O PROBLEMA AMBIENTAL É MAIS COMPLEXO DO QUE PARECE



O PROBLEMA AMBIENTAL É MAIS COMPLEXO DO QUE PARECE

Já virou rotina o discurso constante dos problemas ambientais que têm atingido a todo o planeta Terra, que nos são evidenciados através dos mais diversos meios de comunicação e através das próprias tragédias que temos vivenciado, os quais têm trazido e que trarão grandes prejuízos à todos nós se medidas não forem tomadas urgentemente. Ainda dentro deste cenário, é perceptível que tais estragos são promovidos pelo próprio ser humano dentro um processo causa-efeito, onde o mesmo pouco tem feito para reverter este quadro.
Por outro lado, é também perceptível que este caos talvez esteja servindo de estratégia comercial e até mesmo de estratégia política para promover esta ou aquela empresa, ou este ou aquele político. Assim, é comum vermos empresas adotarem slogans ecológicos, colocando-se como "AMIGAS DO MEIO AMBIENTE" ao exporem ações que visam preservar este que é o meio de sobrevivência de todo ser vivo, também partidos políticos aderindo à defesa do ambiente, além da mídia escrita e falada que tem de forma massiça alarmado os efeitos negativos da ação humana sobre este ambiente, através de filmes, reportagens, propagandas, trazendo a imagem de um futuro sombrio se algo não for feito por todos.
Não podemos negar que tais ações são plausíveis e já demonstram um despertar para as questões ambientais, embora saibamos que há até nessas ações, interesses econômicos em jogo. Neste sentido, há um forte vínculo da propaganda com o sistema econômico, reforçando os valores da sociedade moderna, pois "apesar dos meios de comunicação poderem ser instrumentos de mudança social, eles raramente os são, pois a mídia ocidental se caracteriza por uma habilidosa propriedade e tem como propósito de entreter, embalar e vender, não informar e menos ainda levantar questões sobre paradigmas."(MEADOWS apud BRUGGER, 2005, p. 161 apud CALIBRI, p.80).
Como contraponto, a educação pode ser um importante instrumento de mudanças de hábitos e comportamentos neste sentido, já que a mesma pode favorecer não apenas a conscientização ambiental, que é algo particular, individual e consequência direta da percepção de mundo, mas principalmente a responsabilidade ambiental que exerce uma função social, estendida a todos componentes da sociedade. Neste sentido, há apenas três décadas o Brasil começou a caminhar rumo a internalização de condutas ecologicamente corretas, onde a inserção em 1997 do tema transversal Meio Ambiente e Conservação Ambiental nos PCN?s no Ensino Fundamental, direciona um trabalho contínuo durante todo o ano letivo, diferentemente de ações pontuais como projetos ambientais escolares, leituras esporádicas e comerciais que causam apenas um efeito passageiro.
No entanto, quando aprofundamos o estudo sobre o tema, percebemos que o problema ambiental é mais complexo do que parece, pois não pode ser resolvido através de medidas superficiais, mas sim através de uma compreensão mais ampla dos elementos econômicos, perpassando pela cidadania e culminando com o próprio sujeito, o qual para se envolver em questões ambientais necessita que suas emoções sejam estimuladas. Neste sentido, importantes reflexões nos são trazidas por SÁ (2004) sobre esta crise ambiental onde a mesma aborda vários aspectos da insustentabilidade atual.
A mesma expõe uma citação de David Orr (1992), o qual coloca que "a crise da sustentabilidade socioeconômica e ecológica que afeta gravemente a modernidade pode ser interpretada também como uma crise psíquica e espiritual" (apud SÁ, 2004, p. 72), tocando desta forma no ponto chave desta crise ao ser fruto de uma crise que existe dentro do próprio ser humano. É visível e sentido por toda sociedade, a perda de vínculos éticos que antes regulavam a conservação das relações afetivas e sociais dos seres humanos e da própria existência dos seres vivos, mas que na ausência de tais vínculos as relações homem-ser vivo e homem-homem tem sido alteradas negativamente. Se o homem não está bem consigo mesmo, como poderá fazer e disseminar o bem no espaço em que está inserido e com aqueles que o cercam?
A atual sociedade embasada em um sistema econômico selvagem que busca o lucro a todo custo, tem contribuído grandemente para esta crise ao promover o consumismo pois, "um mundo repleto de sociedades que consomem mais do que são capazes de produzir e mais do que o planeta pode sustentar é uma impossibilidade ecológica"(DIAS, 2004, p. 19 apud CALABRI, p. 79), e também ao estimular a valorização das pessoas pelo que elas possuem e não pelo que são em sua essência. Neste sentido, há uma desvalorização do caráter, da ética, dos princípios e uma exaltação à imagem pública, ao que as pessoas aparentam ter e representam dentro da sociedade, alimentados pelos programas televisivos e propagandas que são os maiores formadores de opinião pública, os quais difundem a inversão de valores e fortalecem uma sociedade aética e axiológica, baseada no desperdício e nas necessidades artificiais. Segundo David Orr (1992 apud SÁ, p.72), "a crise atual é fruto de condições patológicas da consciência humana", ou seja, o ser humano não está em condições normais de consciência, há algo de anormal, fora do lugar, que o tem impossibilitado de perceber a gravidade do problema que enfrentamos.
Além disso, este sistema baseia-se na subserviência da natureza "(...) apresentando-a como beleza natural, utiliza-se dela, domina-a e a explora incondicionalmente sem reservas, sem pudores, sem consciência para o futuro."(BRANCO, 2003, p. 8 apud CALABRI, p. 79). Neste sentido, a natureza é vista como dissociada do homem, um objeto descartável, dentro de uma visão cartesiana desta relação como se isso fosse possível.
Uma justificativa adotada pelo capitalismo se apóia na ideia do conforto. A humanidade se sente bem em desfrutar de uma vida de necessidades artificiais, as quais são as causadoras de um grande problema do homem moderno que é o sedentarismo, sendo vendidas como imprescindíveis para a vida diária e em nome disso, a mídia mercadológica destrói, extingui e mata. Com isso, temos a produção de resíduos não recicláveis, produtos menos duráveis que contaminam o meio ambiente e degradam a qualidade de vida de todo ser vivo, abrindo margem para o seguinte questionamento: será que vale a pena abrir mão da nossa sobrevivência e das gerações futuras em nome deste conforto?
Há a necessidade de se conjurar o coletivo e o singular, o privado e o público, onde as necessidades individuais não podem sobreporem-se às coletivas em nome de uma deturpada subjetividade, sendo perceptível uma manipulação neste sentido pois as necessidades individuais devem ser trabalhadas juntamente com as coletivas, entendendo-se a alteridade e respeitando-a.
Sendo então uma crise social e humana faz-se necessário que o homem busque estar bem consigo mesmo e depois com os outros, além de buscar o resgate de valores e princípios que foram esquecidos. É neste aspecto que a educação pode desenvolver um papel fundamental, pois enquanto práxis transformadora ela tem o poder de inquietar o homem à reflexão, ao confronto consigo mesmo e depois com os outros, à responsabilidade ambiental e consequentemente, à tomada de novos rumos dentro desta sociedade em busca de um desenvolvimento sustentável.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALABRI, Suely Brito de Souza.Tópicos Especiais em Educação e Trabalho. Guia de Estudo 01- Módulo II. Faculdade do Noroeste de Minas- FINOM.
SÁ, Laís Mourão. A desordem Criadora: Crise Ambiental e Educação. Ambiente & Educação - Revista de Educação Ambiental, Vol. 9, No 1 (2004).p. 72. Disponível em: http://seer.furg.br/ojs/index.php/ambeduc/article/view/912/368. Acesso em 17/12/2010

Autor: Ana Paula Bittencourt Santana


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