Uma Realidade, Mas Pode Ser Mudada! O Olhar E O Fascínio Do Professor Para Com A Arte E As Suas Possibilidades Na Aprendizagem Da Criança



"ensino é um sistema de ação, uma organização que transforma as pessoas, suas competências, suas atitudes, suas representações, seus gostos.Èum sistema que pretende instruir, exercer uma influência".

( Perrenoud,2001,p.19)


Introdução

Percebe-se hoje na educação básica, que as oportunidades de criar cedem lugar para as atividades direcionadas semi-prontas. Este fato leva a uma reflexão, pois toda criança nos seus primeiros anos, ao pegar algo que deixa marcas, desenha e faz garatujas realizando um gesto que proporciona muito prazer mesmo não tendo significado para ela. Prazer que impulsiona a criança em seu desenvolvimento, porém vê-se nesta fase que ela é tolhida pelos adultos que estão ao seu redor, para proteger de danos em paredes ou outros objetos considerados de valia. Gestos manifestados por expressões verbais ou atitudes que a reprime neste momento significativo. O que se constata nestas garatujas de Maria Clara aos 2 anos


 

A partir desta fase a criança passa por estágios revelados somente através do ato de desenhar, pois como afirma Derdyk (1994),

"tal ato passa de fruto da percepção e de uma ação para o processo da aquisição de idéias próprias sobre si mesma e das noções que são captadas sobre a observação, a percepção e o pensamento da criança.

Aos 5 anos a criança passa a fazer desenhos significativos que revelam sua imaginação e as imagens do seu cotidiano. Se para Vigotsky (1984) a imaginação e a sensibilidade criativa são tão necessárias na arte como na linguagem e na ciência, e que um dos pontos mais importante no surgimento da escrita é o desenho. A partir destas considerações não pode ser concebido que essa expressão aflorada nesta idade, sem medo de arriscar e de criar possa ser destruída pela falta de oportunidades oferecidas pela escola que é a responsável pela formação da criança.

Mariana 5 anos

É importante lembrar que o homem primitivo usou o desenho como sua primeira forma de linguagem. Diante deste considerável fato, negar a oportunidade de contato com o ato de desenhar nesta fase em que a criança começa sua vida escolar, nos remete a alguns questionamentos.

Visto que o desenho se revela com a manifestação da inteligência e do desenvolvimento de outras competências, essa negação, não seria um fator determinante para as dificuldades da aquisição do domínio da linguagem?

Se a família não contribui como deveria para o desenvolvimento natural da criança no ato de desenhar, quem assume a função de suprir essa falta?

Com certeza a escola entra nesta seqüência atribuindo de forma natural esta função ao docente. Mas será que o docente está preparado para reverter este quadro que vem inibindo a criatividade se ele também é fruto dessa família e desse sistema educacional que geralmente enfatiza o mundo da palavra e a transmissão de conteúdos?

Hoje, quando é proposto ao adulto fazer um desenho, percebe-se toda esta realidade expressa por um desenho pobre sem criatividade, tímido com exceçãodaquele que tem o dom artístico. Como afirma Edwards (1984), no mundo ocidental, a maioria dos adultos não progride em aptidão para o desenho, além do desenvolvimento atingido aos dez anos de idade, essa incapacidade, que poderia ser chamada de "dispictoria" deve-se fundamentalmente a supervalorização do verbal em nossa sociedade.

Esses fatores por si só não justificam que o sistema educacional não se utilize do pictórico e da arte, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no artigo 3.º dos Princípios e Fins da Educação Nacional, em seu inciso II, garante "a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura , o pensamento , a arte e o saber".

O poder da arte é compreendido como instrumento para resgatar a sensibilidade do ser humano, a credibilidade das suas potencialidades.

Assim, um apelo se faz necessário aos docentes do ensino Fundamental Básico, pensando em todas as crianças que estão dentro das instituições escolares – Busquem o diálogo com a arte, floresçam a sensibilidade, enriqueçam desse saber e assim, ofereçam a cada criança as oportunidades de criar e de estar em contato com as estruturas visuais das artes num repertório imagético e cultural.

A competência pictórica também está relacionada com outras competências como defende Rudolf Steiner (1992), em seu livro A arte da educação, quando afirma que uma absoluta exigência de um ensino fundamentado em bases corretas é que o aprendizado da escrita seja precedido de certa incursão no desenho, de modo que a escrita seja baseada, de certa maneira, a partir dele.

Também Vigotsky e Luria (1998), defendem que o processo de desenvolvimento da escrita infantil percorre etapas antes de atingir sua fase simbólica, fases estas que se processam por caminhos descontínuos, onde formas particulares de linguagem são transformadas em expressões gráficas, primeiro representadas em forma de desenho.

O desenho também está relacionado com as competências intra e interpessoal quando manifesta a outras pessoas um diálogo através de suas obras, desenhos e pinturas, enquanto Machado(1995) afirma que o pictórico está relacionada com a competência musical e Steiner(1992), pretendeu discutir com os professores a necessidade de uma formação artística para o ser humano a partir do ensino escolar e apontou os dois principais canais responsáveis por essa formação: o pictórico e o musical. Assim como o pictórico tem sido também a primeira escrita da linguagem e da matemática.

A conclusão destaca as palavras de Gardner(1994 a) que parece referendar nossa proposta de ação daqui por diante ao afirmar que nada é mais importante na carreira educacional de um aluno do que o encontro de uma disciplina com uma determinada mistura de inteligências, onde ele coloca o desenho como um meio para alcançá-la.

Assim, a arte é considerada como revelação da cultura de um povo e de uma época e que contribui para um ensino criador, favorecendo a integração entre a aprendizagem racional e estética da criança, tendências educacionais do século XXI.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil . São Paulo : Scipione,1989.

EDWARDS etty. Desenhando com o lado direito do cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1984.

Levy, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993

LURIA, A.R. pensamento e linguagem: as últimas conferênciasde Lurya. Porto alegre : Artes médicas ,1987

MACHADO, Nilson J. Epistemologia e didática: as concepções de conhecimento e inteligência e a prática docente. São Paulo : Cortez,1995.

Smole, Kátia C. S. et. AMatemática na educação infantil . editora Art MED - Porto Alegre, 2000.

VIGOTSKY, Lev.S.A formação social da mente São Paulo: Martins Fontes, 1984

BRASIL.Secretaria de educação fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.130p


Autor: BERNADETE PRATES FERNANDES BASSO


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