VIAGEM NO TEMPO - PARTE I



Era Janeiro do ano de 2003 quando recebi o telefonema do meu amigo e colega de faculdade, Jeremias Caldeiro. Jeremias era professor de física e morava na capital do Rio de Janeiro com sua filha, Karen.

-: Você, como é professor de historia e meu amigo, é o companheiro ideal para me acompanhar numa viagem fora do comum.

- Viagem fora do comum ? Não vai me dizer que você conseguiu concretizar aquela idéia de construir uma máquina do tempo?!

-: Exatamente, meu amigo Roger! Construímos a maquina, fizemos os testes necessários e deu tudo certo! Podemos transportar pessoas para qualquer época, passado ou futuro. Gostaria que você me acompanhasse a uma viagem ao passado, para acompanhar ao vivo, acontecimentos de nossa historia. O que me diz?



Assim, impelido mais pela curiosidade do que pelo espírito de aventura, no fim da semana parti de Porto Alegre para a cidade do Rio de Janeiro. Quando cheguei à residência de Jeremias, Karen me recebeu com uma expressão de aflição.

- Ainda bem que o senhor chegou professor! Estou preocupada com papai!

- O que aconteceu?

- Já lhe conto, entre.

Segui a jovem por um corredor até um aposento espaçoso, repleto de instrumentos eletrônicos. No centro da sala estava uma esfera de uns dois metros de circunferência, composta por placas metálicas. Junto a ela estava Olavo, irmão mais velho de Jeremias. Cumprimentei-o, dizendo;

- É essa a máquina do tempo? Custo a acreditar que tal coisa é possível!

- Nos baseamos na teoria do professor Artur Benson e a Trajetória Universal. Respondeu Olavo e acrescentou; - Jeremias resolveu fazer um teste e foi para o dia quinze de novembro de mil novecentos e oitenta e nove. Ele planejava ficar apenas cinco minutos, mas faz mais de três horas que está lá e não manda o sinal para que eu possa trazê-lo de volta!

Olavo fez uma pausa e apontou para um monitor de vídeo, onde aparecia o mapa das ruas do Rio de Janeiro e um ponto luminoso.

- Aquele sinal indica o ponto da cidade onde ele está, porem é necessário que ele ative o receptor que está em seu dedo para que eu possa enviar a energia da máquina para aquelas coordenadas e trazê-lo de volta para nossa época. Estou com intenção de ir procurá-lo, mas é necessário que Karen fique aqui, nos controles.

- Mas, tio, e se eu fizer alguma coisa errada?

- Seguindo as instruções do painel de controle nada pode dar errado.

Karen ficou calada, pensativa,

- Como é feita a transferência de agora para o passado? Perguntei.

Olavo pegou um anel e me mostrou. Era um anel de metal dourado com uma pedra de ônix onde estava gravadas duas letras C entrelaçadas.

- Este anel é o sinalizador. Jeremias está com um desses. Ele emite o sinal que aparece no vídeo. É necessário que o anel esteja no dedo da pessoa para que ela possa ser transferida. Nós registramos os dados físicos do viajante na máquina. Essa identificação impede que pessoas de outro tempo sejam transportadas por acidente.

- Acho melhor eu ir e você, que é o técnico, fica nos controles.

- Eu também vou. Afirmou Karen.

- É arriscado! Respondi. Mas, a moça estava decidida e assim, iniciamos os preparativos. Olavo nos deu roupas da época para usar. Paletó, colete e camisa, calça, sapatos e chapéu para mim, saia em forma de sino, casaquinho, blusa e botinas de cetim para Karen. Colocamos um anel no dedo. Olavo fez o nosso registro de identificação e nos deu bloco de notas, lápis e documentos que nos identificavam como jornalistas. Levamos também uma quantia em dinheiro e um pequeno aparelho eletrônico.

- Este aparelho além de ter um calendário e relógio, é um rastreador para localizar o sinal do anel de Jeremias. Vou mandar vocês para o mesmo ponto em que Jeremias chegou que é um local oculto, para que vocês não sejam vistos ao chegarem. Quando estiverem prontos para voltar, é só dar uma volta completa na pedra do anel. Alguma dúvida?

Olhei para Karen e ela sacudiu a cabeça.

- Acho que nenhuma. Respondi e entramos na máquina do tempo. Dentro não havia nada apenas uma lâmpada que emitia uma luz suave, azulada. Olavo trancou a porta e dali a instantes ouvimos um zumbido. Fiquei observando o calendário digital no aparelho e vi os números retrocederem rapidamente. A luz apagou-se de repente e fomos envolvidos por uma densa escuridão. A voz de Karen soou temerosa ao meu lado.

- Professor!

Antes que eu dissesse qualquer coisa uma claridade começou a surgir. Surgiram arbustos ao nosso redor e saímos deles logo em seguida para uma rua calçada com pedras, margeada por casas de alvenaria, de arquitetura antiga, um bar e um café ainda com portas e janelas cerradas, pois ainda era cedo, amanhecia. Karen respirou aliviada.

- Isso é incrível! Falei e examinei o calendário do rastreador. Estávamos no dia 15 de novembro de 1889, às 6 horas e 30 minutos da manhã. O sinal do anel de Jeremias estava em movimento no centro da cidade. Quando ergui o rosto, vi um vulto se destacar das sombras na nossa direção.

- Papai! Exclamou Karen e correu para abraçar Jeremias.

- Eu estava esperando que alguém viesse...

- O que aconteceu, papai?

Jeremias me cumprimentou e respondeu:

- Logo que cheguei, quatro soldados da Guarda Negra me abordaram, me revistaram e um deles resolveu ficar com o anel. Protestei, mas eles me ameaçaram prender e nada pude fazer, a não ser esperar aqui por vocês.

- Posso voltar e buscar outro anel para você...

Jeremias sacudiu a cabeça.

- Não adianta, só poderei voltar se o anel estiver comigo.

- Nesse caso, vamos recuperar o anel!

- Você tem algum plano?

- Ainda não, mas a gente pensa num quando encontrar o tal soldado que pegou o anel.

- É o único jeito! Respondeu Jeremias e começamos a andar.

- Custo a crer que estamos no século passado! Comentou Karen. - Hoje é o dia em que o Marechal Deodoro da Fonseca vai proclamar a República!

- Na realidade, em principio, a intenção dele é derrubar o governo do Ministro da Guerra, Visconde de Ouro Preto.

- Como assim, professor?

- O exercito já não se dá bem com o governo faz algum tempo. Esse desagrado aumentou quando Ouro Preto praticou atos injustos contra alguns oficiais. Além disso, suspendeu Benjamin Constant do cargo de professor da escola Militar e puniu seus alunos por terem ofendido o ministro da Guerra. Benjamin Constant é republicano, a tropa está descontente, mas ele não tem influencia sobre ela. Eles precisam de um líder e a escolha caiu sobre o Marechal Deodoro da Fonseca. Deodoro está com sessenta e dois anos, não está bem de saúde, mas vai aceitar a liderança.

Calei-me quando, ao chegar-mos em frente do Gasometro, nos deparamos com as tropas revoltosas. Os soldados marchavam para o Quartel General no Campo de Santana, tendo a frente, num carro, o Marechal Deodoro. Eram cerca de 600 soldados armados com carabinas, lanças, espadas, revolveres e 16 canhões. Consultando o rastreador, verifiquei que o anel se encontrava em Campo de Santana, exatamente no Quartel General. Imediatamente seguimos os revoltosos.

Parando na Praça onze de Junho, Deodoro mandou um oficial e oito soldados fazer o reconhecimento no Campo de Santana, onde havia forças da Marinha e da Polícia fora do quartel e dentro, cerca de dois mil soldados. Deodoro abandonou o automóvel, montou um cavalo e ordenou que o grupo continuasse avançando. Logo depois os revoltosos ficaram frente a frente com as forças da Marinha e da Polícia. O grupo hesitou por um momento e Deodoro decidiu avançar, gritando:

- Então, não me prestam continência?

Os soldados se perfilaram e deram passagem. Alguns minutos antes das oito horas daquela manhã, as tropas de Deodoro chegaram aos portões do quartel, e em seguida o Marechal mandou um oficial procurar Floriano Peixoto, para dizer-lhe que queria conversar com ele. Em seguida surgiu um carro ministerial do arsenal da Marinha com o Barão de Ladário e Deodoro mandou prende-lo. O Barão saiu do carro empunhando uma pistola e disparou contra o Marechal Deodoro, mas errou. Antes que ele atirasse novamente, dois soldados dispararam suas armas contra ele. Ladário tombou ferido, foi subjugado e preso. Logo em seguida Deodoro se preparou para entrar no quartel. Aproximei-me dele e me apresentei, exibindo a carteira de jornalista.

- Senhor Marechal, com licença. Posso acompanhá-lo para registrar esse momento?

O Marechal me olhou de alto a baixo.

- Registrar?

Peguei o bloco de notas e o lápis do bolso.

- Para o jornal, senhor!

O Marechal assentiu, sacudindo a cabeça. Fiz um sinal para Jeremias e Karen me esperar junto ao portão e segui Deodoro. Entrando no quartel, disfarçadamente examinei o rastreador e verifiquei que o anel se encontrava exatamente na sala para a qual Deodoro se dirigia. Na sala se encontrava o Marechal Floriano Peixoto, o Visconde de Ouro Preto e outros oficiais. Quando Deodoro entrou, todos permaneceram calados. O Marechal fez um discurso revelando as causas da revolta, elogiou o Exército Brasileiro, afirmando em seguida que Ouro Preto e o Ministro da Justiça ficariam presos até serem deportados para a Europa. Disse ainda, que enviaria uma lista do novo ministério a Dom Pedro II.

Enquanto ele falava, olhei para as mãos dos soldados e vi no dedo de um deles o anel de Jeremias. Passo a passo, me coloquei atrás dele e sussurrei ao seu ouvido:

- O Marechal prometeu prender ladrões e vândalos. Esse anel em seu dedo pertence a um dos sobrinhos dele. Acho melhor o senhor me entregar para eu devolver ao dono, antes que alguém o denuncie.

Imediatamente o homem tirou o anel do dedo e me entregou. Coloquei-o no bolso e sem pressa, me encaminhei para a saída. Logo depois me reuni a Jeremias e a filha no portão.

- Conseguiu? Perguntou Jeremias.

- Sim. Vamos sair daqui. Saindo do meio da multidão, fomos para um local isolado.

- O Marechal Deodoro proclamou a republica?

Indagou Karen.

- Não, ainda não e os republicanos se darão conta disso. Somente à noite Deodoro vai ceder aos pedidos de um grupo de republicanos, vai assinar um documento e nomear o Ministério Republicano. E amanhã Dom Pedro Segundo receberá ordem de deixar o país e no dia seguinte a família Imperial embarcará para o exílio. O Imperador está com sessenta e três anos, está doente e não tem mais ânimo para lutar. É isso, assim é o fim da monarquia. Então, vamos voltar?

Torcemos a pedra do anel e esperamos. Logo em seguida houve um relâmpago e num abrir e fechar de olhos nos encontramos dentro da máquina do tempo. Ficamos observando a data do calendário. Para a nossa surpresa, constatamos que os números estavam retrocedendo. Em vez de voltar-mos para nossa época, estávamos viajando para TRÁS NO TEMPO!

Fim da primeira parte.

Autor: Antonio Stegues Batista


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