Insensato Coração



Edson Silva

Dia desses, acompanhando matérias sobre enchentes na região de Campinas, me chamou atenção, entre tantas entrevistas com pessoas que tiveram móveis, alimentos e sonhos destruídos pelas enormes quantidades de águas que tem desabado por aqui, a fala de uma mulher, moradora em Sumaré, uma das muitas cidades atingidas. A jovem senhora relatou para a repórter da TV que perdeu tudo com as enchentes, inclusive o emprego.

A repórter perguntou porque o emprego, talvez imaginando que a mulher trabalhasse na própria região ou em outra área alagada, mas a vítima das cheias disse ter sido demitida porque seu "patrão" não quis saber de seus problemas e não admitiu que ela faltasse, mesmo por motivo tão justificado.

Fica até difícil acreditar que alguém, no caso o "patrão" da mulher, possa agir assim, mas como estamos acostumados ver nas reportagens sobre enchentes ou outras tragédias, que algumas pessoas precisam ficar vigiando suas casas para evitarem saques, vamos duvidar de mais de quê? A sugestão de título deste artigo partiu de um de meus irmãos, o mais velho, o Euclides, para definir a atitude deste "patrão" especificamente.

Ainda bem que a maioria das pessoas é solidária nas tragédias, mas o ser humano podia ser solidário sempre e assim amenizar sofrimentos nossos de cada dia. Em Sumaré, vemos esforços do Poder Público, com funcionários públicos da Defesa Civil, bombeiros, guardas, assistência social, saúde, obras, regionais e de tantos setores, que aliados a solidariedade de agremiações religiosas, de empresários, de comerciantes e de moradores em geral têm ajudado amenizar a situação, com doações, orientação sobre saúde e limpeza, enfim com compreensão e afeto com as vítimas.

Encerro este artigo com a frase do filósofo alemão Bertold Brechet: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem", mas acrescento que graças a Deus são tantos os corações que transbordam solidariedade, embora, e infelizmente, existam alguns corações, como o do "patrão" da entrevista da TV, oprimidos pelo egoísmo e pela insensatez.

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré
[email protected]

Autor: Edson Terto Da Silva


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