Presente de Natal



"Com grande freqüência, a política consiste na arte de trair interesses reais e legítimos e de criar outros, imaginários e injustos." (Arturo Graf)

O senhor Francisco Everardo Oliveira, o palhaço Tiririca, talvez tenha encontrado a resposta adequada para sua indagação durante o horário eleitoral: o que faz um deputado federal?
A farra promovida pelos parlamentares em Brasília, dilacerando mais uma vez o erário público com o designo de atender somente aos seus interesses pessoais vis, é apenas mais um episódio de injustiça na história do País. O "modesto" reajuste salarial teve, evidentemente, o efeito cascata já esperado. Os vereadores de Sorocaba, aproveitando o ensejo, não hesitaram nos seus propósitos fidedignos e, conforme noticiou o jornal Cruzeiro do Sul, levaram apenas trinta segundos para promover um reajuste de quase 100% dos seus merecidos rendimentos. Parlamentares do Rio Grande do Sul, visando cobrir a inflação possivelmente dos próximos 10 anos, realizaram um pequeno acréscimo de 73,3% nos seus salários, saltando dos míseros R$ 11.564,76 para os justos R$ 20.042,34.
De fato não deve ser nada cômodo sobreviver com um salário de pouco mais de onze mil reais. Dificilmente, com esse rendimento, alguém teria uma qualidade de vida razoável. Seria impossível, por exemplo, arcar com as despesas domésticas recebendo pouco mais de vinte salários mínimos. O que diremos, então, dos nossos sublimes deputados federais? Nada mais justo que recebam o equivalente a quarenta e sete salários mínimos. É plausível que lutem pelos seus direitos, sobretudo quando o assunto refere-se à questão salarial. O problema, nesse caso, é saber quem lutará pelos meus direitos.
A que se deve tamanho despropósito? Em uma realidade social tão áspera que vivenciamos, por que não há pudores em agir de forma tão obscena? Será que não há, na mente de nossos ilustres legisladores, o mínimo de coerência, razoabilidade e bom-senso? Infelizmente, a resposta é negativa. Não há razão para cobrar nada desses homens. Eles estão, em sua grande maioria, no lugar errado. Jamais poderiam representar a sociedade organizada, uma vez que a quase totalidade é desprovida de qualquer espírito crítico, força de vontade e mesmo caráter. São homens que defendem interesses espúrios, que trabalham diariamente contra a população miserável, aprovando leis que favorecem sempre seus padrinhos e vão de encontro a qualquer possibilidade de implantação de uma política séria de distribuição de renda.
O Brasil se transformou em um covil de malandros, gatunos, aproveitadores e vagabundos. Um País de despudorados, onde prevalece constantemente a ociosidade, o comodismo e a burrice crônica de um povo mal estruturado. Isso não se deve a esse ou àquele governo, mas sim a um sistema de exploração que se inicia há séculos e se perpetua trazendo consigo todas as mazelas da desigualdade, da violência, enfim, do caos social que é conseqüência natural dessa política. Nosso poder constituído é o reflexo de uma sociedade ignorante, carente de instruções mínimas que a levariam, ao menos, a uma melhor condição de vida. Nossa realidade é um teatro, um jogo de cartas marcadas onde sempre prevalecerá o oportunismo e a regalia de poucos frente ao sofrimento da maioria. Quantas crianças com problemas de subnutrição nós iremos perder a fim de que haja o mínimo de consciência de que somos responsáveis diretos pela escolha dos nossos representantes? Será que milhões de jovens ainda terão de morrer vítimas do crack, destruindo nossa força de trabalho, para que possamos enxergar que o nosso voto pode e deve ser o diferencial na condução de uma política de saúde pública adequada? Em que momento seremos surpreendidos por pensamentos dessa natureza?
Ao menos, ao final de todo esse festival, provavelmente o palhaço Tiririca já tenha descoberto o que realmente faz um deputado federal...

Autor: Fernando Grecco


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