Administrando Profisionais Da Saúde



ADMINISTRANDO PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Letícia Malard*

Resenhar resumindo um livro de 286 páginas tamanho 28x21cm., cujo núcleo é a administração de Recursos Humanos em Medicina, é para nós uma coragem e um desafio, por não pertencermos às áreas em questão. Por outro lado, acreditamos que, pelo menos por um dia na vida, a quase totalidade dos cidadãos não especializados na área da Saúde já percorreu um hospital – como trabalhador, cliente, paciente, acompanhante ou visitante. Daí acreditarmos, talvez ingenuamente, que um resenhista seja capaz de, em poucas páginas, fazer a apresentação de um livro sobre o assunto, com a finalidade de cooperar com a sua divulgação aos interessados.

A obra em pauta, da Medbook Editora Científica, é Gestão do Corpo Clínico: Experiência dos Hospitais da ANAHP – editado pelos doutores Henrique M. Salvador Silva, Alberto Kaemmerer e Denise Schout. Constitui-se de 37 textos no total, de 60 autores vinculados a 25 hospitais integrantes da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP). Estes se encontram assim distribuídos: São Paulo (13), Rio de Janeiro (3), Distrito Federal (2), Minas Gerais (2), Pernambuco (2), Espírito Santo (1), Mato Grosso (1) e Rio Grande do Sul (1). Acrescente-se que alguns deles integram redes, e existem critérios rigorosos para admissão a essa jovem Associação, o que explica o fato de seus associados serem, por enquanto, muito poucos. Em Minas, por exemplo, apenas o Mater Dei, de Belo Horizonte, e o Monte Sinai, de Juiz de Fora, pertencem a ela. Desses 25 hospitais, 09 são acreditados no nível máximo de excelência pela Organização Nacional de Acreditação (ONA).

Inicialmente, convém observar que a obra ultrapassa aquilo que anuncia em seu título, para se constituir em história, descrição e exame crítico-analítico de diversos aspectos dessas instituições de saúde. Enriquece-a a disponibilização de dados através da grande quantidade de excelentes imagens – quadros, fotos, gráficos e tabelas – para ilustrar toda a matéria. Assim, o volume retrata um excelente panorama conceitual e "fotográfico" da rede hospitalar top do Brasil.

No espaço via de regra destinado a uma resenha, e de livro com tantos textos distantes de nossa especialidade, é impossível aprofundar qualquer aspecto. Assim, pretendemos apenas apresentar e divulgar a obra especializada, numa escrita de leiga: sem avaliação de mérito, tentando contemplar, na medida do possível e em poucas palavras, todos os seus textos, considerando também o maior ou menor tamanho deles. Em vários casos, vamos pinçar elementos que mais nos chamaram a atenção. Sob a ótica do especialista, é possível que tais elementos não mereçam o destaque que lhes damos. E mais: é provável que se tenham omitido questões importantes para cada um desses hospitais.

Assim, pedimos desculpas aos autores dos textos se não soubermos apreender o fundamental de sua exposição, bem como o diferencial da instituição. Cremos que nossa escolha de dados foi válida, sobretudo por termos tentado realizar o milagre de, em poucas páginas, desenhar para os leitores um vôo de pássaro sobre as unidades desse conjunto hospitalar brasileiro de primeira linha.

O livro se abre com a Apresentação do Dr. José Antônio de Lima, Diretor Presidente da ANAHP, seguida pelos textos dos doutores-editores: H. Salvador Silva – seu vice-presidente, Diretor Clínico e Diretor Técnico do Hospital Mater Dei (MG) – resume a história da Associação, fundada em 2001, e relata as formas de trabalho desta. Destaca o "Projeto Diretrizes", o "Projeto Melhores Práticas", as ações do Subcomitê de Diretores Técnicos, a visão compartilhada que devem ter o gestor e o corpo clínico de um hospital, e a relação entre hospitais, médicos e planos de saúde;

Alberto Kaemmerer – Diretor Técnico-Médico e Científico do Sistema de Saúde Mãe de Deus (RS) – focaliza o desafio permanente das Reformas, problematizando-as no cenário brasileiro, e lembra que, antes de mais nada, quem sustenta a atividade médica é a relação médico-paciente, com o amálgama dos diferentes perfis médicos;

Denise Schout disserta sobre o "Projeto Melhores Práticas" da ANAHP, do qual é Assessora Técnica. O Projeto procura garantir aos afiliados da Associação o aprimoramento da qualidade assistencial e da gestão de suas equipes clínicas. Como se observa nesse livro, os hospitais vêm utilizando-o com sucesso.

Vejamos a seguir alguns itens dos relatos desses hospitais, relatos elaborados por seus administradores e/ou representantes, a quem identificaremos apenas pelo sobrenome. Para maior fluidez e visibilidade da leitura, vamos paragrafar cada Hospital. No seu enfoque, daremos preferência ao tema central do livro. Encerrando, iremos referir-nos a seus dois Apêndices e apresentar alguns comentários pessoais sobre o conjunto da obra.

Casa de Saúde São José (RJ). Abordando as vantagens da gestão de corpo clínico aberto –aliás adotada como praxe no setor – Gouvêa destaca a constância e a abundância de pacientes eletivos, a maior variedade de especialistas, a liberdade de escolha de médicos pelos pacientes e a freqüência dos melhores médicos da cidade.

Clínica São Vicente (RJ). L. R. Londres privilegia o histórico daquela tradicional Clínica, bem como tendências e considerações teóricas sobre a Gestão. Falando da gestão evolutiva do corpo clínico da São Vicente, mostra como, no início, era limitada a conversas informais entre os dois fundadores. Hoje, em processo de recuperação de sua filosofia, após as turbulências que sofreu nas últimas décadas, a São Vicente se defronta com uma tendência – questão crucial, a ser trabalhada: o aumento ou a diminuição do nível de consciência das pessoas em suas interações individuais e profissionais.

Grupo Vita (5 hospitais no País, com sede em SP). Balestrin & Resende comparecem com um texto apoiado em extensa bibliografia, onde historiam o sistema hospitalar desde o século XVIII. Apresentam a Rede Vita. Detalham a organização, a gestão, o funcionamento, os serviços, os indicadores de avaliação e o planejamento estratégico do corpo clínico. Para fazer parte deste, o médico precisa ser apresentado por outro médico que já pertença ao corpo clínico do Hospital – medida adotada também por inúmeras instituições. Informa-se que, das 14 estratégias estabelecidas para seus hospitais, 7 estão diretamente relacionadas a seu corpo clínico, o que faz o grupo ter a maior densidade de participação. Um texto complementar de Mascarenhas e Silva expõe o "Manual de Boas Práticas Médicas", que foi distribuído em 2007 no Vita de Volta Redonda (RJ).

Hospital 9 de Julho (SP). Capalbo inicia seu texto historiando o conceito de "corpo clínico" para, em seguida, transmitir informações gerais sobre o 9 de Julho, as características de seu corpo clínico e suas alterações na passagem da empresa do caráter familiar para a governança corporativa. Àquela altura se introduz a gestão profissionalizada e sua operacionalidade junto ao corpo clínico, assim como a questão da epidemiologia voltada para a assistência. Conclui mencionando as dificuldades encontradas, os desafios e metas alcançadas – itens esses que também compõem outros relatos da obra.

Hospital Anchieta (DF). Foi o primeiro hospital da América Latina a receber a certificação ISO 9001-2000. N. P. Pereira traça seu panorama geral, destacando a reestruturação do corpo clínico com a criação de um comitê gestor, de reuniões crítico-analíticas, reestruturando-se ainda as comissões de auditoria médica. Outras inovações foram efetuadas, como o prontuário eletrônico e programas de bonificação. Indicadores de resultado do corpo clínico vêm detalhados, de 2002 a 2006.

Hospital e Maternidade Brasil S.A. (SP). Takashima & Farah apresentam o organograma do corpo clínico, suas características, modelos de remuneração, especialidades, planejamento estratégico, benefícios médicos, dificuldades e desafios. Ressaltem-se algumas imagens do software de acompanhamento dos indicadores. Os assistenciais são orientadores para o programa de participação nos lucros e resultados.

Hospital e Maternidade Santa Joana (SP). O texto de Richtmann está centrado no Programa de Controle da Infecção Hospitalar do Santa Joana, descrito e analisado minuciosamente, inclusive questões polêmicas sobre o assunto. Foram instituídas campanhas para o melhor uso dos antibióticos na profilaxia cirúrgica e de vacinação contra gripe e hepatite B.

Hospital e Maternidade São Camilo – Pompéia (SP). Um dos textos mais abrangentes do livro, escrito por Freitas, Galvan, Schiavon & Pollara, destaca dois projetos, visando à qualidade e segurança na assistência. O primeiro, inspirado na Campanha 100.000 Vidas, do Institute of Healthcare Improvement (IHI); o segundo – descrito por Wachter & Goldeman (1996) – modelo caracterizado pela existência de um médico hospitalista, com a função de melhorar a assistência intra-hospitalar e aos pacientes internados.

Hospital e Maternidade São Lucas de Ribeirão Preto (SP). Palocci, Freitas da Silva, Rotta, Françolin & Reis privilegiam no texto a gestão da assistência em cirurgia cardíaca. Apresentam Quadros com os principais resultados do trabalho de acompanhamento nesse tipo de assistência.

Hospital e Maternidade São Luiz (SP). Um resumo objetivo do que é o hospital e seu corpo clínico vem descrito por Bevilacqua, Cervone & Cordeiro. Destacamos a cobrança de honorários dos convênios: todos os membros do staff do hospital estão relacionados como pessoas jurídicas na empresa SERVMED, que lhes desconta apenas os impostos e custos operacionais.

Hospital Esperança (PE). Cavalcanti & Sposito demonstram como uma simples clínica familiar de 1950 se transformou num grande complexo hospitalar com a fusão de hospitais, projetado para realizar procedimentos de alta complexidade. O texto detém-se em questões jurídicas e em procedimentos dos planos de saúde, que interferem problematicamente na tríade relacional médico-hospital-paciente. Seus autores pregam o diálogo como solução para isso.

Hospital Israelita Albert Einstein (SP). O texto de Cendoroglo Neto & Sardenberg está restrito à gestão do corpo clínico, que é feita em conjunto pela diretoria clínica e pela diretoria de prática médica – modelo esse também presente em outras casas de saúde. O modelo dessa gestão tem como principal objetivo incentivar, promover e garantir o atendimento aos seis princípios do Institute of Medicine, dos Estados Unidos, que são: assistência focada no paciente, assistência no tempo adequado, eficiência, eqüidade, efetividade e segurança do paciente.

Hospital Mãe de Deus (RS). São três os artigos relativos a esse hospital: o primeiro, escrito por Seferin & Alves da Silva; os outros dois, por Kaemmerer. No primeiro, lê-se uma grande aula sobre gestão médico-assistencial integrada à gestão administrativa – sustentação de novo modelo e foco estratégico.

O segundo artigo, específico sobre a gestão do corpo clínico, informa sobre seu funcionamento naquela instituição. Aí abordam-se problemas gerados pela "fábrica de médicos", por decisões judiciais muitas vezes equivocadas do ponto de vista médico e ainda o corporativismo versus a ética. Detalham-se as necessidades e funções do corpo clínico contratado e o das 42 especialidades médicas. Enfatiza-se o prontuário médico numa relação indissociável com o corpo clínico, formando uma combinação que, segundo o autor, representa o maior diferencial competitivo de um hospital.

O terceiro artigo – "Um Conceito de Médico, Uma Garantia de Segurança Assistencial" – apresenta em detalhes uma proposta de modelo, denominado "médico-assistencial", cujo carro-chefe é o "Sistema de Resposta Rápida" e, complementarmente, uma nova formatação para o trabalho dos médicos hospitalistas.

Hospital Mater Dei (MG). Apresenta três textos longos, densos e de extrema utilidade para os profissionais da Área, assim como para leigos: dois da autoria de Pedrosa, H. Salvador Silva & Couto, e um de J. Salvador Silva. O primeiro versa sobre o corpo clínico e o Processo de Acreditação Hospitalar pelo modelo da ONA. Os autores conceituam "Acreditação" e "Qualidade", fazem o histórico da Acreditação Hospitalar entre nós, estabelecem as relações entre o corpo clínico, o processo e os níveis de Acreditação. Terminam relatando a experiência do Hospital, ressaltando os procedimentos de prevenção de elementos adversos, tanto infecciosos quanto não infecciosos. Há uma extensa bibliografia sobre o assunto.

O segundo texto dos três autores intitula-se "O Hospital, o Corpo Clínico e a Operadora de Plano de Saúde: Como Conciliar Interesses – Cenários e Perspectivas na Gestão do Corpo Clínico". O estudo inicia-se pela contextualização do cenário da Saúde, passa pelo histórico das tendências do mercado para o novo modelo de remuneração e chega ao modelo Mater Dei de gestão do corpo clínico, baseado em métodos gerenciais para empresas. Neste modelo se inclui o programa "Qualitas", cujo objetivo é a integração "do ato médico aos procedimentos assistenciais e administrativos, padronizando-os e garantindo a qualidade dos serviços prestados." Os protocolos médicos são acessados de qualquer lugar, via internet. Referente ao período de 2005 a 2007, o texto detalha a análise de desempenho dos indicadores de qualidade e segurança assistenciais, bem como da terapia intensiva de adultos e os resultados finais com a gestão de riscos e de desempenho assistenciais. Entre as conclusões desse trabalho, observa-se "um alto comprometimento do corpo clínico, estratégico com esse modelo de gestão, tornando-o um participante ativo nos processos gerenciais." Encerram o estudo com grande bibliografia recomendada.

No terceiro texto, J. Salvador Silva revela a importância do trabalho em equipe como fator de união multidisciplinar para o compromisso com a qualidade no atendimento médico-hospitalar. Na condição de médico que sempre trabalhou em equipe, de fundador e Diretor Presidente do Hospital Mater Dei, relata suas experiências com esse tipo de trabalho, tecendo considerações sobre o papel da liderança e sobre a dinâmica de grupo, com ênfase na dinâmica da Equipe Mater Dei. Conclui afirmando que esta sempre incluiu a persistência, a esperança e a paixão em tudo o que faz, na certeza de que somente assim será capaz de se envolver em suas ações e dar o melhor de cada um. Trata-se de um texto "de experiências feito" e, portanto, de grande utilidade para as novas gerações de gestores.

Hospital Meridional (ES). Benjamin Neto & Zanotti relatam que o corpo clínico é formado na sua maioria por sócios médicos do hospital, o mesmo acontecendo em seus serviços terceirizados. Destacam o gerenciamento clínico do pronto-socorro, cujos médicos são pagos independentemente da produtividade ou de repasse dos convênios.

Hospital Monte Sinai (MG). Foi o primeiro hospital do estado a ser acreditado pela ONA, e a partir da acreditação recebeu outras premiações. Relatam Moraes, Campello & Cangussu que a grande contribuição do hospital foi não incorrer numa deficiência comum nas instituições do setor, ou seja, a fragmentação entre a gestão da instituição e a gestão do corpo clínico. Os objetivos deste devem coincidir com os da instituição, os quais são democraticamente discutidos e definidos em instâncias decisórias. As definições de seus indicadores levam em consideração a avaliação das informações qualitativas e comparativas e variáveis do ambiente externo.

Hospital Nossa Senhora de Lourdes – São Paulo (SP). Sinisgalli apresenta informações bastante detalhadas sobre o hospital, declarando que, atualmente, este está fazendo modificações em seus controles. Seu modelo de gestão institucional se baseia no Balance Scorecard, e o sistema de controle total da instituição através do software Interact está sendo implantado.

Hospital Pró-Cardíaco (RJ). Membro fundador da ANAHP, escrevem sobre ele Mesquita, Ribeiro & Ferreira. No gerenciamento do corpo clínico, destacam o desafio entre práticas de gestão (mundo administrativo) versus realidade (mundo assistencial). Abordam o novo profissionalismo médico. A primeira "consideração final" estabelece que a principal tarefa do gestor de saúde "é a construção de um corpo clínico orgânico, que possa interagir e responder às ameaças /oportunidades do meio comprometido com formas científicas de gestão."

Hospital Samaritano (SP). Dos mais antigos do Brasil (1894), é um hospital filantrópico sem fins lucrativos. Bettarello configura a situação do hospital no passado e no presente, bem como as dificuldades enfrentadas por uma casa de saúde com esse perfil. A constituição do corpo clínico foge ao padrão das demais instituições: os médicos são categorizados em autorizados, efetivos, visitantes, honorários e beneméritos. No entanto, sua gestão é moderna e segue as normas vigentes consensuadas para os outros hospitais presentes no livro.

Hospital Santa Catarina – São Paulo (SP). Outro antigo hospital beneficente (1906), é mantido pela Associação Congregação de Santa Catarina. Patah & Sanchez Neto traçam um quadro completo dos diversos períodos do hospital, cuja estrutura se organiza em Unidades Estratégicas de Negócio, inclusive no que tange ao corpo clínico. Estas UENs estão explicitadas no texto e avaliadas em sua Conclusão.

Hospital Santa Luzia (DF). Makiyama, Tamura, Cunha & Maia traçam a situação passada e a atual da instituição. Destacam a nova reestruturação organizacional de sua assistência e transcrevem o novo regimento interno do corpo clínico, onde se definem minuciosamente as competências de todas as categorias médicas que atuam no hospital. O vínculo entre os médicos e este se faz por meio de contratos de prestação de serviços com as empresas de cada equipe médica. Os contratos são firmados somente com as clínicas que atuam diuturnamente.

Hospital Santa Rosa (MT). Segundo Mello & Almeida, a marca inovadora e pioneira do hospital, no estado, foi a instalação de consultórios médicos na mesma estrutura hospitalar. Com 18 andares e 180 consultórios, ele atende a todas as especialidades, resultando na melhor integração entre médico-paciente-hospital.

Hospital Sírio-Libanês (SP). O texto de Schettino & Ceschin focaliza a gestão do corpo clínico nas Unidades de cuidados aos pacientes graves, reestruturada, às quais são dedicados 25% dos leitos do hospital. Ele foi pioneiro no conceito de UTI, como entendida hoje no Brasil. O corpo clínico, os pacientes e seus familiares constituem o diferencial do Sírio-Libanês. O corpo clínico é bastante fidelizado ao hospital, exigente, composto por médicos renomados e formadores de opinião em suas especialidades. Muitos são professores titulares e assistentes de famosas escolas médicas de São Paulo. O perfil desses médicos é o grande captador de pacientes para o hospital. Daí um cuidado especial no relacionamento de parceria e cooperação entre esse corpo clínico altamente especializado e as estruturas próprias da instituição.

Hospital Vivalle (SP). É um dos hospitais mais jovens do País (2000). César de Marco faz uma exposição completa e complexa da metodologia de gestão do corpo clínico. Sua prática e comportamento são monitorados com indicadores objetivos e rigorosos, especificados em detalhes e ilustrados com Quadro e várias figuras. Registre-se a transparência do autor ao confessar, nas Conclusões, que o hospital – uma criança – " ainda não sabe o que fazer com todos os dados que coleta, pois ainda está numa fase de "se conhecer" e se comparar com outros serviços."

Real Hospital Português de Beneficiência em Pernambuco (PE). Fundado em 1855, no ano seguinte foi colocado sob a proteção do rei de Portugal. Hoje tem o certificado ISO 9001-2000 de Qualidade. O texto de Mendes está centrado na descrição da estrutura física do hospital – sediado em vários prédios – e no detalhamento de tudo aquilo que diz respeito ao corpo clínico. Aborda também as metas alcançadas e dificuldades enfrentadas e conclui tecendo considerações sobre sua política de qualidade. Esta última, com seu sistema consolidado, lamenta a falta de mão-de-obra especializada para atender a demanda do hospital, especialmente na área de enfermagem técnica. Programas de treinamento continuado se apresentam como solução.

Apêndice I. O advogado Sérgio Coelho (RJ) expõe sobre a importância da gestão do corpo clínico para a prevenção de litígios e o gerenciamento de riscos. De modo bastante objetivo – e num discurso para leigos, ele adverte – enfoca as relações jurídicas na saúde privada; as relações entre o hospital e os diversos integrantes do corpo clínico; o risco jurídico, subdividido em: o custo da defesa, o dano à imagem, a repercussão criminal, a indenização e a redução dos conflitos. Do exposto, tira 3 conclusões: o médico deve atuar de acordo com o que preconiza a ciência, agindo conforme a boa prática médica; deve manter e promover os registros formais necessários; deve estabelecer a melhor relação com os pacientes e familiares, com diálogo honesto e sincero.

Apêndice II. O texto da advogada Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira (MG) se intitula "Atuais e Pontuais Reflexões Jurídicas Decorrentes da Gestão Hospitalar". De modo bastante apropriado a esse tipo de publicação, a advogada disserta sobre as seguintes questões: imprescindibilidade da obtenção do consentimento informado para qualquer procedimento invasivo; necessidade de registro completo e adequado dos prontuários médicos e das fichas clínicas; possibilidade de utilização de prontuário eletrônico e assinatura digital; o redobrado cuidado que se deve ter nos atendimentos em setores de urgência e emergência médicas; regulamentção da pesquisa clínica e as normas do Ministério da Saúde; problemas decorrentes do excessivo número de internações por mandado judicial; a profilaxia do erro médico.

Para concluir, Algumas Impressões Nossas. Em síntese, e na condição de leitora leiga, observamos algumas questões – entre muitas outras – que são comuns à absoluta maioria desses hospitais. Elas nos parecem retratadas, ora de modo explícito, ora nas entrelinhas, nesse livro, e aqui seguem listadas em ordem aleatória:

1.A obsessiva busca por uma sempre crescente qualidade dos serviços hospitalares, sob o signo da competitividade.

2.A preocupação com um gerenciamento do corpo clínico visando a satisfazer, no mais elevado grau, às expectativas do paciente no atendimento médico-hospitalar.

3.A grande e não raro insatisfatória dependência em relação aos planos de saúde – tanto da parte dos hospitais quanto da parte dos médicos e clientes – acarretando a necessidade de a instituição fazer o papel de mediador, mantendo um constante e profícuo diálogo com as operadoras e órgãos governamentais pertinentes.

4.O interesse em estabelecer uma sólida base de indicadores de desempenho do corpo clínico, com a finalidade maior de fortalecer o bom nome da instituição, prestigiar sua clientela e equilibrar a relação custo-benefício para se obterem os adequados lucros empresariais.

5.A necessidade da manutenção de um corpo clínico aberto, porém sujeito a normas rigorosas e à adequada integração na filosofia, nos princípios éticos e nos objetivos da instituição.

6.A existência, no corpo clínico do hospital, de um médico-diretor que se responsabilize pela admissão de novo médico, evitando-se, assim, problemas de variada natureza.

7.A confiança na ANAHP, demonstrada no interesse em seguir os procedimentos e normas que ela recomenda, visando à elevação da qualidade total e satisfação dos serviços prestados pela instituição.

8.A consciência da necessidade de contínua modernização dos hospitais, não somente para fazer face às novas tecnologias e saberes, como também aos desafios econômico-financeiros do País e, conseqüentemente, dos pacientes, do corpo clínico e de todos aqueles que trabalham na instituição.

9.O apoio e o incentivo ao constante aperfeiçoamento científico e à reciclagem do corpo clínico, com vistas a uma assistência médica qualitativa crescente e, na medida do possível, aproximada da existente nos maiores centros hospitalares mundiais.

10.A certeza de que um hospital de qualidade só pode sobreviver se o seu corpo clínico se sentir prestigiado, bem instalado e dignamente remunerado, e seus pacientes se sentirem seguros, bem tratados e otimamente atendidos.

11.A incerteza quanto ao futuro da qualidade assistencial desses hospitais e quanto à situação dos detentores dos planos de saúde que eles atendem, pois os planos se tornam cada vez mais onerosos, tanto para as empresas que os compram quanto para os grupos e indivíduos que os pagam.

12.A implementação do maior número possível de recursos que conduzam a tratamentos realmente eficazes, à cura de patologias e à salvação de vidas.

Pelo exposto, esperamos estar contribuindo com a divulgação deste livro, cumprimentando a ANAHP pela feliz idéia de uma publicação de grande utilidade para o sistema hospitalar.

* Letícia Malard é Professora Titular Emérita da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, escritora e crítica literária.


Autor: Letícia Malard


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