Uma Vida No Lixo



Um dia, andando na cidade, tropecei em uma lata de lixo virada na rua e, inexplicavelmente, grudou em meu pé, uma folha de papel amassada, que tinha um texto, que transcrevo agora:

"Fiz uma lista de coisas que eu queria muito e elas não foram acontecendo, uma a uma.

Uma a uma delas, eu ia riscando, à medida que não iam se materializando.

Eu tenho essa lista para mostrar, cada item, cada sonho, cada esperança, riscados um a um, com a caneta forte do desapontamento. Me especializei em desilusão. Acostumei com a presença inconveniente da frustração.

Repartir o resto de vinho azedo com a derrota já faz parte do meu cotidiano.

Admiro quem sempre vence. Quem sempre tem aquele sorriso e aquela cor da eterna vitória, da eterna felicidade.

Eu não caio no choro, não porque sou forte, nem porque estou acostumado a situações contrárias. Eu não caio no choro porque minhas lágrimas secaram de tanto perder, de tanto esperar, de tanto acreditar, de tanto pedir, de tanto perguntar "por que eu?".

O que me resta, sempre, é juntar os pedaços de ingênuas expectativas, de patéticas esperanças e enfiar no saco vazio da minha vida de eterno perdedor, para tentar montar novamente um novo mosaico de uma nova ilusão.

Às vezes eu sorrio. Sorrio para dizer ao destino ou a Deus, que escolheram, a dedo, um cara perfeito para descarregar suas frustrações e reconhecerem, nele, suas imperfeições. Sorrio para dizer às pessoas que passam por mim que celebrem suas vitórias, por menores que sejam, celebrem sempre cada vitória.

E, se conseguirem celebrar com a mesma intensidade a vitória do outro, então estarão livres dessa maldição que me acompanha, desde o dia em que abri os olhos.

Para quem achou esse bilhete que amassei e joguei fora, na esperança de que alguém um dia o achasse, leiam agora, as coisas que eu tinha como muito importantes em minha vida:

A primeira coisa que eu esperava era ganhar muito dinheiro, mas nunca recebi nenhum centavo;

A segunda coisa que me fazia acordar mais feliz era ser famoso, o que também não foi possível;

A terceira coisa que sonhava em acontecer era ser reconhecido como um bom profissional, o que aconteceu, não preciso nem dizer;

A quarta coisa era que eu tivesse uma última chance, mas não me deram;

A quinta e última coisa que eu esperava era receber um simples agradecimento pelo mínimo que tentei fazer, mas nem isso alguém me deu.

Para alguém que nunca foi atendido em nada que pediu aos céus, deixo apenas uma última mensagem: acreditem sempre.

Mesmo a pior das realidades é ainda mais viva e mais real e, por isso mesmo, mais válida do que quaisquer das melhores fantasias."

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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