Horta Comunitária Ambiental em Limeira-SP



A HORTA ORGÂNICA NA PERSPECTIVA AMBIENTAL E SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA DE PROJETO EM UM BAIRRO RESIDENCIAL DO MUNICÍPIO DE LIMEIRA-SP.

Viviane Polatto Schneider
Estudante do curso de Tecnologia de Gestão Ambiental ênfase na Empresa
Professora: JERUSHA MATTOS CAMARA- DOUTORANDA


1 INTRODUÇÃO

Segundo o site a produção orgânica, muito mais do que uma produção que não usa agrotóxico, é uma produção baseada em tecnologias limpas e sustentáveis para gerar produtos dentro de boas práticas de segurança alimentar.
Essa produção é um resgate de uma técnica de cultura esquecida com a implantação da Revolução Verde no pós-guerra, que na verdade foi a Revolução da Indústria Química, que erguendo a bandeira da erradicação da fome, abandonou as boas práticas da segurança alimentar.
Apoiada numa filosofia mercantilista massacrou com uma propaganda intensa todas as alternativas que não passassem pelo uso de produtos químicos sintéticos. Entretanto, um dos efeitos da massificação da informação, com ampla divulgação das notícias pela mídia, o cidadão comum passa a tomar conhecimento de verdadeiros riscos que corre ao consumir um alimento produzido de forma convencional, potencialmente contaminado com resíduos tóxicos".
Reconhecidamente, a utilização indiscriminada de pesticidas, na agricultura, acarretou diversos problemas de ordem ambiental no que diz respeito à contaminação de alimentos, solo e água; intoxicação de animais e agricultores; surgimento de patógenos, pragas e plantas invasoras resistentes aos produtos químicos comumente utilizados. Além disso, a grande dependência de insumos externos para a produção convencional de alimentos levou ao empobrecimento das populações rurais, bem como do abandono do campo pelos mais jovens em busca de melhores condições de vida nas cidades.
Nesse cenário os produtores orgânicos passam a receber o apoio da população. Conhecendo os princípios da produção orgânica, o cidadão passa a identificá-la como referência de alimento de qualidade.
A partir da década de 70, a agricultura orgânica começou a ser disseminada em países europeus, talvez como uma reação extremada ao uso indiscriminado de defensivos químicos e adubos minerais, sendo que ao longo das décadas de 80 e 90, devido à conscientização do meio ambiente, criou-se a filosofia dita "ecológica".
Na perspectiva ambiental a produção orgânica fundamenta-se no princípio do equilíbrio da natureza, que tem permitido a permanência e evolução da vida sobre a Terra.
E em sua sustentabilidade social permite alcançar bons níveis de produtividade, evitando ao mesmo tempo os riscos de contaminação química do agricultor, dos consumidores e do meio ambiente. Por outro lado, nada tem de atrasada, pois incorpora os avanços da ciência e promove a participação criativa dos agricultores, respeitando seu conhecimento, cultura e experiência.
Assim, para a obtenção de produtividade, a agricultura orgânica fundamenta-se no princípio de que o aumento da diversidade, no que se refere ao convívio simultâneo de diversas espécies, cultivadas ou não, aliadas a diversidade de espaço e tempo, por meio da rotação de culturas, auxilia os processos biológicos de proteção as plantas.
Esse artigo tem por objetivo principal analisar a viabilidade ambiental e social da horta orgânica na comunidade do Jardim Guimarães no município de Limeira - SP .
A escolha da horta orgânica como elemento aglutinador das ações de educação ambiental e de ecologia alimentar justifica-se pelo fato de que as hortaliças e frutos orgânicos suprem a dieta alimentar de vitaminas, sais minerais e fibras vegetais de alto valor biológico. A produção de hortaliças acrescida de outros produtos naturais viabilizados poderá ser disponibilizada para as comunidades envolvidas, cuja renda será revertida à própria manutenção do projeto.
Desenvolver através de uma horticultura orgânica uma paisagem cultivada sadia e em harmonia com a natureza, próspera e de produtividade permanente, onde a qualidade dos alimentos seja aprimorada a partir do cuidado com o solo e trazer ainda uma visão abrangente de um sistema agrícola integrado, o "Organismo Agrícola", inserido harmoniosamente na paisagem local, considerando-se os seus princípios ecológicos, sociais, técnicos, culturais, econômicos e fenomenológicos. Desse modo propõe-se a criação de uma equipe multidisciplinar de especialistas em diversas áreas do conhecimento o que qualifica o projeto em toda a sua dimensão, demonstrando com esses recursos humanos qualificados uma grande força motivadora participativa e transformadora de mudanças sociais. Essa equipe deverá cooperar com a comunidade e os produtores rurais, indicando os caminhos que mostrem como obter melhores resultados para a implantação de uma horta orgânica.
Este projeto de horta orgânica comunitária se justifica por ser uma proposta que tentará reunir e transmitir informações sobre técnicas de cultivo de hortaliças, legumes e plantas medicinais, criar multiplicadores e mostrar as diferentes formas de consumo de verduras e legumes visando à melhoria do hábito alimentar e a diminuição da dependência do tradicional mercado produtor. O projeto quer também incentivar o trabalho social dos colaboradores e da comunidade em geral, e promover a auto-estima das pessoas mediante o aprendizado.
Nesta perspectiva, é preponderante a necessidade de se resgatar o hábito de uma alimentação saudável, sem agrotóxicos, transformando a horta em um lugar de ensino-aprendizagem, onde conhecimentos e cidadania caminham juntos para formar uma sociedade mais responsável com o meio ambiente.




2. REFERENCIAL TEÓRICO

"(...) a Terra tem o suficiente para todos. Mas apenas o suficiente".
(Gandhi, 1949).

2.1. Gestão Social e o meio ambiente

O tema meio ambiente é discutido há muito tempo na humanidade tendo como um dos primeiros eventos a Conferencia de Tbilisi em 1977 que lança uma importante recomendação no que diz respeito à resolução de problemas ambientais locais:
A característica mais importante da educação ambiental é, provavelmente, a que aponta para a resolução de problemas concretos. Trata-se de que os indivíduos, qualquer que seja o grupo da população a que pertença e o nível em que situem, percebam, claramente, os problemas, que restringem o bem-estar individual e coletivo, elucidem as suas causas e determinem os modos de resolvê-los. Deste modo, os indivíduos estarão em condições de participar na definição coletiva de estratégias e atividades em caminhadas para eliminar os problemas que repercutem na qualidade do meio ambiente (UNESCO, 1980).
Segundo o IBID (1992) a percepção da fragilidade do ser humano diante do planeta pode ser analisada e refletida, a partir dos estudos realizados por pesquisadores, que mencionam o planeta como um organismo vivo, auto regulado pela dinâmica dos fatores vivos como os não vivos, e os seres humanos são apenas mais uma espécies existente, dentro dessa regulação, ou seja, a Hipótese Gaia, que procura mostrar de forma simplificada, a fragilidade do ser humano diante do planeta, o qual possui o poder de regeneração, dinâmica diferente do homem que, uma vez que sua espécie cesse não haverá a menor possibilidade de retornar a existências na terra.
De acordo com Cima (1991, p. 141) "o fundamento da degradação não está na ignorância dos processos ecológicos da natureza, mas sim no estilo predatório da apropriação dos recursos naturais". Então, a maneira mais adequada de combater essa problemática, segundo Reigota, é a educação ambiental, que deve ser uma educação política, onde cada cidadão esclarecido, torna-ser responsável pelos fazeres, sabendo o porquê de estar fazendo algo, e não apenas saber como fazer, fazendo assim com que o indivíduo reflita sobre as próprias ações. (IBID, 2001).
Isso deixa clara a necessidade da prática individual de cada ser humano empenhado para a preservação e sustentação do meio ambiente, pois só através de uma conscientização global haverá maior possibilidade de uma reversão do atual quadro ambiental em que se encontra (IBID, 2001).
De acordo com este novo modelo de agricultura orgânica, existe a necessidade da implantação de mudanças não somente tecnológicas, mas também político-econômicas e sociais, uma vez que um dos principais problemas gerados pelo antigo modelo foi a pobreza rural. Para que isso possa ser alterado é necessária a implantação de uma política de desenvolvimento rural, fundamentada na adoção de um enfoque sistêmico, no qual diversos aspectos previamente mencionados devem ser contemplados.
A implantação de hortas familiares e/ou comunitárias orgânicas é uma alternativa viável e apropriada para o início deste processo, pois além de fornecer alimentos de boa qualidade para a população em geral, pode auxiliar na formação de cidadãos mais conscientes da importância de práticas ecologicamente corretas para a preservação do nosso planeta.
Além disso, um dos maiores benefícios de se cultivar uma horta orgânica é, sem dúvida, a satisfação de se produzir o alimento que será consumido pela família e/ou comunidade. Sem falar no enorme prazer que o manejo da terra pode proporcionar a cada pessoa.
Uma horta orgânica, de 100 a 150 m2, é suficiente para suprir 60% das necessidades de sais minerais e vitaminas para uma família de 7 pessoas (3 adultos e 4 crianças).

2.2. Tecnologia social: Contribuição para Interação Academia- Comunidade

De acordo com a Fundação Banco do Brasil (2004, p. 130) a tecnologia social é entendida como o "conjunto de técnicas, metodologias transformadas, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por elas, que representam soluções para a inclusão social e melhoria das condições de vida".
Segundo o ex-ministro Luiz Gushiken:

(...) falar em tecnologias sociais é elaborar processos que, ao mesmo tempo, se inserem na mais moderna agenda do conhecimento e na mais antiga das intenções ? a superação da pobreza. É falar do resultado concreto e inovador do trabalho de pessoas que resolvem problemas inspiradas pela sabedoria popular e com o auxílio de pesquisadores. É também falar de produtos de organizações da economia solidária que se inserem num circuito econômico cada vez mais significativo (FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, 2004, P. 13).


Uma forma de tecnologia social que pode ser desenvolvida e estimulada é a gestão de projetos comunitários pelos próprios atores que vivenciam uma dada realidade. Esses projetos, uma vez elaborados pela e para a comunidade, levando-se em conta as necessidades e demandas específicas daquele contexto, identificadas por quem com ela convive, tornam-se instrumentos importantes para as pessoas que normalmente são beneficiadas pelas políticas e buscam transformar as condições de seu entorno.
A aplicação da tecnologia social é possível, como uma alternativa eficaz para a solução dos problemas sociais de cada comunidade.
Trabalhar com comunidade é uma experiência estimuladora e repleta de desafios, pois proporciona a oportunidade de repensar não somente suas práticas, como a natureza de gestão social.
A iniciativa apresentada nesse projeto de uma horta comunitária é um exemplo de intervenção na realidade social, gerando benefícios que podem ser compartilhados e replicados para outras comunidades. Considera-se, pois, que se trata de um caso de aplicação concreta da gestão social.





2.3. Gestão de Projetos Comunitários

A gestão social pode ser desenvolvida por meio das técnicas de gestão de projetos comunitários que contempla as etapas de elaboração, administração e avaliação tal como o ciclo natural de um projeto.
A pedagogia emancipatória de Paulo Freire (2005), a filosofia de trabalho com comunidades de Clodovis Boff (1986), e as técnicas de gestão de projetos comunitários, de Fernando G. Tenório (1998) possibilitaram o delineamento de uma estrutura básica que orientou as equipes comunitárias na concepção e construção do projeto.
Às perspectivas pedagógicas de Freire (2005) e Boff (1986), alinha-se à ótica da gestão social proposta por Tenório (1998). Para o autor, o social é o "espaço privilegiado de relações sociais onde todos têm direito à fala, sem nenhum tipo de coação" (TENÓRIO, 1998, p. 151) e a gestão social, é um "processo gerencial dialógico no qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação (ação que possa ocorrer em qualquer tipo de sistema social ? público, privado ou de organizações não-governamentais)" (TENÓRIO, 1998, p. 151), objetivando a construção da cidadania, partir da ótica da sociedade e da ótica do trabalho.
A gestão do projeto foi trabalhada sobre esta ótica.
O meio ambiente não é apenas a natureza, é a relação entre seres vivos, onde o ser humano faz parte dele, o qual deve preservá-lo, e, qualquer atitude em prol dessa luta é bem vinda, é valida, é vital. Nesse sentido foi utilizada a horta. A horta que direcionou a um melhor esclarecimento, uma visão geral de sua importância no contexto ambiental, ou seja, o poder que cada um possui em uma realidade onde grande parte da humanidade procura explorar cada vez mais o meio ambiente sem se preocupar com desenvolvimento sustentável.






3. METODOLOGIA

3.1. Caracterização da área de estudo

O bairro Jardim Guimarães tem cerca de 250 habitantes, pertence à região Leste da cidade de Limeira, localizado a 154 km a noroeste de São Paulo. É um bairro periférico da cidade, a economia centra-se basicamente trabalho informal (solda, colagem e montagem de bijuterias), coleta de recicláveis. É um bairro que tem muitas necessidades, algumas básicas, mas, em contra partida é um bairro com grande potencial de capital humano e de crescimento.
O projeto foi instalado em um terreno baldio doado pela prefeitura de Limeira-SP com a finalidade de, através do cultivo e comercialização de produtos agrícolas orgânicos, beneficiar 30 famílias pertencentes à comunidade de baixa renda em situação de vulnerabilidade alimentar e social que residem no bairro.

Tipo de pesquisa e coleta de dados

A fase exploratória ocorreu entre os meses de Janeiro/2009 a Setembro/2009, foram realizadas cinco entrevistas direcionadas a informantes chaves (pessoas ligadas a implantação de projetos rurais) e os dados levantados através de um roteiro abordando o conhecimento dos entrevistados sobre:
- grupos que estivessem discutindo e gerando material sobre hortas orgânicas na cidade;
- a disponibilidade de informações de projetos dentro desta área;
- a ocupação de terrenos baldios com hortas;
- áreas interessantes que pudessem direcionar o trabalho de pesquisa;
- conhecimento de alguma organização de agricultores urbanos;
- delimitação de área urbana com atividades agrícolas na cidade;
- relação de hortas escolares municipais.
Posteriormente à fase exploratória, recorreu ? se ainda a realização de três entrevistas dirigidas, que é um modelo de entrevista estruturada em um formulário com perguntas fechadas e semi abertas, tendo por base as categorias gerenciáveis apontadas pela metodologia do Project.
Essas categorias são conjunto de processos interdependentes, que ao serem analisados e organizados, podem subsidiar o controle dos processos e das decisões em programas e projetos. O objetivo era complementar as informações já coletadas nas primeiras entrevistas com os projetos de horta coletiva, bem como apreender a percepção dos gestores envolvidos.

3.2. Plano de ação

3.2.1. Método para análise dos dados

Neste artigo a análise foi realizada sob dois enfoques: primeiramente, foram consideradas as categorias gerenciáveis apontadas no Project (2005) e, em seguida, a análise foi realizada de maneira mais geral, retomando os quatros aspectos avaliatórios levantados por Aguilar & Ander-Egg, citados por Leite (2005).
Categoria gerenciáveis:
"INTEGRAÇÃO"- Procurou-se delinear quais processos eram necessários para assegurar que os diversos elementos do projeto fossem adequadamente relacionados. É composta por perguntas relacionadas ao desenvolvimento do plano e operacionalização.
"ESCOPO"- Foi considerada a sua composição, qual o público e quais os objetivos.
"TEMPO"- Foram observados os processos utilizados para assegurar o término do programa dentro do prazo previsto, sendo identificados inícios das atividades, a estimativa da duração e desenvolvimento do cronograma.
"RECURSOS FINANCEIROS"- Buscou-se levantar a fonte dos recursos, se houve planejamento dos recursos, estimativa dos custos, orçamento dos custos e controle dos custos.
"QUALIDADE"- Foi considerada a existência de um planejamento da qualidade e se foi feito algum tipo de controle de qualidade.
"RECURSOS HUMANOS"- Foi identificado o número de pessoas na equipe, as responsabilidades de cada membro e a motivação dos membros da equipe.
"COMUNICAÇÃO"- Perguntou-se a respeito da elaboração, distribuição, armazenamento e pronta apresentação das informações do programa.
"RISCOS"- Foram descritos os processos que dizem respeito à identificação, análise e resposta a riscos do programa.
Aspectos avaliatórios:
"DISPOSIÇÕES LEGAIS"- Trata-se de leis, decretos, regulamentos, estatutos, etc.; que podem colocar obstáculos burocráticos ou facilitar e promover a realização do programa.
"VONTADE POLÍTICA"- Para que um programa tenha validade e operacionalidade, deve contar com o apoio político da instituição que o promove.
"RECURSOS FINANCEIROS"- Trata-se de analisar os meios financeiros que estão efetivamente disponíveis ao programa, quando for necessário.
"CONDIÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS"- Condições estruturais ou conjunturais que influenciam na execução do programa. Como exemplos de condições estruturais podem ser citados o ajuste fiscal e a relação dívida/PIB. Como por exemplo de condições conjunturais, podem ser citados o poder de persuasão da população local e mudanças no quadro político.


3.2.2. Busca de apoio

Uma atividade de cunho ambiental, não se realiza sozinho, por isso houve a necessidade de buscar-se apoio de alguns órgãos, como:
? Secretaria Municipal da Agricultura com fornecimento de técnicos para o desenvolvimento teórico e prático;
? Secretária de Obras e Urbanismo atuando na parte prática;
? Comércio local com o patrocínio de algumas ferramentas para a construção e manutenção da horta.



3.2.3. Reuniões

Como as atividades ambientais precisam estar esclarecidas, houve a necessidade de várias reuniões entre os interessados a fim de abordar temas relacionados a economia solidária, agricultura orgânica etc. Essas reuniões foram importantes também para marcar o inicio da implantação do projeto e programar o desenvolvimento e a aplicação do trabalho.
Foram realizadas palestras de treinamento com o técnico da secretária de agricultura e a comunidade para a aprendizagem da parte teórica e prática.

3.3.4. Implantação da horta

Para a implantação da horta foram utilizados os seguintes instrumentos:
a) Pesquisa de campo e coleta de dados: O instrumento utilizado para coleta dos dados foi um questionário composto por questões fechadas, constituídas de três blocos: (a) o primeiro bloco, referiu-se ao perfil dos respondentes; (b) o segundo bloco referiu-se ao grau de conhecimento dos respondentes quanto à questão dos produtos orgânicos e; (c) o terceiro bloco, teve como objetivo levantar qual a influência que o respondente atribuía a cada um dos aspectos apresentados para a sua decisão de consumir produtos orgânicos.
b) Planejamento da implantação da horta:
Através do planejamento foram definidos os espaços a serem utilizados e o tipo de produção pretendida. Este ultimo item contempla a escolha dos produtos de interesse, verificando-se época de plantio, variedades adequadas, quantidade a ser produzida, ciclo das culturas, exigências e tratos culturais necessário. Também é necessário que se conheça dados regionais importantes, tais como clima, tipo de solo, flora e fauna dos arredores, entre outras características. Todos estes fatores são relevantes para a condução de um plantio orgânico que irá interagir com o ambiente e população local, onde o sistema será conduzido.
O clima é determinante na adaptação de certas culturas e deve se levado em consideração na seleção de variedades. As diferenças entre estações, quanto à temperatura e pluviosidade devem ser verificadas, servindo como base um calendário de épocas de plantio das diferentes culturas.
O tipo de solo é o fator mais relevante a ser considerado para a produção. O solo deve ser encarado como um organismo vivo, que interage com a vegetação, em todas as fases de seu ciclo de vida. Devem ser analisadas as características físicas, químicas e biológicas dos solos.
Dentro desta perspectiva o trabalho foi assim dividido:
? Escolha do formato dos canteiros;
? Mutirão para construção dos canteiros;
? Escolha do que semear;
? Preparação da terra;
? Semeadura;
? Replante das mudas;
? Observação e cuidados diários;
? Colheita;
? Degustação.
Algumas práticas são essenciais para uma boa condução das hortas orgânicas. Dentre elas a rotação de culturas, evitando-se o plantio sucessivo de uma mesma cultura, assim como mesma família. Ela reduz a chance de aparecerem doenças e pragas e possibilita um melhor aproveitamento dos nutrientes disponíveis. Uma boa seqüência a ser utilizada é: folha, raiz, flor, fruto (exemplo: alface, cenoura, brócolis e berinjela). Este método possibilita ainda o plantio sem necessidade de refazer o canteiro, utilizando-se apenas adubação de plantio.


4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Projeto de Horta Orgânica foi iniciado com o propósito de promover o desenvolvimento local e proporcionar maior qualidade de vida à população do Jardim Guimarães em Limeira/SP, promovendo uma educação ambiental e alimentar utilizando a horta como possibilidade para integrar temas sobre saúde, alimentação e meio ambiente.
Analisando todos os procedimentos realizados podemos perceber que os recursos organizacionais (aspectos legais, recursos humanos e financeiros, a infra-estrutura e aspectos políticos) para a viabilização da horta foram subestimados. Apesar de ter resolvido os aspectos legais, a infra-estrutura e aspectos políticos, a falta de recursos humanos e financeiros inviabilizaram o cumprimento da meta inicial de atender um número maior de famílias.
Em relação ao suporte agronômico (elaboração do projeto, a implementação e monitoração), o envolvimento de uma única pessoa no desenvolvimento de várias funções, quais sejam, montar o curso, dar as aulas no centro de capacitação e proferir palestras que solicitavam informações sobre o Projeto mostrou-se insuficiente.
Outro fator importante é o acesso dos beneficiários das hortas a organizações que concedam créditos com juros baixos e encontrar canais de comercialização adequados para garantia de renda.
Apesar destas dificuldades é possível perceber que tecnologias alternativas se prestam a prática eficaz quando se quer resgatar ou contribuir com a sustentabilidade do planeta. Foi possível identificar entre as famílias participantes do projeto uma preocupação latente com o meio ambiente, e ainda, uma consciência prática para preservação da área utilizada.
O mais importante observado foi que houve uma educação ambiental que possibilitou a mudança de comportamento dos envolvidos no processo, onde poderá ser valorizada a conservação dos recursos naturais existentes nas suas localidades, aperfeiçoando os mecanismos de parcerias locais, a participação comunitária, o gerenciamento de empreendimentos, o controle, a regulamentação e a gestão dos recursos naturais de uso comum, numa perspectiva do compromisso permanente desses atores em torno de um projeto sustentável. Foi possível observar que os princípios da sustentabilidade foram amadurecidos e incorporados pelos produtores.
A apropriação dos conhecimentos pela comunidade representou um fator essencial para explicar a continuidade das ações que desencadeie processos educativos de reflexões comprometidos com a possibilidade de transformação de uma dada realidade.
As respostas necessárias a este projeto foram encontradas em caminhos que reinventam a própria formação científica de cada área em especial e, principalmente pela condução interdisciplinar do grupo que explicitou, de maneira simples, o conceito de universidade. "Esses saberes construídos pelo trabalho de muitos, não podem ser propriedade exclusiva de uma minoria, mas sim, socializados com o conjunto da sociedade, para que lhes sirvam como instrumento de compreensão e transformação de sua realidade." (KAMINSKI, 2000)
Os fenômenos associativista e cooperativo são apresentados como elementos possibilitadores de inclusão social e do bem comum, que se traduzem em desenvolvimento local. Parte da idéia que o associativismo e a cooperação contem o desenvolvimento na medida em que este acontece na perspectiva de melhorar as condições sócio-econômicas locais, considerando-se todas as suas dimensões. Assim, "Indivíduos se associam em função de interesses comuns que podem desencadear ações de cooperação com reflexo no desenvolvimento local? (Frantz, 2002, p.2).
Ao resgatar valores e práticas que se encaminham para o exercício de uma ética calcada numa solidariedade consciente, as práticas que se espelham nos princípios da economia solidária contribuem para a auto-estima do grupo de trabalhadores associados, bem como da sua família, e da sua comunidade.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trabalhar com comunidades é uma experiência estimuladora e repleta de desafios, pois proporcionou às pessoas envolvidas a uma oportunidade de repensar não somente suas práticas, como a natureza da gestão social e ambiental.
O projeto desencadeou uma série de processos que estão em pleno andamento cujos resultados já aparecem em curto prazo, seja na política pedagógica do local, no resgate da cultura local, produção artesanal e destinação e separação do lixo reciclável gerado na comunidade.
Podemos concluir que os objetivos propostos tiveram um alcance ponderável, haja vista que contribuiu com uma alimentação saudável, uma educação ambiental e uma mudança de comportamento perante o meio ambiente em suas realizações diárias tendo em vista a separação do lixo reciclável que os membros da comunidade levaram para o seu dia a dia.
O Projeto Horta Orgânica cumpriu seu objetivo maior que é: viabilizar para a população a compra de um produto orgânico e ter uma alimentação saudável, como citado abaixo:

"Para dona Luci Alves de Moraes, 73, a horta cumpre bem esse papel. "Sempre compro aqui, é uma delícia. Moro aqui perto e desde o início da horta sou cliente. Aqui não tem veneno nenhum", disse a sorridente Luci, carregada com duas sacolas cheias de verduras."


REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO


BANCO DO BRASIL (Comp.). Tecnologia Social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004;


BOFF, Clodovis. Como trabalhar com o povo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1986;


FRANTZ, Walter. Desenvolvimento local, associativismo e cooperação. Conferência apresentada no Simpósio Internacional de Gestão pública. 2002;


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005;


FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL (Comp.). Tecnologia Social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004;


LEITE, J. P. A. Políticas municipais de segurança alimentar: o caso do município de campinas. 2005. 121 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola, Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável) ? Universidades Estadual de Campinas, Campinas 2005;


PROJECT: Project Management Bdy of Knowledge ? Universo de Conhecimento em Gerencia de Projetos;

REIGOTA, M. (org). Rio de Janeiro: DP&A, 2001.2ª edição;


TENÓRIO, Fernando Guilherme. Gestão Social: Uma Perspectiva Conceitual. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: EBAP/FGV, v. 32, n. 5, setembro-outubro 1998, p. 7-23.;


UNESCO. La educación ambiental: lãs grandes orientaciones de la Conferencia de Tbilisi. Paris: ONU, 1980.

Autor: Viviane Polatto Schneider


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