Um dia de solidão?!



Edson Silva

Imagine acordar após silenciosa, mas estranhamente agitada, noite de sono e notar que algo, ainda não se sabe o quê, está mudado? Acendemos a luz, ligamos o chuveiro, mergulhamos na água quente e tudo parece misteriosamente calmo e comum, exatamente como o dia anterior, pelo menos até abrirmos a porta e ir para a rua. O céu está com um azul ainda mais lindo, o sol começa despertar e esbanjar seu brilho. Eu olho para um lado, olho para outro e não vejo nada se mexendo, nem folhas de árvores, não avisto bichos e mentalmente me pergunto pelos latidos dos cães. E onde estão pássaros, insetos? E pessoas? Para onde todos foram? Já que bancas de revistas e bares estão abertos, carros e ônibus estão parados nas ruas?

O único movimento visível naquele instante são luzes de semáforos, que passam do vermelho ao amarelo e ao verde e vice e versa, sucessivamente, mas sem que haja menor movimentação de veículos, alguns com motores ligados e todos, absolutamente todos, sem condutores ou passageiros. Do bar vem o cheiro do pão que acabara de dourar na chapa, do café recém passado na máquina, do leite fervido, mas nada de alguém para atender ou servir ou de fregueses, exceto eu, para degustar. Não me arrisco passar pelo balcão e preparar meu café da manhã, aquela solidão absoluta me intriga, tudo, tudo parado e então sigo até a desértica banca de jornal.

Noto que os poucos jornais expostos datam o dia anterior. Dá a impressão que a antiga e conhecida jornaleira acabara de abrir a banca e literalmente desapareceu. Algumas notas e moedas estão sobre o balcão, não há vento e, portanto, as leves notas ou folhas de jornais e revistas estão imóveis. Sinceramente não sei mais o quê pensar. Seria um sonho? Talvez! Transcendência para outra dimensão? Sei lá! Chego imaginar o antigo conto chinês, musicado pelo roqueiro Raul Seixas, onde um sábio descreve como lindo o sonho em que se vê como borboleta voando entre flores e pelo resto da vida tem dúvida se era o sábio vivendo o sonho ou a borboleta sonhando ser o sábio.

O silêncio total incomoda. Não há perguntas quando não se tem para quem perguntar e obviamente não há resposta alguma. Só percebo que caminhei tanto pela cidade deserta de vida, quando o céu começa escurecer. Verifico se não é nenhuma nuvem no céu, não é! É sim o inicio do anoitecer. Após tanto silêncio, me assusto com o toque do celular, a reação é imediatamente, atendo com um "alô!". Do outro lado, veio o que eu pensava que seria a resposta: "Em breve estaremos dando retorno sobre seu pedido de cancelamento de cartão de crédito, obrigado pelo contato. Após o termino desta gravação disque 1 para ouvir novamente a mensagem; disque 2 para gravar; disque 3 para apagar; tecle estrela para desligar..."

Edson Silva, 48 anos, jornalista da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sumaré
[email protected]

Autor: Edson Terto Da Silva


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