Carta aberta a Dilma Rousseff



Senhora Dilma,

É de conhecimento geral que os governos nacionais estão atrelados aos negócios dos grandes conglomerados econômicos internacionais. Subordinaram os nossos interesses sociais à ganância dos grandes capitalistas financeiros, extinguindo por derradeiro qualquer possibilidade de implantarmos uma política nos moldes do Welfare State. Sabemos, Excelência, que quase nada podemos contra os ditames de Washington e da União Européia, e que estamos submetidos a um sistema que visa, a cada dia mais, a enriquecer os ricos e empobrecer os pobres. Há quem defenda o atual sistema, seja por estupidez, comodismo ou pelo fato de ser um dos poucos beneficiados por ele. Isso é irrelevante no momento. O que importa, distinta presidente, é saber até quando persistirá essa autofagia humana a fim de sustentar todas as desigualdades e maledicências que dia após dia se fortalecem em nosso meio?
A cada ano se estabelece, ganhando força na mente de algumas pessoas, o ideário de justiça social. A conscientização de que a miséria é um produto inevitável do capitalismo não substitui o desejo de equilíbrio financeiro entre os povos. Ao menos a diminuição da distância entre ricos e pobres é um desafio ímpar na consciência de alguns homens. Sabemos, de forma inequívoca, que o nosso sistema econômico tortura seres humanos, encarcera inocentes e destroça os últimos sentimentos de compaixão, piedade e solidariedade que ainda possam existir, mas a esperança de amenização dessa realidade sobrevive em nossos corações.
Assim sendo, conspícua governante, aguardaremos de Vossa Excelência o cumprimento do discurso de proteção aos pobres, da busca de um equilíbrio que seja de certa forma benéfica a todos os brasileiros. Não esperamos milagres, feitos megalomaníacos que existem somente em discursos eleitoreiros. Esperamos sim, uma política que ao menos nos proteja da fúria endoidecida dos bancos de extorquir o pouco que possuímos. Ávidos, esperamos uma realidade que proporcione oportunidade à juventude e segurança, sobretudo, à velhice.
Nossas terras, senhora Dilma, são ricas, fecundas, e podem prover todas as nossas necessidades. A paz no campo não deve ser apenas uma utopia da chamada "esquerda revolucionária", mas o objetivo central de qualquer governo que tenha vistas à democracia plena. O latifúndio é o câncer propulsor de nossas mazelas sócias, devendo ser erradicado do nosso meio o mais rápido possível.
O crime, egrégia presidente, não pode ser aceito como algo inerente à nossa realidade. Partiremos do princípio que a criminalidade só prospera justamente pelo fato de não haver oportunidade concreta aos jovens. Invista pesadamente na formação de base, em uma educação que tenha como propósito o preparo de um ser humano diferente, agregador e solidário, e assim teremos a prova de que o crime, quando houver, será a exceção de uma ou outra mente psicótica, a qual poderá ser tratada de forma adequada. Refletindo, Vossa Excelência verá que o nosso sistema penitenciário é oneroso e ineficaz, não contribuindo em nada para a reeducação dos detentos.
A corrupção, ilustre representante da nação brasileira, não pode ser o sustentáculo de nossas relações, como tem sido até os dias atuais. Nosso poder legislativo nos envergonha e nossos parlamentares, em sua grande maioria, sobrevivem sob o estigma do tráfico de influência, conspurcando nossa credibilidade junto à opinião pública internacional. Alimentamos uma máquina estatal obesa, desmoralizada, onde apadrinhados são constantemente favorecidos, gerando um ônus incomensurável à fazenda pública.
A saúde, exímia governante, nunca poderá ser relegada a planos secundários. Deverá ter, durante todo o tempo, a atenção máxima dos agentes públicos, sobretudo com relação a idosos e crianças. A saúde da mulher em idade reprodutiva é essencial para que seus filhos cresçam saudáveis e constituam a força motriz para o trabalho e para o desenvolvimento econômico do País. No tocante à Educação, nossas crianças, desde os primeiros anos escolares, devem ser ensinadas a serem pessoas críticas, cônscias de seus deveres, mas, sobretudo, dos seus direitos. Visaremos a uma educação que forma homens e mulheres de personalidade própria, sempre com o desígnio de trabalhar em prol da construção de uma sociedade mais fraterna.
Por fim, os oprimidos certamente sonham com uma qualidade de vida digna de ser humano, onde a jornada de trabalho não seja tão extenuante, e os rendimentos, por sua vez, não sejam tão reduzidos. Acredite, nenhum povo suporta a exploração por toda a vida, e a revolta popular, quando eclode, tem como combustível principal o ódio acumulado de muitos anos. As implicações desses destemperos populares a História já nos mostrou em diversas ocasiões. A sua voz, presidente, chega a milhões de desesperados nesse momento. Homens, mulheres, crianças, velhos, todos esperam por uma sinergia que possa, ao menos em parte, alterar o nosso destino.
Autor: Fernando Grecco


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