Histórias em quadrinhos: uma ferramenta lúdica para o letramento



Monalisa Maurissens
Tânia Mara Nussner

Resumo

A leitura é uma ferramenta social indispensável ao ser humano que vive em uma sociedade na qual o capitalismo, a competitividade, a informação e grandes mudanças imperam. A criança precisa a cada dia de mais estímulos para desenvolver atitudes em relação à leitura e à escrita que a faça comunicar, de forma clara e precisa, o que sente, do que precisa e o que gosta. Estas são características próprias de um processo de letramento que se busca quando se utiliza diferentes modos de comunicação, de qualquer gênero, para que a mensagem chegue ao outro, para que sua função social se cumpra. Esta pesquisa vem, através de diferentes fontes bibliográficas, apresentar em destaque, as histórias em quadrinhos, um gênero conhecido por grande público, que atrai as crianças, mostrando suas peculiaridades e possibilidades de proposição de situações de aprendizagens significativas, seja através das mensagens que transmitem, seja pelo humor ou ainda pelo modo de escrever, salientando suas características textuais e o processo identitário que provoca nas crianças.


Palavras-chave: Desenvolvimento infantil. Linguagem. Letramento. Histórias em Quadrinhos.


1 INTRODUÇÃO

Nas sociedades contemporâneas, convivemos com mudanças a todo instante, sejam de ordem econômica, social, cultural ou outras mais. É necessário ao homem possuir ferramentas que possibilitem sua adaptação, sobrevivência e transformação nessa era globalizada. A ferramenta essencial para o sucesso no meio em que se vive é a linguagem, e, principalmente, o domínio desta. Assim, espera-se que as pessoas se apropriem não só da linguagem falada, mas da linguagem corporal, escrita, da interpretação das imagens e sinais presentes em outdoors e propagandas, por exemplo. É a chamada "leitura de mundo". Para Delval (2001), as aprendizagens da escola e do cotidiano não devem estar separadas precisam ser utilizadas em conjunto, para promover o desenvolvimento do indivíduo junto aos seus semelhantes no espaço comum, desde a educação infantil até a idade adulta.

A linguagem, por sua vez, também possui ferramentas diferenciadas para a comunicação e uma que vêm, aos poucos, ganhando mais espaço em pesquisas acadêmicas, mesmo na era da informática, são as histórias em quadrinhos. Até a ditadura militar, esse meio de lazer, pode-se dizer, era alvo de perseguição, pois tinha o estigma de veicular comunicação através de sátiras contra o sistema de governo vigente na época. Não obstante, atualmente, as histórias em quadrinhos (HQs) resgatam valores e unem crianças, jovens e adultos em aventuras da imaginação através de balões e personagens queridos. Assim, a problemática que se apresenta neste artigo refere-se à utilização das histórias em quadrinhos na educação infantil, sob a ótica de concepções sociointeracionistas, de modo a auxiliar o desenvolvimento e a apropriação de diferentes linguagens nas crianças em processo de letramento.

As histórias em quadrinhos despertam, em crianças, jovens e adultos, emoções diversas. As crianças na faixa etária de quatro a cinco anos de idade, em especial, identificam-se com este gênero, pois, reconhecem os personagens com facilidade, reconhecem-se neles e gostam de observar suas aventuras como se fossem próprias. Esse modo de ler, que une imagem e texto, mesmo que ainda não decodificando os sinais gráficos, é significativo para a criança, visto que estimula sua criatividade e sua percepção para a vivência de distintas emoções, por isso é um veículo de letramento.

Um dos objetivos deste artigo é investigar como se dá o processo de aprendizagem da língua escrita pela criança e a sua importância enquanto ferramenta social, bem como a relevância da aprendizagem da língua materna em conjunto com os saberes de cada cultura, respeitando as diversidades sociais e étnicas e as peculiaridades cognitivas e afetivas do sujeito. (BRASIL, 1998; LOOS, in: DINIS; BERTUCCI, 2007).

Parte-se da premissa de que nossa língua materna é erroneamente designada como "portuguesa", pois, nós, brasileiros sofremos influências de dialetos indígenas e africanos, o que não ocorreu em Portugal. Desse modo, desenvolvemos uma língua própria, a partir de diversas influências, que têm suprido nossa necessidade comunicativa e, de forma equivocada, é comparada ao idioma lusitano (BAGNO, 2005).

2 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Para Delval (2001), os seres humanos se destacam das demais espécies animais por vários aspectos: a cultura, a formação de representações cognitivas complexas, a capacidade de ensinar. Contudo, elucida o autor, todas estas peculiaridades são possíveis, basicamente, por um fator principal denominado linguagem. A partir dela podemos categorizar mais fácil e amplamente o mundo que nos cerca, pois a palavra remete ao objeto ou à situação vivida, fomentando uma série de relações com os sujeitos do seu grupo.

Sob a ótica sócio-interacionista, que afirma que o desenvolvimento ocorre a partir de interações mútuas entre sujeito e meio, percebe-se que a criança passa por diversas etapas, até chegar à educação infantil institucionalizada. Ao nascer, a criança traz consigo heranças genéticas e culturais provenientes da evolução humana através dos tempos. O bebê recém-nascido, por exemplo, tem no choro a sua principal ferramenta de comunicação com o mundo. Todavia, cabe ao adulto tentar distinguir se esse choro é resultado de fome, frio, dor. Com o passar do tempo, os reflexos, outra forma de relação do bebê com o meio, vão abrindo espaço para movimentos intencionais de busca, curiosidade, descoberta, possibilitando a formação de esquemas (DELVAL, 2001).

Grande estudioso da cognição e aprendizagem humana, Vygotsky (apud REGO, 1994) explicita que , através das relações de interação com o meio, o desenvolvimento do sistema fonador (crescimento da boca, nascimento dos dentes) , da imitação dos sons e vocábulos e, principalmente, da internalização do que as palavras significam para o seu grupo, a criança tem novas e complexas formas de relacionar-se com o meio.

Para o psicólogo russo, a fala infantil passa por três estágios: a fala exterior, a egocêntrica e a interior. Estes estágios da fala são comuns ao desenvolvimento de outras atividades mentais cujos signos são necessários, como a capacidade de abstração, por exemplo, e se desenvolvem gradativamente: o primeiro estágio compreende o pensamento pré-verbal, primitivo, original. Posteriormente, a criança é capaz de experimentar seu corpo e o meio que a cerca, utilizando ferramentas exteriores para resolver problemas interiores, sendo que um exemplo é contar nos dedos, representando assim a fase egocêntrica. Posteriormente, a criança passa para o estágio de crescimento interior, no qual a fala, assim como outras operações externas, se interiorizam. A criança opera com signos interiores, fruto de mudanças estruturais e funcionais da fala, tornando este fator essencial para o pensamento (VIGOTSKI, 1998).

Se a linguagem oral, através da fala, passa por estágios de desenvolvimento que vão se consolidando na criança, também a escrita percorre etapas ao longo do desenvolvimento infantil. Acredita-se que a escrita e o seu processo existam, na criança, muito tempo antes do primeiro rabisco. Essa afirmação se relaciona com o fato de, ao entrar na escola, a criança rapidamente atingir maturidade para transcrever e interpretar sinais gráficos complexos que levaram séculos para evoluírem até o estágio atual. A criança de quatro a cinco anos, ainda não alfabetizada, passa por um estágio em que ainda não se utiliza da forma social da escrita, não faz uma anotação que pode ser lida por outras pessoas. Ela apenas usa da escrita, dos rabiscos, como um brinquedo, uma imitação das atitudes dos adultos. Todavia, com o desenvolvimento cognitivo e a percepção do mundo a sua volta, a criança passa a interiorizar esquemas e a atribuir significados às suas escritas e, por conseguinte, atinge o patamar de desenvolvimento de linguagem, fala e escrita, convencionados socialmente (LURIA, 2001).

De uma forma sintética, segundo estudos piagetianos, podemos esquematizar as fases do desenvolvimento da fala em quatro estágios distintos: o 1º estágio, primitivo, pré-verbal; o 2º estágio, da psicologia ingênua, quando há manipulação dos objetos e não há relações de causa, tempo ou condições relacionadas aos objetos. A 3ª fase é chamada de fase das operações externas, na qual existe a fala externa, idealizada por Jean Piaget como fase egocêntrica e, a 4ª fase, nomeada como a fase do crescimento interior. É a fase da fala interiorizada, em que o conhecimento é internalizado e observa-se o surgimento do pensamento verbal, que é inteiramente um processo sócio-histórico.

As pesquisas realizadas por Vygotsky apontam que o ser humano é essencialmente social, ou seja, precisa do outro para crescer e desenvolver-se, precisa de intervenções externas para evoluir. Para tanto, a linguagem é a ferramenta indispensável de troca de informações, condições de aprendizado e formação de conceitos. Relativos à formação de conceitos, os estudos de Vygotsky revelaram que o ser humano formará conceitos se possuir domínio da palavra, pois a palavra é o instrumento mediador entre o mundo e o indivíduo na formação de conceitos. Este processo desenvolve- a partir do início da infância e tem seu ápice na puberdade, sendo etapa importantíssima do desenvolvimento de cada ser humano:

A formação de conceitos é resultado de uma atividade complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte. No entanto, o processo não pode ser reduzido à associação, à atenção, à formação de imagens, à inferência ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis, porém insuficientes sem o uso do signo ou palavra, como meio pelo qual conduzimos as nossas operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução ao problema que enfrentamos,
(VIGOTSKI, p. 72-73, 1998)

Assim, para apropriar-se do conhecimento, para criar estruturas mentais superiores, exclusivas dos seres humanos, a formação de conceitos e o poder de discernimento, entre outras funções, só são adquiridas pelo ser humano a partir do momento em que ele se apropriar da palavra, através da linguagem.


3 O PAPEL DO PROFESSOR NO LETRAMENTO

Utilizando, então, a teoria sócio-interacionista para nortear as atividades na escola, o professor tem diversas possibilidades de planejar situações de aprendizagem capazes de propiciar o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Ao nos remetermos à linguagem escrita, devemos ter claro que é necessário muito mais que aprender a ler e escrever. A criança não pode ser somente alfabetizada. Ela precisa vivenciar um processo de letramento. Este processo, com uma visão inovadora pauta-se na premissa que, na atualidade, o sujeito necessita ler e escrever bem, sim, porém, deve utilizar estes saberes de forma concreta, em práticas sociais de leitura e escrita (SOARES, 2006).

O letramento surge nesta perspectiva como forma de utilizar o que a criança vivencia no seu cotidiano. Dioturnamente a criança está em contato com os mais diversos portadores de textos, tais como caixas de remédios, jornais, embalagens de alimentos, etiquetas de roupas, placas de sinalização, banners, outdoors, jornais, revistas, gibis, entre outros. Sendo a linguagem uma ferramenta social, nada mais coeso do que utilizar o que o mundo oferece e construir escritas para esse mundo.

Soares (2006) afirma que as pessoas podem ser analfabetas e ainda assim serem letradas, por viverem em meios onde a leitura e escrita se fazem presente. Por exemplo, ao ouvir alguém lendo um texto, ditar para que outra pessoa o transcreva, folhear livros e revistas, a pessoa adulta ou criança, já participa da leitura e escrita socialmente.

Para tal, na escola, o professor que privilegia atividades de letramento deverá lançar mão de estratégias interessantes com seus alunos. Estar atento aos materiais e textos que circulam no ambiente escolar e na sala de aula, para ofertar a maior qualidade e variedade possível, é fundamental. A confecção de listas, recados, a escrita de poemas, músicas, bilhetes, combinados da turma, entre outros, são essencias para que as crianças percebam que elas escrevem para que alguém (outra pessoa ou elas mesmas) possa ler posteriormente e saibam o que foi anotado anteriormente.

A variedade textual, como premissa da educação infantil, é enfatizada no Referencial Curricular para a Educação Infantil (1997), e afirma que aprender uma língua não é somente aprender palavras, mas também seus significados culturais, ou seja, o que daquela realidade social e como estes entendem, interpretam e apresentam sua vida. O professor precisa ir além, extrapolar os limites da sala de aula e reconhecer a variedade cultural presente na escola, não se atendo a um público linear, pois


O perfil de uma criança de quatro ou cinco anos não só é uma abstração [...] feita sobre uma criança de classe média elevada a protótipo de criança universal. Qualquer criança que difira do padrão que os professores de alguma maneira têm internalizado é uma possível candidata a não avançar no ritmo desejado, a não chegar à meta estipulada. (FERREIRO, 2001, p. 109-110).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam também o uso de linguagens diversas, de acordo com o momento histórico-social vivido, pois "atualmente exigem-se diversos níveis de leitura e escrita diferentes e muito superiores aos que satisfaziam as demandas sociais até bem pouco tempo atrás" (BRASIL, 1997, p. 30). Logo, para atender a esta exigência social, a escola deve estar amparada e oferecer ao aluno os mais diferentes tipos de textos, com palavras ou imagens, além dos textos literários. Novamente o Referencial Curricular para a Educação Infantil (2002) propõe, ao professor da educação infantil, que estimule as capacidades das crianças de modo a ampliá-las

[...] gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão, interessando-se por conhecer vários gêneros orais e escritos e participando de diversas situações de intercâmbio social nas quais possa contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas (BRASIL, 2002, p. 131).

Os variados gêneros orais e escritos, podem ser apreciados através de músicas, poemas, trava-línguas, textos de jornais e revistas, bilhetes, leitura de imagens, receitas, classificados de jornal, email, histórias em quadrinhos, entre outros.

4 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

As histórias em quadrinhos, em um formato idêntico ao que vemos atualmente, tiveram seu início na década de 1890, na França e nos Estados Unidos. Naquela época, já se percebia uma identificação da população com o novo gênero, pois este retratava situações da vida cotidiana e também do imaginário, com desenhos que enriqueciam ainda mais os textos. Mundialmente, os mais diversos tipos de histórias em quadrinhos , seja em revistas próprias ou tiras em outras publicações, atende principalmente ao público formado por crianças e jovens.

No Brasil, as histórias em quadrinhos surgiram em 1869, "As aventuras de Nhô Quin", publicadas na Revista Fluminense. A primeira revista em quadrinhos foi a Tico Tico, publicada em 1905. No período da ditadura militar, houve grande censura em relação às historias em quadrihos, pois estas eram usadas como forma de chamar a atenção da população contra o regime militar, pois faziam piadas, denúncias, questionamentos relacionados ao governo da época. Nos dias atuais, o Brasil acessa aos mais diversos tipos de publicações, chamadas de gibis, uma palavra que em 1940 referia-se a "moleque" e hoje já está incorporada às revistas.

O texto representado pelas histórias em quadrinhos pertence ao gênero narrativo (possuem apresentação, ápice e final), sendo compostas por canais de transmissão de mensagens, que são as imagens (linguagem icônica) e as falas dos personagens (linguagem verbal). É importante salientar que ambas as linguagens se complementam, sendo extremamente importante que sejam lidas simultaneamente para que a mensagem que o autor deseja transmitir seja compreendida por inteiro (RODRIGUES, 2007). Nas histórias em quadrinhos, podemos verificar que cada quadro traz uma gama de informações que passa ao leitor tudo que acontece apenas através de imagens, símbolos, expressões e, por vezes, alguma escrita.

São verificados os variados artifícios presentes nas representações gráficas utilizadas nas histórias em quadrinhos para representar as diversas emoções vivenciadas pelos personagens. O humor, a irritação, o tédio, a tristeza, sustos e apreensões são retratados em situações corriqueiras ou naquelas vividas pelos personagens em um mundo diferente, da imaginação, no qual agem forças e sentimentos além do alcance de pessoas normais, reais. Para Rodrigues (2007), essa demonstração das variadas formas de comportamento do ser humano, unidas aos personagens faz com que a criança reconheça os ímpetos adultos e algumas instituições da nossa sociedade, proporcionando momentos de risos e deleite, com a leitura.

Com todas as características já citadas, referentes às histórias em quadrinhos, destaca-se o fato de que, nelas aparecem também situações do cotidiano, como a linguagem do dia a dia. Algumas disciplinas se utilizam das ferramentas disponibilizadas pelas histórias em quadrinhos para deixar os conteúdos, mas significativos para os estudantes. Palhares (2008) usou a abordagem das histórias em quadrinhos em aulas de História, para contextualizar, através dos cenários mostrados, diferentes formas de intervenção humana na sociedade. Há histórias que abordam assuntos ou trazem personagens de outras épocas, o que auxilia a compreensão e ordenação do tempo, por exemplo. Tussi e Martins ( sem data) relatam terem atingido seus objetivos, em aulas de Geografia, no Ensino Fundamental, através do uso de histórias em quadrinhos. Estes professores utilizaram histórias que valorizam a realidade, não parecendo histórias de um mundo que não existe, um conto de fadas. Com histórias de quadrinhos previamente estudadas e selecionadas, puderam apresentar aos alunos diferentes temáticas: preconceitos, minorias, desgaste ambiental, poluição, diferentes etnias, a modernização e o mercado de trabalho, entre outros assuntos. Seria ainda mais importante que essas aulas fossem vivenciadas pelas crianças ainda na educação infantil. Pois, na perspectiva do atendimento à infância, busca-se sempre ampliar o repertório cultural das crianças, respeitando os princípios éticos, políticos e estéticos, articulando experiências que privilegiem os saberes das crianças e os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, promovendo o desenvolvimento integral da criança. Seguem agora algumas propostas de conteúdos a serem abordados e discutidos na Educação Infantil (com turmas de 4 a 5 anos) que possibilitam a discussão quanto à preservação das matas e do meio ambiente:








As quatro tiras apresentadas seguem o mesmo tema e ilustram, para a criança, diferentes situações que remetem à conservação do meio ambiente, como: o problema do lixo, do desmatamento e da queimada buscando preservar o meio ambiente para um mundo melhor. Nessa perspectiva, o professor poderá ampliar as discussões para a questão da reciclagem e de um consumo sustentável, em prol de um mundo menos poluído e desgastado. Até o tema "morte" aparece nas tiras e é algo que surge como tema a ser trabalhado, na educação infantil.

A criança que tem de quatro a cinco anos passa por uma fase de desenvolvimento bastante especial, seu interesse por assuntos diversos e capacidade de apreendê-los, aumenta muito, bem como a sua capacidade de ouvir e falar para o outro. Oportunizar situações de leitura e produção de histórias em quadrinhos conduz a criança por caminhos de descobertas, letramento e emoção, preparando-a cada vez mais para viver em uma sociedade globalizada.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A iniciativa desta pesquisa partiu do desejo de mostrar como é bom ler, como é divertido, importante, faz com que a pessoa se sinta inserida no grupo ao qual pertence e, mais do que isso, possibilita aprendizagens. E o desenvolvimento da leitura, que aparenta acontecer tão rapidamente em uma criança, por exemplo, é resultado de um processo histórico de desenvolvimento social do ser humano, na busca da troca, da interação. E o desafio maior do professor, em uma sociedade onde o homem se volta cada vez mais para o mundo virtual, construindo personalidades, cidades, famílias, cônjuges e até sonhos virtuais, é tocar a criança, abrir caminhos do aprender, muitas vezes com poucos ou nenhum recurso tecnológico.

A proposta do uso das histórias em quadrinhos apresenta inúmeros aspectos que a diferenciam dos demais textos, aos quais destacamos: as imagens, a expressão dos personagens e a linguagem através de símbolos gráficos, o desenvolvimento do enredo, de fácil entendimento, a facilidade de acesso e manuseio. O uso das histórias em quadrinhos não está restrito à Educação Infantil, pois existem variados escritores, que usam do humor e da sátira para escrever mensagens que vão desde a amizade e o amor, até a preservação do meio ambiente e questões políticas.

As histórias em quadrinhos disponíveis hoje, possibilitam por si só uma diversidade de temas a serem abordados em sala de aula, pois, a alimentação da Magali, a braveza da Mônica, a linguagem do Cebolinha, a mudez do Humberto e a higiene do Cascão são temáticas que se referem à infância e apresentam situações vividas por crianças dessa mesma idade. A relação das crianças entre si e com os diferentes é também abordada através dos desenhos.

Assim, buscou-se trazer este gênero tão rico em possibilidades à tona, ao cotidiano da sala de aula, pois não se trata de mera diversão ou passatempo. Ele extrapola e vai além, trazendo percepções e condições para a alfabetização, letramento e conhecimento de mundo necessários no século XXI.


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Autor: Monalisa Maurissens


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