Um Estudo dos Novos Hábitos de Acesso, Manipulação e Distribuição da Informação em Cenários Educacionais
A instituição de ensino, como agência formadora, precisa oferecer aos alunos o acesso aos conhecimentos produzidos pela sociedade. Para isso, deve pensar o processo educacional no contexto social e tecnológico, para que o educando possa abrir caminhos para sua ação política, no sentido de desencadear um processo de inclusão social e distribuição de riquezas que é, também, sua função social. De uma forma geral, pode-se perceber atualmente que no processo educacional das instituições "o que se ensina mudou, mas o modo como se ensina permaneceu o mesmo". Do ensino básico ao superior, as novas tecnologias entram de diversas maneiras: novas matérias a serem estudadas para poderem concorrer no mercado de trabalho; novas ferramentas que apóiam o processo de busca e processamento das informações; novos métodos de organização e comunicação de tais informações que apóiam o processo de aprendizagem pelo uso de recursos multimídia e interatividade. Mas, de modo geral, a instituição de ensino, como um espaço físico que reúne crianças, adolescentes e adultos em grupos por determinado período do dia, permanece como antigamente. E neste sentido, é fundamental uma reavaliação das práticas pedagógicas. Na opinião de Oliveira (2003), a introdução das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs) na educação pode não representar uma inovação pedagógica, pois a utilização de sofisticados recursos tecnológicos em velhas práticas educacionais não é garantia de uma nova educação. Assim, esta pesquisa tem por finalidade investigar os novos hábitos de estudo dos estudantes e seus desdobramentos no processo de mediação pedagógica que se dá em tempo e espaço pedagógico no cenário educacional, com uso de vários suportes desde os tradicionais (impresso) até os recursos digitais de mediação (rede internet).
2 ? A IMPORTÂNCIA DOS SUPORTES NO PROCESSO DE MEDIAÇÃO.
O bom rendimento no estudo vem há muito tempo relacionado com um conjunto de fatores, como: programar atividades de estudo e a divisão adequada do tempo; organizar um ambiente favorável (iluminado, silencioso e arejado, mesa limpa e organizada, dicionário e material de pesquisa à mão). No entanto, percebe-se que somado a estes elementos novos suportes (computador com acesso a Internet, CD ROM, DVD e celular), vêm sendo incorporados e com isso a necessidade de novos hábitos de estudo.
Segundo Masetto (2000), a mediação pedagógica significa a atitude, o comportamento do professor que se coloca como facilitador, incentivador e motivador da aprendizagem, ou seja, uma ponte móvel sobre o aprendiz e sua aprendizagem que ativamente contribui para que o aluno chegue aos seus objetivos. Conforme cita Freire e Andrade (2006), a experiência nos diz que ensinar não significa necessariamente que o aluno aprenda; na realidade, o ato de aprender depende muito mais de sua vontade em querer aprender do que o professor em querer ensinar. No entanto, fatores externos à sala de aula, proporcionados pelas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (principalmente pela Internet) criaram situações de estímulo ao processo de assimilação do conhecimento por parte do aluno. Com isso a diversidades de suportes (texto, som e imagem) a disposição do professor e dos alunos tem proporcionado um leque maior de práticas pedagógicas que facilitam os processos de mediação e com isso aprendizagem. No entanto, os professores reconhecem que a instituição de ensino esta desatualizada em relação à sociedade e que os alunos estão cada vez mais desmotivados pelas atividades tradicionais em sala de aula. O que se observa, é que a inserção das tecnologias acaba, em muitos casos, limitando-se ao seu aspecto atrativo e "modernizador", sem que efetivamente se toque em questões importantes dos processos pedagógicos, tais como o currículo, a avaliação, a relação professor-aluno, as novas formas de aprender e construir conhecimento que emergem na sociedade da informação.
Laurillard (1995) apud Kenski (2003), apresenta os papéis do professor e do aluno em quatro diferentes tipos de mediação que podem ser desenvolvidos por diversos suportes. No primeiro tipo, o professor se apresenta como um "contador de histórias" e pode ser substituído ou apoiado por um vídeo (DVD, CDROM), um programa de rádio via Internet ou uma teleconferência, por exemplo. No segundo tipo, o professor assume o papel de negociador e o ensino se dá por meio da "discussão" do conteúdo aprendido em outros tipos de mediações fora da sala de aula (a leitura de um livro ou texto, a observação de uma experiência ou visita in loco a um museu ou centro de pesquisa, por exemplo). Uma terceira possibilidade exclui inclusive a ação direta do professor. Nesse caso, é o aluno que assume o papel de "pesquisador" e interage com o conhecimento por meio dos mais diferenciados recursos multimídia (CD-ROM, Internet). O aluno aprende "por descoberta" e ao professor cabe a interação final com o aluno, para "ordenar" ou guiar os diversos caminhos para a construção do conhecimento. A quarta e última modalidade de ensino é a que apresenta professores e alunos como "colaboradores", utilizando recursos multimídia (CD-ROM, Internet) em conjunto para realizarem buscas e trocas de informações, criando um novo espaço significativo de ensino-aprendizagem em que ambos (professor e aluno) aprendem.
2.1 ? OS SUPORTES E AS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
Segundo Tedesco (2004, p. 128), há 350 anos o educador tcheco J. Comenius introduziu no processo de ensino os livros, os manuais e os textos didáticos. Com estes suportes, foi possível uma relação do professor com os seus alunos, tornando possível o aumento da produtividade educacional do grupo, reduzindo custos e massificando a mediação pedagógica do processo (terminou com o ensino personalizado). Neste sentido, pode-se observar que, na forma tradicional de ensinar, o professor utiliza adequadamente sua fala e a dos alunos, conciliando com as formas e técnicas para a utilização do livro e da lousa, de acordo com os objetivos do ensino, o contexto e a especialização desejada. Tipicamente, as salas de aula tradicionais têm fileiras de estudantes, sentados lado a lado, encarando bem em frente um professor, que é o fornecedor do conhecimento. Quaisquer diferenças entre os estudantes são explicadas como medidas da inteligência individual. Esta estrutura espelha os sistemas de linhas de montagem da sociedade industrial e reflete a mentalidade da revolução industrial que certa vez guiou os caminhos de nossa sociedade. No entender de Moraes (1997, p.17), o mundo ao nosso redor está mudando de forma bastante acelerada, e percebemos que a educação continua assentada no paradigma newtoniano-cartesiano. Este reforça um ensino fragmentado e conservador, caracterizado pela reprodução do conhecimento ? fracionado, estático, linear, descontextualizado ? e pela adoção de metodologias que conduzem a respostas únicas e convergentes, mesmo utilizando sofisticados instrumentos tecnológicos. Sabe-se que não se muda um paradigma educacional dominante apenas colocando uma nova roupagem, camuflando velhas teorias, pintando a fachada da escola, colocando telas e telões nas salas de aula, se o aluno continua na posição de mero espectador, de simples receptor, presenciador e copiador. De acordo com Levy (1998), as redes de comunicação interativa acompanham e ampliam uma profunda mutação da informação e da relação com o saber, colocando em discussão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho em empresas e instituições de ensino. A era da informação de hoje necessita de um novo modelo para a educação; por isso, existe o potencial para uma revolução no aprendizado. No entanto, a inserção das tecnologias tem se mostrado problemática, visto se constituir em mais um desafio posto ao professor e as instituições de ensino.
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este trabalho teve como objetivo investigar os novos hábitos de estudo de jovens de faixa etária entre 10 a 17 anos. A escolha do Colégio GEO Natal se baseou na informação de que os seus alunos estão habituados ao uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, e isto ficou evidenciado quando no momento em que foram aplicados os questionários com aproximadamente 200 alunos, se observou o uso de troca de informações pelo celular (som e imagens) utilizando infravermelho, entre dois alunos do ensino fundamental.
3. 1 ? METODOLOGIA
A metodologia empregada neste trabalho abrange uma das áreas da Estatística denominada de Estatística Descritiva. A coleta dos dados teve como método a observação direta, com questionários empregados como instrumentos de pesquisa em formato on-line. Esta pesquisa foi aplicada no mês de março de 2007 por uma aluna concluinte do curso de Pedagogia do Instituto Natalense de Educação Superior (INAES), com orientação dos pesquisadores, professores do CEFET-RN e do INAES, realizada nos Laboratórios de Informática do INAES.
3. 2 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.
As questões foram divididas em seis blocos temáticos. Das questões propostas no Bloco 1, referente a Técnica de Ler, destacamos a questão 2, aproximadamente 70% dos participantes da pesquisa conseguem obter facilmente textos (conteúdos trabalhados pelo professor) na rede Internet. No bloco temático 2 sobre hábitos de concentração, das questões propostas, a questão: Consigo manter a concentração em atividades educacionais formuladas pela Internet ? aulas, exercícios, fóruns e chats?- São aproximadamente de 70% dos participantes da pesquisa que mantém a concentração. No bloco temático 3 que aborda distribuição de tempo e relações sociais durante o estudo, foram destacadas as seguintes questões: Não consigo estudar sozinho, só em grupo, tendo como respostas, 12% dos alunos afirmam que preferem estudar em grupo e aproximadamente 60% dizem não. Na questão: Consigo me concentrar em estudo pela Internet? Não perco tempo visitando outros sites. Um quarto dos participantes afirmam manter a concentração nos estudos através da rede, no entanto supomos que para 75% há dispersão. Na questão 3, metade dos entrevistados concordam que são interrompidos por telefonemas, barulho, etc. No bloco temático 4, sobre hábitos e atitudes gerais de estudo, foram analisadas duas questões. Questão: Planifico semanalmente as minhas atividades?. Aproximadamente 40% dos participantes da pesquisa afirmam que não planificam semanalmente suas atividades, um percentual bastante significativo se levarmos em consideração que 22% afirmam realizar esta atividade em parte. A segunda Questão: Tenho facilidade em concentrar-me nas aulas? Aproximadamente 75% responderam que sim, se levarmos em consideração que 25% realizam em parte.
No bloco temático 5, das questões aplicadas sobre a técnica de uso dos recursos da Internet, três questões foram analisadas. Primeira Questão: participo de listas de discussão com o professor e a turma?, aproximadamente 70% responderam sim, um percentual alto se levarmos em consideração que nas rotinas do colégio não há programado este tipo de mediação. Na questão: Conversa simultânea através de textos (MSN)? Aproximadamente 80% responderam sim. Já na questão: Uso e-mail (correio eletrônico) com colegas de turma? Mais de 60%. Na questão: Participo de projetos colaborativos na rede, em função de interesses comuns, orientados pelos professores? Aproximadamente 30% responderam sim. Na questão: Participo de cursos on-line? Responderam sim menos de 20%.
No bloco temático 6 sobre a técnica de uso dos recursos do celular, das questões abordadas, duas são analisadas. Questão 1: quanto ao uso do celular para comunicação com colegas de turma? 63% afirmam que utilizam o celular para comunicação com colegas de turma. Na questão 2: participo de conversa simultânea, através de textos(torpedos)? 45% responderam afirmativamente.
4 ? CONCLUSÃO
Em uma análise bem ampla no que diz respeito aos novos cenários de aprendizagem, pode-se destacar dois pontos importantes que tem profunda influência nos processos de mediação, a overdose de informação e a velocidade de circulação da mesma. Neste sentido, observou-se que, o impacto da mídia digital está sendo sentido através de um número crescente de atividades comunicacionais e informacionais (Internet e celular). Mesmo sendo recente, estas tecnologias ampliam, exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas: a memória (banco de dados, hipertextos, fichários digitais de todas as ordens), a imaginação através das simulações, a percepção (sensores, tele presença e realidade virtual), os raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos). Na realidade, pôde-se identificar dois tipos de práticas pedagógicas na instituição de ensino: uma tradicional, onde cada professor segue o antigo ritual das aulas expositivas, preocupado em ministrar conteúdos, em avaliar quantitativamente os alunos, fechado no domínio restrito de sua disciplina. Outra, dinâmica, que abre espaços para a discussão e significação de temas atuais, para outra relação professor-aluno, para a incorporação de outras linguagens, racionalidades e tecnologias, onde os professores sentem-se mais para ousar e criar.
Neste estudo observou-se que os alunos estão cada dia mais inseridos no contexto das NTICs, visto que, com o acesso a Internet em suas residências e na maioria das instituições de ensino.
Conforme os dados, observou-se a inexistência de ações colaborativas na rede com orientação do professor e a participação dos alunos em cursos on-line, o que confirma a falta de profissionais habilitados nestas atividades pedagógicas. Concluí-se que embora as novas tecnologias estejam inseridas no cotidiano dos alunos, pouco se observa de inovação de práticas pedagógicas nos cenários educacionais. Uns dos pontos mais difíceis do ensino no futuro estarão em saber como motivar e desafiar os estudantes e como encorajá-los a desenvolverem o requisito de auto disciplina para o aprendizado, em razão da grande quantidade de informação em vários suportes.
Referencias
OLIVEIRA, E. G. Educação a distância na transição paradigmática. Campinas, SP: Papirus, 2003.
TEDESCO, J. C. Educação e Novas Tecnologias. São Paulo: Cortez, 2004.
MASETTO, M. T. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
FREIRE, J; ANDRADE A; CAVALCANTE G. Análise do perfil dos estudantes do curso de especialização em ensino de comunicação social da UNEB para o desenvolvimento de suportes. Revista Técnica do FIPEP, São Paulo, V. 6, n.1, junho de 2006.
CATAPAN, A.H. Tertium: o novo modo de ser, saber e do apreender ? construindo uma taxionomia para a mediação pedagógica em tecnologia de comunicação digital. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis: UFSC, 2001.
KENSKI, V. M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
MORAES, M.C. O paradigma educacional emergente. Campinas, SP: Papirus, 1997.
LEVY, P. Educação e Cibercultura: a nova relação com o saber. Revista Educação, Subjetividade & Poder. Vol. 5, n. 5. 1998.
Autor: Jeronimo Freire
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