaneamente, nas mãos limpas do jovenzinho.
A LIBERDADE a tudo observa silente, por se encontrar no equilíbrio e não na proporção da sua aplicação...
A tarde vem sucumbindo e a noite começa a puxar seu manto de cintilantes estrelas, igualmente cobrindo os viandantes do centro da cidade e os indigentes da favela de caixotes e lonas, entretanto, apesar da penumbra que se inicia, os "olhares da LIBERDADE" continuam, alternadamente, a perscrutar os pólos opostos dos viventes humanos, seu desejo é imiscuir-se entre os seres observados atingindo-lhes o cerne e o atravessando em direção do espírito puro. A ela não importa as crostas que os abrange, tanto faz trespassar os esquálidos parias das favelas, como os embonecados citadinos... Apenas, quer participar e vivificar os entes feitos à imagem de seu Criador:
A LIBERDADE É SEMPRE MAJESTOSA QUANDO DIVIDIDA EQÜITATIVAMENTE!
Ela não discrimina não se impõe, não é voluntariosa, e insinuante, apenas, espera ser convocada para alojar-se no espírito, nicho formado por Deus no coração humano, ali, irradia-se em luz para o seu possuidor ultrapassar as barreiras estéreis, alcançando as vitórias, terrenas e/ou espirituais. Todavia, só será a liberdade valiosa se for medianeira e controlável para o bem comum.
Ela, diuturnamente, lamenta o fato de sua oferta ser maior que a procura, mercê da desilusão, "sua pior inimiga", que tem ceifado a maioria dos seres humanos.
Triste constatação para ela, que é irmã da  esperança "ver o coração do homem ser ocupado pela discriminação ombreada  com a desigualdade social", coligação essa, fortificada pelo próprio hospedeiro, com isso, aquartelando  desenganos  do "dia-a-dia" e lhe cerceando  a ocupação pacífica e benéfica para irradiação de seus caminhos.
Ou o Homem acaba com essa coligação infame, ou a Liberdade ficará em "cima dos muros" ou das favelas, somente à espreita pelos séculos afora!
O nada é pouco para quem tem muito, e o pouco é muito para quem não tem nada! Razão, pela qual, a liberdade continuará pairando sobre as favelas, os pobres e os carente-humildes, na esperança de que tal cobertura atue como os mananciais dos grandes rios que começam apenas como um filete e, pelos caminhos, vão amealhando adeptos em direção da foz caudalosa.
De quando em vez, a liberdade sai de seu nicho e acompanha um determinado grupo, esperando aumentar o seu caudal de expectativas, numa dessas escapadas, libertou os nossos escravos e os da maioria dos países escravocratas, fato esse de suma importância social e moral, eliminando o homem como explorador e predador do próprio irmão, nos moldes do memorial "poético" a seguir:
Senhor Deus dos infelizes!  Volvei o olhar ameno para as pobres nutrizes e segregue  o racismo nas profundezas dos infernos !
Para vós não vale as nuanças da pele nem o gládio da fortuna e, sim, o fervor do coração, a docilidade do humanismo e o desprendimento da razão!
Senhor Deus dos Humanos! Mirai com vosso olhar benevolente a pobre casta de gente vestida em trapos de panos!
Deus de todas as raças, de todas as categorias e dos mundos! Lançai vosso brado nas praças, amenizai as alegorias e acautelai os furibundos!
Vós, Senhor Deus! Que num penedo transfiguraste-vos em luz tende piedade dos meus, em nome de Jesus! Que a luz irradiada se desdobre em matizes e componentes, pra que a nossa pobre gente negra sinta a Liberdade!
Toda luz é uma mistura de cores, passando pelo branco e pelo negro na pele da criatura: semente dos vossos louvores!
Deus, meu Deus!  Por qual razão os meus, que só tem de vós a imagem, insiste em ter o pobre e o negro na vassalagem, na miséria e na discriminação? Será que para os segregadores só há valorização da pele envoltório da matéria?
Até nos infernos, decantado pelos prosadores, as fauces dos internos são iluminadas pelos fulgores da fogueira eterna, numa mistura de brasa vermelha, carvão preto e corpo suarento que, na cisterna do lamento: hiberna!, Entretanto, mesmo naquele local infernal, existe a luz da fogueira imemorial, clareando a escuridão do sofrimento e do mal!
Branco, oh... Branco! Vossa miséria de sentimentos vos faz esquecer que tem no intestino um cranco de fezes em matéria purulenta de negros sedimentos!
Será que o catarro que esvai dos beiços do crioulo é mais nojento que o escarro que flui do miolo dos lábios do branco?
O sangue vermelho do preto sadio irriga seus brancos ossos e a negra pele... Sem discriminação! Quando é necessário, o mesmo sangue esquece o relho antigo e vai correr nas veias do branco em doação, nesse caso, o branco aceita sem vacilar por estar no umbral da morte e tal sangue crioulo o irá salvar!
Meu Deus!  Que a vossa bondade perene nos dê luz no coração em suave Liberdade solene estribada nos ensinamentos de Jesus! Que essa luz nos ilumine a alma e o sentimento para os argumentos seguintes:
Nem só na África existiu o racismo, ele aconteceu no Marxismo, no nazismo da Alemanha, no comunismo e, também, no Cristianismo de barganha! O escarro que Jesus recebeu no rosto e que foi o seu vestibular a caminho do calvário, não tinha cor nem gosto, no entanto, os lábios que o defecaram eram rosados e de um branco em desvario!
*
"A Liberdade, como as abelhas, têm mel e ferrão!" para sermos felizes devemos utilizar o mel, a infelicidade e as cadeias têm por fulcro a utilização do ferrão!
"A LIBERDADE NÃO É NADA SEM O ECO QUE A MULTIPLICA!"
"A liberdade de cada um começa exatamente onde acaba a do seu semelhante".


Autor: Sebastião Antônio Baracho


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