Educação como transformação da sociedade.



A capacidade de pensar, de raciocinar permite ao homem questionar, indagar a respeito das coisas do mundo. E por meio desta inquietação permanente do homem, que busca respostas para as suas questões, que se produz o conhecimento. O conhecimento produzido é passado de geração a geração pelos membros mais experientes da família, da comunidade e também no ensino formalizado escolar.
Toda forma de vivência e conhecimento encontra-se eivada de pressupostos filosóficos a sustentar seus princípios e direcionar suas trajetórias. Cumpre-nos relembrar, porém, que, ao longo do nosso trabalho, incluímos, em nossa conceituação de educação, a exigência de que o processo, para que seja educacional, deva levar ao domínio e à compreensão de conteúdos considerados valiosos, e observamos que um processo que leva ao domínio, sem compreensão, sem crítica, sem investigação da razão de ser, de certos conteúdos, não pode ser visto como educacional. Nisso a Filosofia é indispensável. Este é um lembrete que qualifica o que dissemos no final do parágrafo anterior, porque muito embora possamos falar em educação em termos do que ela é, não devemos nos esquecer de que a educação como ela é freqüentemente não é educação, mas, sim, como muitas vezes vemos, doutrinação.
A educação, meio em que se dá a perpetuação dos conhecimentos, sempre esteve apoiada em um arcabouço filosófico que, explícita ou implicitamente, vêm determinando sua trajetória. Em qualquer tempo e lugar, é a filosofia que fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade, sobre o conteúdo a ser ensinado, sobre o educando e o educador, bem como o lugar para onde esses elementos devem, e podem caminhar.
A tarefa maior da filosofia em relação à educação é contribuir para a intencionalização da prática educacional, ou seja, atuar dentro de uma sociedade, num determinado momento histórico, dando à prática educacional condições para que ela se realize, numa ação pautada em sentido, refletida e apoiada em significações relevantes para os membros da sociedade.
A educação transformadora pode ser considerada numa relação dialética com a sociedade, sofrendo e exercendo simultaneamente influências sobre ela. Entendida desta forma, a educação também é mediadora, ou seja, serve de instrumento, de meio para a concretização de um modelo ideal de sociedade. Esta tendência procura demonstrar que é possível compreender a educação dentro da sociedade, com os seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar para a sua democratização.
Os teóricos da concepção transformadora da educação, não negam que a educação tem papel ativo na sociedade, nem recusam reconhecer os seus condicionantes histórico-sociais. Eles consideram a possibilidade de agir a partir das próprias condicionantes históricas. Ao se reportar a este tema Saviani (1987, p. 35) afirma que:
"Uma teoria do tipo acima anunciado se impõe a tarefa de superar tanto o poder ilusório (que caracteriza as teorias não-críticas, como a impotência (decorrente das teorias crítico-reprodutivistas), colocando nas mãos dos educadores uma arma de luta capaz de permitir-lhes o exercício de um poder real, ainda que limitado.""
Desta forma, a tendência transformadora pode ser denominada de "crítica" uma vez que não cede ao ilusório otimismo e interpreta a educação dimensionada dentro dos determinantes sociais, com possibilidades de agir estrategicamente.
Considerando as três tendências filosóficas de interpretação da educação que direcionam a forma de agir, politicamente, no contexto da prática pedagógica, infere-se:
a) A tendência redentora propõe uma ação pedagógica otimista, do ponto de vista político, acreditando que a educação tem poderes quase que absolutos sobre a sociedade.
b) A tendência reprodutiva é crítica em relação à compreensão da educação na sociedade, porém, pessimista, não vendo qualquer saída para ela, a não ser submeter-se aos seus condicionantes.
c) A tendência transformadora é crítica e recusa-se tanto ao otimismo ilusório, quanto ao pessimismo imobilizador. Por isso, propõe-se a compreender a educação dentro de seus condicionantes e agir para a sua transformação. Propõe-se a desvendar e utilizar as contradições da sociedade, para trabalhar realisticamente e criticamente para a sua transformação.
Cabe ao profissional da educação, comprometido com o conhecimento e desenvolvimento de sua sociedade, refletir sobre essas tendências sociais filosófico-políticas da educação, e escolher conscientemente aquela que melhor direcionará o seu trabalho.

Autor: Ana Paula Silva


Artigos Relacionados


Foucault E Educação.

As Legislações Do Ensino E O Direito Educacional

O Que é Educação?

Filosofia Da Educação Um Discussão Necessária

Resenha: Escola E Democracia

Surgimento De Um Pensamento Crítico Na Educação

A Educação Na Perspectiva De Possível Mudança