Paixões Adormecidas



Paixões Adormecidas


Autor: Eduardo Silveira


Faltavam vinte e cinco minutos para a meia noite.
Elisa, estava excitada, nervosa. O marido, as filhas, os demais parentes e amigos estavam todos reunidos em seu apartamento, para festejarem a passagem do ano novo. Seu apartamento era de frente para a praia, por isso, todos gostavam de ir para lá, a fim de apreciar aquele belo espetáculo pirotécnico. Isso, sem contar que Elisa e Marcondes, eram um casal que sabia receber muito bem seus convidados.
Eles estavam casados há mais de quinze anos. Elisa era terapeuta formada, mas não exercia a profissão. Havia optado, quando se casou, por ser dona de casa e cuidar da família. Marcondes era engenheiro civil e tinha uma empresa de engenharia muito conceituada. Ele trabalhava muito para proporcionar um bom conforto para a esposa e as filhas. Tinham um boa vida financeira. Mas, na vida afetiva porém, havia alguns desencontros.
O fato dele viajar constantemente, visitando clientes, realizando negócios e fazendo toda sorte de eventos inerentes ao seu tipo de trabalho, acabava por deixar Elisa muitas e muitas vezes sozinha, tendo que lidar com a parte difícil de uma relação, que é a organização da casa, a criação e a educação dos filhos.
Era ela quem decidia tudo em casa. Desde, quais escolas as meninas iriam estudar, quanto onde fariam os cursos de inglês,espanhol, ballet, natação e tudo mais que fosse necessário para a formação delas. Sem contar a parte de alimentação, porque ela é quem fazia as compras de supermercado. Algumas vezes, as meninas ajudavam, mas na realidade, só iam quando havia algo que as interessasse.
Mas o nervosismo de Elisa, não era pela proximidade da virada do ano ou por causa dos convidados. Havia um outro motivo.
Há seis meses atrás, Elisa havia conhecido um homem, Rafael, em um site de bate papo na internet. Porém, o que, a princípio, começara como uma brincadeira, havia se transformado em uma coisa que nem ela mesma sabia explicar. Com o passar do tempo, os dois, aos poucos, foram ficando mais íntimos, revelando confidencias e alguns segredos. Ela falava do trabalho que tinha em casa, das meninas, das atribuições de uma dona de casa, do seu cansaço físico e as vezes mental, e também da sua ...solidão.
Rafael, falava de coisas simples, corriqueiras, enviava poesias, estava sempre de bom humor, mostrava interesse por ela, pelas meninas, elogiava-a muito, dizia que sua voz era linda, que ela devia ser uma pessoa linda. Que era uma mãe muito zelosa, e muito competente, enfim, dizia tudo o que ela realmente precisava ouvir.
A relação chegou a um ponto que chegaram a marcar um encontro, apenas para se conhecerem pessoalmente.
Ela produzira-se toda, coisa que as filhas estranharam, mas ela inventou uma desculpa, que iria visitar umas amigas metidas a ricas, portanto, ela tinha de estar bem cuidada. Conseguiu despistar.
Mas o encontro foi um fracasso. Rafael não apareceu.
Uma onda caudalosa de mágoa, humilhação, tristeza, raiva e decepção se apoderara dela. Ficara tão chateada, que chegou em casa com vontade de quebrar tudo. Mas se conteve. Aproveitou que o marido estava viajando e trancou-se no quarto e chorou até não mais poder. Prometeu a si mesma que nunca mais falaria com ele.
Horas mais tarde.
Acessou o site, só para ver se ele estava lá. Estava.
De repente, surgiu na tela uma mensagem "para todos":
Desculpe, minha princesa, mas não pude ir. Aconteceu um imprevisto e meu telefone acabou a bateria por isso não te liguei. Mas estou aqui agora, por favor, me dê uma chance para que eu possa me redimir com você, me explicar, por favor...Eu sei que você está aí.
Oi! - Elisa, não resistiu, e respondeu, mesmo a contragosto.
Recomeçou tudo, novamente.

O tempo foi passando. Elisa, cada dia mais envolvida, mais apaixonada. Rafael era tudo o que ela mais queria na vida. Era atencioso, carinhoso, se preocupava com ela e, principalmente, a fazia rir. Apesar de seus muitos conflitos internos, com relação a marido, filhas, e seu casamento, pois ela os amava e não podia imaginar a vida sem eles. Ela precisava de Rafael. Precisava ficar teclando com ele, madrugadas a dentro. Lendo as coisas lindas que ele lhe escrevia. Precisava ouvir as palavras de amor,que sua voz quente e rouca, ao telefone, dizia e que a deixavam completamente excitada.
Nas últimas semanas, ele havia proposto fazer sexo virtual com ela. Ela, que jamais imaginara uma coisa dessa natureza... aceitara!
E, nunca em sua vida, ela tivera orgasmos tão intensos. Era uma coisa inexprimível. Uma coisa mágica.
Sentou-se em frente ao computador.
Acessou o site.
Faltavam quinze minutos para a meia noite. Alguns fogos já explodiam exibindo toda a sua beleza.
Olá! - Disse ele.
Oi! - respondeu ela, nervosíssima.
Estava te esperando. - falou ele. - Ansiosamente.- completou.
Estou nervosa.
Por que?
Tem muita gente aqui.
Você deve estar linda.
Um pouquinho.
Não. Você deve ser a mulher mais linda de todas que estão aí.
Tem muita gente bonita aqui.
Queria te ver. Te tocar.
Para, por favor.
Mamãe! Mamãe! - sua filha mais nova a chamou.
Já vou. Já vou. - respondeu ela, olhando para a filha e para a tela do computador.
Preciso ir. - digitou ela. - Não posso ficar mais.
Mas você gostaria de ficar ou não?
Você sabe que sim.
Amor! Vem... estão todos te esperando. - Falou o marido ? O que você está fazendo aí?
Nada. Nada. - Mentiu ela. - Só estou mandando uns e-mails para umas amigas. Já vou.
Não senhora. Vamos lá agora.
Marcondes a pegou pela cintura e, praticamente, a ergueu da cadeira.
Ela só teve tempo de apertar a tecla Esc.
Preciso desligar direito. - disse ela.
Ah, deixa isso pra lá. Depois você desliga. Já vão começar os fogos. Vamos.
Elisa começou a andar entre os convidados sorrindo timidamente. Marcondes a enlaçava pela cintura.
Cinco minutos para a meia noite.
Os fogos já espoucavam por todos os lugares. Cada um mais lindo que o outro. Um verdadeiro espetáculo. As pessoas se acotovelavam na sacada da varanda do apartamento para melhor assistirem à queima de fogos.
Marcondes e as meninas, estavam logo à frente abraçados a Elisa, admirando o belo espetáculo.
Elisa olhava o infinito. Não havia a menor emoção nela. De repente, ela começou a soluçar e a tremer,lágrimas começaram a rolar pelas suas faces. Seu marido e as filhas começaram a brincar com ela, dizendo: - Olha só. A bobinha toda emocionada com os fogos. -
Deixa de ser criança Elisa! - Disse ele. E abraçou-a fortemente.
Nós te amamos. - Gritaram os três em uníssono. E desataram a rir.
Elisa chorava copiosamente.

Enquanto isso, longe dali, Rafael, agora com o nome de Marcos, digitava para Helena: - Ô amor, queria tanto estar aí com você. Você deve ser a mais linda da festa hoje, não é?

E esse diálogo ainda iria se repetir, muitas vezes, com muitas mulheres diferentes naquela noite.

Há muito tempo que Celso usava essa estratégia para conquistar mulheres na internet. Ele as estudava, decifrava suas carências, suas angustias, seus medos, seus desejos, suas fantasias., e depois, quando tinha certeza de que elas estavam apaixonadas, ele as usava sexualmente e depois , simplesmente as deixava. E partia para uma nova conquista. Sempre inventando novos nomes. Esse era um jogo que ele adorava jogar.
E também, era a única coisa que dava prazer a ele. Pois, ali, dentro daquele fétido e minúsculo apartamento, aquele homem velho, cheio de problemas de saúde, suando em bicas, podia, simplesmente só usando as palavras, ser o que bem quisesse, um conquistador, um galanteador, um homem "doce", ou um maravilhoso amante bem dotado.
E, com certeza, despertar muitas paixões adormecidas.



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Autor: Eduardo Silveira


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