O Técnico E O Político



Já virou chavão a gente dizer que funcionário público é vagabundo, que tem um emprego cheio de vantagens, que nunca vai para a rua mesmo que não cumpra o seu dever, que deixa o casaco na cadeira e desaparece a semana toda.

O funcionário público, para o público, não é um funcionário, pois não funciona adequadamente.

Para quem não é funcionário público, mas que tem direito ao voto, talvez nunca tenha pensado que, quando elege um prefeito, por exemplo, só para ficar no âmbito municipal (isso é termo de funcionário público!) coloca dentro da prefeitura uma infinidade de outros funcionários que vêm com o pacote do prefeito, chamados cargos de confiança.

Já começa por aí. O prefeito traz com ele umas centenas de cargos de "confiança" para si, o que dá a entender que os funcionários de carreira, os concursados, não são de confiança.

Esses cargos de confiança do prefeito são considerados os cargos políticos e os concursados os cargos técnicos.

A diferença entre o técnico e o político é, por exemplo: Quando o técnico diz para não deixar a torneira aberta a noite toda pois é ecologicamente incorreto e um desperdício sem igual, o político diz que dará a impressão que estão trabalhando a noite toda e é bom para a reeleição, decidindo por deixar a torneira aberta.

Quando o técnico diz que não deve ser construída a ponte, pois em nossa cidade não tem um rio, o político diz que construirão também o rio.

Essa luta ancestral entre os detentores do cargo por concurso e que ficarão toda a sua vida na prefeitura e os "de confiança" que chegam e saem antes de decorarmos seus nomes, está sendo travada agora num órgão público perto de você.

Quando eles conseguem uma trégua e chegam a um consenso, as coisas melhoram para o cidadão que está do lado de fora assistindo a luta esperando uma retribuição para a sua cidade pelos impostos que paga.

A salvação desse povo são os super-heróis que ela também elege, para fiscalizar as ações desses eternos adversários, que são os vereadores.

A luta entre eles também é titânica,

Inclusive tem aquela história em que, num palanque estavam juntos o prefeito e o presidente da câmara de vereadores, quando o prefeito, num gesto desesperado de angariar votos para a sua reeleição e demonstrando uma cultura de invejar qualquer troglodita, promete que em seu próximo governo irá revogar a Lei da gravidade.

O presidente da câmara ao ouvir aquela pérola, ficou ruborizado e constrangido, pegou o microfone, olhou para a platéia e corrigindo o prefeito, na tentativa, não de salvá-lo, mas de humilhá-lo e mostrar mais conhecimento, saiu-se com essa:

- Me desculpe prefeito, mas isso que vossa excelência propõe é impossível, por mais força que tenha em nosso município, pois todo mundo sabe que a Lei da Gravidade é uma Lei Federal.

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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