ENSINO DE LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO MÉDIO: POR QUE NÃO?



Jardel do Carmo Magalhães



RESUMO
O presente artigo trata das literaturas de língua inglesa enquanto fator relevante à exposição de alunos a uma nova cultura, dando ênfase à importância e aos caminhos a serem percorridos no ensino da mesma no Ensino Médio, para que se possa habilitar indivíduos/sujeitos pensantes e críticos. Pontua-se a importância de se falar em literaturas, de forma pluralizada, e não mais como termo singular, tendo em vista as crescentes e divergentes manifestações culturais. A problemática se estabelece em relação ao não ensino destas literaturas para estes estudantes do segundo grau, uma vez que para estes ficam condicionados apenas o ensino da gramática e técnicas de memorização de terminologias. Há também o questionamento acerca do aprendizado de literaturas de língua inglesa nos cursos de Letras/Inglês, uma vez que muitos dos que formam nesta área não tem para quem ensinar, ou pelo menos lhes faltam oportunidades e um suporte político-educacional. Por todas estas questões estarem presentes neste trabalho, a fim de se ter maior referencial teórico e epistêmico possível, procurou-se embargo em escritores e estudiosos, pátrios e estrangeiros, que se fundamentam no ensino/aprendizagem de literaturas de língua inglesa como de fundamental importância tanto para a vida acadêmica de estudantes de Letras, quanto em áreas afins, assim como para os estudantes-foco tratados por este artigo.

Palavras-chave: Literaturas. Língua inglesa. Ensino Médio.

INTRODUÇÃO

O conhecimento é uma construção social. Portanto, a indagação, a necessidade de responder nossas inquietações e a busca pelo saber estão condicionadas à pesquisa consciente e compromissada.
Faz-se presente aqui neste trabalho acadêmico a instigação de produzir conhecimento e a importância de ampliar a prática da pesquisa que tem como consequência, a demonstração de todos os objetivos procurados, que é a socialização do trabalho em público.
A importância da literatura na vida e no aprendizado do ser humano é de grande valor, visto que ela possibilita, dentre diversas outras importâncias, o poder da arte, a arte de escrever, ler, interpretar o mundo, conhecer uma (nova) diversidade cultural, provocar emoções. Assim, a literatura é uma forma de humanização do homem. Por estes motivos é que se ensina literatura no Ensino Médio. Ou pelo menos estes deveriam ser os propósitos precípuos.
É fácil de perceber nas escolas de segundo grau ao longo do país que o ensino de literatura portuguesa é, esparsa e obrigatoriamente desenvolvido. Mas a função deste trabalho, além da de realçar as importâncias do contato literário, principalmente no meio escolar, e a priori do contato de estudantes do segundo grau, é o de expor, e questionar o porquê de não se difundir e/ou não se valorizar e incentivar o ensino de literaturas de língua inglesa nessas escolas, sejam elas públicas ou privadas.
Grife-se a importância de se falar em literaturas de forma pluralizada, pois consideramos os vastos campos que elas exercem , assim como as diferenças culturais, sociais e históricas que faz com que isso ocorre nas mais diversas nações. Pois, nota-se que assim como as diferenças lingüísticas acometidas em uma mesma língua, como a exemplo das divergências ocorridas na língua inglesa na Europa, na América ou na África, as literaturas dessas mesmas línguas se difundem em diversas vertentes, esparsamente.
Na defesa do ensino da mesma, compara-se aqui a leitura e divulgação cultural dos clássicos de língua inglesa e as novas ficções, amplamente conhecidas pelos jovens ? e não aceitas como literatura por maioria dos críticos literários da atualidade ? dentro e fora da escola, seja por filmes, leitura ou disseminação cultural de grupos sociais.
Portanto, fazem-se necessárias amplas discussões acerca destas questões tão presentes no cotidiano docente, que podem gerar dúvidas e (pré)conceitos diversos, o que acarretando o que poderia se chamar de atraso no ensino, ou deficiência na busca por novas melhorias nas práticas educacionais, sob foco do ensino de língua e literaturas de línguas inglesas.

1. OBJETIVO DO ENSINO DE LITERATURA(S)

Ao considerarmos a famosa definição da literatura como "arte da palavra", somos levados a partir de um princípio, que a mesma tem uma linguagem própria, na qual leva o indivíduo a entender melhor o sentido de sua vivência, sendo este motivado a se apoderar de novas experiências e expectativas.
Observa-se que a literatura conduz o ser humano a uma nova dimensão da vida, onde ele aprende a formular um pensamento critico próprio e inventivo, compreendendo o mundo, transformando-o segundo seus conhecimentos em contato com a obra literária, e principalmente, passando por um processo de humanização de si mesmo.
É de suma importância entender que a literatura, tal como é, em uma gama de possibilidades, é fundamental como elemento propulsor no ensino, sendo compreendida como uma linguagem social e interacional. Partindo da concepção da literatura como prática social, que está intimamente ligada ao contexto histórico e sócio-econômico, torna-se notório, assim como nos mostra Letícia Malard (1985, p. 16), que "relacionar a literatura a seu contexto externo é compreendê-la como um trabalho humano, que tem a sociedade como matéria prima e a língua como instrumento imprescindível".
Na busca pelas propostas de ensino da literatura em relação à humanização do indivíduo, nos deparamos com possibilidades que a mesma traz sobre o leitor, seja no olhar ou no sentir.
Tendo como objetivo aprimorar intelectualmente o aluno, formando neste, um espírito crítico e ativo em aspectos tanto sociais, quanto políticos ou emocionais, o ensino da literatura busca retratar e recriar as questões humanas universais, numa linguagem esteticamente trabalhada, transgressora da rotina cotidiana. Isto é compreendido na confirmação de Malard, que diz que:
Se entendemos a literatura como visão de mundo, prática social, invenção a partir de uma realidade concreta com a palavra trabalhada, um dos objetivos de seu ensino é fazer surgir ou aperfeiçoar o espírito crítico do estudante, em relação ao mundo real (1985 p.17).

É válido ressaltar que a literatura desenvolve a criatividade humana, fazendo o indivíduo refletir a passividade própria de uma sociedade dominadora. Pode-se afirmar que seu ensino desenvolve no indivíduo uma visão que ultrapassa os valores impostos pela sociedade, fazendo com que este tenha um reflexo da realidade através de leituras que realmente promova conhecimento de mundo. Acrescendo neste, disposições essenciais para a formação de um leitor autônomo e competente.
É certo que o aprendiz no contato com os textos literários que trazem aspectos característicos de dadas épocas e momentos sociais, consiga estabelecer uma relação entre os fatos históricos passados e da contemporaneidade, promovendo uma reflexão dos papéis atribuídos aos indivíduos e as identidades que são construídas no decorrer da existência humana, imprimindo assim, marcas expressivas de determinada geração.
Na reflexão sobre os objetivos do ensino da literatura, compreende-se que o contato com esta, desenvolve no indivíduo o uso da linguagem em formas diversas, onde este passa a construir discursos bem elaborados estando em contato com elementos linguísticos que visa à expressão de sentimentos e idéias de maneira clara e coesiva. Além disso, como uma modalidade privilegiada de comunicação, possibilita a instauração do diálogo entre textos e leitores de todas as épocas, visando à compreensão do individuo em relação aos valores de determinados contextos sociais.
Nas perspectivas de Roberto Cereja (2004), a literatura designa a aquisição de habilidades de leituras de textos literários de épocas, que possibilita ao aprendiz a compreensão e o conhecimento tanto da cultura de seu país quanto de outros povos e nações. E, além disto, permite o aprimoramento da língua culta, de suas capacidades expressivas, artísticas e interpretativas, promovendo também, o diálogo entre textos de diferentes épocas e autores.
É sabido que, o ensino da literatura contribui efetivamente para o desenvolvimento da capacidade leitora, indispensáveis a vida profissional e ao exercício da cidadania. A finalidade desta é acima de tudo, gerar no aluno habilidades básicas de análise e interpretação de textos literários, tais como levantamento de hipóteses interpretativas, considerando os recursos, tanto estilístico quanto semânticos e expressivos.
Diante de uma perspectiva educacional e social que visa à tecnologia e a competitividade, vê-se que a literatura tem como papel formador pedagógico, em síntese, uma função de "humanizar", exercendo-a de forma a enriquecer a percepção e a visão do aluno para com o mundo.
Partindo da premissa de que o melhor caminho para se aprender a literatura é a leitura, torna-se válido afirmar que seu ensino conduz à compreensão dos fatos literários dentro do contexto sócio-econômico e à capacidade interpretativa. Ao passo que este entende que o ensino da literatura está atrelado ao intento de formar alunos capazes de manipular palavras em busca da perfeição expressiva e/ou comunicativa.
É sabido que o ensino da literatura integra a prática social no aluno, formando-o culturalmente, para que este compreenda a importância do saber numa sociedade tipicamente consumista. A atuação da literatura no ensino é promissora, vista através de seu poder de persuasão, de modificar o pensamento e o comportamento do homem, exercendo simultaneamente a expressão individual-social, bem como a comunicação deste homem com seus iguais.
Evidentemente, o exercício dos objetivos de ensino literário na tentativa de conduzir o aluno à experimentação, influenciando-o viver na leitura novas formas de pensar, agir e relacionar-se com o outro. Nestas perspectivas, compreende-se que o ensino da literatura influência e desenvolve no aluno inquietações acerca do mundo circundante, mais sensibilizado às situações que o envolvem, e consequentemente preparado para atuar como elemento transformador de sua realidade.


2. LITERATURAS INGLESAS NO CURSO DE LETRAS: APRENDER PARA ENSINAR A QUEM?


Nos cursos de Letras de língua inglesa, em muitas universidades do Brasil, sejam elas públicas ou privadas, nota-se a obrigatoriedade que o graduando tem acerca do estudo e aprendizagem tanto da língua quanto de literaturas desta.
Diferente não poderia ser, uma vez que esse paralelo existente entre língua e aprendizagem é de suma importância na construção crítica do futuro docente. Assim, ele recebe diversos mecanismos para a prática da docência.
Mas, notadamente o que se tem visto nas universidades é que os alunos do curso de Letras de língua inglesa estão cada vez mais despreparados ou não conhecem necessariamente as literaturas que deveriam dominar para posterior ensino. Nisto se fundamenta a questão: por que isto ocorre? Onde está(ão) o(s) problema (s)?
Primeiramente é importante desvendar as realidades sociais, econômicas e culturais destes graduandos, uma vez que muitos deles nunca tiveram, também, contato, ou pelo menos um contato mínimo com literaturas em casa, no segundo grau ou em seu grupo de convivência. Assim, chega-se à conclusão que muitos graduandos chegaram na universidade, no curso em debate, sem conhecer a real importância do estudo literário.
Depois, muitas universidades não oferecem um ensino compatível e diferenciado, capaz de fazer com que os graduandos possam se desenvolver no mundo das literaturas. Os fluxogramas de muitos cursos não tem relação lógica para o ensino literário, o conteúdo visto deixa à mercê do tempo disponível em carga horária, faltam-se professores, a não identificação do graduando com as disciplinas correlatas, dentre diversos outros fatores.
Mas além destes outros problemas, existe outro maior: para quem o licenciado em Letras de língua inglês também habilitado para literaturas inglesas vai ensinar? Onde ele vai ensinar? Com que apoio metodológico e didático? E para que realidade de estudantes ele vai ensinar?
Essas questões, sem dúvida são as mais problemáticas na vida de um docente da área. As que parecem ser mais difíceis de resolver. A que necessitariam de toda uma mudança radical na forma de ensino.
Num primeiro momento, faz-se importante ressalvar que assim como houve estudantes de Letras de língua inglesa que se depararam com um problema chamado literatura inglesa na universidade, há também os alunos do Ensino Médio, e quase sempre maioria, que vêem o mesmo problema, se expostos, às vezes de uma forma pior.
Isso ocorre, dentre outros fatores por que as escolas não se prepararam ainda para receber esse novo conteúdo de forma positivo. Por tanto, o ensino abusivo e pedante de regras gramaticais e expressões de língua inglesa decorativas vai continuar a ser o mais difundido no Ensino Médio, em detrimento de um ensino gramatical associado a produção textual e leitura literária de literaturas inglesas.
Em se tratando de apoio metodológico e material didático, os que temos presentes nas escolas de Ensino Médio são ainda muito pobres ou escassos quando se trata de ensino/aprendizagem de literaturas de língua inglesa. Na realidade, o que ocorre é que não existem livros didáticos de língua inglesa gratuitos para o Ensino Médio. Isto faz com que os professores ou alunos trabalhem de formas diversas, com materiais diversos, à vezes até não recomendável.
Mas ainda é necessário expor a realidade de muitos alunos do Ensino Médio que nunca tiveram contato com a literatura inglesa ? à vezes nem com a materna ?, que vem de realidades sócio-econômicas e culturais diferentes dos demais e que se perguntam para que aprender literatura de língua inglesa. O pior é que muitas vezes esses mesmos alunos deixam as escolas se entender a real importância.
Outro ponto problemático e interessante de se observar é a diferença de ensino praticada por muitos docentes licenciados em língua inglesa: ensinam para uns e para outros não. O que queremos observar neste ponto é que muitos professores não ensinam literaturas de língua inglesa no segundo grau, mas ensinam em escolas particulares.
Quando questionados dos porquês, sempre vem à baila os motivos já citados anteriormente, ou maior interferência dos pais nas escolas particulares, e com isso a cobrança para com os professores e também de uma melhor metodologia aplicada para o ensino particular. Então, eis a questão: por que esta bimentalidade ou bidirecinamentos de um mesmo professor em relação a um ensino de mesmas séries?
Para todas essas questões analisadas, deve-se buscar uma melhor forma possível para que possamos abrir esse universo de importância que é o conhecimento de literaturas de língua inglesa para nossos alunos, ao menos no Ensino Médio, ora vista que não há nada mais gratificante no meio docente do que se sentir realizado quando seus alunos se realizam intelectualmente.


3. OS CLÁSSICOS DE LITERATURAS INGLESAS E AS NOVAS FICÇÕES


Ao pensarmos no que são os clássicos, uma idéia imediatamente vem à cabeça: A imortalidade. Ítalo Calvino nos conta que um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. E essa perspectiva nos conecta a uma dupla necessidade: histórica e conceitual. Histórica, porque ler um clássico é manter-se em diálogo contínuo com o passado, com a tradição. Conceitual, porque sempre que lemos um clássico, incorporamos nuanças novas em nossa própria abstração contemporânea.
Uma obra clássica consegue fazer-se nova em seus argumentos, sua metodologia ou em sua poética. Quando pensamos em Max Weber, em Karl Marx, ou em George Simmel como clássicos estamos apostando em sua re-significação, mas também identificamos nestes autores uma vitalidade que ajuda-nos a mantermos um olhar vivo sobre o nosso próprio tempo.
Muitas das idéias, dos exemplos e dos casos de algum destes autores podem ter sido esquecidos pela história e não ter sentido nos dias de hoje. Mas algum traço metodológico, um conceito, um modo de recortar o objeto e construí-lo em ciência permanece em sua obra. Ler um clássico, então, é postular alguma dignidade no gesto de pensar o mundo em suas conturbadas relações social, culturais, econômicas e políticas. É manter uma dignidade intelectual com o passado e uma consciência de sabermos que não estamos sós ao pensarmos o presente.
Estamos sempre contando para nossos filhos, nossos netos, sempre repassamos as leituras dos clássicos, pois esta nunca se acaba. Sempre surgem novas visões que vem se aprimorando ao longo do tempo. De acordo Ítalo Calvino, "toda leitura de um clássico é uma leitura de descoberta". Ou seja, cada releitura nos torna uma surpresa que dá muita satisfação de descoberta de uma origem, revelando algo novo que não havíamos descoberto antes, revela fatos novos e inesperados.
Os clássicos muitas vezes nos remetem a outra idéia, que são obras difíceis de se ler, principalmente quando se trata dos universais. Que segundo Ítalo Calvino, para lermos os clássicos temos que definir "de onde" eles são lidos, caso contrário tanto o livro quanto o leitor se perdem "numa nuvem atemporal".
São universais por tratarem de temas universais que norteiam a literatura mundial: os grandes conflitos humanos, as grandes paixões humanas, o adultério, a falsidade, assassinato, dentre outros. Diferentemente dos que os outros romances trazem, aborda apenas um desses temas e dão rumo à história.
O professor por sua vez deve ler os clássicos e estimular os alunos à leitura destes. O professor deve ajudar a entender e mergulhar nas narrativas, entendendo, portanto o desafio em saber trabalhar com os clássicos em sala de aula. Assim, observa-se o que recomenda Heloísa Cerri Ramos, especialista em Língua Portuguesa, e formadora do projeto de Letras de Luz, da fundação Victor Civita:

O ideal é utilizar meios que ajudem a seduzir os alunos. A exibição de vídeos baseados nas histórias do autor pode ajudar. Porém o mais importante é o professor contar a relação que tem com a obra, ler trechos dos quais possam falar com paixão e entusiasmo, mostrando os encantos (literários ou não), que chamaram a atenção, as conversas com amigos que ela se identificou e descobriu sobre si mesmo em cada personagem. (2008, Edição 215)

Mas como exigir que os alunos leiam os clássicos quando mal conseguem ler um artigo de jornal? Infelizmente essa vem sendo uma das realidades percebidas na maioria dos alunos de ensino médio, que na maioria das vezes trabalham o dia todo sem ter disponibilidade de tempo para leituras.
O professor por sua vez, poderia incentivar o aluno nesta tarefa, aumentando a eficiência de uma análise literária por parte dos alunos. Por exemplo, o trabalho com poesia em sala de aula.

Pode-se ao invés de trabalhar com Shakespeare, trabalhar também com o Shakespeare poeta. Alguns sonetos podem ser copiados para lousa e analisados, em um processo analógico, observando o vocabulário envolvido e outros temas que os alunos tiverem em teoria literária ou têm em literaturas de língua inglesa. (Guilherme Fromm, 2005. pag.2).

O grande problema dos clássicos, principalmente da língua estrangeira, são suas adaptações na qual, muitas restrições são feitas, pois nem sempre os clássicos são uma tradução daquilo que realmente é a obra.
Têm clássicos que são traduzidos, já outros são adaptados. Esses adaptados muitas vezes com licença literária muito grande acabam mudando o enredo, suprimindo personagens, mudando o final da história, e isso não é favorável, pois distancia da obra original, tornando outra obra. Por exemplo, ao se propor uma leitura de uma obra de Shakespeare, tem que ser Shakespeare, na verdade você pode discutir em como trabalhar este autor, de que modo trabalhar, mas dizer que uma obra de 200 páginas adaptada para uma obra de 60 páginas, com mudanças radicais no enredo é muito diferente.
Deve-se ter um cuidado imenso, e ser bem analisado, pois ao fazer essa adaptação mudanças radicais são percebidas. Então, trabalhar os clássicos integrais tanto nacionais quanto estrangeiros, com uma boa tradução, adequada ao jovem é uma questão muito importante, e o vocabulário, a seleção do vocabulário, as construções sintáticas, tudo muito bem adequado é ideal para trabalhar com os jovens especialmente no ensino médio.
Ler os clássicos para os jovens de hoje não faz diferença, pois pouco é ressaltada a importância de se ler, por exemplo, as peças de Shakespeare, orgulho e preconceito de Jane Austen, Crepúsculo de Stephenie Meyer, As Crônicas de Nárnia, de autoria de Clive Staples Lewis, dentre diversas outras.
A maior diferença e importância para estes alunos são atribuídas à obrigação da leitura, às exigências com relação à expressão do que se leu, e ainda ao tratamento da leitura a partir de determinado tema. As diferenças ou pontos importantes remetem às dificuldades e à falta de hábitos de leitura que podem ser localizados em parte na formação escolar deles. O desconhecimento da literatura, e, portanto, dos autores, faz com que não sejam reconhecidos como "clássicos". Ainda que parte significativa dos alunos declare gostar da obra lida, o fato de ser "clássico" não é valorizado.
Muitos os lêem sem analisar, o autor. Lêem mesmo por influência de amigos, ou por ser obras que estão em auge, na moda. Na verdade, muitos conhecem a história por ter visto filmes adaptados, que por sua vez também possui imensas diferenças, bem distantes da original.
Outra questão importante a ressaltar é a leitura de ficções, por parte dos alunos, que não são considerados pela crítica literária como literatura. Muitas das explicações da não consideração se fundamentam na questão da linguagem, nos aspectos linguísticos, na falta atemporalidade da obra, acerca dos personagens, temas tratados, dentre outros.
No entanto, não é nosso trabalho aqui, criticar de forma negativa a leitura das novas ficções pelos alunos de ensino médio, com quanto pensamos que ela abre rumos de leituras diversificadas, novos conhecimentos, e outros aspectos, tais quais os fomentados pelas leituras dos clássicos. Sendo assim, Ítalo Calvino aponta muito bem a questão de se ler e se conhecer as obras clássicas, pois estes servem para entender quem somos e aonde queremos chegar.
No entanto, o prazer da leitura dos clássicos deve ser resgatado e incentivado, principalmente aos jovens de ensino médio, pois antes do gosto, ler um clássico possui um valor social. Deve-se conhecer a melhor literatura simplesmente porque isso configura um padrão de cultura e de civilidade. Os clássicos em sala de aula devem ser resgatados, e absorvidos de uma maneira muito especial. Porque "a juventude comunica ao ato de ler como a qualquer outra experiência um sabor e uma importância particulares; ao passo que na maturidade apreciam-se (deveriam ser apreciados) muitos detalhes, níveis e significados a mais", definiu Calvino (1993, p.10.) E este é o papel da escola: possibilitar o acesso à ficção de qualidade de forma prazerosa. Afinal, ler clássicos desperta o gosto pela viagem, pela imersão no desconhecido e pela exploração da diversidade.


4. A IMPORTÂNCIA E NOVAS PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DA LITERATURA INGLESA NO ENSINO MÉDIO


As aulas de língua estrangeira devem possibilitar ao aluno o reconhecimento e a compreensão da diversidade lingüística e cultural, engajando-o discursivamente a fim de que, criticamente, possa construir significados em relação ao mundo em que vive. O texto literário pode ser um excelente recurso para que isso ocorra, considerando que, por meio da Literatura é possível promover reflexões sobre questões de poder e as ideologias dominantes presentes na sociedade, auxiliando para a formação de um indivíduo crítico, capaz de construir significados, respeitar e reconhecer diferentes culturas.
Entretanto, em trocas de experiências com professores de Língua Inglesa da rede Estadual de Ensino, percebe-se que há, praticamente, a exclusão do texto literário nas aulas no Ensino Médio, normalmente justificada pelos seguintes fatores: o grande número de alunos em sala, a carga-horária limitada da disciplina, a falta de interesse dos alunos pela literatura, não somente em Língua Estrangeira, mas também em Língua Materna, a carência de materiais de apoio, além das dificuldades em relação aos conhecimentos linguísticos dos educandos.
Entende-se que essas dificuldades ocorram em qualquer contexto, não somente em relação à abordagem da literatura, porque, independentemente do gênero textual ou do conteúdo a ser ministrado, as mesmas questões são apresentadas e, apesar delas as aulas são de alguma forma desenvolvidas.
Diante disso, é correto afirmar que é possível explorar a literatura no Ensino Médio, haja vista que, além de auxiliar na aprendizagem da língua, permite como qualquer outro texto, a aplicação de conhecimentos linguísticos anteriormente adquiridos e promove também a oportunidade de discutir-se temas relacionados à vida, que contribuirão para a formação integral do indivíduo. Collie & Slater (1987) defendem que ao ser exposto ao texto literário, o aluno se familiariza com estruturas variadas que constituem a língua as quais se manifestam de forma diferente na literatura, permitindo o desenvolvimento da prática de escrita.
A Literatura possibilita também o trabalho com a oralidade ao promover a exploração de opiniões a respeito dos temas discutidos ou ainda ao apresentar uma parte de uma peça teatral.
A literatura também pode ser levada pra sala de aula por meio da compreensão auditiva, pois se percebe que ao explorar atividades com CDs, ao assistir adaptações de obras literárias para o cinema ou, até mesmo a leitura em voz alta de um poema feita pelo próprio professor, o aluno se interessa cada vez mais no mundo da literatura inglesa.
Outro ponto relevante no trabalho com a literatura é o enriquecimento cultural, porque através do texto o educando terá contato com um mundo diferente do seu, com épocas diferentes, autores diversos, possibilitando o reconhecimento de que existem culturas diferentes. E um dos objetivos principais do estudo da literatura é, de fato, ajudar os alunos a apreciarem, entenderem e também reconhecerem outras culturas.
Desta forma, faz-se notório que:

Muitos aprendizes de língua estrangeira não têm a oportunidade de visitar o país em que a língua é utilizada, a fim de aprofundarem-se no conhecimento, não só da língua, como também da cultura daquele país, nesse caso, o texto literário apresenta-se como uma janela a qual permite ao aluno acesso ao modo de vida e aos valores dos falantes nativos da língua. (COLLIE & SLATER, 1987, p. 5)


Ao se explorar o texto literário, é importante ressaltar que as tecnologias favorecem o uso de recursos alternativos, não limitando a aula ao estudo do texto escrito, porque há a possibilidade de se analisar vídeos em que poemas são interpretados, produções de cinema que são adaptações de obras literárias, as quais também poderão ser discutidas; além da produção de peças de teatro ao estudar os grandes dramaturgos como Shakespeare, por exemplo.
Além de explorar a imaginação e enriquecer a aula de língua estrangeira, a exploração das peças teatrais colabora para a interação do aluno com o grupo, desinibindo-o e estimulando a autoconfiança. Às vezes o professor se preocupa com os critérios a serem observados ao escolher o texto literário para uma determinada turma. Aebersold e Field (1997) sugerem que:

[...] para a seleção do material, o professor deve considerar, conforme cada grupo: o aspecto cultural, possibilitando o uso do conhecimento prévio do aluno, esse fator também é destacado por Lazar (2005, p.14) ao referir-se a "literary background", isto é, o conhecimento que o aluno apresenta a respeito da literatura.

Outro aspecto a ser considerado é a relevância do tema para a vida do aluno, isto é, ter em mente os seus interesses, hobbies, maturidade intelectual, e, finalmente, o nível de linguagem empregado, ou seja, a proficiência linguística do aprendiz, o qual precisa entender, no mínimo, as estruturas básicas da língua.
Ao oportunizar o acesso ao texto literário nas aulas de inglês, o professor também poderá articular a relação dessa disciplina com outras do currículo de Ensino Médio, por exemplo, Língua Portuguesa, Artes e História, propondo atividades ou projetos interdisciplinares que contribuam para a equidade no tratamento da disciplina de Língua Inglesa em relação às demais, fazendo com que o aluno perceba que conteúdos de disciplinas distintas podem estar relacionados.


CONCLUSÃO

Já em atenção ao que foi visto, percebe-se que o ensino de literaturas, a priori, as de língua inglesa, assume sempre suma importância, pois além de se desenvolver a comunicação, o desenvolvimento crítico dos leitores, criar mecanismos linguísticos para a interação comunicativa, possibilita aos mesmos o conhecimento de uma nova cultura apenas pela leitura literária.
Assim, compreendemos que tanto os clássicos quanto as novas ficções ? estas infelizmente não aceitas como literatura por muitos críticos modernos ? vem contribuir e subsidiar a aprendizagem e ampliar o conhecimento de mundo tanto de estudantes do ensino médio quanto de estudantes do curso de Letras de língua inglesa.
Ao longo deste trabalho, foi possível perceber as fortes influências socioculturais que as literaturas exercem nos ambientes humanos. Realizá-lo, impulsionou-nos de forma objetiva e compromissada a buscar e compreender as diversas vertentes que fazem das literaturas, fator de suma importância, uma vez que estão ligadas à própria comunicação e linguagem humana.
Como resultado da pesquisa realizada, pôde-se inferir que as literaturas de língua inglesa podem criar diversas identidades culturais em estudantes do Ensino Médio, tornando os indivíduos capazes de socializarem-se como agentes sociais de seus próprios grupos e de novas comunidades pelo mundo. Portanto, o ensino de literaturas de uma nova cultura, neste caso da língua inglesa, para com os estudantes tem o poder de fazer interagir, de fazer participar e de formar seres sociáveis e críticos.
Enfim, pretendeu-se que este trabalho proporcionasse de forma sintética, objetiva e estruturante, entender a notória importância das literaturas enquanto fator que interfere e modela os aspectos que dizem respeito ao homem e a sua sociedade, desde a própria percepção dele como ser social até seu maior introspecto com o mundo e seus semelhantes a sua volta.

REFERÊNCIAS

AEBERSOLD, Jo Ann and Field, Mary Lee. From Reader to Reading Teacher: Issues and strategies for second language classrooms. UK: Cambridge University Press, 1997.

BURGESS, Anthony. A Literatura Inglesa. ed 2. São Paulo: Editora Ática, 1958.

CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

CEREJA, William Roberto. Uma proposta dialógica de ensino de literatura no ensino médio. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 2004.

COLLIE, Joanne & SLATER, Stephen. Literature in the language classroom: a Resource book of ideas and activities. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

FROMM, Guilherme. Literatura Estrangeira no curso de Letras: Problemáticas. 2005. Disponível em Acesso em 28/08/2010.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA ? INEP. Censo da Educação superior ? 2007. Disponível em
LAZAR, Gillian. Literature and Language Teaching: a guide for Teachers and Trainers. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

MALARD, Letícia. Ensino e Literatura no 2° grau: Problemas e Perspectivas. Porto Alegre, Mercado aberto, 1985.

PRADO, Clara Versiani dos Anjos. Leitura de clássicos e produção de resenhas em um curso de administração. Disponível em acesso em 28/08/2010.
RAMOS, Heloísa Cerri. Machado de Assis, um clássico para todos. Edição 215. Setembro 2008. Disponível em Acesso em 27/08/2010.





Autor: Jardel Do Carmo Magalhães


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