Bromélia: agente para proliferação do Aedes aegypti ou agente para melhoria do meio ambiente?



Título: Bromélia: agente colaborador para proliferação do Aedes aegypti ou agente para melhoria do meio ambiente?

Autora: Angélica Silva da Costa Jensen
(Aluna do 6º semestral da Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental)

Orientador: Prof. MSc. Edivaldo Elias Rotondaro

Co-orientador: Prof. MSc. Fernando Codelo Nascimento

RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo identificar e documentar a interação entre as bromélias e o mosquito vetor da dengue, o Aedes aegypti, que prolifera em reservatórios de água parada, e as bromélias, que por conta de sua estrutura foliar, formam reservatórios ao ar livre; além de estudar a biodiversidade presente nas bromélias. A metodologia utilizada foi trabalho de campo em uma chácara localizada no Parque Andreense em Santo André ? São Paulo, onde há presença de Mata Atlântica, no período março a novembro de 2010. Para tanto, identificaram-se e quantificaram-se dez bromélias, bem como a água, larvas e materiais sólidos encontrados nas mesmas. Realizou-se também uma análise qualitativa da água coletada no que se refere à transparência, odor e análise quantitativa no tocante ao volume de água coletada e pH; ambas para verificar se há correlação de incidência de larvas. Foi contabilizado o total de 117 (cento e dezessete) exemplares de larvas em 3 (três) coletas realizadas no período de estudo, sendo que após identificação constatou-se que nenhuma delas é proveniente do Aedes aegypti. As bromélias apresentaram volume de água retida em seu tanque central variando entre 10 e 840 ml., com pH médio entre 4 e 5, ou seja, ácido. Diante dos resultados obtidos neste estudo pode-se comprovar que não houve larvas positivas nas bromélias em estudo, quando expostas em um meio preservado, onde ocorre o controle biológico e equilíbrio ecológico.

Palavras chave: 1. Bromélia. 2. Dengue. 3. Aedes aegypti. 4. Indicador.

ABSTRACT
This study aimed to identify and to document the interaction between bromeliads and the mosquito vector of dengue, Aedes aegypti, which proliferates in stagnant water reservoirs and bromeliads, cause of its leaf structure, tend to form reservoirs in outdoor areas; besides that, studying the biodiversity present in bromeliads. The methodology was a fieldwork in a small farm located at the Park Andreense in Santo André - São Paulo, where there is the Atlantic Forest, in the period from March to November, 2010. For this, ten bromeliads were identified and quantified, as well as water, larva and solid materials found in them. Also, it was performed a qualitative analysis of water collected regard to the transparency, smell, and quantitative analysis regarding the volume of water collected and pH, both to verify the correlation in larvae?s incidence. It was recorded a total of 117 (one hundred seventeen) copies of larvae in 3 (three) samples collected during the study period, and after the identification it was found that none of them is from the Aedes aegypti. Bromeliads showed a volume of water in its central tank between 10 and 840 ml., with average pH between 4 and 5, it means it?s acid. The results obtained in this study could prove that there weren?t positive larvae in bromeliads presented in this study, when exposed in a preserved environment, occurring biological control and ecological balance.

Keywords: 1. Bromeliads 2. Dengue 3. Aedes aegypti 4. Indicator.

INTRODUÇÃO
A degradação do meio ambiente tem como uma de suas consequências o aumento nos índices de doenças ocasionadas por vetores. Esses vetores vêm aumentando principalmente pelo desmatamento e crescimento dos centros urbanos, que tornam nosso meio cada vez mais vulnerável a impactos que tem reflexo direto na saúde pública.
Alguns animais, em especial alguns insetos, têm a capacidade de carregar em seus organismos vírus, bactérias, protozoários e etc. que em um meio impactado pode se tornar um risco à população por transmitirem doenças. Portanto, o presente trabalho teve por objeto de estudo as bromélias e o mosquito Aedes aegypti, que é um agente transmissor do vírus da dengue e que pode ser evitado com o controle de reservatórios de água expostos ao meio.
Agora levanta-se outra questão: e as bromélias? São colaboradoras potenciais para epidemia de dengue? Elas realmente representam risco?
A pesquisa é relevante porque visa a desmistificar preconceitos criados sobre as bromélias serem colaboradoras para epidemia de dengue; porém a população não pensa nos benefícios que estas trazem ao meio ambiente, seja como guardiãs da biodiversidade, como fonte de água para pequenos animais, sem contar com o risco de extinção das mesmas, motivos pelos quais, entre outros, justifica-se o tema deste projeto.
Objetivou-se com essa pesquisa identificar e documentar a interação entre a bromélia, o mosquito Aedes aegypti e o meio em que se encontram, no que se refere a dengue através de estudo de campo e apoio técnico de especialistas; além de observar a biodiversidade presente nas bromélias e analisar a água presente nos reservatórios formados pelas bainhas foliares.
A pesquisa problematiza o mito que se criou sobre a bromélia ser colaboradora para epidemia da dengue, e como solução para o problema, adotaram-se ensaios físicos e químico realizados com a água coletada no interior destas bromélias.

Bromélia
As bromélias são plantas são plantas monocotiledôneas (SILVA e GOMES, 2008), herbáceas de folhas largas ou estreitas, lisas ou serrilhadas de cor verde, vermelho, vinho, variegada, com manchas, listras e pintas. Elas florescem somente uma vez na vida no estado adulto, depois lançam um broto lateral terminando seu ciclo. As bromélias são classificadas em 3 grupos: terrestres que crescem sobre o solo, rupícolas que crescem sobre rochas e epífitas que crescem apoiadas em árvores em busca de luz, ventilação e água para nutrirem-se.
Aedes aegypti
O Aedes aegypti é originário da região Afro tropical (Etiópia), onde é considerado o centro endêmico original. São insetos holometábulos, ou seja, apresentam transformação completa em seu ciclo evolutivo que é composto por quatro fases: ovo, larva, pupa e a fase terrestre, correspondente ao mosquito adulto.
Do ponto de vista ecológico, o aumento do Aedes aegypti vem em decorrência da ausência de predadores nas cidades e aumento do desmatamento, o que promove o clima quente e úmido nas cidades.
O mosquito vem em decorrência da ausência de predadores nas cidades e aumento do desmatamento e por não possuírem competidores. Já em condições naturais, existem predadores e presas, o que gera controle dessa população.
Dengue
A palavra dengue tem origem espanhola que significa melindre, manha. Esse nome deve-se ao estado de moleza em que a pessoa contaminada se encontra. (DENGUE.ORG, 2008)
É uma doença infecciosa causada por arbovírus (abreviatura do inglês arthropod-bornvirus que significa vírus proveniente de artrópodes).
A dengue clássica inicia-se de maneira súbita causando febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda de paladar e apetite, náusea, vômito, tontura, cansaço, moleza, dor no corpo, dor nos ossos e articulações, manchas vermelhas espalhadas pelo corpo, podendo ocasionar discreta hemorragia na boca, nariz e urina. (SUCEN, 2009 e DENGUE.ORG, 2008)
Como ainda não existe vacina contra a dengue, o melhor meio é a prevenção combatendo focos de acúmulo de água em locais propícios para a criação do mosquito.
A bromélia como agente para epidemia da dengue: mito ou verdade?
As bromélias são um dos nichos ecológicos mais importantes da natureza, pois são em torno de 400 à 500 espécies de animais relacionados as bromélias de alguma forma, sendo que muitos deles fazem delas como moradia, para caça ou fonte de água e alimento. Algumas delas tem uma espécie de cisterna foliar, apresentando-se com folhas dispostas em forma de uma roseta, com capacidade de armazenar água, sementes, restos de folhas e detritos orgânicos entre sua folhas, proporcionando um ambiente de ótimas condições para formação de um ecossistema. As cisternas foliares também servem como local de oviposição e desenvolvimento larval de alguns insetos. Portanto, pode-se afirmar que essas bromélias são uma espécie de microhabitat para vários animais e espécies de plantas, isto é, funcionam como espécies-chaves para manutenção da biodiversidade, porém sua composição faunística ainda é pouco estudada. (LEME e MARIGO, 1993; ROCHA et al., 2004 apud COELHO, 2005) É verdade também que o Aedes aegypti tem preferência por locais ricos em microorganismos e matéria orgânica; as bromélias possuem tais requisitos, e esse é um dos motivos pelos quais desenvolvem-se nelas micro e macro faunas (FORATTINI e MARQUES, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi contabilizado o total de 117 (cento e dezessete) exemplares de larvas em 3 (três) coletas realizadas em 10 (dez) bromélias, no período de maio a outubro de 2010, e após a identificação constatou-se que nenhuma delas é proveniente do Aedes aegypti.
As bromélias apresentaram volumes de água retida em seu tanque central variando entre 10 e 840 ml., e não houve correlação entre volume de água e quantidade de larvas.
O pH médio geral das bromélias ficou entre 4 e 5, ou seja, ácido, o que não significa dizer que não há propensão para oviposição do Aedes aegypti, pois já constataram-se larvas positivas em bromélias de acordo com estudos realizados.
Na bromélia Vriesea hyeroglyphica, constatou-se a presença de uma larva incomum, cujo nome, toxorhynchites. Trata-se de uma larva predadora, que atacava e devorava as demais presentes, podendo-se considerar como uma característica de controle.

CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos neste estudo pretende-se comprovar que não houve larvas positivas do Aedes aegypti nas bromélias analisadas, pelo menos quando expostas em um meio preservado, onde ocorre o controle biológico e o equilíbrio ecológico. O que também significa dizer que elas não são criadouros preferenciais das larvas do Aedes aegypti no período de observação.
As bromélias podem vir a ser consideradas criadouro natural quando houver ação antrópica naquele ambiente sobre a mesma (FORATTINI et al., 1998 e MARQUES et al., 2001 apud BATISTA, 2010.
Pode-se notar também que uma diversidade faunística associada às bromélias observada tanto no período de coleta, como em estudos consultados para a elaboração deste trabalho. Portanto, as bromélias são ecossistema fundamental para as comunidades que nela se desenvolvem, como para manutenção da biodiversidade; além de não serem criadouros preferenciais para a proliferação da dengue como foi erroneamente estigmatizada.

REFERENCIAIS
BATISTA, Jaqueline M. Relevância de bromélias como reservatório de larvas de Aedes aegypti no município de Paraty-RJ. Rev. Controle Biológico (BE-300), v.2, Jan. 2010. Disponível em: http://www2.ib.unicamp.br/profs/eco_aplicada/revistas/be300_vol2_4.pdf Acesso em: 23 jul. 2010.
COELHO, Marcel. S. et al. Macrofauna associada à fitotelmo de Hohenbergia sp. (Bromeliaceae) em fragmento de mata atlântica da escola agrícola de Jundiaí, Macaíba (RN, Brasil). Disponível em: http://www.seb-ecologia.org.br/viiceb/resumos/335a.pdf. Acesso em: 16 abr. 2010.
DENGUE.ORG. Tudo sobre a dengue. Disponível em: http://www.dengue.org.br/. Acesso em: 12 abr. 2010
FORATTINI, Oswaldo Paulo; MARQUES, Gisela Rita Alvarenga Monteiro. Nota sobre o encontro de Aedes aegypti em bromélias. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 5, Oct. 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102000000500016&lng=en&nrm=iso. doi: 10.1590/S0034-89102000000500016. Acesso em: 11 abr. 2010.
SILVA, Allan M.; GOMES, Almério de C. Proteção de bromeliaceae para evitar a formação de criadouros de Aedes aegypti (díptera: Culicidae). Disponível em: http://revistas.ufg.br/index.php/iptsp/article/viewFile/4030/3605. Acesso em: 08 abr. 2010.
SUCEN. Disponível: www.sucen.sp.gov.br Acesso em: 20 abr. 2010.

AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador do Profº MSc. Edivaldo Elias Rotondaro, ao meu co-orientador e coordenador geral do curso, Profº MSc. Fernando Codelo Nascimento, pelo direcionamento e apoio.
Rodrigo Jensen (biólogo e paisagista) pela identificação das bromélias e apoio técnico.
A SUCEN pelas informações cedidas.
Ao Centro de Controle Zoonose de São Bernardo do Campo pela identificação das larvas.
Autor: Angélica Silva Da Costa Jensen


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