Catadores de Materiais Recicláveis



Catador de material reciclável
Uma entrevista de caráter descritivo exploratório, foi realizada com catadores de materiais recicláveis na cidade de Palmas ? TO, baseada no trabalho feito por MEDEIROS e MACEDO , na cidade de Goiânia - GO. Com o objetivo de investigar as relações de trabalho entre os catadores de materiais recicláveis e as organizações de reciclagem dos materiais coletados.
"O método científico é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais permitindo alcançar conhecimentos válidos e verdadeiros traçando o caminho a ser seguido, mostrando os erros e auxiliando nas decisões do cientista". Marconi e Lakatos (2000:46).
O método a ser utilizado neste projeto, sem descartar outras possibilidades, será o comparativo, para realizar comparações a fim de verificar as semelhanças e explicar as divergências entre esta pesquisa e a pesquisa feita pelas autoras supracitadas.
O trabalho foi elaborado com base no discurso de três (3) catadores de matérias recicláveis, não contemplando crianças e adolescentes menores de 18 anos, e idosos maiores de 60 anos. Para melhor resultado da pesquisa, foi necessário que todos os entrevistados estivessem ligados a uma das duas cooperativas de trabalhadores de coleta de materiais recicláveis de Palmas ? Tocantins, únicas cooperativas da cidade. As entrevistas foram feitas individualmente, gravadas e transcritas na integra.
P1, do sexo feminino, 30 anos, trabalha há três anos como catadora, é solteira e tem uma filha de 3 anos de idade que mora com os avós na zona rural próximo ao município de Monte do Carmo -TO. Reside na própria cooperativa em que trabalha onde divide o espaço com mais 2 colegas .Possui o ensino médio completo concluído no ano de 2003, não teve oportunidade de ingressar em um curso superior. É natural de Lago Verde ? MA , está morando em Palmas há 10 anos.


Após se demitir do emprego de faxineira em uma loja de produtos naturais soube através de uma amiga da cooperativa onde de imediato já começou a trabalhar como celetista e posteriormente se tornou associada. P1 vive exclusivamente da atividade de catador não possuindo assim outra renda. Alega gostar do que faz e não pensa em mudar de trabalho mesmo tendo consciência das dificuldades enfrentadas por um trabalhador informal.

P2, é uma senhora de 57 anos, casada, com duas filhas, uma de 32 anos e outra de 28 anos, porém moram em outro estado e P2 diz não saber como se encontra a vida atual delas, possui casa própria e reside com seu esposo.
Veio de Santana do Araguaia ? PA há 16 anos para acompanhar seu marido que conseguiu um emprego como lavrador. Ao querer ajudar na renda familiar começou a trabalhar com seu esposo, e nas horas vagas catava latinha para vender, houve um cadastramento para ganhar carrinho de coleta do município, P2 e seu esposo se cadastraram e conseguiram dois carrinhos para começar suas coletas, deixaram a lavoura e ingressaram na profissão de catador de materiais recicláveis.
Paralelo ao trabalho, P2 fazia artesanato para vender, soube por uma amiga que existia uma cooperativa de materiais recicláveis que oferecia cursos na área de artesanato, mas tinha que está agregado à cooperativa, então decidiu ser uma cooperada. Nos últimos 6 anos está vinculada à essa cooperativa, sua renda mensal varia entre duzentos e trezentos reais, sem o trabalho de artesanato que parou há três anos.
Estudou até a segunda série, atual 3º ano do ensino fundamental, alegando não conseguir aprender parou de estudar. Atualmente está sendo alfabetizada em uma sala de aula para educação de jovens e adultos dentro da própria cooperativa.
O sujeito P3, também do sexo feminino, tem 45 anos reside em Palmas- TO há 13 anos, é casada há 6 anos, tem cinco filhos de seu primeiro casamento, atualmente nenhum reside com ela. Ela estudou até a 5ª serie do primeiro grau, atual 6º ano do Ensino Fundamental. Trabalha na cooperativa a 3 meses, sendo que sua renda mensal é em média 250 reais. Seu marido também trabalha como catador.

Os autores Silva (2002) e Magera (2003) expõe que a escolaridade é um fator que influência e contribui para a exclusão do mercado formal de trabalho.
Podemos constatar isso no discurso de P2:


"Morava na roça, num tinha como estuda né, quando vim pra cá, estuda, fiz até a segunda série, mais parei né... porque não conseguia aprende, num ia fica num lugar que não aprendia... agora to estudando de novo aqui na cooperativa tem umas professora que vem ensinar a gente né, ai dá pra aprender um pouco, a lê alguma "coisinha, escrever o nome eu já aprendi.." (SIC)

A baixa escolaridade, e a profissão de catador não estão associadas a auto - imagem que os catadores fazem de sua profissão e posição social.


"hoje eu acho, eu trabaio, um trabaio muito importante, e as pessoas não reconhece o que a gente faz, a importância que tem nosso trabaio, por que quando eu vou dá uma entrevista na televisão, eu falo que eu não me sinto uma catadora de lixo, eu me sinto uma agente ambiental, por que eu ajudo na limpeza de tudo que ia jogar no lixo por acaso no lixão né, uma coisa que se tivesse jogando essas coisas tudim no lixão, não tinha mais como suportar." P2 (SIC)

Considerando que os entrevistados tinham ligação direta com a cooperativa, observou-se os benefícios de pertencer a uma cooperativa levando em conta o real significado de cooperativa segundo o dicionário Aurélio (1997), onde cooperativa é: sociedade ou empresa constituída por membros de determinado grupo econômico ou social, e que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada atividade econômica.
No discurso de P1 verificam-se alguns pontos positivos em fazer parte de uma cooperativa:
"Aqui ninguém pega no meu pé, e a gente ganha mais também quando é cooperado. A gente tem mais liberdade pra fazer as coisas." (SIC)
Mesmo com os discursos acima, observa-se que não é prazer ou apenas baixa escolaridade que levam esses trabalhadores a ingressarem nessa atividade, mas também, a falta de opção e o fator idade.

"Eu to aqui por causa da falta de emprego" P3 (SIC)

"Quando a gente chegar nur lugar ai a gente vai procurar serviço né, ai ele vai empregado e você vai procurar um meio de trabaia também né, ai como eu, as vez família né, já não achava que eu tinha aquela idade pra trabaiá em casa de família ai eu resolvi ajuntar latinha e vendia, ai começei e depois entrei na cooperativa mermo logo" P2 (SIC)
Segundo os entrevistados a idade é um empecilho para o ingresso no mercado de trabalho formal. De acordo com Castro citado em Medeiros (2003), um dos fatores que mais afetam a participação no mercado de trabalho formal é a idade. Porém isso não acontece na catação, pois a atividade não requer exigências.
Em relação a profissão, desde 2002 a profissão de catador é regulamentada, e são registrado na CBO ? Classificação Brasileira de Ocupações sob o numero 5192, o reconhecimento de profissão de catador de materiais recicláveis representou um passo importante na busca de reconhecimento de sua profissão. Percebe-se que um dos fatores que os catadores mais buscam é o reconhecimento tanto por parte governamental como por parte da sociedade.

"O que eu acho ruim é o reconhecimento das pessoas que não reconhece o que nós faz, eu acho muito triste isso." P2 (SIC)

São precárias as condições de trabalho dos catadores de matérias recicláveis visto que são inúmeros ricos à saúde, os catadores são desprovidos de direitos trabalhistas, como, acidentes, aposentadoria, décimo terceiro salário, férias, seguro desemprego, além de serem mal remunerados, vitimas de preconceito e de não reconhecimento.
Levando em consideração as expectativas futuras dos entrevistados nota-se um certo descaso com seu próprio futuro, pois trata-se de um trabalho informal. O trabalho informal é o tipo de trabalho desvinculado a qualquer empresa, ou seja, é o trabalho indireto onde não há vínculo empregatício por meio de documentação legalizada. Esse tipo de trabalho teve grande crescimento na década de 90 quando a competitividade fez com que as empresas optassem por mão-de-obra qualificada e também frente à crise econômica, as empresas tiveram que diminuir seu quadro de funcionários e baixar o valor de suas mercadorias. Nenhum dos entrevistados contribui com INSS observando assim a não preocupação com a aposentadoria. Essa ausência de perspectivas futuras é notada no discurso de P1 e P2:

"A gente não pode fazer nada néh, o dinheiro é curto não dá pra pagar INSS. A única coisa que eu pagava era a funerária agora nem isso mais. Não penso no futuro não." P1 (SIC)

"Eu só posso me aposentar pela idade, por eu trabalhar aqui eu não sei se nós temos alguma [vantagem] só se nós pagar o INSS. E eu não pago." P2 (SIC)

Em relação a acidentes de trabalho, Porto et al (2004), ressaltam que certos tipos de doenças, como, dores corporais, problemas osteo- articulares e hipertensão são predispostas pelo trabalho exaustivo, somada ao trato com o lixo que os catadores se submetem.
Os participantes não mencionam doenças relacionadas ao lixo ou acidentes de trabalho associadas à catação.

"não graças a Deus não [tive um acidente de trabalho]... só um dia eu tava de sandália e ai eu ia separar como as meninas tão separando, e ai eu fui andando e não prestei atenção, um espeto que veio no saco, um espeto de assar carne, eu levei o pé assim, e ele entrou no meu pé, mais isso não é [acidente de trabalho]." P2

Os catadores não consideram perfurações, cortes leves, escoriações, como acidentes de trabalho.
Miura (2004) diz que os catadores não parecem preocupados com os danos provocados à saúde pelo trabalho, porque podem suportar as dores, os arranhões, porém a fome não.
Podemos constatar isso no discurso de P2
Você utiliza algum material de proteção para catar o lixo?Porquê ?Já se cortou?

"Palmas é muito quente, quente demais, ai a gente tá com um projeto e a coca-cola vai dá a farda pra gente, só que eu não queria aquela que eles usam, eu preferia a camiseta, sabe porque? Porque é quente demais.... um tempo nós ganhamos luva, ganhamos mascara, só que ninguém agüenta... dá uma gastura tão ruim." (sic)

Não foi verificado o uso de equipamentos de proteção em nenhum dos trabalhadores entrevistados.






DISCURSSÃO

Considera-se que os objetivos da pesquisa foram alcançados, uma vez que foi possível levantar dados por meio do roteiro de entrevista cedido pelas autoras Medeiros e Macedo acerca da percepção que os catadores têm de suas relações de trabalho e de sua profissão, para fazer um comparativo com o trabalho feito pelas autoras em Goiânia ? GO.
Os fatores expostos foram comparados aos fatores do trabalho de Medeiros e Macedo (2006).

No fator escolaridade, em ambos as pesquisas foi considerado um fator excludente do trabalho formal. Já em relação a auto ? imagem associada à escolaridade e a profissão, na pesquisa feita do Medeiros, muitos catadores associam a falta de estudos à condição de ter que viver do trabalho de catação, o que para muitos representam humilhação e vergonha, e eles mesmo denotam preconceito e descrédito para com sua própria profissão. Na pesquisa feita em Palmas, descarta-se o preconceito e o descrédito partido dos próprios catadores, como exposto no discurso de P2, na qual diz não se ver como uma catadora de lixo, e sim como uma agente ambiental, alguém que cuida da cidade.
No fator idade, ambos os casos, vêem a idade como um obstáculo para o ingresso no trabalho formal. E a idade dos sujeitos é entre 30 e 60 anos.
Com relação a categoria profissão, nos dois trabalhos observa-se que a representação ou sentido ou é dotada de características ruins ou características boas. A relação dos catadores com o lixo é ambígua.
Em relação as expectativas futuras, houve uma diferença entre as pesquisas, em Goiânia os entrevistados se mostraram preocupados com a aposentaria, proteção trabalhista, afastamento por acidentes de trabalho, e em Palmas, eles estão cientes que não terão seguranças após deixarem o emprego, porem nos seus discursos não se mostraram preocupados em relação a expectativas futuras, em um dos discursos foi enfatizado o não pensar em futuro.
Sobre acidentes no trabalho, ambas as pesquisas, os participantes não consideravam cortes, arranhões, perfurações, escoriações, como acidente de trabalho, para eles acidentes de trabalho eram apenas algo que os impossibilitasse de ir ao trabalho.
Quanto ao uso de equipamentos de proteção, em Goiânia verificou-se o uso em alguns catadores, especialmente luvas, na cidade de Palmas, nenhum dos entrevistados estava fazendo uso de equipamentos, alegando estarem em uma cidade quente e as roupas incomodar.


























REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS


MAGERA, M. Os empresários do lixo: um paradoxo da modernidade. Campinas, SP: Átomo. 2003

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A.. Metodologia do trabalho científico. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2.ed. São Paulo, Pioneira, 2000.

MEDEIROS, Luiza Ferreira Rezende de; MACEDO, Kátia Barbosa. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 18, n. 2, Aug. 2006 . Available from
PORTO, M. F. S. et al. Lixo, trabalho e saúde: um estudo de caso com catadores em um aterro metropolitano no Rio de janeiro, Brasil. Caderno Saúde Publica, Rio de Janeiro (2004).


Autor: Cleciara Souza Duarte


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