Comportamentos condicionados a estruturas corruptas



Hugo de Albuquerque Silva

Condicionamentos
Novembro, 201
I

Em seu cardio, um palpitar semelhante ao som de um sonorizador quando sobre ele se passa motorizado a uma velocidade acentuada. Acompanhando-o uma dor perspicaz de tão sutil se lhe apresentava no seu lado direito. Como uma prensa de compressão vagarosa, cuja sensação é a de ausência de ar, é o que sentia sob sua pele e no interior de seu coração. Irritabilidade inefável, um entorno carente de significado e um sentimento de ?impotência? colossal! E como ponto último, um temperamento digno de um Mustang condicionando seu comportamento a seu tenaz instinto diante de coisas problemáticas que lhe assaltava e que tem como fundamento de resolução ? nessa construção quimérica chamada sociedade ? a ?sutileza da falsidade?. E isso lhe era contranatural.
Eram rios com braços distintos que lhe invadiam constantemente convergindo todos à sua ira, que a tendo como amiga buscou razões no que lhe sucedera dias atrás. Trabalhou naquele dia no grupo do "Judas Iscariotes"- ele assim o chamava. Já pertencera a esse grupo, até ser traído por esse personagem "bíblico" e ser deslocado para outro, para um poço de víboras e lacaios - isso lhe imprimiu na alma angustia indelével: lá estava junto dos ?Dons?, guilda de bons companheiros, cujo código era a lealdade; agora não mais, estava fora, sob o argumento de rodízio de escala, palavra muito querida em seu trabalho pelos "donos". Porém não de acordo com seu entendimento. Para ele, saira por incapacidade do "líder" de estar diante da alteridade, da opinião diferente, já que tal personagem ainda acreditava que liderar é desferir ?comando? a um grupo de homens que só possuem e só devem possuir a capacidade de ouvir. Se um ?subordinado?, que por está na rua dia-a-dia, percebesse um veio melhor de se executar uma tarefa qualquer e isso expressasse ou se discordasse de algum comando, ainda que não se recusasse a cumprir as determinações, era entendido pelo "Iscariotes" e outros como uma insubordinação maldita - ?quantas coisas éticas vendemos nessa sociedade de mercado em nome do sustento da família!?. Mas naquele dia tirava ele serviço no grupo do traidor por ter feito uma permuta que julgava necessária com um dos ?dons?: estava escalado no domingo, só que era o dia de ele se sentir um "Zidane", dia de bater uma bolinha (claro! não era um maestro em campo como o francês) era apenas uma provocação que fazia durante esse tempo lúdico com seus párias. Então, permutara o serviço e no decorrer as coisas transcorreram dentro de certa "normalidade", pois até aquele momento não havia ocorrido nenhuma situação-problema do tipo recorrente ? nem um condutor afrontara a guarnição verberando palavras do tipo "vocês não podem autuar!"; "façam as suas multas! Essas merdinhas não têm valor mesmo!...", nem apareceram "Golias" que se achavam no direito paterno de enfiar o dedo em seus rostos dizendo: "isso é uma indústria de multas...!" Mesmo lhe sendo isso compreensivo e verossímil, lhe indignava: "é minha dignidade não a merda da instituição que represento", pensava se justificado.
Algum tempo atrás se iniciou uma sórdida campanha na imprensa local contra os agentes fiscalizadores do órgão de trânsito daquele município. Razões, bem! Vamos a elas: é uma autarquia (gera seus próprios recursos através das multas); quem antes fazia a fiscalização deu lugar aos agentes municipais ? a chamada municipalização do trânsito. A de se concluir que não houve felicidade daqueles por perderem essa fonte de recursos e as que flutuavam em seu entorno. Então, tempos depois, em um curso de atualização de trânsito, foi dito pela professora que os agentes municipais estavam na irregularidade, conseqüentemente as multas impetradas por eles, pois não havia convênio com o órgão que tinha a circunscrição sobre a via (PRF). Na sala havia um membro importante daquela força que antes fiscalizava o trânsito e o mesmo trasbordou radiante de alegria, sugerindo até um re-convênio com eles para a resolução do problema. Como a população já não estava morrendo de amores com os fiscais municipais, por ocasião de uma verdadeira indústria de multas instalada naquele órgão, era só jogar a merda toda no ventilador e aguardar seu odor. Foi o que ocorreu. Ao ser isso veiculado na imprensa os agentes encontraram situações várias na rua e uma crescente animosidade geral contra eles.
Enfrentar esses conseqüentes problemas estava sendo o seu cotidiano, mas não naquele dia, quer dizer, pelo menos até àquela hora. Até entrarem numa rua que fica ao lado da delegacia do bairro que fiscalizavam.
Ali, notaram vários taxis enfileirados e estacionados na mão contrária de direção, ao lado mesmo da delegacia. Pararam e pediram com não-brutalidade que estacionassem no sentido correto e diante de uma afirmativa deles partiram. Minutos depois voltaram ao local (a experiência havia lhes ensinado a desconfiarem da palavra de alguns taxistas) parecendo-lhes, ao chegarem ao local, que fizeram ouvido de mercador. Outro pedido e outro lhes foram feito. Neste último, deixando de lado a voz branda, falaram com mais vivacidade sem, contudo serem rudes. Voltaram lá à quarta vez dispostos a fazerem as notificações ? foi quando ao entrarem na rua viram um veiculo vindo na contramão. Abordaram-no, ao lado mesmo da delegacia, sob os olhares petrificados e auspiciosos dos ditos-cujos taxistas.
Os carcamanos estavam sobre a calçada da delegacia, em bando de cinco, e entre eles um que estava em um banquinho sentado. Este, de barba por fazer, magro e cabelos cortados da altura da epiderme, um rosto um tanto mal encarado, mediano, olhando o agente que abordara o veículo disse aos seus compatriotas ao erguer-se:
- É a única coisa que sabem fazer!
Não havia ele notado que outro agente o espreitava e tais palavras penetraram-lhe muito agressivamente, pois a guarnição tinha sido tão sempiterna com eles. Por que então ele estava criticando? Então ele retrucou:
- Cidadão, o que está havendo? Passamos aqui algumas vezes pedindo-lhes apenas para reposicionarem os veículos! A resposta que obtivemos de vocês é encontrá-los no mesmo local! Você está querendo é bagunçar, atrapalhar nosso serviço com seus comentários! ? isso ele falou em tom bastante elevado, coisa que desagradara o específico "taxista".
É..., o dia prometia. Mas eles não imaginavam!
Como uma hierofania, o "taxista" rasgou o espaço entre ele e o agente e se colocou a um palmo exatos de distância apontando aquele dedo enrugado em seu rosto ? foi quando uma tapa sutil foi executada pelo agente afastando aquele dedo de seu rosto. E o agente berrou:
- Respeite-me seu maloqueiro, estou de serviço!
De fato, a confusão fincou estacas ali. Quando empreenderam a jornada de aproximação para o embate, os outros dois agentes, um em cada braço seu, afastaram-no exigindo dele calma. Da delegacia surgiram dois agentes de plantão, um gordo alto que fugia da estatura comum e um tanto calvo. Outro, baixo para nossos padrões. Seguraram o "taxista" levando-o para o interior do purgatório dos criminosos. De longe o agente que havia se sentido agredido o observava sem pestanejar, como um predador ? notou que aqueles dois agentes e seu companheiro e amigo davam ao "taxista" o que lhe pareceu ser um sermão, dissuadindo-o de alguma coisa. E observava tudo o condutor que havia sido abordado, já que seus documentos estavam nas mãos do agente pacificador que conversava com o "taxista". Quando o agente que olhava como um predador voltou-se para o lado dele, percebeu que não convinha nenhuma notificação e que o melhor seria dispensá-lo. Dirigiu-se assim para o interior da delegacia com intuito de recuperar os documentos de porte obrigatório do condutor. Essa marcha soou ao "taxista" como uma insolência, ao que a discussão recomeçou. Quando ele pegou os documentos, o "taxista" bradou palavras que são ofensivas a qualquer funcionário público de sua instituição:
- Vocês deveriam voltar a tomar conta dos prédios da prefeitura, seus merdinhas!
- Merdinhas é você seu maloqueiro, seu bosta!
O "taxista" tirou de suas fossas mais algumas palavras-fétidas enquanto o agente ignorando-as retornava ao condutor que aguardava seus documentos assustado. Entregando-os, entrou no banco de traz da viatura aguardando seus companheiros, ao som de uma melodia cardíaca que fazia tremer toda sua estrutura. Entraram na vtr também seus companheiros e dali partiram para o ?07? . E no longo percurso para suas casas, pois o 07 se realizava em suas respectivas residências, um diálogo com voz de quem aconselha ocorreu no interior da vtr entre os três camaradas daquela guarnição, enquanto o que estava no banco traseiro tentava simultaneamente se concentrar nas palavras e deter os tremores.
Quando o volume daquela melodia inquietadora diminuiu, sua mente foi solapada a um devaneio. E neles surgiu a afirmativa de que algumas estruturas foram erigidas em terrenos e com materiais que não se corrompem com o tempo, algumas coisas pertencem a um movimento infindo, sendo atributo de quaisquer sociedades. Coisas foram postas para favorecerem e protegerem certos comportamentos e um ?sem dono? qualquer parece só poder observar, ainda que tais estruturas desumanizem, animalizem em prol de poucos malditos bastardos filhos das trevas.
Voltou a estar com seus amigos, naquele diálogo, quando lhe foi dito algo que lhe lançou na terra das almas temerosas.







II

"Ele é um policial civil", disse o agente que dirigia a vtr, enquanto o outro na retaguarda meneava afirmativamente sua desproporcional cabeça. "e segundo o policial, aquele gordinho, ele é dos antigos; ele é muito violento", completou. Isso o aterrorizou sobremaneira, e sob seus pés um poço profundo e inquietador se lhe abriu. A imagem, neste momento, de sua família lhe sobressaiu e pensou com vozes:
- Mulher e filhas e um lobo a espreitar-me! ? enquanto as vozes de seus companheiros ecoavam como pano de fundo, incompreensíveis.
- Por que não me disseram isso lá? - questionou-os ao retornar rápido de suas lucubrações. - Esse cara poderá aprontar algo contra mim! - disse ainda. Um silêncio necessário se fez ouvir por segundos. Enquanto era ele afligido por preocupações hipotéticas, seu pensamento foi conduzido a outro tema que o afligia há séculos ? em constantes guerras psicológicas, em fios de pensamento que se entrecortavam com incessante variação de conteúdo. Há dias recebia como trato o desdém, não sabendo a sua causação, se bem que imaginava. Já estava sob o efeito da abstinência dialogal no interior de seu ninho e isso lhe era um terrorismo inaudito, pois sua natureza sentia necessidade da conversação. Um estampido abrupto se fez audível, enquanto seu corpo era lançado levemente à frente (por ocasião de um pequeno animal que havia cruzado a via - que não saberia categorizar) fazendo-o sair de seu devaneio, involuntariamente retornando ao episódio do taxista, que não o era, que era um policial.
"Pediremos ao supervisor uma relocação" ? dizia aquele que lhe era mais próximo ? "pois não dar para trabalharmos tão próximos da delegacia", continuava, "já que o polícia poderá interpretar isso negativamente". Todos logo concordaram, se bem que discordando em seguida após examinar as conseqüências de tal pedido ao ?desconfiado supervisor?. A cabeça do agente vespeirava de preocupações de forma que não conseguia exalar nenhuma idéia de resolução. "E se ainda estiver chateada", era ele abduzido por outra fagulha de pensamento recorrente em seu drama pessoal. Simultaneamente voltava a questão com o policial, retirando-o em seguida de seu pensamento, enquanto outra resolução era tomada, agradando-o muito e produzindo nele uma sensação como que um oceano sem ondas. "faremos o seguinte: ? dizia seu amigo ? quando retornarmos do almoço você irá desembarcar em um local próximo e seguro, e eu e o "cabeção" voltaremos à delegacia. Diremos que foi um mal entendido e que você não sabia que se tratava de um policial", resumiu concisamente sua idéia, agarriando pra si o consentimento da guarnição.
"Não sou da opinião de irmos lá só após o almoço", colocou o agente mais interessado. Não era ele do tipo furtivo, do tipo covarde que se esconde nas costas daqueles que se projetam na linha de frente, como era comum ao seu local de trabalho. Ele mesmo se colocava na dianteira das situações que o envolvia. "deveríamos ir lá agora e eu mesmo falaria com ele" ? opinião que não agradou aos outros dois, vendo nisso uma possibilidade de o policial não entender dessa forma, e que também sabiam que o temperamento do agente não era muito possibilitador de resolução naquele momento. Por isso, preferiram dar continuidade ao plano orquestrado anteriormente, concordando também o agente que expôs a idéia recusada. E, chegado a esse consenso, um momento lúdico se aconchegou na guarnição e começaram a rir do acontecido. No ínterim do deslocamento da guarnição a residência daquele que dirigia, o mais interessado entre os agentes ensaiou um sorriso ainda amarelo. E outro fluxo de pensamento oposto lhe tomou: "agitado como estou e encontrá-la fechada,..., não vai da certo!", pensava angustiadamente
A viatura parou na porta do motorista. "Se preocupe não ?Dom?!" - era assim que os ?Dons? se tratavam ? "tudo vai se resolver", dizia-lhe ao descer e entrar em sua casa.
O "cabeção" assumiu o volante e ao entrarem na viatura seguiram viagem. Uma diabólica ausência de vozes capaz de afligir até aos que dormem, acampou no carro até as proximidades do desembarque. E os pensamentos do impaciente agente continuavam em fluxo, sempre entrecortado, afligindo-o sobremaneira, ressurgindo paralelamente à mão que lhe havia já pressionado seu peito, agora a ponto de quase lhe tirar o sopro vital. Uma respiração budista lhe devolveu o autocontrole e a porta de seu residencial já se encontrava. Desceu; combinou o horário do reembarque e entrou desconfiadamente em sua casa.
A normalidade lá dava as cartas: horário das crianças irem à escola. Choros irritantes e sem justificativas; ordens gritadas e almoço já posto davam-lhe a certeza de que de fato era seu lar. Beijou suas crias e a sisuda mulher. Foi ao quarto tirar seus acessórios funcionais. Sentou-se a mesa, antes de um banho, aguardando seu corpo diminuir a temperatura. Contou o ocorrido a sua esposa, ouvindo desta uma reprimenda carinhosa como se fosse possível mudar de ave de rapina a peixe.
- E o que devo fazer? ? questionou-a ? devo deixar que pisem em minha dignidade?
Já tinha diversas vezes tentado controle sobre seu impetuoso temperamento, seguindo sempre a esse movimento uma decepção. Em suas reflexões buscava compreender o papel dos diversos tipos de temperamentos: "deve haver alguma razão pra ser assim, senão não haveria qualquer necessidade de haver diversidade neles; só bastaria um só". Não era um homem ignorante, gostava de ler e com muita freqüência obras de filosofia. Mas seu temperamento lhe fazia ser estulto. Não buscava receitas mecânicas de autocontrole, uma vez que as via como categorias que amordaçavam a naturalidade, tornando-o um ser mecânico. Essas fórmulas costumam lançar poeiras pra baixo do tapete, mas sabia que lá adiante ressurgiriam de alguma maneira em tom mais encorpado. Via-o como necessário. Porém, procurava um jeito de falar as pessoas de modo mais sutil e menos agressivo, raríssimas eram as vezes que conseguia esse feito é verdade, mas tinha certeza que esse era o caminho. Adotar postura sempre de inação diante de situações que colocam em risco pleno a humanidade, a sociabilidade, o que ocorrerá? Há momentos que se requerem verberações com força e ação ? coisas que escapam aqueles que são passivos por natureza. Era assim que acreditava, ainda que vivesse sob conflito psicológico como o fato supracitado.
"Um beijo!" ? disse sua esposa ao levar as crianças à escola. Retribuiu e dispensou também as filhas com bitocas carinhosas. Deitou-se um pouco, após o banho, aguardando o horário de voltar ao trabalho. Cochilou; abriu os olhos estimulados pelo despertador; trocou-se; atendeu a ligação do motorista que já estava a sua porta; entrou na viatura rumo à residência do ?Dom?. Conversações.






III

"Conseguiu descansar?", perguntou ele ao motorista recebendo deste um meneio de cabeça significando positivo. Ao entrarem na rotatória e seguindo em frente avançavam a casa do ?Dom?. Desligando-se de qualquer possibilidade de diálogo ? se bem que não fazia muita diferença ao motorista, posto que era um tanto introvertido ? foi tomado pela paisagem urbanizada da avenida que entraram, sendo induzido através dos entrecortes percebidos entre as várias edificações, bem como as variações de cores, a um estado mental cujo objeto de seu pensamento era um não-ser, absolutamente um nada.
- Dom..., om..., om... om..., om! ? exclamou o agente que lhe era mais próximo com um jeito que já lhe era familiar ? vamos trabalhar! Continuou, tirando-o do torpor que se encontrava, perdido nas lucubrações vazias.
- Vamos ? disse timidamente ainda meio atordoado e amarelo. Não conseguia disfarçar sua preocupação, não vendo chegar logo o momento de resolução.
Partiram dali em direção ao local onde o agente preocupado deveria desembarcar. Lá chegando, pediu que fossem breve e que quando retornassem dessem um toque para o seu celular, pois iria não ficar no posto de gasolina ? local que haviam combinado -, pois ficaria muito exposto, mas em um shopping ao lado. Olhou algumas vitrines. Procurou algum lugar onde tivesse um jornal de leitura gratuita e, não encontrando, viu-se diante de um cabeleireiro, através do vidro transparente, e observava o último cliente tosquiar seus fios densos. Viu-se tomado por um pensamento que lhe impunha a idéia de cortar ali o cabelo bem baixinho, para lhe servir de disfarce. Entrou, observou algumas fotografias que havia nas paredes, servindo de propaganda da competência do profissional: a foto do ex-jogador de futebol Sócrates foi a que mais lhe prendeu a atenção e lhe veio à mente também que tão requisitado cabeleireiro teria necessariamente um preço equivalente a sua "fama". Tentou desistir e ao volver-se, ouviu a voz do profissional que lhe perguntou: "pois não; o que desejas?". Ao que respondeu com uma gagueira que lhe era estranha: "é, vim..., é..., cortar o cabelo!". Ao saber que lhe custaria a bagatela de quinze reais, agradeceu e retirou-se do ambiente, mesmo descendo um pouco o preço o cabeleireiro, indo até a porta do shopping. No intercurso se questionava: "por que é tão caro?".
Aguardou ali, na entrada, alguns poucos minutos. O celular tocou e ao atender, ouviu:
- Dom..., já estou aqui!
Era o agente que lhe era mais próximo.
- ok! Já estou indo.
Ao chegar ao local, o ?Dom? veio-lhe ao encontro dizendo-o que o policial não se encontrava, mas que havia conversado com o chefe de serviço e lhe explicado o ocorrido. Transmitiu as desculpas da guarnição e que o chefe de serviço havia se comprometido em conversar com o policial e que ?promoveria a paz?.
O agente que o caso mais interessava não viu nessas palavras a resolução, mas apenas uma resposta política. Era ele um homem condicionalmente desconfiado e via naquela polícia um organismo fechado, as greves que eles faziam com adesão geral da categoria lhe mostravam isso. Mas, por um momento, ao menos aquele resto de dia, relaxou e se dispôs a trabalhar. Não como no primeiro horário, mas de alguma maneira trabalhando. Enquanto o que lhe era mais chegado abordava um veiculo, ele observava o entorno com acuidade e, por um momento, baixou a fronte fitando os olhos em seu cinto de guarnição ? sob a têmpora da noite ? verificando ali engastado que a arma que dispunha para sua autoproteção e a dos seus amigos era uma esferográfica de calibre 5.0; um talão de notificação; um colete reflexivo; a coragem e a sua desvairada irmã: a loucura. "É loucura!", dizia a si mesmo. "Represento uma instituição que não dar a mínima para a nossa segurança!".
A noite já havia mostrado a sua feição, e a hora do jantar já havia se aproximado. Foram-se pelo mesmo percurso que fizeram no almoço, obedecendo ao mesmo esquema, enquanto ele mantinha na mente tais questionamentos.








































Autor: Hugo Albuquerque


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