2011: uma nova crise?



As condições precedentes da Crise de 2008 estão novamente presentes na economia global, são elas:
a) Juros baixos nas economias centrais, notadamente nos EUA
b) Pressões nas commodities com destaque para energia e alimentos
c) Desconfiança no padrão monetário, sobretudo quanto ao dólar americano
Estas condições combinadas constituem um forte elemento de instabilidade no sistema econômico financeiro mundial. Para que isto fique claro é necessário deter-se sobre cada uma destas condições para projetar um cenário possível a curto e médio prazo.
Primeiramente, o encilhamento americano (a emissão deliberada de US$ 600 bilhões) visa a recuperação da economia norte americana com base na depreciação do dólar para que a produção americana ganhe competitividade tanto interna frente aos produtos importados como nos mercados globais. Como a política de juros baixo do FED não consegue neutralizar a frouxidão do encilhamento e não há assim tantas oportunidades no mercado norte americano, há uma verdadeira enxurrada de dólares buscando maior rentabilidade nos mercados mundiais.
Devido a incerteza no padrão monetário internacional, aliado as incertezas das dívidas européias, o refúgio natural tem sido as commodities e o aporte de recursos para países que têm como âncora o crescimento econômico e taxas reais de juros, notadamente os países em desenvolvimento como Brasil, Índia, Rússia e China. Desta forma, tem-se assistido a uma forte apreciação das moedas destes países nos últimos dois anos com exceção da China que tem se valido de todos os subterfúgios para evitar a apreciação de sua moeda local de forma a manter a competitividade de sua indústria em escala planetária. Além disso, os ativos reais destes países têm disparado de preços como efeito do maior volume de crédito disponível nas praças internacionais e ao fluxo cambial fortemente positivo. Aqui está o início da formação de algumas bolhas especulativas que devem estourar a qualquer momento e de maneira imprevisível. Estaria aqui o início da crise que se avizinha?
Um outro aspecto que merece atenção é o preço das commodities. As populações da China e India vêm se urbanizando e consumindo mais alimentos. A elevação da renda nos países emergentes também vem trazendo para o mercado de proteínas animais um grande contingente populacional. Estes fatores vêm fazendo acelerar fortemente os preços dos alimentos e das commodities agrícolas. Além disso, o clima devido a aquecimento global vem provocando quase que sempre a quebra de alguma safra importante em escala global alimentando ainda mais os preços. É importante ressaltar que a crise de crédito americana de 2008 foi provocada em grande medida pela pressão inflacionária dos alimentos, uma vez que para combater a inflação gerada por ela os governos tiveram em 2007/08 que iniciar um processo de aperto monetário e subida de juros e pegaram uma população americana endividada. Até quando o mundo resistirá as pressões vindas do campo ?

No que tange a energia, o cenário continua altista, a despeito de um menor crescimento das economias dos países centrais. Cumpre assinalar que como efeito secundário da desconfiança monetária há claramente refúgio e muita especulação nas commodities, retroalimentando a espiral altista de preços. Será a bolha das commodities a causadora da crise que se avizinha?
Finalmente, como elemento final de um possível sinal da crise está a incredulidade no atual sistema monetário. A guerra cambial travada entre China e EUA é uma realidade e outro fator inquietante. Os EUA buscarão a qualquer custo desvalorizar sua moeda para sair da crise e os chineses tentarão neutralizar este movimento. Nesta incerteza geral de quem ganhará a guerra onde estarão os parâmetros de reserva de valor que é uma função básica que a moeda deve desempenhar? Estará na Guerra Cambial a destruição do atual sistema monetário internacional?
Como se viu , há pressões ameaçadoras na economia mundial neste início de 2011.
Muitos têm falado em recuperação da economia mundial, da sustentação dos BRICS, da recuperação de preços em alguns setores e dos lucros voltando para algumas empresas, entre outros fatores positivos. Muito pelo contrário, o momento atual inspira cautela.

Autor: Vitor Bellizia


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