Propostas e práticas do ensino de compreensão leitora em turmas do Ensino Fundamental da rede pública municipal de Recife



Propostas e práticas do ensino de compreensão leitora em turmas do Ensino Fundamental da rede pública municipal de Recife.
Adriétt de Luna Silvino Marinho1;
Orientador: Artur Gomes de Morais2
1Estudante do Curso de Pedagogia- CE ? UFPE; E-mail: [email protected], 2Docente/pesquisador do Depto de Psicologia e orientação educacional? CE ? UFPE. E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO
Diante das mudanças qualitativas que ocorreram nas duas últimas décadas quanto ao ensino de leitura nas propostas curriculares e nos livros didáticos de Língua Portuguesa, esta pesquisa investigou as práticas de compreensão de leitura no 4º ano do Ensino Fundamental da rede pública municipal do Recife. Para isso, nos propusemos a aprofundar a discussão acerca desta temática a partir de observações das práticas do ensino de leitura de duas professoras e da análise documental dos livros didáticos adotados por elas. Sabemos que a competência em leitura envolve um conjunto de habilidades que incluem a capacidade do leitor criar suas próprias estratégias de compreensão, adequando-as às características do texto, construir significados, realizar inferências, localizar informações relevantes, avaliar a informação recebida e utilizar adequadamente aquela informação, dentre outras. Neste sentido, buscamos mapear as propostas dos livros didáticos e analisar a apropriação, pelos professores, das novas perspectivas de ensino de compreensão leitora. Através dos resultados obtidos, concluímos que, com variações importantes, os novos livros didáticos têm avançado na formulação de atividades de ensino de leitura e que os professores poderiam não estar utilizando, de modo mais eficaz, as inovações propostas pelos autores daqueles recursos didáticos. Dessa forma, julgamos necessário investir-se na formação continuada dos profissionais de educação, quanto ao uso dos materiais didáticos destinados ao ensino da língua, principalmente no que concerne à compreensão de leitura.

METODOLOGIA
O desenvolvimento dessa pesquisa constou de uma etapa destinada à análise documental de 2 livros didáticos (Doravante LDs) usados em duas turmas do 4º ano do Ensino Fundamental I, integrantes de coleções adotadas na rede pública de Recife: "Bem ? te ? li" de Angiolina Bragança e Isabella Carpaneda e "Português - Uma Proposta Para o Letramento", de Magda Soares.
Outra etapa se dedicou à observação semanal das aulas de duas professoras da mesma "série" escolar na PCR, a fim de caracterizar, ao longo de dez semanas, as apropriações da docente, no que concerne ao ensino e avaliação das competências ligadas à compreensão leitora.
Contudo, antes de iniciarmos as análises dos livros didáticos e das práticas docentes, realizamos um levantamento teórico que nos servisse de embasamento. Dentre as principais fontes, ressaltamos: Práticas de leitura no ensino fundamental (SOUZA & BARBOSA, 2006); Diversidade textual: os gêneros na sala de aula (SANTOS; MENDONÇA & CAVALCANTE, 2006); Estratégias de leitura (SOLÉ, 1998), Compreensão de texto: algumas reflexões (MARCUSCHI, 2001) e ainda Aprender a ler e a escrever (TEBEROSKY & COLOMER, 2003).
Tanto as propostas de ensino formuladas pelos autores de livros como as praticadas em sala de aula foram categorizadas, considerando-se o repertório textual, as modalidades de leitura e as estratégias de leitura ensinadas aos alunos. Adotamos a Análise de Conteúdo Temática (BARDIN, 1977) e todo o material foi classificado por dois juízes independentes. Nos poucos casos de discordância, um terceiro avaliador foi convocado.
RESULTADOS
Quanto ao repertório textual dos LDs, ambos possuíam uma grande quantidade de textos. Os gêneros mais presentes foram poemas, textos didáticos, reportagem e tirinhas. Os textos devem se configurar como formas significativas de aprendizado, mas salientamos que esta proposta deve estar relacionada a um bom trabalho de compreensão e reflexão sobre as palavras e as relações que se dão em textos de circulação na sociedade letrada. (MORAIS & ALBUQUERQUE, 2004).
O livro "Bem ? te ? li" trabalhava com diferentes temáticas nas unidades, as quais abordavam histórias de aventura, romance, cotidiano e esporte. Para cada texto o livro destinava atividades de compreensão leitora, gramática, ortografia e produção textual.
O LD "Português: Uma Proposta Para o Letramento" procurava criar condições para que o aluno ampliasse, de forma progressiva e integrada, suas possibilidades de interação com a leitura e a escrita. Assim, uma nova didática e metodologia foram desenvolvidas, para que o aluno interagisse com a leitura de textos e escrita.
Evidenciamos ainda que na escola "A" as aulas eram envolventes e a professora explorava as modalidades de leitura, utilizando livro didático e outros suportes, constatando-se que, em oito das dez aulas observadas, fez uso do livro. A mesma também fazia, regularmente, atividades de compreensão da leitura.
Já na escola "B", o livro era utilizado ocasionalmente, de forma não linear. As aulas eram, em sua maioria, destinadas a atividades em que a professora priorizava os aspectos superficiais/formais do texto, tornando-os um motivo para o professor realizar determinadas atividades, ou seja, usar o texto como pretexto (LAJOLO, 1989).

CONCLUSÕES
Em primeiro lugar, devemos destacar que os dois livros analisados eram diferentes no tocante ao ensino da língua materna e da compreensão de leitura quanto a vários aspectos: qualidade do repertório textual, diversidade de estratégias de leitura enfocadas, variação e indicação das modalidades de leitura a serem praticadas.
Encontramos também grande diversidade nas práticas docentes frente aos livros adotados. Verificamos que, embora a professora da escola "A" utilizasse um livro cuja proposta se mostrou mais tradicional, através da introdução de variadas modalidades de leitura e da prática de distintas estratégias de compreensão leitora, suas aulas eram proveitosas e envolventes, convidando o aluno a participar de forma crítica e reflexiva das mesmas.
Na escola "B", o livro empregado adotava uma proposta sócio-intercionista bem mais inovadora e reflexiva, mas as aulas detinham-se ao uso dos textos com a finalidade de identificar os tipos textuais, ao ensino de nomenclaturas gramaticais e aspectos normativos (pontuação, substantivos, pronomes, etc). Os próprios alunos se queixavam pelo fato das aulas serem repetitivas e desmotivantes.
Em síntese, vemos, por um lado, que a escolha de bons livros didáticos parece ter um papel fundamental no que se propõe para o ensino de língua, já que, muitas vezes, são os principais meios de comunicação escrita a que as crianças têm acesso. Mas, nossos dados sugerem que a escolha de um bom livro didático, por si só, não garante um ensino eficaz, mesmo que as propostas nele contidas sejam inovadoras e atraentes. As concepções e práticas dos professores seriam aspectos fundamentais nesse processo.
REFERÊNCIAS
? BARBOSA, Maria Lúcia Ferreira de Figueiredo (org). Práticas de leitura no ensino fundamental. Autêntica. Belo Horizonte,2006.
? BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Edições 70. Porto, 1970.
? LAJOLO, M.P. O texto não é pretexto. In: Regina Zilberman (org). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Mercado Aberto. Porto Alegre,1989.
? MORAIS, A.G. & ALBUQUERQUE, E. B.C. Alfabetização e letramento: O que são? Como se relacionam? Como alfabetizar letrando?. In: Eliana Borges Correia de Albuquerque; Telma Ferraz Leal. (Org.). A alfabetização de jovens e adultos em uma perspectiva de letramento. 1 ed. Autêntica. Belo Horizonte, 2004.
? Solé, Isabel. Estratégias de leitura. ArtMed. Porto Alegre,1998.

Autor: Adriétt De Luna Silvino Marinho


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