Memórias Natalinas



Memórias Natalinas
Sueli Brás Monteiro da Palma
Como na escrita de um texto, é hora de colocar um ponto final...2010 acabou. É dezembro! Ruas, lojas, prédios e casas enfeitados lembram-nos que é hora de reunir a família e os amigos para comemorar o nascimento de Jesus. Sempre ouço dizer que o Natal não é mais o mesmo. Sim, mudou muito, mas as músicas, os rituais e os símbolos natalinos continuam a envolver-nos de maneira indescritível. Cada um com sua mensagem de vida, de paz e de união. Nesta época, lembro-me dos Natais de minha infância e, numa reflexão machadiana, pergunto-me: "mudaria o Natal ou mudei eu"?
Na casa de meus avós maternos, montavam um belo e grande presépio de papel pedra no canto da sala, bem em frente à porta. Todos que por ali passavam olhavam, meditavam e contemplavam-no cientes de que "uma criança adormecida não pede festas, pede silêncio e tranqüilidade"(RUBEM ALVES). Décadas se passaram e a pedagogia do presépio continua muito viva em minha memória: lição de solidariedade e a beleza na simplicidade. E ao lembrar-me disso, retorno a minha infância...e volto a ser criança: ouço as minhas próprias risadas, conversas de meus avós, vejo, num canto, meus pais conversando, sinto o cheiro das carnes preparadas por meu avô...(que delícia!); deixo-me levar pelas minhas lembranças, minhas emoções... Hoje, há muitas cadeiras vazias em torno da mesa.
Com meus pais, seu José e dona Olga, aprendi a importância de Natal, ao vê-los arrumar a casa para celebrar a festa mais importante do cristianismo. Meu pai não passava um fim de ano sem dar um "trato" na casa (pintava por dentro e por fora, enfim dava uma geral). Depois, vinha minha mãe com sua habilidade dando o "acabamento": cortinas, arranjos, enfim, uma verdadeira festa. No canto da sala, a tradicional árvore completava a decoração que ficou ainda mais bonita e alegre, depois que vieram os netos, dizia meu pai. O verdadeiro espírito de Natal estava em toda essa trajetória, até chegar o grande dia. Acabada a festa, como demorava para chegar outro Natal! Casei-me e levei comigo esse hábito; fim de ano que não faço uma mudança na minha casa, ah... não tem graça! Hoje, pergunto-me: por que teria Machado de Assis feito a pergunta: mudaria o Natal ou mudei eu? Teria ele o mesmo sentimento que tenho hoje? Natal, minha gente, continua o mesmo; a essência da festa é a mesma. Mudamos nós, mudou o mundo. As ceias, por exemplo, são encomendadas ( em muitos lares, não há mais o cheiro dos assados, dos doces); as pessoas muito próximas virtualmente, mas muito distantes no dia a dia; os presentes cada vez mais difíceis de escolher (mundo em que tudo é rapidamente descartável). Nesta época, há, em mim, uma mistura de alegria e de tristeza: não deixarei para meus filhos tantas recordações, tantas lembranças de situações vivenciadas com tanta alegria, com tanto sentimento e tanta VIDA como as que presenciei ao longo de minha infância e adolescência.
É Natal, mais uma vez... as risadas dos papais noéis invadem as ruas. O colorido toma conta das cidades. Já estamos em meados de dezembro. Olho para minha sala ainda sem enfeites natalinos. Olho para meu vaso, no canto da sala, esperando pelo pinheirinho todo enfeitado. Penso nos meus pais. Penso na tristeza de ver minha sala sem a árvore de Natal. Penso na simbologia do pinheiro: faz-me reviver momentos singulares de minha vida guardados há muito tempo num cantinho da memória. Penso. Penso e pergunto: E agora, José? O povo sumiu, o riso acabou...Pelo menos, se você viesse...Mas você não vem! Só me resta o silêncio que torna a saudade menos dolorida. É Natal... enfeitar a casa é preciso, afinal, aprendi com você, José. Arrumo minha árvore. No canto da sala, há um pinheirinho todo alegre cujos enfeites retratam a verdadeira mensagem de Natal : daqui a uns dias tudo voltará a nascer. Mudou o mundo. Mudamos nós. Mudou o cenário, enfim... mas a essência do Natal não mudou

Autor: Sueli Brás Monteiro Da Palma


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