Resenha - Política e Educação de Paulo Freire



RESENHA - POLÍTICA E EDUCAÇÃO

FREIRE, Paulo. Política e Educação. São Paulo: Cortez Editora, 7ª edição, 2003, 119 p.

O educador Paulo Régis Neves Freire, nasceu em 19-09-1921 na cidade do Recife. Foi alfabetizado pela mãe, que o ensinou a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal de casa da família. Foi um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. Doutor "honoris causa" por 28 universidades é autor de vários livros nos quais conquistou grande repercussão. Foi secretário de educação na Prefeitura de São Paulo entre 1989 e 1991. Por causa do Regime Militar, viveu fora do Brasil de 1964 a 1979. Esteve no Chile e nos Estados Unidos lecionando na Universidade de Harvard. Também foi professor da Universidade de Genebra na Suíça. No Brasil, após o exílio, foi professor da Faculdade de Educação da Unicamp e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

Em seu livro Política e Educação ? publicado no início dos anos 90, Freire constitui uma das suas mais importantes reflexões enquanto pensador da educação. Nos textos reunidos, as marcas do anti-dogmático enfatiza a importância da educação através de um convite à reflexão político-pedagógica ? escritos no decorrer de 1992 e discutidos em reuniões realizadas tanto no Brasil quanto em outros países.

Os textos contidos nesta obra revelam o pensamento freireano no sentido de abordar aspectos concernetes à construção crítica e politizada do saber individual. Trata a educação para além da sala de aula, relaciona-se a todo um contexto de opressão social e ausência de democracia. "Para Freire, cidadão significa ?indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado". E cidadania "tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão". É assim que ele entende "a alfabetização como formação da cidadania" e como "formadora da cidadania".

Fala do seu método que foi criado baseado na vivência que o aluno trás para a escola, onde se inicia por palavras do cotidiano, palavras ligadas a sua realidade. Esse método faz com que o educando se reconheça em seu próprio meio e assim, seja capaz de mudar a sua realidade. Deste modo, segundo o autor, a tarefa de educar não consiste em apenas transmitir conhecimentos, mas ser a ponte entre o aluno e o saber, usando a educação como instrumento de liberdade e autonomia.

Nesse sentido, a idéia política já vem dessa interação professor-aluno. O educador que rejeita o modelo autoritário de política deve ser democrático em sala de aula, para que esta se constitua num espaço de vivência das idéias nas quais acredita. Respeitar a vivência fora da escola do aluno e entender que é através dela que se iniciam as transformações do mundo. Isso, o autor chama de leitura de mundo, por que ele entende que antes de freqüentar os bancos escolares o aluno possui uma realidade e isso pode ser aproveitado e mudado de modo que a transformação ocorra para melhor.

Nesse sentido, a educação e a pedagogia para Freire, sempre estiveram carregados de uma politicidade, ou seja, a prática educativa e a reflexão sobre essa prática eram considerados atos políticos: de escolha, de decisão, de luta entre contrários, de conquista de cidadania negada.

E assim, o autor mostra a inseparabilidade do político com o educativo e a preocupação com a definição das respectivas especificidades. Deste modo, Freire demonstra sua preocupação na necessidade de formação política do educador popular como educador-educando.

Assim, como processo de conhecimento, formação política, manifestação ética, procura da boniteza, capacitação científica e técnica, a educação é prática indispensável aos seres humanos e deles específica na história como movimento, como luta. Para o autor, a história não prescinde da controvérsia, dos conflitos que, em si mesmos, já engendrariam a necessidade da educação.

Por fim, o autor conclui externando o seu desejo de se fazer entendido e ainda que ficará profundamente satisfeito se os textos escritos nesta obra provocarem os leitores no sentido de uma compreensão crítica da história e da educação.

A obra é composta por 11 textos nos quais em dez deles existe um eixo temático que atravessa a todos: A reflexão político-pedagógica. Isso faz com que de certa maneira, aconteça uma unificação e um equilíbrio enquanto conjunto de textos. Revela faceta já conhecida do pensamento freireano, aborda aspectos concernentes à construção crítica e politizada do saber.

A obra tem como característica especial a conscientização político-pedagógica centrada na liberdade e na autonomia do ser, propondo a politização da educação.

O conhecimento precisa ser reconhecido como uma produção social, que resulta da ação e reflexão, da curiosidade em constante movimento de procura. Portanto, para o entendimento da obra é importante que o leitor esteja aberto a essa concepção pedagógica transformadora. Haja vista ser interessante ter uma opção política que interaja com a prática pedagógica. Uma pessoa firme, que sabe o que quer e que esteja sempre em estado de busca.

Na minha concepção, a práxis freireana possui todos os méritos, como não poderia deixar de ser, essa obra também alcançou repercussões de dimensões inimagináveis, já que de maneira ampla e diversificada, suas idéias alcançam a todos e todas que estão abertos a mudanças e em busca de construir a cidadania para cada um e para todos.

A Obra Política e educação é um convite a compreensão crítica da história e da educação. Proporciona a politização, a conscientização e indica caminhos para a libertação.

Indico esta obra a educadores, educandos e profissionais das áreas das Ciências Sociais, Letras, Pedagogia, Psicologia, Jornalismo, Serviço Social e inúmeros outros estudiosos e estudiosas que estejam abertos a beber dessa fonte que nos convida a uma nova tomada de posição em busca do ser mais.
Autor: Adriana Soely


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